quinta-feira, 31 de março de 2022

O problema da direção política

Na literatura marxista de orientação trotskista, o termo político "direção" possui grande destaque e importância. O primeiro parágrafo do Programa de Transição acusa, nada mais, nada menos, que "a crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária".

Apesar disso, com o desenvolvimento do pensamento pós-moderno em suas distintas variantes — sobretudo as de influência anarquista —, o conceito de "direção" vem sendo questionado como um problema de ordem autoritária. Seria a "direção" uma invenção e um pretexto para autoritarismos? Ou seria ele correto e importante para qualquer tipo de orientação política  principalmente para aqueles que querem enfrentar o grave problema do espontaneísmo?

Para começar é importante definir o que é uma "direção política"? Uma direção política pode ser caracterizada como um partido, uma organização ou uma corrente política (seja dos movimentos sociais, sindicais, estudantis, etc.). Não existe nenhuma força política de massas que não tenha uma direção política, pelo simples fato de que não existem vácuos políticos. Alguém (ou alguma força político-econômica), quer gostemos ou não, ocupa o papel de direção. É por isso que a burguesia e seus ideólogos tentam vender a ideia de que existe "neutralidade" e que, portanto, existiriam posições "naturais" versus as "artificiais", "vindas de fora" — esta é toda a construção ideológica de projetos reacionários como o "Escola sem partido", por exemplo , o que demonstraria que não haveria necessidade de "direção política".

Cada direção se expressa através de um programa que apresenta uma orientação, um caminho pelo qual uma classe, algumas classes, e — consequentemente  a sociedade inteira, deve ou deveria seguir. Enquanto a grande mídia, os partidos burgueses e suas distintas forças políticas, econômicas e sociais, vendem-se como algo "neutro e natural", não disseminadoras de nenhuma ideologia e nenhum programa político, querem lançar preconceito contra as correntes políticas de orientação socialista que apontam a necessidade de seguir caminhos alternativos, vendendo-as como doutrinadoras e manipuladoras (e escondendo a sua doutrinação e manipulação atrás disso).

Há também as direções de orientação reformista, geralmente ligadas aos partidos socialistas de caráter reformista, que buscam se adaptar à institucionalidade burguesa e convencer permanentemente a classe trabalhadora a seguir este caminho, apresentando-o como "natural" e o "único possível". Esta é a orientação atual do sindicalismo brasileiro, hegemonizado por correntes como CUT e CTB. Seguindo toda a legalidade burguesa em qualquer procedimento (mesmo os com a correlação de forças favorável), matam qualquer iniciativa de base ou que a incentive a ir além. Esta orientação política e sindical tende a conter, domesticar e adoçar a maioria dos descontentamentos vindo de baixo. Torna-se parte, portanto, da manutenção do sistema.

Para uma mudança real de qualquer sociedade, é necessário uma orientação revolucionária, que tenha como horizonte o programa socialista. É imprescindível questionar os alicerces capitalistas da sociedade, sem o que não podemos ter nenhuma mudança séria. Assim sendo, é inevitável o confronto de posições políticas expressas por cada uma das direções que disputam o movimento de massas, sejam elas burguesas ou reformistas.

Aí começam os nossos problemas, porque muitos setores da "esquerda" e dos movimentos populares afirmam que isso é autoritarismo, pois a "massa já sabe o que fazer". Com este tipo de compreensão, propor algo ou disputar a direção da massa seria não apenas autoritário, mas simples demonstração de arrogância e prepotência.

O discurso demagógico de parte da "esquerda" e o problema menosprezado do espontaneísmo
Partindo de uma preocupação correta, resultado das experiências de imposições autoritárias a partir de direções políticas e sindicais burocráticas que desconsideram argumentos divergentes e estão acostumados a não ouvir ninguém, a não ser os correligionários e o próprio espelho, muitas correntes e ativistas independentes acreditam que a saída é o movimento espontâneo, supostamente "sem direção". Segundo estes, a massa já saberia espontaneamente e intrinsecamente o que fazer. Portanto, não precisaria de programa, de orientação e, consequentemente, de direção.

É comum ouvir estes ativistas defendendo que "é preciso ir para a periferia", "para a favela". Lá está, praticamente pronta e exata, a resposta para tudo. Bastaria ouvi-las! Por isso, ainda segundo este ativismo, o correto é "dar o protagonismo para a  massa".

Mas o que seria ouvir e dar protagonismo à massa? Seria, basicamente, aceitar a massa tal como ela é, independentemente de suas eventuais concepções conservadoras e reacionárias. Criticar tais concepções seria "autoritarismo". Tal posição é uma forma de culto ao espontaneísmo, embora muito bem disfarçado e, até mesmo, aparentemente nobre, já que "não quer tirar o protagonismo da massa".

Ter uma posição política, um programa e compreender a importância do conceito filosófico de "direção política", evidentemente, não deve significar que possam ter uma relação arrogante, impositiva e burocrática com a classe trabalhadora, onde quer que ela esteja. Isto é, não se deve criar uma nova relação de subordinação de que um lado detém todo o conhecimento político e o outro não sabe nada. De fato a maior parte da "esquerda", sobretudo por estar burocratizada até a medula, tende a reproduzir o autoritarismo e a arrogância autoritária do de "cima para baixo". Porém, não é a filosofia do espontaneísmo que irá corrigir este grave desvio, mas justamente a crítica impiedosa ao programa, à teoria e, principalmente, à prática dessas direções. Não é jogando tudo fora e dizendo "viva o protagonismo da massa", que iremos resolver o problema; até porque na esmagadora maioria das vezes (para não dizer sempre!) este "protagonismo espontâneo" significa, na prática, a sua subordinação à alguma direção burguesa.

Precisamos sim ouvir e ter trocas (não imposições) com a classe trabalhadora que mora nas periferias e nas favelas (ou em qualquer outro local). Contudo, isso não pode significar uma abstenção do diálogo crítico que precisamos desenvolver. Isto é, em algum momento será necessário criticar, assim como ouvir críticas. Dito de outra forma: se um militante abandona tudo e vai morar na periferia, como resultado desta compreensão de que "é preciso ir pras favelas", deverá acompanhar o resultado prático da sua orientação política e não achar que o simples fato de morar lá ou ir permanentemente até lá, por si só, muda alguma coisa. Dito de outra forma: se a influência da Igreja Evangélica continua a crescer desmedidamente, enquanto que a politização e o trabalho militante continua marginalizado e diminuindo, deve haver algo de errado.

"Dirigir politicamente" é sinônimo de autoritarismo?
Se observamos a prática da maior parte da "esquerda" brasileira, bem como do movimento comunista ao longo da história (sobretudo na sua versão stalinista), a resposta para esta pergunta é desoladora. Mesmo que a sua retórica fale em "poder popular", "protagonismo das massas", "poder da classe trabalhadora", etc., entende a "direção das massas" de um ponto de vista muito estreito, desenvolvendo e aprofundando práticas autoritárias de comando sobre a classe trabalhadora. "Dirigir", nesses casos, é compreendido como a subordinação irrestrita de militantes e da classe trabalhadora em geral ao "partido" ou à "organização política". Não é necessário exemplos, basta observar muito atentamente as práticas e relações nos sindicatos, partidos e movimentos sociais para se ter uma ideia.

