quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Cartilha de esclarecimento sobre o irracionalismo fascista - dez tópicos para ajudar a resistência em meio à tempestade


O fascismo é um regime político que se baseia em dois pilares fundamentais: ditadura militar e a defesa da propriedade privada capitalista. Um ditador dirige esse regime que trabalha para subjugar toda a massa às suas ordens e aos interesses de classe que defende, inclusive podendo ficar acima e independente dela. Parte dessa submissão não é imposta via repressão militar, mas conquistada a partir de uma manipulação psicológica e social, a qual os indivíduos se submetem voluntariamente. O fascismo emprega a utilização de poderosas forças psíquicas primitivas e irracionais, impossíveis de serem explicadas apenas por fatores econômicos e exigindo novos instrumentos de análise e interpretação.
            Embora os fatores econômicos não expliquem tudo, são fundamentais para entendermos a totalidade do fenômeno. O fascismo é parte indissolúvel do capitalismo. Mesmo nos seus períodos “democráticos” ele existe em estado de latência. Nos momentos de crise econômica – e isso acontece periodicamente, numa média de 10 em 10 anos – o aumento da miséria, do desemprego, da criminalidade e do desespero social conclamam por uma “saída”. Mentes com baixa formação política e científica, maltratadas pela exploração do trabalho e pela superstição religiosa, especialmente a de tipo evangélica, tendem a acreditar em falsas “saídas”, que propõem apagar fogo com gasolina. O fascismo necessita de mentes frágeis, dispostas a acreditar em qualquer mentira sustentada, sobretudo, pelo medo, pelo sadismo e pelo ódio. Em um ambiente de crise e falta de perspectiva, não é difícil manipular mentes. Ao contrário, torna-se parte importante da dominação do sistema.
            Dentro deste contexto e apoiado por técnicas modernas de manipulação das redes sociais, o atual fascismo brasileiro alimenta o ódio, o sadismo e o preconceito, que são sempre armas eficientes para controlar mentes. Ou seja, baseiam-se no lado mal do ser-humano, na sua necessidade de destruição, de vingança e utilizam isto sem escrúpulo algum. Além disso, o fascismo cultua a tortura, a guerra e o ódio insaciável. Conclui sua obra de dominação com a repressão sexual das grandes massas, presas à um moralismo hipócrita que se transforma em sadomasoquismo. Tudo isso contribui para a formação do discurso irracional apoiado e sustentado por milhões hoje em dia. A própria essência do fascismo consiste num pacto indissolúvel com a morte e com a crise social e econômica, da qual é uma cria. Sem uma profunda crise econômica e social o fascismo não poderia controlar e manipular mentes tão eficazmente.
            Parte da classe média tem consciência disso tudo, pois está numa condição social privilegiada, que desfruta de boa educação, renda, moradia e perspectivas de vida; embora também sofra com a repressão sexual e o moralismo. Alimentam a mentalidade fascista por medo de perder seus pequenos privilégios e, também, porque sabem que a repressão militar não recairá contra si, mas contra o povo pobre e os trabalhadores. A grande burguesia, por sua vez, é beneficiária do fascismo, pois seu sistema econômico, o capitalismo, necessita, em tempos de crise, da imposição de uma ordem que garanta seus privilégios e o aumento dos seus lucros. Apesar disso, está dividida, pois sabe das contradições fascistas. A arma deles também pode se voltar contra si em determinados momentos.
            Ao longo dos últimos anos, a grande mídia, a justiça brasileira, as universidades e tantos outros atores sociais de destaque toleraram o crescimento do discurso do ódio e a disseminação de fake news. Agora parte deles se desespera porque perceberam o crescimento do monstro que pode devorá-los. As universidades, em particular, incentivaram o discurso pós-moderno de “auto verdade” que não necessita de fatos para se sustentar. A política do fascismo atual se baseia nesse tipo de pensamento, que não necessita de fatos e confunde propositalmente a propagação do ódio e do preconceito – teoricamente proibidos por lei – com “liberdade de expressão”.

Como combater o fascismo?
            Tornou-se senso comum entre a esquerda o discurso de que “com o fascismo não se discute, se combate”. É claro que com a cúpula do fascismo e os seus grupos armados não há discussão alguma. Temos que combatê-los na mesma moeda e nos preparar conscientemente pra isso em todos os sindicatos e movimentos sociais. Porém, para a grande massa hipnotizada pelo fascismo, é necessário uma política diferenciada, que leve em consideração a manipulação dos seus sentimentos infantis. E isso, evidentemente, não pode ser resolvido com socos, pontapés ou insultos. À política de massas do fascismo precisamos contrapor uma política de massas do socialismo, do trabalho, do amor e da sabedoria. Esta política ainda é muito vaga, mas temos alguns norteadores pra começarmos a delineá-la.
