sexta-feira, 5 de maio de 2023

Os Estados nacionais subordinados às big techs

 

O controle e a censura avançam na internet (não a que advoga a direita neofascista, mas outra muito diferente).
Sobre este tema existem duas narrativas: a do grande capital, que controla as principais redes sociais (como o twitter, o Facebook e cia.), e são orientadas pelos princípios do neofascismo (D. Trump, S. Bannon e E. Musk); a outra, por uma "esquerda liberal", social democrata, tipo o petismo.
Para a primeira, divulgar conteúdo neonazista e promover ameaças e injúrias racistas e supremacistas é visto como "liberdade de expressão", por isso não veem nenhuma problema nos perfis das redes sociais que promovem este tipo edificante de mensagens à humanidade, chegando até mesmo a protegê-las. A segunda, julga que se pode resolver este problema intrincado apenas "regulamentando" o setor (com uma regulamentação que precisa ser feito pedindo-se penico para redes sociais que hoje possuem mais poderes que os Estados nacionais). A tentativa de regulamentar, apesar de tudo, é certamente um primeiro passo importante, mas ainda muito tímido, não indo fundo nas questões que precisam ser debatidas e trazidas à luz.
O twitter, sob controle de Elon Musk, tem contas que veiculam discurso de ódio e promovem ameaças (ainda que algumas delas tenham sido tiradas do ar — talvez momentaneamente). O telegram, que é de origem russa, é acusado de se negar a entregar dados de usuários que promovem discurso de ódio e de "organização nazista". Por esta razão, sem dó nem piedade, foi imediatamente tirado do ar.
Por que o mesmo não ocorre com o twitter? Será que é porque tem procedência norte-americana e do homem mais rico do mundo? O twitter forneceu os dados dos seus usuários que propagam mensagens neonazistas de supremacismo branco às justiças federal e estaduais? A grande mídia e o governo o estão exigindo também e divulgando tais tratativas? Porque há um peso e duas medidas nessa história toda?
A grande questão é que temos visto a censura digital aumentar não porque "evitam posições [racistas e neofascistas] de se expressar", mas porque os controladores das redes sociais pelo mundo afora possuem mais poderes que os Estados nacionais e seus medíocres "ministérios da justiça"; porque os algorítimos criam bolhas que mantém os usuários separados uns dos outros, selecionando e omitindo conteúdos; porque há comprovada espionagem para obtenção de dados pessoais que são utilizados pelas cúpulas dos grandes impérios — seja ele o complexo-industrial militar dos EUA ou o nascente imperialismo sino-russo.
O governo Lula propõe agora regulamentar a internet e as redes sociais. Que poder, de fato, terão essas medidas para controlar as insubmissões dos seus donos multibilionários? Divulgarão e aplicarão penas equânimes a todas as redes sociais ou terão complacência com quem grita mais alto e tem mais poder econômico?
No meio disso, estamos nós, simples internautas com algum tipo de consciência de classe, tentando expressar o que sentimos e pensamos, classificados, autorizados ou censurados pelos algoritmos, separados pelas barreiras digitais que os donos das redes sociais criam e usam ao seu bel prazer (muitas vezes falando para nós mesmos).
Liberdade de expressão continua sendo apenas um assunto para quem tem dinheiro, muito dinheiro. A estes, é possível burlar regras, regulamentações e constituições nacionais. Enquanto isso, seguem livres apenas as narrativas parciais, os bloqueios de apenas algumas redes sociais inconvenientes aos interesses econômicos hegemônicos do Ocidente (e alguns perfis) e os odiosos discursos supremacistas do neofascismo...
O símbolo das "facilidades de comunicação" e da "liberdade de expressão" da nossa época histórica não são as "maravilhas da internet e das redes sociais", mas a prisão e a censura de Julian Assange, que utilizou a internet para divulgar documentos secretos da alta cúpula do poder mundial (em especial, dos EUA) através do Wikileaks. Até hoje está preso e luta contra a possibilidade real de ser condenado à morte.