Dirigir, na concepção marxista-trotskista, é debater, sugerir, orientar, polemizar; jamais impor, obrigar ao obedecimento, coagir, constranger, agredir. Como a classe trabalhadora não é um todo homogêneo, sendo mais um mosaico do que um quadro fechado em si mesmo, haverão enfrentamentos com setores influenciados pela ideologia burguesa e conservadora. Contudo, seria importante desenvolver métodos mais transparentes de debate, agitação e propaganda sobre as necessidades de coação em casos muito específicos. Isso, provavelmente, só se dá em momentos de agudeza da luta revolucionária. O que vemos, ao contrário, são pequenas e grandes organizações atuais sendo autoritárias no cotidiano, sem falar no pernicioso método muito disseminado da "diplomacia secreta" (o que é um contrassenso entre correntes que se reivindicam socialistas e revolucionárias, para dizer o mínimo).

Dirigir, portanto, para além de propor, debater, sugerir, orientar, polemizar, de forma franca e honesta, mas amistosa e aberta às trocas e críticas sinceras, significa, sim, tentar estar no cotidiano de cada segmento da classe trabalhadora, não para ouvir acriticamente e aceitar tudo calado — como defende a demagogia espontaneísta , mas para aprender a conviver e desenvolver uma forma "não-artificial" de criticar o que tem de conservador e reacionário na sua conduta diária, como, por exemplo, o sentimento de dependência e o "espírito de rebanho", tentando desenvolver espírito de iniciativa pautado em um projeto de construção social coletiva; bem como saber ouvir críticas e saber dialogar com elas (mesmo com as críticas injustas e indevidas). O mosaico humano que compõe o conjunto da classe trabalhadora, desde que observado e considerado com criticidade e rigor, representa uma riqueza para qualquer movimento socialista; e não uma ameaça, como foi tratado até hoje.

domingo, 20 de março de 2022

Rússia e China cumprem um papel antiimperialista contra os EUA?

 


A atual conjuntura, marcada pela guerra entre Rússia, secundada por China – de um lado –, e Ucrânia e OTAN/EUA – de outro –, divide as posições da esquerda e cria a possibilidade para uma reflexão coletiva.

         O centro das polêmicas, que termina por se reduzir a duas posições principais, é o seguinte: um lado apoia direta ou indiretamente a manipulação da OTAN-EUA sobre a Ucrânia, ignorando esse fato decisivo e condenando as correntes políticas ou militantes que compreendem o direito da Rússia de se defender do cerco militar e das provocações que vem sofrendo; o outro setor apoia a Rússia acriticamente, depositando consciente ou inconscientemente esperanças de que ela destrua ou, pelo menos limite, o poder do odiado imperialismo estadunidense (em alguns casos negando que a Rússia seja ou cumpra um papel imperialista), apontando para a criação de um “mundo novo”, multipolar.

 

Nota sobre o nível do debate nas redes sociais

         Como em todo o debate, há grãos de verdade em ambas posições, mas é necessário observá-los com cuidado e contrastá-los com o quadro mais amplo. Sabemos que uma posição que ignora fatos importantes da conjuntura e se coloca como independente de ambos os campos imperialistas, sendo muito minoritário por entre a classe trabalhadora, pode cair numa espécie de abstração ou de purismo, mas isso precisa também ser pontuado e especificado em cada texto e análise concretamente – isto é, precisam ser destacados e apontados trechos que denotem esta abstração.

         As correntes de esquerda que se digladiam nas redes sociais não possuem representação na Ucrânia ou na Rússia, fazendo, portanto, no geral, análises de fora da realidade onde estes fatos desenrolam-se. Daí provém as mais variadas formas de acusação de abstração e cumplicidade com um ou outro lado da guerra. Porém, mesmo que não haja representação direta, a interpretação mais fidedigna dos fatos e do papel cumprido por cada país – sem dogmas ou delírios – tem papel decisivo sobre a elaboração de uma política de independência de classe e, certamente, pode e deve ser feita, mas com a devida humildade.

         Por outro lado, o que vemos nestes debates é uma reprodução de políticas dos teóricos marxistas do século XX, transplantadas mecanicamente para o presente, sem nenhum tipo de independência ou criatividade intelectual que leve de fato em consideração a conjuntura atual. Poderia uma realidade ou um fenômeno social se reproduzir na história exatamente igual? Não! Por este motivo, o importante resgate dos teóricos marxista se faz necessário como referência e ponta pé inicial de qualquer análise, mas evitando a reprodução canônica.

 

Nota sobre a conjuntura

         A “guerra” é resultado, sem sombra de dúvidas, das provocações estadunidenses feitas através da OTAN, que vinha cercando a Rússia de diferentes formas. O imperialismo ianque está em declínio histórico, por isso suas ações contra os imperialismos concorrentes se intensificam, obrigando-lhe a ir para a ofensiva, na maioria das vezes, de forma camuflada.

         A burguesia norte-americana – sobretudo aquela que dirige o deep state – manteve sua hegemonia mundial baseada nos mais diversos níveis de invasão, agressão e controle militar. Rapinaram países através de golpes de estado em “defesa da democracia”; derrubaram presidentes “democraticamente eleitos” que lhes eram inconvenientes; espionaram e espionam governos, empresas e pessoas comuns; financiam e sustentam ditadores e monarquias arquireacionárias com uma mão, enquanto pregam democracia e direitos humanos contra os inimigos – geralmente taxando-os de “comunistas” e “terroristas” (quando os principais terroristas são eles) – com a outra mão; manipulam meios de comunicação e redes sociais, instigando, destilando e manipulando o ódio humano mais rasteiro. Está fora de dúvida o papel nefasto cumprido pelo imperialismo estadunidense no mundo: é um câncer em metástase, cuja manutenção implica em dor e sofrimento para a maior parte dos países do mundo.

O ódio de largas parcelas da população latino-americana e do Oriente Médio contra o império estadunidense, portanto, é compreensível e, até mesmo, justificável, dadas as agressões e violações que sofreram e sofrem como condição de existência deste imperialismo. Este ódio, no entanto, tende a levar setores da esquerda a apoiar qualquer “saída” que o debilite ou supostamente o derrote, sem se preocupar com o que vem em seu lugar – inclusive que sobrevenha um outro tipo de imperialismo. A lógica é a mesma do imediatismo economicista, que tende apoiar qualquer movimento que ocorra por quebrar a “mesmice”, independentemente da direção, das bandeiras e do seu possível desfecho.

***

         Do outro lado desta disputa encontram-se China e Rússia – as candidatas a novo imperialismo hegemônico com discursos de “mundo multipolar”. A postura chinesa – não belicista atualmente, tolerante com empréstimos financeiros internacionais e supostamente não interventora nos assuntos internos de cada país –, bem como a russa, que não demonstra intenções expansionistas e manipuladoras para além do seu entorno, parecem demonstrar a superação de um passado imperialista da história, apontando para uma outra perspectiva, multipolar, mais “democrática” e “inclusiva”.

         Realmente há diferenças pontuais importantes entre o agressivo imperialismo estadunidense – que mesmo hoje continua manipulando países, patrocinando e terceirizando guerras e golpes – e o nascente imperialismo sino-russo, que, para se firmar, precisa justamente aparecer com uma “nova” imagem para sustentar suas pretensões à potência hegemônica. Um movimento revolucionário não deve se furtar a apontar essas diferenças entre os imperialismos e a conclamar a classe trabalhadora mundial a se aproveitar destas diferenças. Contudo, ao contrário do que acredita e prega grande parte da esquerda, ainda tratamos de campos imperialistas em disputa.