            Um dos pontos centrais do fascismo é que ele se sustenta na mentalidade desenvolvida pelo capitalismo e, portanto, todo o reformista que ajuda a preservá-la e a conter a revolta social, prepara a sua ascensão, se não hoje, depois de amanhã. A energia revolucionária das massas é, assim, canalizada para a “saída” fascista, do ódio, da repressão militar, da submissão a um “messias”. Nesse sentido, nada há para acrescentar na necessidade de se lutar contra o capitalismo e o reformismo, expresso nos sindicatos pela burocracia sindical.
            Porém, é necessário acrescentarmos novos métodos de percepção e de luta. O fascismo, segundo Wilhelm Reich, constitui a “atitude emocional fundamental do homem em toda a sociedade autoritária”. Como não conhecemos outra sociedade que não a autoritária (pois mesmo a “democracia” burguesa é uma sociedade autoritária para os trabalhadores e o povo pobre), não existe uma única pessoa cuja estrutura esteja isenta da “sensibilidade” e do pensamento fascistas, incluindo a “esquerda”.
            Segundo Carl Gustav Jung, aquilo que chamamos de “consciência civilizada” não tem cessado de afastar-se dos nossos instintos básicos, mas nem por isso os instintos desapareceram, apenas perderam contato com a consciência. O ser-humano acredita-se senhor de “sua alma”, mas enquanto não for capaz de controlar os seus humores e emoções, ou de se tornar consciente das inúmeras maneiras pelas quais os fatores inconscientes se insinuam sobre seus projetos e decisões, certamente não será “seu próprio dono”. Certos aspectos da sua vida exterior e interior são conservados em “gavetas separadas” e nunca confrontados uns contra os outros.
            Um dos exemplos dados por Jung é ilustrativo para o momento atual: um alcoólatra que se deixou influenciar por um certo movimento religioso e, fascinado pelo entusiasmo e as sensações que o culto lhe despertou, esqueceu-se da sua necessidade de beber. Declararam-no milagrosamente curado por Jesus e passaram a exibi-lo como graça divina da dita organização religiosa. Mas depois de algumas semanas, começou a perder sua força e pareceu-lhe válido um “certo revigoramento” pelo álcool, voltando a beber. A “caridosa organização religiosa” chegou à conclusão de que se tratava de um “caso patológico” e não se prestava mais a uma intervenção de Jesus. Logo foi totalmente abafado e esquecido, embora as impressões iniciais causadas nos fiéis tenham permanecido inquestionadas.
            Este é um aspecto da mente moderna que merece nossa atenção. Revela um alarmante grau de dissociação e confusão psicológica. Se, por um instante, conclui Jung, considerarmos a humanidade como um só indivíduo, verificaremos que a raça humana lembra uma pessoa arrebatada por forças inconscientes. Também ela gosta de colocar certos problemas em “gavetas separadas”.
Se utilizar das emoções e sensações individuais, “impressionar” e gerar fortes sensações em uma plateia de fiéis e, uma vez que passe o efeito, se esquecer completamente do que deu origem a tudo isso, é um método de manipulação utilizado não apenas pelas igrejas e o fascismo, mas pela publicidade capitalista, que nos bombardeia 24h por dia e 365 dias por ano. Inclusive as organizações da “esquerda” reformista estão infectadas por este método escuso.
Para combater o fascismo, então, é necessário fazermos um esforço sério para conhecermos as “nossas próprias sombras” e a sua nefasta atividade. Enquanto estivermos tentando convencer a nós e ao mundo de que apenas eles estão errados, isso não estabelecerá diálogo ou solução possível. Um singelo exemplo: numa recente aula pública sobre “como conversar com eleitores de Bolsonaro” na Redenção, organizada por militantes petistas, os velhos métodos que possibilitam a fala apenas para os dirigentes e deputados (isto é, os “iluminados”) tirou o protagonismo dos presentes e a possibilidade de um debate de ideias que surgissem de participantes independentes. Esta educação das massas apenas para “receber e reproduzir” é um embrião de fascismo. O mesmo poderia ser dito sobre a ditadura sindical que os petistas impõem nos sindicatos. Ignorar as críticas chamando adversários de “loucos” não ajuda a combater a mentalidade fascista, apenas a reforça.
