segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

As lições da condenação de Lula pela justiça burguesa

Meu primeiro voto foi no Lula. Em 2002 estava me formando no Ensino Médio e recém tinha completado 18 anos. Olhando retrospectivamente não me arrependo: estava de acordo com a minha consciência da época.
Olhando para toda história do país, o PT foi o que de melhor a classe operária conseguiu produzir enquanto movimento de massas. Também foi o que mais se aproximou de uma expressão política da classe operária (sim, eu sei que é pouco e que hoje podemos mais; por isso a razão de ser desta reflexão). De 1979 (ano da fundação) até 1987 (ano do seu 5º encontro nacional), partindo de experiências de organizações de base, locais, barreais e sindicais, surgiram boas sínteses políticas e teóricas que tateavam na busca por um "socialismo brasileiro", renunciando às experiências sociais-democratas (reformistas) e burocráticas (stalinistas). Teve papel decisivo no fim da ditadura militar, embora tenha se iludido e deslumbrado com o novo regime "democrático" que se abria.
Vieram os anos de 1988 (Constituição Federal) e 1989 (1ª eleição que Lula participou) e a década de 1990, que adaptou as pretensões dos programas e declarações políticas à democracia burguesa. Faltou clareza, honestidade e ousadia para romper com esta armadilha. O pragmatismo e o imediatismo exigiram o sacrifício do programa. Este caminho sem volta desemboca num único lugar: a traição de classe.
O sindicalismo combativo que desbancou os "pelegos" dos sindicatos oficiais dos militares transformou-se no sindicalismo cidadão cutista. Adaptou a organização de base dos trabalhadores ao viciado jogo democrático-burguês. O orçamento participativo não decidia nada. A denúncia dos 300 picaretas com anel de doutor transformou-se na busca utilitária de "governabilidade" com o PMDB, PP, PSB et caterva. A "carta ao povo brasileiro", escrita por Lula quando da sua primeira posse, rasgou as primeiras declarações pretensamente classistas do partido e o submeteu totalmente às diretrizes do mercado e do sistema financeiro. Em 2002 ainda não tinha consciência para compreender a gravidade dessa carta.
Lula não está sendo condenado por corrupção. A burguesia brasileira jamais condenaria um político por isso (e o seu sistema judiciário, sua mídia, seus partidos e personalidades tampouco tem moral para isso). Isso significa se condenar a si própria. Ela está condenando a história pregressa de Lula. Quer desmoralizar a primeira trajetória do PT; dar a entender que todo o movimento se perverte; que Lula é apenas mais um; que não há saída senão submeter-se à sociedade tal como ela é, aceitando os partidos tradicionais, a corrupção tradicional, o poder absolutista do mercado e do sistema financeiro.
Não!
Não fiquemos cego com a peste emocional sustentada pela repressão e decadência moral da sociedade burguesa, pela mídia, pela perversão e pelo sadismo da classe média. Lula precisa ser julgado pelos trabalhadores e condenado por sua traição ao programa proletário, por sua adaptação ao regime democrático-burguês. Aprendamos definitivamente com uma amarga experiência: o reformismo e a conciliação de classe (frente popular) não gera outra coisa senão a adaptação e a traição. Toquemos fora a estratégia ilusória social democrata (ou democrático-popular, no linguajar petista) e a superemos por uma estratégia política revolucionária, de organização por local de trabalho, por bairros, pela base. Continuemos no caminho perseverante de onde o PT se desviou em 1987. Não julguemos a doutrina e o programa pela prática daqueles que a traíram, mas por aqueles que a mantém de pé sob as circunstâncias mais adversas.
Superemos o PT por um partido e uma estratégia melhor. Sem messias e sem conciliação de classe. Jamais sujei minhas mãos votando no lamaçal podre e colonial do PSDB, PMDB, Dem., etc.; e jamais as sujarei! Também não desperdiçarei meu voto outra vez no Lula e em um partido já superado pelo teste da História. Não sou refém do cinismo do "menos pior" e, tampouco, da peste emocional da direita colonial
Meus olhos estão no futuro, respeitando as boas experiências do passado. Parte da esquerda se apega ao passado e tem medo do novo. Não há como superar o velho sem tocar nas feridas, combater as ilusões flagrantes e buscar corajosamente a nossa própria autonomia.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Capitalism isn't working

Ouvimos sempre das classes médias e alta no Brasil que o "socialismo não funcionou". Este autêntico estigma gerou diversos preconceitos. Vieram então os anos de 2011-2013 e inúmeras vozes ecoaram desde o "Occupy Wall Street", Londres (Occupy London) e a Europa continental falando o oposto (que está expresso na frase da foto).