         A dinâmica histórica coloca tarefas distintas para cada um dos campos imperialistas: o imperialismo estadunidense depende da dominação agressiva, interventora, intimidadora – tipicamente Ocidental; o imperialismo sino-russo (sobretudo o chinês) se caracteriza por ser silencioso, “propositivo”, não-interventor, supostamente “preocupado” com “soberanias nacionais”. Isso se dá desta forma não apenas pela condição econômica mundial, que favorece o a ascensão chinesa, já que atualmente “todos os caminhos” e “todas as rotas da seda” levam à China. A Rússia, após décadas mendigando compreensão e apoio por parte da Europa e dos EUA – inclusive solicitando ingresso na OTAN –, voltou-se para a China e terminou por se beneficiar amplamente de sua dinâmica capitalista, que resultou da reincorporação do gigante asiático ao mercado mundial.

Em síntese, o movimento econômico mundial atualmente é favorável ao desenvolvimento chinês e russo, em detrimento do imperialismo Ocidental – sobretudo o representado pelo EUA, que está em declínio (a balança comercial pendendo para e a reserva de dólares da China que o digam![1]); por isso, ela pode se dar ao luxo de prescindir de guerras ou intervenções. Isso impõe tarefas e estabelece parâmetros políticos para ambos os lados, que se expressam em narrativas ideológicas, apresentadas, sobretudo, através da grande mídia (seja a mídia Ocidental; seja a CGTN, Sputnik, etc.) – daí advém o discurso chinês de “um mundo multipolar”. No entanto, a unidade do bloco sino-russo é imprescindível para ascensão mundial de ambos os países, dado que se enfraquecem separados frente ao imperialismo estadunidense – por isto este último tenta quebrar o bloco rival de diferentes maneiras.

 

Rússia e China lutam contra o imperialismo capitalista ou se beneficiam dele?

Neste ponto do debate devemos nos perguntar: o que Rússia e China pretendem colocar no lugar do imperialismo estadunidense em declínio? O socialismo? Para alguns setores da esquerda parece que sim; para outros, trata-se de governos reacionários, mas ainda assim, preferíveis ao odioso imperialismo estadunidense. Isto é, dão um cheque em branco para Rússia e China, aos quais não atribuem papel ou mesmo qualquer interesse imperialista.

Para muitos ativistas e organizações de esquerda o reconhecimento de uma nação como “imperialista” deve seguir o estrito modelo apresentado por Lenin no início do século XX. É evidente que este modelo, quase um check-list, é muito importante e continua sendo uma referência, mas ele não pode substituir uma lúcida análise da realidade atual.

Vejamos alguns exemplos extraídos das redes sociais que atestam uma posição inconsciente de que a Rússia promoveria uma política antiimperialista: “percebam que o movimento na Rússia já promoveu mudanças drásticas na geopolítica, como forçar os ianques a fazer concessões à Venezuela”[2]. Não há aqui uma explicação séria sobre que mudança drástica seria essa, mas o espírito da citação é claramente favorável ao papel cumprido pela Rússia. Qualquer arremedo de “mudança” na conjuntura é usado como pretexto para reforçar a sua política de apoio a um dos dois blocos em disputa – neste caso, de apoio ao bloco sino-russo.

Outro ativista, mais conscientemente ufanista do “antiimperialismo” russo e chinês, anuncia solenemente ao mundo nas suas redes sociais: “torceremos diuturnamente pela Rússia. O mundo precisa dessa fragorosa derrota americana na Ucrânia. E precisa que os nazistas sejam desmobilizados”[3]; a seguir ele posta um artigo cujo título é Para um mundo multipolar, é melhor que a Rússia vença[4]. Eis o resumo da ópera! Frente a este tipo de ilusão, é pertinente perguntar: que espécie de “mundo multipolar” a Rússia irá promover ou já promoveu no leste europeu?

Outro exemplo das complicações em que a esquerda está enredada pode ser lido no relato a seguir: “é complicado optar sobre essa guerra, principalmente se o parâmetro for as informações falsas da imprensa do Ocidente. Por outro lado, não existe uma posição unânime na esquerda brasileira sobre os fatores econômicos, estratégicos e étnicos que motivaram a operação da Rússia na Ucrânia. Enquanto as avaliações forem feitas com base nas informações da imprensa do Ocidente, vai sempre prevalecer a narrativa do império americano e a posição ideológica do princípio da soberania nacional, ou seja, vai prevalecer o senso comum da narrativa predominante no Ocidente”[5].

Aqui já se delineia a “impossibilidade de se tomar posição”, apontando para o problema de repetir acriticamente a mídia burguesa Ocidental e, portanto, o imperialismo ianque. É possível sim tomar posição sem repetir a grande mídia burguesa, nem reproduzir dogmaticamente os clássicos marxistas.

 

O derrotismo revolucionário se aplica às condições atuais da “guerra” na Ucrânia?

         Outras organizações da esquerda, que defendem o “derrotismo revolucionário”, explicam que “consideramos o conflito entre estas potências – respectivamente entre seus procuradores na Ucrânia – como profundamente reacionário. Consequentemente, os socialistas se opõem a ambos os lados neste conflito. Eles precisam defender um programa de derrotismo revolucionário, ou seja, trabalhar para a derrota dos respectivos governos e pela transformação deste conflito em uma crise revolucionária doméstica”[6].

         O derrotismo revolucionário foi uma política proposta por Lenin e os bolcheviques durante a Primeira Guerra Mundial, quando as nações do continente europeu promoveram uma carnificina humana para disputar a hegemonia mundial sobre as colônias de então. As agressões eram recíprocas e partiam ininterruptamente de ambos os lados – bem como a finalidade era explícita: tomar as colônias e a influência do imperialismo que se combatia de armas na mão no campo de batalha. Se aplicarmos mecanicamente o “derrotismo revolucionário” ao caso da “guerra” da Ucrânia, esquecendo-nos do contexto do início do século XX e a diferença em relação a este século que se inicia, então, estaremos sendo coniventes com as provocações do imperialismo decadente – o norte-americano –, que não pode agir de outra forma.

         O mesmo vale para o erro oposto, que dá total apoio político ao governo Putin, muito além do reconhecimento ao direito de se defender, tal como qualquer nação que é atacada por outra. Há preponderância na argumentação de Putin sobre Biden, quando o primeiro afirma que não posiciona mísseis de longo alcance no território do México, nem manda porta-aviões para o Atlântico norte. Tampouco a Rússia sabota militarmente os mercados dominados pelo imperialismo ianque, ainda que utilize outros métodos de sabotagem, como utilização de mecanismos econômicos para desvalorizar o preço do barril de petróleo visando atingir a indústria petrolífera estadunidense[7].