***
            Ouvir uma pessoa manipulada pelo pensamento fascista é muito difícil, pois há uma sucessão de ataques irracionais, que além de não se sustentarem, estão baseados em descargas emocionais mal resolvidas. Resistir a isso é muito difícil. Mas o primeiro passo para superar um problema é tomar consciência dele.
            Uma pessoa sob a hipnose fascista é como um doente neurótico ou uma pessoa sob ataque histérico. Xingá-la, espancá-la e devolver na mesma moeda a sua agressividade não poderá solucionar o problema. É preciso tentar entender, separar o joio do trigo e responder calma e racionalmente (como nos é possível). Chamá-la à razão ou demonstrar que outras forças estão operando é importante. A partir de determinadas lógicas desenvolvidas pelo hipnotizado se pode tentar estabelecer um diálogo (isso tudo, obviamente, vale apenas para a massa que é dominada pelo fascismo, não para a sua cúpula, que age com plena consciência). No entanto, se a nossa prática não condiz com as nossas palavras, certamente isso reforçará o discurso fascista e nós perderemos terreno, talvez irremediavelmente. É por isso que, para combater o fascismo, é necessário também uma autorreflexão sobre a nossa própria conduta.

A ideologia do atual fascismo brasileiro
            A ideologia do fascismo é sempre pela manutenção da ordem capitalista. Nesse sentido, não se diferencia do nazi-fascismo da Segunda Guerra Mundial. Porém, atualmente assume alguns discursos peculiares, com o que tenta estabelecer uma conexão com o mundo real. Para combater o seu irracionalismo e a sua ideologia é necessário não se deixar sugestionar pelo refluxo geral e não desanimar. Selecionamos alguns tópicos importantes abaixo:
I) A questão econômica: o socialismo sofre ainda hoje os mais virulentos ataques das classes dominantes. Por um lado, estes ataques se baseiam na experiência da União Soviética, que chamamos de regimes stalinistas. Foram regimes cruéis, autoritários, que não reconhecemos como “socialistas”, mas como um desvio deste caminho. O regime de Stalin enlameou o nome do socialismo perante os olhos dos trabalhadores do mundo e ainda hoje pagamos o preço. Somos os primeiros críticos dessa experiência, mas também não fechamos os olhos ao autoritarismo, a opressão e a miséria dos trabalhadores sob o capitalismo, que apenas aumenta e condena toda a sociedade à barbárie, garante “democracia” para os ricos e ditadura sobre os pobres. Por outro lado, estes ataques ao socialismo também estão embasados na fantasia, na ignorância e num anti-comunismo neurótico e doentio, que apenas esconde o medo da elite de perder os seus privilégios garantidos pelo capitalismo e o próprio medo do novo, da mudança, presente em muitas pessoas comuns.
            A violência urbana, os assaltos, assassinatos e outros crimes são um subproduto de uma sociedade profundamente desigual política e economicamente. A crise econômica, o desemprego e a miséria tendem a agravar a violência urbana e os demais problemas sociais. A concentração da riqueza e da cultura em um polo gera inevitavelmente desempregados, miseráveis e “marginais” no outro. O programa econômico do fascismo não combate as desigualdades geradas pelo capitalismo e, tampouco, resolve os problemas da crise econômica. Ao contrário: a tendência é aprofundá-los. Sendo assim, não podem resolvê-los. O armamento da população civil como suposto combate à criminalidade só terão um desfecho trágico para os mais pobres e, inclusive, para setores da classe média.
            II) A corrupção é um problema intrínseco ao capitalismo. A pressão dos grandes empresários sobre o poder público é uma realidade não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Os políticos e os seus partidos são agentes destes grandes empresários e dos bancos. O candidato do fascismo se vende como ético e um combatente da corrupção, mesmo tendo passado por vários partidos reconhecidamente corruptos (como o PP), recebido caixa 2, sonegado patrimônio milionário e mantido funcionários fantasmas. O PSL, atual partido de Bolsonaro, está tão envolvido na Lava Jato quanto o PT. Somente o irracionalismo fascista, que envolve outros sentimentos, é capaz de manipular e apagar tudo isso.
A direita tradicional e fascista vende a ideia de que todos os problemas da sociedade estão concentrados no Estado e nos serviços públicos; e que o mercado e o setor privado são a solução. Por isso, sustentam as privatizações, que representam lucros bilionários para meia dúzia de acionistas, baseado numa sucessão de escândalos de corrupção. Sendo assim, os problema de corrupção não podem acabar sob um governo fascista. Apenas serão abafados pelo cassetete policial. As privatizações não resolveram nenhum problema social do Brasil e só aprofundaram as desigualdades, legalizando o saque de riquezas naturais do país. Os agentes do mercado e o setor privado geralmente são os principais corruptores do poder público, não sendo melhores, nem piores do que qualquer político corrupto ou serviço público. Todas as raízes econômicas levam ao principal problema que é a exploração de classe e a propriedade privada. Nisto o fascismo jamais tocará! Ao contrário: é o principal agente militar!