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terça-feira, 25 de abril de 2023

Para onde estão nos levando os valores sociais e educacionais do capitalismo?

A entrada da escola, em Santa Catarina, após o comunicado sobre os atentados

No início de abril uma escola de educação infantil em Blumenau (SC) foi atacada por um homem armado com um machado, que assassinou, pelo menos, 5 crianças e feriu várias outras, além de deixar toda uma comunidade escolar traumatizada. O Brasil teve 5 ataques com mortes em escolas entre 2022 e 2023. Ao todo, 52 pessoas foram assassinadas em atentados contra instituições de ensino brasileiras desde 2011, sendo 7 somente em 2022. Um surto de postagens fakes nas redes sociais, com ameaças de repetir o ocorrido em Blumenau, se disseminaram por várias comunidades escolares do Brasil, disseminando o pânico. Aulas foram canceladas e a histeria social se instalou. Diversas propostas paliativas e desesperadas foram "debatidas" em reuniões de pais, de professores e através da grande mídia.

Tais ataques reproduzem uma tendência comportamental que ocorre nos EUA desde a década de 1990 como forma de encontrar uma "válvula de escape" para os graves problemas sociais através do discurso de ódio e de armamento, e que até o presente momento não encontram nenhuma forma concreta de solução. O texto abaixo é uma tentativa de interpretação desta realidade complexa e triste.


A violência nas escolas é um reflexo dos valores da nossa sociedade, baseados na meritocracia, na competição, no hedonismo, no narcisimo e no individualismo. As opções políticas e econômicas adotadas pelos sucessivos governos brasileiros, de cópia dos modelos estrangeiros — neste caso, numa cópia do estilo de vida americano —, cobra o seu preço.
Este estilo de vida é a raiz central do problema, que precisa ser questionada, sem o quê, nada de essencial muda. Ele se baseia no fato de que os inimigos são supostamente externos, já que quase tudo o que é diferente e pensa diferente é visto como inimigo; isto é, este estilo de vida é tão frágil e necessita tanto de um espírito de rebanho, senão ele nao funciona, que o que é diferente e pensa diferente deve ser excluído, não-ouvido, não-levado em consideração e, muitas vezes, ridicularizado.
A classe média, e também as pessoas da classe trabalhadora que pensam que são parte da classe média, agora se desesperam. Pulam e exigem mais violência contra qualquer suposto suspeito e ainda mais controle: é a única coisa que sabem reivindicar. Não percebem que o estilo de vida criou os próprios inimigos que podem estar em qualquer lugar, e, principalmente, dentro de nós mesmos, se retroalimentando permanentemente. Os muros e as grades "nos protegem" de nosso próprio mal, que está na nossa conduta, na nossa visão de mundo, na nossa sociedade egocêntrica, classificatória, competitiva e violenta. O "inimigo" pode estar sendo gestado dentro de casa, neste exato momento, em uma criança isolada e negligenciada, que é ignorada e ridicularizada por um mundo que ela não compreende e que, por sua vez, também não a compreende.
Se se continua condenando o outro, sem perceber que isso gera o inimigo oculto que pode estar em qualquer lugar, e que ele não será combatido com mais armas, mais polícia, mais exército e mais repressão, mas com a mudança de conduta social, econômica, política, emocional, pessoal, simplesmente se amplifica o problema e se adia sua solução.
Pra piorar, os mal intencionados e oportunistas aproveitam o pânico e o desespero, de uma sociedade caótica, que vive e precisa disso, pra vender mais e se impulsionar (vide os programas sensacionalistas de "jornalismo" policial), para sabotar, para dificultar as coisas, para tirar vantagem, por menor e mais insignificante que ela seja, para sair da mesmice medíocre em que a nossa vida cai diariamente.
Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há indício de que a ajuda virá de outro lugar para nos salvar de nós mesmos, que não seja uma ajuda que parta de nós mesmos. E não há solução possível para a violência nas escolas simplesmente buscando-as fora de nós, com medidas paliativas que sequer tocam no cerne da questão, que é o estilo de vida da sociedade e a relação entre nós e conosco mesmo!
Não adianta gritar contra o outro, exigir um milagre de governos e "autoridades" que são os mesmos que promovem ou protegem a gestação desta mesma violência, ou, então, olhar pro céu com "muita fé", mas com pouca luta e disposição de mudar de estilo de vida para não perder esta ilusória sensação de segurança...