         Para nos pautarmos pela independência de classe nesta análise, não podemos esquecer que a Rússia tem total interesse em manter a dominação e a influência nas regiões do seu entorno, que se estende da Ucrânia até os países do leste europeu – se pudesse, certamente engoliria toda a Europa, mas não o fez e não se utilizou de provocações e sabotagens militares para tanto, tal como fez os EUA em um continente alheio; por esses e outros motivos, a Rússia usa historicamente o leste europeu como seu “escudo”. Não foi casual que Putin tenha feito referência ao México, pois sabe que ali, bem como em toda a América Latina, trata-se de uma esfera de influência ianque; isto é, de um “quintal dos EUA”, ainda que Putin também não se furte a “auxiliar” em ocasiões específicas o governo venezuelano contra o “grande irmão” do norte, utilizando-se de um discurso de “soberania nacional”.

         Da mesma forma, a posição política que sustenta a “imediata saída das tropas russas da Ucrânia” defende, na prática, as provocações imperialistas dos EUA e da OTAN, menosprezando o direito à defesa frente a tais provocações. São como palavras soltas, mais voltadas a causar um “impacto estético revolucionário” altissonante em quem as escuta do que ajudar a elucidar a complexidade do contexto histórico em que vivemos. Tampouco ajuda na conscientização e na organização da classe trabalhadora mundial e brasileira. Não é muito melhor a posição que coloca a Rússia e a China como expoentes da “luta anti-imperialista” e da construção de um “mundo novo, livre e socialista”.

         Uma política elaborada e aplicada mecanicamente tende a nos afastar da realidade e a embaçá-la. Por tudo o que se sustentou neste artigo, não restam dúvidas de que se trata de uma disputa interimperialista por hegemonia, e que vença quem vencer, o imperialismo capitalista seguirá o seu curso, de forma mais branda ou agressiva, mas, ainda assim, será um tipo de disputa por mercados e controle econômico, com semicolônias exploradas e marginalizadas, exploração de classe, miséria, crises e conflitos. Contudo, esta disputa interimperialista precisa ser analisada nas suas relações concretas e, principalmente, ser explicada e debatida com a classe trabalhadora por uma perspectiva de independência de classe, fato que só pode se tornar efetivo se não estiver baseado em dogmas e receitas pré-fabricadas.

 

Referências


[1] Ver: http://portuguese.news.cn/2022-03/15/c_1310515004.htm (este texto traz de forma sucinta informações acerca das atuais relações entre EUA e China – ainda que pareça que o governo Biden está preocupado com as boas relações com o gigante asiático, na verdade ganha tempo, enquanto a China procura garantir suas pautas e reforçar sua política de “neutralidade” e “não violência” – ao mesmo tempo em que o governo Biden condena e luta contra a Rússia).

[2] Extraído do grupo de Whatsapp “Revolução Socialista”, no dia 9 de março de 2022.

[3] Extraído do grupo de Whatsapp “Revolução Socialista”, no dia 13 de março de 2022. A seguir o mesmo ativista posta o seguinte texto para dar “embasamento” aos seus argumentos: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/melhor-que-a-russia-venca/

[4] Além do referido artigo: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/melhor-que-a-russia-venca/ ; ver também: https://vozoperariarj.com/2022/03/07/suposto-imperialismo-russo-nunca-existiu-russia-e-anti-imperialista-e-contra-um-governo-global-parte-1/

[5] Extraído do grupo de Whatsapp “Dialética da natureza”, no dia 10 de março de 2022.

[6] https://www.thecommunists.net/worldwide/global/critical-remarks-on-lit-ci-statement-on-the-current-nato-russia-conflict/#anker_1

[7] Ver: https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2020/03/coronavirus-crise-capitalista-e-o.html

domingo, 6 de março de 2022

O discurso de Putin e a política bolchevique de autodeterminação das nações oprimidas

Vladmir Putin durante discurso pronunciado em 21 de fevereiro de 2022. Leia o discurso na íntegra clicando aqui

Em um discurso recente – pronunciado em 21 de fevereiro de 2022 –, que antecedeu a invasão da Ucrânia, Vladmir Putin fez diversas menções à política bolchevique de autodeterminação das nações oprimidas. Todo o seu discurso foi construído em cima da “revisão” desta política, tão cara aos bolcheviques, quanto aos revolucionários internacionalistas em geral.

         A essência do discurso é abertamente anticomunista; e isso fica evidente desde o início, quando Putin atribui a culpa da “criação da Ucrânia moderna” aos “bolcheviques”.  Ele dá a entender que o processo de surgimento deste país teria sido uma criação artificial do governo de Lenin, feito de forma arbitrária e “rude com a própria Rússia”. O autocrata ainda tem a empáfia de dizer que Lenin e os bolcheviques “não tinham perguntado nada aos milhões que moravam lá”, como se ele perguntasse algo à classe trabalhadora russa e ucraniana nos dias de hoje.

         Depois, Putin nos informa que o território da Ucrânia foi formado por uma política de anexações e concessões feitas por Stalin, Kruschev e outras lideranças soviéticas – inclusive tomando territórios da Polônia e da Hungria –, para logo a seguir dar atenção especial “ao período inicial de formação da União Soviética (URSS)” – eis aí a sua verdadeira intenção!

         A intencional salada de frutas ideológica de Putin proclama que Stalin supostamente teria dado amplos poderes administrativos à Ucrânia, quando na verdade representou o oposto. A seguir, Putin afirma que em função desta política de “amplos poderes” houve divergências entre os bolcheviques sobre o tema, o que é verdadeiro, embora ele não nos diga nada de concreto sobre que divergências seriam essas. Mais adiante, contradizendo-se totalmente em relação à fala anterior, ele afirma que a “ditadura stalinista”, “o terror vermelho” – lembrando que o próprio Putin foi uma cria da KGB (a polícia secreta stalinista) – e o “sistema planificado da economia nacional”, transformaram a “soberania das repúblicas soviéticas” (das quais a Ucrânia fazia parte) em uma mera formalidade, pois, na prática, se tratava de um regime “estritamente centralizado e absolutamente unitário”. Qual dos dois discursos vale?

         No entanto, o que Putin realmente pretendia com o discurso aparece na sequência, quando ataca a política bolchevique de autodeterminação dos povos, proposto pelo governo revolucionário de Lenin saído da revolução de 1917, e que vigorou até a ascensão ao poder da burocracia stalinista, mantendo-a como uma mera formalidade “leninista”, uma saudação à bandeira, até ser renegada completamente com a restauração do capitalismo em 1991, quando a Ucrânia desmembrou-se tornando-se mais uma república burguesa.

 

O nacionalismo grão-russo de Putin escondido sob o ataque aos interesses nacionalistas de outros – e o seu desejo de permanecer no poder a qualquer custo!

         Para Putin, a política bolchevique de autodeterminação dos povos seria uma invenção artificial para “satisfazer ambições nacionalistas ilimitadamente crescentes nos arredores do antigo império”. Isso é uma mentira completa!

         Os diversos povos subjugados pelo império czarista almejavam a independência política – daí advém tal proposta dos bolcheviques. Putin sabe perfeitamente disso, mas tenta esconder este desejo social afirmando que na Ucrânia “existem laços de sangue, de família, de cultura, de história”, até mesmo – pasmem! –, de “espírito”. Portanto, não haveria razões para a Ucrânia não fazer parte da Rússia, já que sua “independência” seria, segundo Putin, uma “invenção artificial” da política bolchevista de autodeterminação das nações, imposta nos anos iniciais de formação da URSS. Não bastasse essa lambança teórica intencional, Putin iguala a política de Lenin saída da revolução de 1917 com a política da burocracia stalinista que culminou na restauração capitalista, levando à formação da Comunidade de Estados Independentes (CEI), tal como se fossem a mesma coisa.