III) Outra “proposta” eleitoral do fascismo é aumentar o imposto sobre os mais pobres, preservando os milionários; acabar com os direitos trabalhistas, como o 13º salário, férias, licença maternidade e outros. Muitos trabalhadores votarão nesse candidato, mesmo sabendo disso tudo. Apesar do choque inicial que temos ao saber disso, é necessário falar e repetir isso aos quatro cantos, sem esmorecer, tal como se chama várias vezes à razão um sonâmbulo.
            IV) A questão da Venezuela: a campanha eleitoral do fascismo tenta associar o regime da Venezuela ao “comunismo” e à fome. A história recente da Venezuela é marcada por esta guerra não declarada entre a elite e o movimento chavizta, entrecortado por inúmeras tentativas de golpes de Estado. O assim batizado por Chávez “socialismo do século 21” ou o seu “regime bolivariano” nada tem de socialista. Não mexeu na propriedade privada dos meios de produção. Pretende patrocinar o desenvolvimento social a partir do Estado capitalista, fortalecendo as instituições democrático-burguesas. Nesse intento, choca-se inevitavelmente com a elite nacional e estrangeira, ávida por colocar as mãos na totalidade dos recursos do petróleo. O que há na Venezuela, então, é uma disputa entre a elite e o governo chavizta pelos despojos da exploração petroleira. Para a elite latino-americana, obsessivamente anti-comunista, isso é “socialismo”, mesmo que a propriedade privada e o capital sigam intactos.
            O Estado “investir” na sociedade a partir de recursos do petróleo ou criar programas sociais, por exemplo, não torna um governo socialista ou comunista, como a intelectualidade doentia da classe média e do fascismo afirmam. Ao contrário, os programas sociais são orientados pelo FMI e o Banco Mundial. Este irracionalismo ignora toda e qualquer premissa teórica do debate econômico mais elementar.
            V) Com a mesma intenção que tenta criar um fantasma ligado à Venezuela, o fascismo inventa uma “ameaça comunista” para manipular o medo irracional das massas e fortalecer o seu próprio poder político. Foi assim com o nazi-fascismo na Europa, McCarthy nos EUA, Getúlio Vargas e a ditadura militar no Brasil. Agora não é diferente. Desgraçadamente não aprenderam nada com a história (e talvez nem queiram aprender pelo medo da verdade). A “ameaça comunista” é associada ao PT, aos seus governos (que, assim como a Venezuela, nada tem de comunista; o próprio PT reconhece essa acusação como “fake news”). O antipetismo é utilizado então como uma forma de destilar preconceito contra toda a esquerda, contra os pobres, contra as manifestações populares, os negros, as mulheres, os LGBTTs. Tudo isso é uma maneira de destilar preconceito contra ideologias e a organização política dos trabalhadores, sem fazer uma real reflexão sobre as experiências dos governos petistas; apenas preconceitos e mentiras para melhor manter os privilégios sociais das classes médias e da burguesia.
            VI) O fascismo atual não está ligado diretamente à Igreja Católica, mas às centenas de igrejas evangélicas atuais no Brasil, que funcionam como espécies de milícias (ainda não armadas). A maior parte da massa evangélica, hipnotizada pela manipulação emocional do fascismo, não vê contradição entre o discurso do ódio, do armamento, da raiva descontrolada, que redundou em agressões e assassinatos de eleitores de oposição ao fascismo com a mensagem de Cristo. Pra mentalidade irracional tudo é tratado como coerente e conexo. Parte da explicação para este “fenômeno” está no livro O assassinato de Cristo, de Wilhelm Reich, onde ele aponta que os cristãos “se purificam rezando pelos pecados do passado para continuarem cometendo assassinatos no presente”. Portanto, o frenesi e a manipulação religiosa das massas evangélicas contém o germe da mentalidade e da ação fascista.
            VII) Talvez a principal característica do fascismo atual é a manipulação através da divulgação de “fake news” nas redes sociais, cujos assessores são técnicos utilizados até mesmo pelo imperialismo. Elas são parte indissolúvel dessa dominação fascista, pois ajuda a espalhar e consolidar o irracionalismo, uma vez que a hipnose da massa necessita deste controle a partir do ódio, do sadomasoquismo e do medo. O atestado de que o fascismo necessita deste método escuso foi a recusa de Bolsonaro em assinar um acordo de combate às “fake news” com Haddad (PT).