O sistema funciona apenas para poucos às custas de muitos. O resto corre atrás diariamente, e jamais conquista o seu lugar ao sol. Para que exista um lugar ao sol para os poucos, é preciso que os milhares pensem que um dia também conquistarão este lugar. A indústria das ilusões funciona a todo vapor, 24h por dia, 365 dias por ano para reforçar estes embustes.

E a "terra das oportunidades e da liberdade", que brilha como um oásis para os miseráveis iludidos do "terceiro mundo", tem um grande fosso da imigração que exige vistos, documentos, comprovações humilhantes; repudia e expulsa os refugiados das guerras que patrocina; diante do desespero de centenas de milhares de desempregados, subempregados e miseráveis, temos o imponente muro de Donald Trump e tantos outros erguidos com a mesma finalidade; sem falar nas justificativas absurdas para a negação dos vistos, nos naufrágios em inúmeros mares e oceanos; nos interrogatórios, na tortura psicológica, nas deportações (leia-se: expulsão - não somos terráqueos; somos terráqueos de apenas uma pequena porção da Terra).

A terra das oportunidades do sistema é um castelo de cartas: poucos podem desfrutar dela e está fundamentada na obrigatoriedade de que a maioria esmagadora da população mundial fique a olhando de fora, trabalhando duro, ganhando pouco e destruindo seus próprios recursos naturais para sustentá-la.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A direita em pele de esquerda

Se a definição histórica de "esquerda" sustenta que os indivíduos e partidos deste campo querem a mudança da ordem social, como podem continuar chamando de "esquerda" quem justamente se adaptou à ordem social?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Dos otimismos

Do otimismo 1:

O conservadorismo de direita em voga é a expressão dos últimos espasmos históricos da superação do sistema.

Do otimismo 2:

Que a experiência desta ofensiva da direita clássica contra o PT sirva para os trabalhadores tirarem as devidas conclusões de sua estratégia política e de que ele nunca passou de uma "ala esquerda" da burguesia.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Sobre o pragmatismo

Algumas vezes fui criticado por familiares e amigos por não ser muito pragmático. Perder tempo em reuniões "intermináveis" que garantem pouca coisa ou quase nada seria uma demonstração cabal deste meu lado nada pragmático.
Em contra partida, muitas vezes já ouvi: tecnologia boa é aquela que funciona (ignorando os efeitos colaterais sobre a natureza). O que falta para o nosso país é o pragmatismo dos norte-americanos. O PT é realista; fez um leque de alianças para crescer e ter governabilidade. A palavra de ordem do mundo "moderno" é o pragmatismo (ou utilitarismo, melhor dizendo).
Certamente um pouco de pragmatismo é importante. Não podemos apenas contemplar a vida e suas necessidades de forma passiva e diletante. Algo sempre precisa ser feito, encaminhado, aprovado; em última instância, executado. Mas a que preço e respeitando quais critérios?
Temos vivido o oposto disso: o rolo compressor do pragmatismo, do utilitarismo, da lógica do "se funciona é bom", seja o que for, custe o que custar, mate o que matar. Uma vez que a lógica pragmática se imponha, tal como a sociedade capitalista a exige, então deixamos uma boa parte do nosso lado humano morrer. Com ele perecem o bom romantismo, a capacidade de olharmos a beleza da vida e, porque não(?), o despedaçamento das pontes entre os arquipélagos humanos.
O pragmatismo em política e economia significa a geração de inúmeros horrores, injustiças, genocídios, traições, mentiras e, inevitavelmente, o cálculo egoísta e frio do fim atingido "por si mesmo". O pragmatismo precisa existir, mas precisa também ser severamente controlado para não abafar o amadurecimento e a superação das contradições, a natureza e, em última instância, o lado humano em nós.
Dentro dessa lógica e por tudo isso posso afirmar, seguramente, que realmente não sou pragmático. Este tipo de pragmatismo é uma herança que devemos renunciar definitivamente.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O PSDB e a classe média