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sábado, 22 de abril de 2023

A velocidade nas mudanças econômicas e nas mentalidades

Lula em viagem à China, de onde pronunciou declarações que desagradaram o imperialismo estadunidense e sua mídia.

O império estudanidense continua em crise e se decompondo. Agora vemos os países do bloco dos BRICs avançarem para o questionamento do dólar como moeda oficial do mercado mundial.
A cada passo um novo desafio é superado por China e Rússia – os países que se colocam como principais lideranças deste suposto "mundo multipolar". Visivelmente o império desintegra-se um pouco ano a ano. Em cada um dos 5 continentes mais países são sugados pelo "buraco negro" do mercado chinês e se colocam como candidatos a participantes da "nova rota da seda".
Contudo, a mentalidade social não segue com a mesma velocidade as mudanças da economia – e é justamente nisso que a grande mídia e o complexo industrial-militar dos EUA apostam! Esta mentalidade ainda não abandonou a época de dominação dos EUA.
A sua última trincheira é a consciência reacionária da classe média brasileira e latino-americana, que pode ser incitada via a sua campanha midiática de 24h. Por isso a grande mídia – e, em especial, a Rede Globo, uma das principais sucursais do imperialismo ianque no Brasil, embora não a única – já começou o serviço de desestabilização, tentando jogar a consciência reacionária da classe média contra as declarações de Lula acerca da Guerra da Ucrânia e sobre o abandono do dólar como moeda intermediária e preferencial do comércio internacional.
A tendência é vermos uma campanha permanente contra o governo para realinhá-lo à "neutralidade" nas questões internacionais via pressão da opinião pública reacionária. A estratégia política e sindical petista não prevê uma forma de resistência e de combate em relação a essas pressões – pelo contrário, sequer pensa nessas questões.
O Deep State estadunidense (isto é, o seu trilionário complexo militar-industrial) não aceitará uma semicolônia histórica como o Brasil fazer declarações impunemente sobre o dólar e as suas agressões militares pelo mundo. Por muito menos governos já foram derrubados pela CIA e pelo departamento de Estado. Mesmo que não haja força política e econômica para apostar nesta estratégia agora, sempre há a opção pela imposição do caos e da confusão, que é a opção presente para um imperialismo em decadência histórica.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Retorno triunfal?


Bolsonaro voltou ao Brasil totalmente reorientado e rearmado pelos seus assessores e técnicos internacionais ligados ao neofascismo estadunidense — os mesmos que orientam Donald Trump. Ao contrário das organizações de "esquerda", ele tem um plano claro e bem montado.
Vai continuar sua campanha política neofascista, ora por debaixo dos panos, ora em plena luz do dia, tal como faz Trump nos EUA. Vai fazer troça das instituições "democráticas", demonstrando o quanto a "justiça" e o setor empresarial são coniventes com o seu "livre" discurso de ódio neofascista e com suas práticas fraudulentas de espalhar livremente boatos, fake news, ódio incontido (inclusive contra as próprias instituições, o que seria crime segundo a "nossa" Constituição Federal de 1988).
Infelizmente tende a ganhar adeptos na sociedade a partir desta terrível e infame manipulação da psicologia de massas, que obtém sucesso graças o despertar irresponsável do sadismo, da perversão e do ódio mais mesquinho de largas parcelas da classe média e da própria classe trabalhadora, recorrendo, também, ao seu imediatismo mais selvagem.
E o governo petista conseguirá fazer frente a isso? Sua política será diferente da executada pelo partido democrata dos EUA, que só tem ajudado a manter Trump livre e atuante, lhe ampliando o palanque, dado que não pode enfrentá-lo seriamente sem se auto desmascarar...?
A experiência de 13 anos de governos petistas e os três meses decorridos desde a posse do terceiro mandato de Lula nos demonstra que a política será a mesma de sempre: "negociação" e abafamento, onde apenas um lado negocia enquanto o outro sabota qualquer regra "democrática" em plena luz do dia e debaixo do nariz das nossas nobres "instituições republicanas".