         Para Putin, este política representaria uma concessão desnecessária de Lenin aos “ambiciosos nacionalistas” que só causariam danos à Rússia. É por trás de afirmações como esta – não contestadas pormenorizadamente pela “esquerda” atual – que Putin esconde todo o seu nacionalismo e orgulho grão-russo, alimentado pelos seus interesses expansionistas dentro do capitalismo e do mercado mundial – sobretudo no leste europeu.

         Durante a maior parte da existência da URSS ela esteve fora do mercado mundial e isolada – seja por iniciativa da própria burocracia soviética, seja por imposições do imperialismo. A partir dos anos 1970, com a reabertura política e econômica da China (pós Deng Xiaoping); e nos anos 1990, com a reincorporação da Rússia ao mercado mundial, o papo é outro. Atualmente, ambos países não estão apenas dentro do mercado mundial, mas possuem as maiores reservas de dólares! Por isso temem pouco as ameaças de sanções por parte do imperialismo estadunidense. A força gravitacional da China, por sua vez, já sugou a Ásia e agora suga a África, a Europa e a América Latina, secundarizando ou mesmo isolando os EUA – esta é o motor das provocações políticas e militares do governo Biden contra a Rússia e, secundariamente, contra a China. Enquanto isso, os problemas sociais internos e a dívida pública ianque só aumentam. Como possuem o monopólio da impressão do dólar, “resolvem” o problema imprimindo mais dinheiro e mandando a inflação para o resto do mundo – em especial, para o Brasil.

A Rússia controla mercados importantes de commodities (como o de petróleo e o de gás natural). É o pesadelo dos capitalistas ianques. Desde o início do século XX não há mais livre mercado. Vemos apenas guerra entre monopólios, escondido sob políticas “imparciais” dos seus respectivos governos. As ameaças de bloqueios econômicos e sanções levaram o governo de Putin a declarar que todas elas devem voltar-se contra o Ocidente, dado que apenas encarecem o gás natural para a Europa e não permitem que os EUA suplante imediatamente o fornecimento russo. Termina, assim, por criar uma crise energética e um impasse no continente europeu. O que sobra é guerra de (des)informação, comercial, de sabotagem; além de provocações para que Rússia e China respondam, justificando campanha de ataques midiáticos, políticos, econômicos e militares.

         Putin não pode assumir seus reais interesses nacionalistas, que convertem-se em uma forma de imperialismo não apenas sobre a Ucrânia, mas a sede ilimitadamente crescente por ganhar outros mercados – sobretudo o europeu. Para isso, precisa recorrer ao velho método de obscurecer intenções, acusando os outros daquilo que realmente é. Seu nacionalismo é o motor de um imperialismo crescente, ainda que, no momento, totalmente dependente do amparo chinês; e uma maneira de esconder o seu desejo desesperado de permanecer no poder precisamente a qualquer custo – pelo menos, até 2036! Em seu discurso “realista”, os bolcheviques seriam meros arrivistas e Putin, este sim, um exemplo de integridade e coerência. Seu projeto de poder é altruísta e pensado para o “bem comum”, sem falsificações, substituições de conceitos ou manipulações da consciência pública (estes são os adjetivos com que o nosso nobre aspirante a czar moderno qualifica os “bandidos bolchevistas”). Estar no poder até 2036 – com possibilidade real de prorrogação do seu mandato inquestionável – seria uma mera casualidade.

         Para Putin, a política de autodeterminação dos povos não seria algo refletido e pensado pelos bolcheviques, pelo menos, desde 1909, mas concessões territoriais oportunistas e demagógicas para criar um novo equilíbrio político visando permanecer no poder “a qualquer custo”. O fato desta bandeira aparecer no programa bolchevique desde 1903 – ou seja, muito antes da tomada do poder em 1917 –, e num artigo de polêmica com a social-democracia alemã em 1914, são reles detalhes, passíveis de “esquecimento”.

 

Por que Putin quer apagar Lenin?

         Vladmir Putin ironiza que os ucranianos, agradecendo o “presente de Lenin” com a política de autodeterminação, agora destroem seus “monumentos na Ucrânia”. A vaga neofascista não tolera qualquer menção ao “comunismo” e também alimenta o mais vil sentimento anti-russo. Contudo, se os ucranianos colocam abaixo estátuas de Lenin no seu país – em sua maioria construídas pela burocracia stalinista como forma de esconder a sua total ausência de “política leninista” –, Putin quer demolir a herança teórica de Lenin que tantos inconvenientes lhe causa, dado que evidencia sua política nacionalista grão-russa.

         Para Lenin“os grão-russos na Rússia são a nação opressora”[1].

          E complementa: “A formação de um Estado nacional autônomo e independente continua a ser por enquanto na Rússia um privilégio somente da nação grão-russa. Nós, proletários grão-russos, não defendemos privilégio algum, não defendemos também este privilégio[2]. (...) Qualquer burguesia, quer na questão nacional ou privilégios para a sua nação, ou vantagens exclusivas para si (...). O proletariado é contra quaisquer privilégios, contra qualquer exclusividade. Exigir dele o ‘praticismo’ significa navegar nas águas da burguesia, cair no oportunismo”[3].

          E assim Lenin justifica a política de “independência da Ucrânia”: “são precisamente as condições históricas concretas da questão nacional da Rússia que tornam no nosso país especialmente urgente o reconhecimento do direito das nações à autodeterminação na época que atravessamos”[4]. Concluindo que “nesta cadeia de acontecimentos só um cego pode deixar de ver o despertar de toda uma série de movimentos nacionais democrático-burgueses e de aspirações à formação de Estados nacionalmente independentes e nacionalmente homogêneos. Precisamente porque e só porque a Rússia, juntamente com os países vizinhos, atravessa essa época, é que nos é necessário o ponto relativo de direito das nações à autodeterminação no nosso programa”[5].       

Vladmir Putin não é cego. Ao contrário. Vê bem com as lentes da “nova” burguesia russa e também demonstra bem o que significou a restauração do capitalismo na ex-URSS. Com as mãos livres para traçar a política que desejar, aponta para uma estratégia nacionalista de dominação e expansão. Certamente a época histórica em que Lenin escreveu o referido artigo – 1914 – não guarda semelhança alguma com a atual situação da Ucrânia. Vivemos neste início do século XXI um movimento provocador insuflado pelos EUA que nada tem a ver com um “movimento democrático-burguês de libertação nacional”, mas a ojeriza de Putin à política revolucionária expressa por Lenin demarca a divisão entre a compreensão proletária e a compreensão burguesa da autodeterminação das nações oprimidas. Mais do que isso: expressa as intenções do imperialismo nascente russo, que está sendo instigado a sair da toca e se apresentar ao público pela pressão do imperialismo decadente, os EUA, que não pode agir de outra forma.