A classe média brasileira reivindica os economistas burgueses clássicos (Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill) sem nunca ter lido uma única página de suas obras e, como sempre, descontextualizando-os totalmente. Ainda assim, pensa que domina a situação, que possui opinião política e econômica, e que está em perfeita sintonia com a realidade econômica do Brasil e do mundo. Falam com desdém sobre "socialismo" (também sem nunca ler uma única linha de análise séria sobre o assunto) e reivindicam liberdade econômica (oferta e procura), liberdade individual, a propriedade privada, o desenvolvimento tecnológico como principal fator para considerar se um sistema econômico "deu certo" ou não.
Mal sabem eles, do alto do seu pedestal de mármore, que o PSDB não defende efetivamente nenhum desses valores, apesar de também reivindicá-los em discursos vazios. Esta classe média (e lamentavelmente muitos trabalhadores) não se importam com a coerência entre discurso e prática. Consomem qualquer discurso que sacie sua argumentação de ocasião. O PSDB, tal como PMDB e todos os outros partidos burgueses brasileiros, não possuem a mínima conexão entre aquele discurso e a sua prática concreta, pautada no velho estilo coronelista e paternalista do Brasil. São totalmente reféns dos dogmas neoliberais, decretados de cima para baixo pelo FMI, Banco Mundial, OMC e outros órgãos imperialistas ao Brasil, o que torna seu discurso sobre "liberdade econômica, individual" e "avanço tecnológico" um disparate cínico, que não apenas não gera liberdade ou desenvolvimento de espécie alguma, mas só aprofunda a dependência do país.
A começar pelo fato de que Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill analisavam e pensavam a realidade histórica e econômica dos seus países, não uma abstração repetida como papagaios semi-coloniais, importada acriticamente de países estrangeiros. Desde que adentramos a época do capitalismo imperialista não existe mais "liberdade de mercado". Os preços são decididos pelos conselhos acionários das grandes empresas multinacionais numa disputa entre o grande capital financeiro; logo depois são tornadas oficiais através do lobby sobre os políticos, os partidos burgueses e o parlamento. O PSDB não defende nenhuma política que garanta um espaço para o Brasil neste cenário internacional, ou mesmo nacional. Ao contrário: sustenta a incondicional submissão ao mercado financeiro, vendido como a única política possível. Isto significa submeter o país às privatizações, à retirada de direitos dos trabalhadores (destruir a legislação trabalhista em vigor no país, por exemplo), o sucateamento dos serviços públicos (não investimento, destruição de planos de carreira, de condições de trabalho de servidores). Os bancos públicos, por exemplo, dentro desta lógica não poderiam disputar o mercado com os bancos privados, visando uma política de investimento e de desenvolvimento social. Isto contraria os dogmas neoliberais e a ditadura do mercado financeiro: é uma ação condenada pelo tribunal da santa inquisição dos bancos e sentenciada à fogueira por "irresponsabilidade econômica" pelos órgãos imperialistas internacionais (leia-se: heresia econômica).
Sem dúvida podemos comparar os governos do PSDB aos antigos colonos portugueses, que governaram o país sob o comando da metrópole europeia e temendo a deus tanto quanto qualquer acusação de infração ao pacto colonial. Vejamos um singelo exemplo: em todas as eleições, particularmente na de 2016 que elegeu o prefeito playboy do PSDB em Porto Alegre, sempre ouvimos o discurso de "modernização". Mas o que seria essa modernização? Seria, por exemplo, um ambicioso projeto de construção de um metrô que ligasse todos os principais bairros da capital gaúcha à sua região metropolitana, facilitando a integração e o desenvolvimento econômico, social e cultural (e de quebra ainda poderia se autofinanciar)? Não! O PSDB não fala em metrô em Porto Alegre por que isso significa se chocar contra o cartel das empresas de ônibus, que controlam a circulação de passageiros e tem o poder absolutista de definir tarifas (tudo isso sem licitação). Em contrapartida, o PSDB fala em "modernizar" a justiça, o que pra este partido significa acabar com a justiça do trabalho, que segundo a lógica do prefeito pequeno-burguês é "desperdiçar milhões" por ano.
A classe média fecha os seus olhos a tudo isso. Idolatra o PSDB, PMDB ou qualquer outro partido que fale contra o PT, porque este partido supostamente representaria a "esquerda", o "comunismo", em última análise, o "fim dos seus privilégios". 13 anos de governos petistas não foram suficientes para demonstrar que mais da metade das ações de governo do PT foram, no campo macroeconômico, idênticas ao do PSDB. Preferem continuar elegendo "bruxas" para queimarem e "cristos" para crucificarem. Exemplos não faltam. Estão por aí, nas redes sociais. Os dogmas econômicos neoliberais e o sistema capitalista como um todo "não dão certo" para a maioria do povo e, consequentemente, para o desenvolvimento do país. Isso não impede que o PSDB e a classe média os defenda arduamente, justamente porque estes são indicados pelos órgãos neo-colonizadores internacionais. A política neoliberal e a decadência do capitalismo apenas tem aumentado a recessão econômica, a desigualdade social, a pobreza, o desemprego, a violência urbana, o baixo desenvolvimento e desempenho da saúde e educação públicas, a espoliação internacional e, novamente, o não desenvolvimento do país. Até porque para "desenvolvermos" o país, necessitamos romper com uma política e uma estrutura que submetem e impedem este desenvolvimento.

Só não vê quem está alienado ou quem tem a conta bancária recheada...