quarta-feira, 5 de maio de 2021

O frenesi da pandemia, da possível volta às aulas e da "vacina" nos fez esquecer do projeto que dá autonomia ao Banco Central?


Em fevereiro deste ano, o governo Bolsonaro e o seu "Chicago Boy" Paulo Guedes propuseram e fizeram aprovar no Congresso Nacional um projeto de lei que dá autonomia total para o Banco Central. Estes canalhas, dilapidadores do patrimônio nacional, pretendem entregar o controle do Banco Central — a principal instituição econômica e financeira do país — para os lobos do mercado.
Segundo entrevista feita por Jessé Souza a um advogado de um banco, que entende de todas essas falcatruas por dentro, "a mina de ouro de qualquer banco comercial ou de investimento é o Banco Central. Ali só entra gente nossa. E o país é gerido a partir do Banco Central, que decide tudo de importante na economia. É lá que a zona cinzenta entre legalidade e ilegalidade define a vida de todos. Isso não aparece em nenhum jornal. Podemos fazer qualquer tipo de especulação com o câmbio, como nos swaps cambiais, por exemplo. Se der errado, o Banco Central cobre o prejuízo. Não existe negócio melhor. Se der errado o famoso Erário paga a conta. Quem controla toda a economia somos nós e a nosso favor, o Congresso nem apita sobre isso. Quando, muito eventualmente, decide sobre algo, apenas assina o que nós mandamos, essa é a verdade que ninguém conhece porque não sai em nenhuma TV. Claro que tudo é justificado como mecanismo de combate à inflação, e não para enriquecer os ricos".
E mais adiante ainda afirma que "não existe negócio que não seja intermediado por um banco, seja legal ou ilegal. Essa história de operador e doleiro é coisa da Lava Jato e da imprensa pra desviar a atenção da participação dos agentes financeiros. Os bancos são completamente blindados porque inventaram um meio infalível de distribuir dinheiro para quem já tem muito poder e dinheiro. Falam de todo mundo menos de nós, que comandamos tudo. (...) Aliás, parte do lucro dos bancos vem de lavar dinheiro e intermediar transações. Mas o grosso da grana vem do Banco Central, das remunerações de sobras de caixa — que são ilegais, mas sobre as quais ninguém diz nada —, das operações de swap cambial, dos títulos da dívida — enfim, o Banco Central é a nossa mãe. É tudo escancarado, mesmo com inflação zero e o país na ruína".
E conclui: "não há nenhum caso de corrupção em que o dinheiro não venha de um banco. Ou seja, os bancos são os intermediários, sempre. A imprensa nunca toca nisso porque é tabu. Afinal, a imprensa é nossa"*.
Este era o funcionamento "normal" do Banco Central do Brasil antes do projeto de lei que lhe dá "autonomia". Imagina o que Paulo Guedes, o capacho da escola de Chicago, pretende com a autonomização completa do Banco Central?

Somem a lei que dá autonomia ao Banco Central com a Lei de Proteção de Dados e reflitam sobre os resultados

Não é apenas a lei atual de Bolsonaro e Guedes que tem problemas. Desde 2001 existe uma lei que "protege dados" de transações financeiras. Quem ganhou com uma suposta Lei de Proteção de Dados promulgada por FHC e Pedro Malan em 2001 e que serve fundamentalmente para esconder tenebrosas transações financeiras? Será que um pé rapado vai ter problema com os seus dados bancários, chegando ao cúmulo de precisar esconder ou proteger algo? Uma lei desse tipo não serviria apenas para esconder a roubalheira do sistema financeiro e dos grandes empresários? Não serviria, no geral, para criar mil empecilhos burocráticos que entravam e no fundo, dado a espionagem legalizada via redes sociais, não impede nenhum roubo de dados pessoais na vida dos pequenos de baixo, mas serve perfeitamente para esconder as negociatas dos grandões de cima?

Afinal, como diz o ditado: quem não deve não teme; e as transações financeiras, no geral, são (ou deveriam ser) de conhecimento público. Por que, então, esconder esses valores e as contas pessoais? Não estaria aí uma lei de proteção exclusiva da corrupção do mercado, do sistema financeiro e da politicagem burguesa?
Sem dúvida não é o Zé Ninguém ou a Maria Ninguém que ganham com essa lei. Agora somem a Lei de Proteção de Dados com a aprovação da autonomia do Banco Central. O estrago é bastante evidente. Os lobos estão com a chave do galinheiro e com total "privacidade" para devorar as galinhas. Parece que a boiada já está toda do outro lado e "quase ninguém viu"...


Nota:
*Todas as citações foram extraídas de SOUZA, Jessé. A classe média no espelho - Sua história, seus sonhos e ilusões, sua realidade. Editora Estação Brasil, Rio de Janeiro, 2018 (páginas 172 e 174).

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