            VIII) Outra característica do fascismo é a imposição e a exaltação da família patriarcal, que é a unidade básica geradora e disseminadora da mentalidade fascista. Não apenas porque o modelo reforça a “ordem social fascista”, de um guia, sendo o símbolo paterno; a nação, o materno; e os “filhos”, a massa dominada pelo líder. A família patriarcal reprime a sexualidade e pune. Quem clama pela repressão de uma ditadura militar e a tortura busca, ao mesmo tempo, o “prazer” sadomasoquista e a punição por um desejo ou uma culpa inconsciente. O conceito de família é quem acolhe com amor, dedicação e compreensão, independente do formato ou de qualquer orientação sexual. Inclusive deve-se respeitar o direito de quem não quer ter família.
            IX) A campanha fascista tenta dissociar a imagem de Bolsonaro do nazismo, como se a única característica deste regime fosse a execução em massa de judeus. O seu “principal argumento” é que Bolsonaro apoia o Estado de Israel, o que comprovaria que ele, de fato, não é um nazista e não simpatiza com tal regime. O Estado de Israel existe há mais de 60 anos e há decadas comete atrocidades contra os palestinos, tomando seus territórios, construindo muros e campos de concentração típicos do nazismo. Já acompanhamos inúmeros casos de genocídios, torturas e assassinatos. Setores do próprio sionismo combatem o Estado de Israel e o reconhecem como autoritário e tirânico.
            Além disso, é importante frisar o que disse José Saramago: “Os fascistas do futuro não vão ter aquele estereótipo de Hitler ou Mussolini. Não vão ter aquele jeito de militar durão. Vão ser homens falando tudo aquilo que a maioria quer ouvir. Sobre bondade, família, bons costumes, religião e ética. Nessa hora vai surgir o novo demônio, e tão poucos vão perceber a história se repetindo”.
            X) A massa de trabalhadores que apoia o fascismo está cega e é dominada por forças inconscientes. Será esmagada e humilhada, tal como foram os trabalhadores italianos e alemães pelo nazi-fascismo, sendo cúmplices de torturas, agressões e assassinatos. Trabalharão contra si próprios. Querendo mas ao mesmo tempo temendo a liberdade, terminaram reféns de um líder demagogo e populista, que “dialogou” com os seus sentimentos mais macabros e sujos. Por certo a miséria teórica e prática da “esquerda” – que em parte alimentou métodos similares – contribuiu muito para isso.
Porém, os objetivos do regime fascista são claros: discursando contra a "ditadura comunista", enfiarão goela abaixo do país o ajuste fiscal capitalista, mantendo o Brasil como plataforma de exportação de matérias-primas, usando a repressão do povo e daqueles que resistem como as últimas ferramentas que a classe dominante e o imperialismo têm para manter seus privilégios e aumentarem seus lucros a qualquer custo. A burguesia prepara um salto de acumulação do capital, garantindo as verbas públicas e o Estado como patrocinadores exclusivos da sua taxa de lucro, preparando o terreno com o porrete policial para o regime de exploração típico do sudeste asiático, em particular do capitalismo chinês, que paga 1 dólar por dia aos seus trabalhadores e tem lucro recorde para todas as multinacionais que lá operam. Assim, finalmente, o sonho burguês de retornar à exploração da revolução industrial do século XIX estará realizado.
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            Educados na perspectiva cristã do “assassinato de Cristo”, de cometer os seus crimes (assassinar um homem) e depois ser eternamente perdoado para voltar a cometer os mesmos crimes, num círculo vicioso infindável e assustador, com a consolidação do governo fascista, a massa que o sustenta se verá novamente com as mãos cheias de sangue e, então, suplicará por perdão para “os seus pecados”. Nós, então, devemos dizer: sim, vocês sabem o que fazem! Existem milhares de exemplos na história!
            A luta contra o fascismo necessita de firmeza e coragem para manter a coerência. A direita, o fascismo e mesmo as burocracias sindicais fogem delas “como o diabo da cruz”. A coerência é a nossa principal arma contra o irracionalismo fascista, que quer nos levar para a lama, para a sua areia movediça de incoerências, ódios e medos. Não vacilemos! Manter a lucidez e a coerência no meio de um surto de cegueira faz parte da nossa responsabilidade histórica. Não hesitemos de gravar, não esquecer e punir todos os responsáveis de acordo com o nível do seu envolvimento com a futura ditadura militar.

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