A classe média brasileira reivindica os economistas burgueses clássicos (Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill) sem nunca ter lido uma única página de suas obras e, como sempre, descontextualizando-os totalmente. Ainda assim, pensa que domina a situação, que possui opinião política e econômica, e que está em perfeita sintonia com a realidade econômica do Brasil e do mundo. Falam com desdém sobre "socialismo" (também sem nunca ler uma única linha de análise séria sobre o assunto) e reivindicam liberdade econômica (oferta e procura), liberdade individual, a propriedade privada, o desenvolvimento tecnológico como principal fator para considerar se um sistema econômico "deu certo" ou não.
Mal sabem eles, do alto do seu pedestal de mármore, que o PSDB não defende efetivamente nenhum desses valores, apesar de também reivindicá-los em discursos vazios. Esta classe média (e lamentavelmente muitos trabalhadores) não se importam com a coerência entre discurso e prática. Consomem qualquer discurso que sacie sua argumentação de ocasião. O PSDB, tal como PMDB e todos os outros partidos burgueses brasileiros, não possuem a mínima conexão entre aquele discurso e a sua prática concreta, pautada no velho estilo coronelista e paternalista do Brasil. São totalmente reféns dos dogmas neoliberais, decretados de cima para baixo pelo FMI, Banco Mundial, OMC e outros órgãos imperialistas ao Brasil, o que torna seu discurso sobre "liberdade econômica, individual" e "avanço tecnológico" um disparate cínico, que não apenas não gera liberdade ou desenvolvimento de espécie alguma, mas só aprofunda a dependência do país.
A começar pelo fato de que Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill analisavam e pensavam a realidade histórica e econômica dos seus países, não uma abstração repetida como papagaios semi-coloniais, importada acriticamente de países estrangeiros. Desde que adentramos a época do capitalismo imperialista não existe mais "liberdade de mercado". Os preços são decididos pelos conselhos acionários das grandes empresas multinacionais numa disputa entre o grande capital financeiro; logo depois são tornadas oficiais através do lobby sobre os políticos, os partidos burgueses e o parlamento. O PSDB não defende nenhuma política que garanta um espaço para o Brasil neste cenário internacional, ou mesmo nacional. Ao contrário: sustenta a incondicional submissão ao mercado financeiro, vendido como a única política possível. Isto significa submeter o país às privatizações, à retirada de direitos dos trabalhadores (destruir a legislação trabalhista em vigor no país, por exemplo), o sucateamento dos serviços públicos (não investimento, destruição de planos de carreira, de condições de trabalho de servidores). Os bancos públicos, por exemplo, dentro desta lógica não poderiam disputar o mercado com os bancos privados, visando uma política de investimento e de desenvolvimento social. Isto contraria os dogmas neoliberais e a ditadura do mercado financeiro: é uma ação condenada pelo tribunal da santa inquisição dos bancos e sentenciada à fogueira por "irresponsabilidade econômica" pelos órgãos imperialistas internacionais (leia-se: heresia econômica).
Sem dúvida podemos comparar os governos do PSDB aos antigos colonos portugueses, que governaram o país sob o comando da metrópole europeia e temendo a deus tanto quanto qualquer acusação de infração ao pacto colonial. Vejamos um singelo exemplo: em todas as eleições, particularmente na de 2016 que elegeu o prefeito playboy do PSDB em Porto Alegre, sempre ouvimos o discurso de "modernização". Mas o que seria essa modernização? Seria, por exemplo, um ambicioso projeto de construção de um metrô que ligasse todos os principais bairros da capital gaúcha à sua região metropolitana, facilitando a integração e o desenvolvimento econômico, social e cultural (e de quebra ainda poderia se autofinanciar)? Não! O PSDB não fala em metrô em Porto Alegre por que isso significa se chocar contra o cartel das empresas de ônibus, que controlam a circulação de passageiros e tem o poder absolutista de definir tarifas (tudo isso sem licitação). Em contrapartida, o PSDB fala em "modernizar" a justiça, o que pra este partido significa acabar com a justiça do trabalho, que segundo a lógica do prefeito pequeno-burguês é "desperdiçar milhões" por ano.
A classe média fecha os seus olhos a tudo isso. Idolatra o PSDB, PMDB ou qualquer outro partido que fale contra o PT, porque este partido supostamente representaria a "esquerda", o "comunismo", em última análise, o "fim dos seus privilégios". 13 anos de governos petistas não foram suficientes para demonstrar que mais da metade das ações de governo do PT foram, no campo macroeconômico, idênticas ao do PSDB. Preferem continuar elegendo "bruxas" para queimarem e "cristos" para crucificarem. Exemplos não faltam. Estão por aí, nas redes sociais. Os dogmas econômicos neoliberais e o sistema capitalista como um todo "não dão certo" para a maioria do povo e, consequentemente, para o desenvolvimento do país. Isso não impede que o PSDB e a classe média os defenda arduamente, justamente porque estes são indicados pelos órgãos neo-colonizadores internacionais. A política neoliberal e a decadência do capitalismo apenas tem aumentado a recessão econômica, a desigualdade social, a pobreza, o desemprego, a violência urbana, o baixo desenvolvimento e desempenho da saúde e educação públicas, a espoliação internacional e, novamente, o não desenvolvimento do país. Até porque para "desenvolvermos" o país, necessitamos romper com uma política e uma estrutura que submetem e impedem este desenvolvimento.
Só não vê quem está alienado ou quem tem a conta bancária recheada...
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