         Esta diferenciação histórica é fundamental, não apenas para demonstrar a diferença abismal entre a Rússia soviética dirigida por Lenin, e a Rússia de Putin no seu neoimperialismo em ascensão. A decadente burguesia estadunidense, experiente e lutando desesperadamente para manter sua hegemonia, aprende com a história (diferentemente da “esquerda”). Assim como ela se apropriou do discurso identitário para usá-lo contra o movimento proletário[6], bem como patrocinou “revoluções coloridas” pelo mundo (apoiadas entusiástica e vergonhosamente por parte da “esquerda” – incluindo a “revolução colorida” da Ucrânia em 2014, que foi, na verdade, um golpe de Estado patrocinado pelo imperialismo ianque[7]), agora apossa-se do discurso de “autodeterminação das nações oprimidas” para usá-lo contra os seus inimigos russos e chineses, ganhando, como sempre, o apoio acrítico da “esquerda” mundial e do movimento de massas que ela influencia.

         Nesse sentido – e somente nesse! – Putin é honesto: esta política bolchevique é um estorvo para o seu projeto de poder. Sua intenção é anexar territórios do entorno à grande Rússia para centralizar política e economicamente as decisões e continuar, junto com a China, a expansão econômica sobre o mercado mundial – em especial no mercado de commodities europeu. O recorte de classe fica evidente: seu objetivo é neutralizar fronteiras, não garantir nenhuma autonomia aos Estados do entorno, dado que “os fundamentos básicos, formalmente legais sobre os quais todo o nosso Estado foi construído, odioso, utópico, inspirado pela revolução”, são reles “fantasias absolutamente destrutivas para qualquer país normal” (trecho do seu discurso de 21 de fevereiro); preparando, assim, as bases para o expansionismo político e econômico, tendo o exército russo como retaguarda e vanguarda, a depender do momento – isto é: preparando as bases para sustentar a sua expansão neoimperialista.

         O que Putin entende por “país normal” e política “não-fantasiosa” e “realista”? A política burguesa, que anexa, que se expande, que esconde pretensões imperialistas – isto é, a retomada dos projetos do império czarista em moldes modernos, numa total dependência do bloco político e econômico com a China[8].

 

A provocação imperialista ianque feita através da OTAN abriu o precedente para a invasão da Ucrânia e a implementação do projeto de anexação

         É precisamente este discurso anticomunista e, em especial, antileninista de Putin que a “esquerda” acrítica endossa quando afirma a imperiosa necessidade de se apoiar a Rússia contra os EUA e a OTAN a qualquer preço – como se houvesse nisso algum resquício de antiimperialismo. Com essa impostura, não se liquida apenas a independência de classe, mas se ataca os fundamentos da política leninista que dá embasamento à própria independência de classe. Segundo Putin, os princípios do leninismo seriam “muito pior do que um erro”. Ver isto ser pronunciado pelos seus lábios é bastante compreensível, dado que ele raciocina como um burguês que pretende expandir seus negócios. Nesse sentido, o leninismo é um estorvo para qualquer projeto nacionalista/imperialista de expansão, dado que cria “constrangimentos” em relação à independência das nações oprimidas. O que não é compreensível é ver parte da “esquerda” levantando bem alto o projeto expansionista russo – capitalista e nacionalista –, cuja justificativa é um ataque frontal ao pensamento marxista.

         A acusação do governo russo de que a OTAN não apenas não se dissolveu, conforme foi prometido durante o período da restauração capitalista no início da década de 1990, como seguiu avançando em “cinco grandes ondas de expansão” no sentido de cercar a Rússia, incorporando países vizinhos numa tentativa de isolar o maior país do mundo, que é sempre um inimigo em potencial para o imperialismo ianque, é uma realidade (e tudo isso apesar dos “esforços” de Putin para integrar a Rússia na OTAN e no sistema Ocidental ao longo dos anos 2000). Também é verdade a denúncia que Putin faz da utilização do território ucraniano como “teatro de potenciais operações militares” estadunidenses contra a Rússia, transformando o país em um palco de provocações ininterruptas, além de depositário de investimentos militares, em armas e treinamento, de bilhões de dólares. Ou seja, a burguesia ucraniana e o seu governo fantoche dos interesses de Washington usam a “independência” da Ucrânia como base de operações para provocações contra a Rússia, visando ganhar algum tipo de lucro e vantagens. Isso não pode ser esquecido nem por um minuto.

         Tudo isso é uma triste realidade, cuja grande mídia Ocidental trabalha dia e noite para minimizar ou mesmo apagar completamente, buscando transferir, às vezes sutil, às vezes abertamente, os motivos da “guerra ucraniana” apenas para o governo Putin. Pretendem disfarçar a disputa imperialista escondendo as provocações e planos do imperialismo estadunidense, para direcionar a atenção do público apenas à figura de Putin, descontextualizando a situação e transformando-o num bode expiatório, depositária de todo o mal, bem como gosta e requer a mentalidade religiosa.

A nazificação do governo ucraniano é outro fato não só tolerado, mas apoiado, pelo Ocidente, que muitas vezes se desdobra em massacres à população que reivindica a integração com a Rússia na região do Donbass. Os relatos são assustadores e a grande mídia também não noticia absolutamente nada, ignorando a violação aberta das resoluções da ONU e da OSCE acordadas no tratado de Minsk. Putin aponta para todos estes problemas no seu discurso de 21 de fevereiro, além de exigir que a OTAN recue e retire as bases militares e o apoio logístico e financeiro ao governo títere ucraniano, mas nada disso é levado em consideração na “cobertura imparcial” feita pelo jornalismo mercenário da grande mídia Ocidental.

          No entanto, todos estes ataques não podem nos fazer fechar os olhos para qual política Putin pretende colocar no lugar de um suposto “Estado desnazificado”. O referido discurso analisado aqui é apenas uma pequena demonstração de como ele entende a conjuntura. A Ucrânia está prestes a sumir do mapa, engolida pela política expansionista de Putin. Já não há mais saída para o Mar Negro[9]. As pontes com o exterior estão sendo gradativamente cortadas sob o olhar dos EUA, que em parte não responde militarmente para não se desgastar politicamente, se escondendo atrás da campanha midiática mundial; em parte por não ter condições materiais. Que espécie de “luta anti-imperialista” ou mesmo de “novo mundo” pode surgir de um governo que prega abertamente contra o direito à autodeterminação das nações oprimidas? Seria esse o caminho ao mundo multipolar prometido por Rússia e China para o lugar do atual, dominado e controlado pelos EUA?

 

As sanções contra o governo Putin: quem paga a inflação e a crise econômica?

          Tal como no início da pandemia, agora a mídia Ocidental cria uma histeria em torno da invasão de Putin, omitindo, como falamos antes, o decisivo papel do imperialismo Ocidental. As mentiras e o sensacionalismo da mídia burguesa (Putin não é o único que conta mentiras) não têm limites. Cabe destacar aqui a tentativa de imputar a inflação brasileira à “guerra da Ucrânia”. As causas da inflação, do desemprego e da crise crônica da economia brasileira dizem respeito a um conjunto de fatores que não podem se resumir a esta “guerra”. Por exemplo: relação dólar-real, cuja impressão desenfreada da moeda norte-americana para injetar em bancos e grandes empresas[10] – sobretudo as de petróleo – são repassadas aos países neocoloniais. É um problema de dependência econômica que existe desde muito antes de qualquer “guerra na Ucrânia”. É uma política econômica permanente do imperialismo, assim como as “tenebrosas transações” resultantes do sistema financeiro operante no país, da farra da especulação com dívida “pública” e outras formas de agiotagem, sem mencionar as maiores taxas de juros do mundo, que deveriam ser um dos principais motivos de vergonha e revolta nacional!

