sábado, 29 de maio de 2021

A perversão incurável do eleitorado bolsonarista

A chacina do Jacarezinho é parte da estratégia eleitoral do bolsonarismo para angariar apoio na classe média: o neofascismo possui um pacto de sangue com a morte!


“são demônios
sedentos de almas em desespero”
(Cézar Dias – do poema “Combustível”).

 

         No dia 6 de maio uma operação policial invadiu a favela do Jacerezinho, no Rio de Janeiro, e executou 29 pessoas. Com a justificativa de combaterem “criminosos”, a ação foi uma espécie de propaganda eleitoral antecipada para a base de apoio do bolsonarismo na classe média, que já demonstrou uma disposição inesgotável para apoiar qualquer barbaridade do seu governo.

         Foi por isso que Bolsonaro escreveu o que segue nas redes sociais: “ao tratar como vítimas traficantes que roubam, matam e destroem famílias, a mídia e a esquerda os iguala ao cidadão comum, honesto, que respeita as leis e o próximo”; e ainda complementou exaltando a corporação: “É uma grave ofensa ao povo que há muito é refém da criminalidade. Parabéns à Polícia Civil do Rio de Janeiro!”[1].

         Ao exaltar a corporação policial – uma das que mais mata jovens negros no mundo –, defender a pena de morte informal e associar tudo isso à “liberdade”[2], Bolsonaro visa reforçar a única bandeira que conseguiu cumprir no seu mandato e que fascina a classe média: a de “bandido bom é bandido morto”.

         Evidentemente que, para executar este plano, rasgou até mesmo a legislação burguesa mais elementar, pois esta, teoricamente, preconiza o direito de defesa judicial para qualquer acusado. Todos os indícios comprovam se tratar de uma execução a sangue frio, concretizando a pena de morte informal[3] que sempre defendeu enquanto parlamentar. Por disseminar o ódio neofascista Bolsonaro nunca se preocupou em ter seu mandato cassado, o que torna a justiça e a grande mídia cúmplices indiretos dos seus crimes.

         Se por um lado os indivíduos assassinados calculadamente pela polícia tem ligação direta com o tráfico, praticando roubos, extorsões e crimes, sobretudo nas favelas que controlam; por outro, a famiglia Bolsonaro faz um jogo duplo, pois é a que mais se beneficia da relação com as milícias e o crime organizado[4].

         É amplamente conhecido o envolvimento de parte da polícia carioca com o crime organizado. O que o governo Bolsonaro está fazendo, além de praticar ilegalmente a pena de morte para saciar o sadismo dos seus seguidores, é simplesmente substituir uma facção criminosa por outra, apoiada por ele. Sua preocupação não é, evidentemente, a criminalidade, mas a sinistra bajulação do seu eleitorado de classe média, que não tem limites para saciar o seu sadismo e a sua perversão.

 

Analisando causas e consequências da perversão do eleitorado bolsonarista

         Grande parte do eleitorado bolsonarista – sobretudo na classe média, mas também entre o alto empresariado e, infelizmente, entre grande parte da classe trabalhadora – não tem limites para a sua perversão sádica e já demonstrou que nenhum argumento racional pode lhe fazer ver a realidade para mudar sua conduta. Precisa urgentemente de tratamento psicológico, mas certamente se recusará e negará sua doença, afirmando estar em seu pleno juízo. Conjuntamente com a grande mídia e as suas igrejas, criam muitas ideologias e autojustificações para ficarem “de bem” com suas próprias consciências.

         De certa forma eles têm razão. A perversão sádica está entranhada tão profundamente no seu caráter que se tornou, de fato, parte do seu modo “natural” de ser. Tudo isso demonstra que não respeitará nenhuma instituição ou regra democrática, como pretende lhe “ensinar” a esquerda reformista (talvez frente à dureza de uma ditadura do proletariado possam aprender bons modos!).

         Bolsonaro surfa neste sentimento desprezível e o incentiva. Em troca recebe apoio e uma blindagem política e social, cujo “fora Bolsonaro” sequer arranhou até agora. Este blog escreveu em novembro de 2018 que a “essência do fascismo consiste num pacto indissolúvel com a morte e com a crise social e econômica, da qual é uma cria”[5]. Este pacto incentiva uma espécie de hipnose social de amplos setores de massa que alimenta e é alimentado por uma perversão sádica.

         Quais são as características centrais desta perversão presente no eleitorado bolsonarista? Os comportamentos do sadismo perverso “são designados por intermédio da excessiva manifestação de egocentrismo, incapacidade para o amor não narcísico, falta de remorso, vergonha ou culpa, tendência à mentira, vida sexual impessoal, boa capacidade retórica, inclinação para autovitimação e boa capacidade cognitiva, sem comprometimento para com a percepção da realidade. Outrossim, as demais características que, por impulsos inconscientes, têm a intenção de manipular e controlar as pessoas ao seu redor à escolha narcísica de objeto, a qual procura estabelecer relações íntimas com aqueles que se assemelham a ele, ou por quem tem inveja. Posto que o desejo dá-se em ser como este, quase nunca levando em consideração as necessidades do outro”[6].

         Este escudo perverso criado pela engenharia ideológica e política do neofascismo, cujo idealizador foi Steve Bannon[7], não é combatido e sequer arranhado pelas pautas da “esquerda”, senão que o reforça. Toda a agitação dos movimentos sociais que foram para a rua protestar justamente contra a chacina da favela do Jacarezinho, morderam, como sempre mordem, a isca do neofascismo e servem como o “espantalho” utilizado por Bolsonaro de que a “esquerda trata os traficantes como vítimas e os iguala aos cidadãos comuns”. De quebra, ainda coloca um sinal de igual entre a “esquerda” e a grande mídia burguesa.

         O ramerrão[8] do discurso da esquerda reformista não tem profundidade. O neofascismo bolsonarista sabe disso e tira vantagem desta inconsequência para estar sempre na frente. Para atacar o problema seria necessário destacar os problemas da manipulação da psicologia de massas, visando acordar do sonambulismo quem ainda possui algum escrúpulo e preparando a combatividade do movimento sindical e social para o enfrentamento revolucionário contra aqueles que sustentam abertamente um pacto indissolúvel com a morte.

         A “esquerda” não faz nem uma coisa, nem outra. O bolsonarismo agradece, uma vez que ajuda a construção de uma estratégia eleitoral[9] calcada num discurso que não só “faz sentido” para “indivíduos hipnotizados” (e desumanizados), como é confundido com “liberdade” por suas mentes sádicas que cultuam – sobretudo! – a perversão do “mito”... e a sua própria!

 

Referências


[8] Ramerrão = ruído sucessivo e monótono; repetição fastidiosa.

[9] Ver: https://www.youtube.com/watch?v=5SOwn2FrOkk 



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