A “guerra” deve tensionar a uma alta no preço das commodities – como o gás natural e o petróleo – na Europa e tem levado à desvalorização do dólar. Tudo isso tende a pressionar e desorganizar os mercados internos subordinados, como é o caso do brasileiro. Mas daí para a justificativa midiática de que a “guerra de Putin” é a principal causadora da inflação e do aumento do custo de vida no Brasil é de uma canalhice ímpar. O nosso país paga o preço de ser uma economia periférica e subordinada do capitalismo Ocidental, atualmente gerido pela gangue entreguista dos bolsonaros e guedes – esta é a principal razão das nossas mazelas.

         As sanções do governo estadunidense contra o governo Putin voltam-se contra o próprio Ocidente, intensificando a crise econômica que será jogada sobre as semicolônias. O discurso midiático serve como uma perfeita cortina de fumaça para esconder a crise e a decadência do imperialismo estadunidense, acusando a Rússia de uma instabilidade criada pela própria ação da OTAN no leste europeu. Talvez seja por isso que Putin e seus ministros têm chamado esta política de “suicida”.

          Em resposta às ameaças de sanções dos EUA, o presidente honorário do conselho para assuntos internacionais da Rússia, Sergei Karaganov declarou que “o Ocidente pode tentar nos intimidar com sanções devastadoras – mas também somos capazes de dissuadir o Ocidente com nossa própria ameaça de uma resposta diferente, que paralisaria as economias ocidentais e perturbaria sociedades inteiras”[11].

É entre esta guerra econômica e política dos monopólios autocráticos que a classe trabalhadora mundial se encontra – isto é, é exatamente aí que se encontram as pessoas comuns, completamente desorganizadas e desorientadas, esmagadas pela guerra das elites mundiais pelo controle da nova ordem.

 

A substituição da hegemonia mundial de um imperialismo por outro sempre traz crises e guerras

         Toda mudança histórica de hegemonia imperialista mundial leva a guerras e crises. Foi assim com as guerras mundiais e a crise de 1929, que precederam a substituição do imperialismo europeu – em particular, do inglês – pelo imperialismo estadunidense. A crise de hegemonia ianque, que se arrasta, pelo menos, desde meados da década de 1980, tende a levar a guerras e a crises econômicas mundiais, até que o(s) novo(s) imperialismo(s) se estabeleçam.

         Na medida em que está sendo jogada para um papel secundário no mundo, o imperialismo estadunidense vai arrastando para o buraco junto consigo tudo o que pode. O grau de irracionalidade das políticas dos governos dos EUA e das suas semicolônias; a economia baseada em investimentos militares – portanto, em forças destrutivas –, são realidades evidentes. A tendência permanente à queda da taxa de lucro, que não encontra solução nem em um parasitismo permanente do setor privado sobre o Estado, aponta para um impasse. A “saída” imposta pelo imperialismo ianque ao mundo está baseada em provocações militares, guerras comerciais e tarifárias, imposição do consumo do supérfluo e extorsões dos Estados neocoloniais nos mais diversos níveis. Um dos principais objetivos do imperialismo ianque na “guerra da Ucrânia” já foi atingido – ainda que possa ser revertido a longo prazo: a interrupção da construção do canal de abastecimento de gás natural Nord Stream II, que ligaria a Rússia diretamente à Alemanha através do Mar Báltico[12].

Enquanto a gangorra desce do lado norte-americano, que se debate para não ser alçado ao chão, inclusive com sabotagens nas mais diferentes esferas, incluindo golpes de Estados nas semicolônias (como foi o caso do Brasil em 2016); do outro lado, Rússia e China se alçam para cima, desviando-se das sabotagens e aproveitando as ofensivas estadunidenses. A pandemia de covid-19 foi um ponto marcante. A “guerra da Ucrânia”, que pode ter diversas consequências sobre a Europa e o mundo, está sendo outro.

          Tal como a China, que começa a falar com voz cada vez mais alta na diplomacia internacional, o governo russo engrossa a voz. Putin apresenta ao mundo a sua “doutrina de destruição construtiva”[13], que, apesar de ser vendida como “não-violenta” e restrita às provocações da OTAN, soa como uma proposta de remodelação do mundo ao seu entorno – sobretudo na Europa – segundo interesses grão-russos, evidentemente. É a OTAN que está na mira, mas o governo Putin se restringirá à ela?

          O porta-voz do governo russo, Sergei Karaganov, declara ainda que “quando chegar a hora de estabelecer um novo sistema de segurança europeu para substituir o existente, perigosamente desatualizado, isso deve ser feito dentro da estrutura de um projeto eurasiano maior. Nada de valor pode nascer do velho sistema euro-atlântico”[14].

Parece que, para o governo russo, “a hora” já chegou.

          Para o ex-diplomata britânico, Alastair Crooke, “Washington pretende ter uma ‘arma assassina’ direcionada a Moscou: sancionar chips semicondutores. ‘Isso seria o equivalente moderno de um embargo de petróleo do século XX, já que os chips são o combustível crítico da economia eletrônica’. Ambrose Evans Pritchard argumenta no Telegraph: ‘Mas isso também é um jogo perigoso. Putin tem os meios para cortar minerais e gases críticos necessários para sustentar a cadeia de fornecimentos do Ocidente para chips semicondutores’. Em suma, o controle de Moscou sobre os principais minerais estratégicos poderia dar à Rússia uma vantagem, semelhante ao domínio energético da OPEP em 1973”[15].

Vemos, portanto, que os EUA e a Europa não estão lidando com uma semicolônia, mas com um país que tem acesso e controle sobre cadeias produtivas mundiais, o que coloca a batalha em um outro patamar. Forças e limites estão sendo testados.

 

Sobre as palavras de ordem estéreis da “esquerda” e a “confusão” de sua propaganda

         A análise de conjuntura por parte da “esquerda”, por sua vez, é lastimável. Confusa, vacilante; pautada pelo apoio acrítico a um ou outro imperialismo – liquidando a independência de classe, que deveria se traduzir por uma análise lúcida e independente –, ou por uma abstração que beira a fantasia. Por exemplo: misturam elementos de propaganda e de agitação, quando exigem a saída das tropas russas da Ucrânia, que neste momento combatem o sistema de mísseis dos EUA instalados no seu território. Bradam que “tudo será resolvido pelos trabalhadores ucranianos e russos”; mas neste momento tanto a classe trabalhadora russa, quanto a ucraniana, estão desmanteladas, destruídas, sem direção, partidos ou organizações que possam colocar tais palavras de ordem em ação. Isto precisaria ser levado em consideração. O primeiro passo para se reorientar – e consequentemente tentar reorientar o proletariado – é colocar em ordem as nossas palavras de ordem e a propaganda revolucionária, trazendo uma narrativa que tenha os pés no chão e o norte na independência de classe.

          Anteriormente a maior parte da “esquerda” (LIT-PSTU, grande parte do PSOL – em especial MES e CST –, MRT/ED, dentre outros) apoiou a “revolução colorida” que derrubou o governo pró-Moscou de Yanukovich[16], abrindo caminho para os grupos neonazistas que espalharam russofobia pelos quatro cantos do país, massacraram as populações das regiões mais próximas da Rússia, como as do Donbass, e aplainaram o caminho para a vitória de Volodymyr Zelensky. Agora, colocam-se numa posição que tende apenas a condenar as ações da Rússia, ecoando em maior ou menor medida o frenesi da grande mídia burguesa, sem fazer o contraponto. As ações da Rússia são o resultado da pressão e do cerco das posições estadunidenses. É possível compreender (e até mesmo defender, quando necessário) a resposta militar russa à OTAN, sem prestar nenhum apoio político a Putin, nem condená-lo segundo os interesses Ocidentais.

A LIT-PSTU, como sempre, coloca-se abertamente do lado da política estadunidense, levantando um vergonhoso “Todo apoio à resistência do povo ucraniano - pela derrota da invasão russa e de Putin na Ucrânia” – para logo depois levantar um “fora as garras dos EUA, da OTAN e da União Europeia”[17] envergonhado, contraditório e delirante. O povo ucraniano está completamente desorganizado e apoiar esta “resistência” forjada pelos EUA é prestar-lhe um novo suporte político. Assim tem agido a “esquerda” fantasiosa, que liquida a independência de classe e ajuda a desorientar a classe trabalhadora brasileira e mundial.

         Já outros setores, como o PCO, a LBI, o portal Brasil 247, Pepe Escobar, dentre outros, ainda que eventualmente façam uma boa análise da conjuntura, prestam um vergonhoso apoio acrítico à Rússia de Putin, vendendo suas ações como um combate antiimperialista. Vimos qual é a posição de Putin acerca da autodeterminação das nações oprimidas e da “utopia”, do “ódio” ao Estado russo nascido da revolução russa de 1917. Se podemos compreender a ação russa como defesa às provocações e ações do decadente imperialismo estadunidense na Ucrânia, não podemos esquecer, nem por um segundo, das implicações de uma política de “destruição construtiva” baseada no rechaço à autodeterminação das nações oprimidas e do Estado operário saído da revolução de outubro de 1917. Isto é: não devemos baixar a guarda para Rússia e China em nenhum momento, nem nos furtarmos a nenhuma crítica em relação ao que pretendem colocar no lugar do domínio mundial norte-americano.

         A propaganda da “esquerda” confunde fatores essenciais e, de uma forma ou outra, leva água ao moinho de um ou outro imperialismo. Devemos reconhecer o direito da Rússia se defender das provocações imperialistas, sem prestar um grama político de apoio a Putin. As palavras de ordem, para não beirarem a fantasia, precisam estar alicerçadas na realidade, mesmo que não possam ser colocadas em prática agora – mas isso, infelizmente, não tem sido o caso até o momento.

         Ao contrário de Putin – e de grande parte da “esquerda” – é importante relembrar Lenin no que ele tem de melhor, como no direito das nações à autodeterminação: “Não importa que esta propaganda seja ‘não prática’, tanto do ponto de vista dos opressores grão-russos, como do ponto de vista da burguesia das nações oprimidas”[18].

          Mas que propaganda seria esta? Lenin se refere “a tarefa da agitação e propaganda cotidiana contra quaisquer privilégios estatais nacionais, pelo direito, direito igual de todas as nações, ao seu Estado nacional. De fato é precisamente esta propaganda, e só ela, que assegura uma educação verdadeiramente democrática e verdadeiramente socialista das massas”[19].

Através da sua doutrina de “destruição construtiva”, Putin quer colocar abaixo não apenas a real ameaça militar da OTAN em território ucraniano, mas a política de autodeterminação das nações levantada e defendida por Lenin. É assim que devemos compreender o seu discurso do dia 21 de fevereiro de 2022. Putin e Karaganov falam contra os “dogmas marxistas” e o “fim das liberdades civis ao povo” representado pelo “regime comunista”. Eles querem nos fazer crer que a doutrina de “destruição construtiva” irá criar um mundo melhor, mais harmônico e equilibrado, com “liberdades civis”.

Ao que tudo indica, eles pretendem substituir os “dogmas” marxistas e “liberais” pelos dogmas da mão de ferro da máfia burguesa russa contemporânea, com a nobre finalidade de aprofundar o capitalismo imperialista... sob nova direção!

          Existem dois discursos em jogo: o de Putin e o de Lenin. A classe trabalhadora consciente deve optar pelo de Lenin, para quem: “‘Não pode ser livre um povo que oprime outros povos’, assim diziam os maiores representantes da democracia consequente do século XIX, Marx e Engels. (...) E nós, operários grão-russos, penetrados pelo sentimento de orgulho nacional, queremos, aconteça o que acontecer, uma Grã-Rússia livre e independente, autônoma, democrática, republicana e orgulhosa, que assente as suas relações com os vizinhos no princípio humano da igualdade, e não no princípio feudal do privilégio, que humilha uma grande nação”[20].

   


Referências


[1] LENIN, Vladmir Ilitch. Sobre o direito das nações à autodeterminação (in Obras escolhidas, tomo I – página 523) Edições Progresso, Moscou, 1981.

[2] Idem (página 524).

[3] Idem (página 522).

[4] Idem (página 521).

[5] Idem (página 519).

[6] Ver: https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/02/os-meritos-e-os-perigos-do-identitarismo.html

[7] Ver: https://lutamarxistablog.blogspot.com/2014/03/ucrania-palco-da-disputa-imperialista.html

[8] Ver: https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2020/05/a-ascensao-mundial-da-china.html ; e: https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2020/09/socialismo-com-caracteristicas-chinesas.html

[9] Ver: https://www.youtube.com/watch?v=akl0483_i6Y&ab_channel=TV247

[10] Ver: https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2020/03/coronavirus-crise-capitalista-e-o.html

[11] Ver: https://greatgameindia.com/putin-doctrine-constructive-destruction/ ou em português: https://telegra.ph/A-nova-pol%C3%ADtica-externa-da-R%C3%BAssia-a-Doutrina-Putin-02-28

[12] Ver: https://www.youtube.com/watch?v=akl0483_i6Y&ab_channel=TV247 e ainda: https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/empresa-dona-do-gasoduto-nord-stream-2-pede-falencia/

[13] Ver: https://greatgameindia.com/putin-doctrine-constructive-destruction/ ou em português: https://telegra.ph/A-nova-pol%C3%ADtica-externa-da-R%C3%BAssia-a-Doutrina-Putin-02-28

[14] Ver: https://greatgameindia.com/putin-doctrine-constructive-destruction/ ou em português: https://telegra.ph/A-nova-pol%C3%ADtica-externa-da-R%C3%BAssia-a-Doutrina-Putin-02-28

[15] Ver: https://patrialatina.com.br/a-desconstrucao-construtiva-do-modelo-relacoes-da-russia-com-o-ocidente/

[16] Ver: https://lutamarxistablog.blogspot.com/2014/03/ucrania-palco-da-disputa-imperialista.html

[17] Opinião Socialista Nº630.

[18] LENIN, Vladmir Ilitch. Sobre o direito das nações à autodeterminação (in Obras escolhidas, tomo I – página 525) Edições Progresso, Moscou, 1981

[19] Idem.

[20] LENIN, Vladmir Ilitch. Acerca do orgulho nacional dos grão-russos (in Obras escolhidas, tomo I – página 565) Edições Progresso, Moscou, 1981