sábado, 11 de março de 2023

O autoritarismo petista nos sindicatos

“O PT preparou-se para atuar no plano legal e não se resguardou,
até hoje, dos riscos que corre num país no qual a democracia não vai além de um biombo
que oculta o monopólio do poder das classes dominantes”.
(Florestan Fernandes).

Lula, Alckmin e as "lideranças" das centrais sindicais

         O petismo usa e abusa do discurso relacionado à “democracia”. Sente-se e vende-se como o “guardião democrático” do Brasil. Podemos dizer, repetindo Florestan Fernandes, que o PT teve papel importante no desenvolvimento e consolidação da democracia burguesa brasileira, mas não podemos deixar de apontar as insuficiências e contradições dessa mesma democracia, defendida tão exageradamente por ele como a única possível.

         O efeito mais negativo desse discurso petista se dá, certamente, no movimento sindical, que controla desde o final da ditadura militar e do advento da “nova” República iniciada em 1985-1988. Desde então, o sindicalismo petista-cutista tornou-se um nítido entrave que piora a confiança dos trabalhadores nas suas forças independentes e na consciência de classe, uma vez que se desenvolve no sentido do controle com mãos de ferro, que distorce e persegue oposições minoritárias, tendo na sua total institucionalização um dos principais sintomas do seu esgotamento.

O sindicalismo petista desenvolveu um respeito quase religioso à legalidade, às eleições e às instituições da democracia burguesa, que, quando se sentem ameaçadas, tramam golpes e retirada de direitos dos trabalhadores em plena luz do dia. Certamente que se deve observar certas práticas da legalidade para que os sindicatos não sejam cassados burocraticamente e possam existir, mas isso nada tem a ver com cultuar a legalidade, embelezá-la, chamar a classe trabalhadora a confiar nela cegamente em todas as circunstâncias, tal como faz o petismo. O resultado é a destruição completa da independência de classe e a submissão total da classe trabalhadora ao Estado burguês – portanto, significa o fim de qualquer movimento sindical que interesse ao proletariado.

         Na prática de administrar os sindicatos dentro dessa estreita legalidade, PT e CUT tratam como inimigos irreconciliáveis todos aqueles que, de alguma forma, questionam essa legalidade e que reconhecem nela um entrave. Não é necessário ser um gênio em sociologia e em história para perceber o interesse da classe dominante neste legalismo, que é o meio mais eficaz para controlar movimentos de base. Qualquer tipo de criatividade que sobrevenha de baixo no calor de uma luta é morto antes mesmo de nascer, dado que não encontrará nenhum tipo de receptividade por parte das direções sindicais, preocupadas unicamente com os protocolos e rituais burocráticos aceitos pela letra fria da legislação vigente.

         Nesta perspectiva, as oposições classistas são muito mal vistas, tendo seu direito de fala e de expressão restringidos ou mesmo suprimidos. As desculpas para isso são as mais “nobres”: falta de representatividade; ou então, a simples repressão ou negação do direito a fala, tal como faria qualquer tipo de ditadura militar. Esta conduta sindical desenvolve o costume da não-escuta! Os argumentos não são rebatidos dentro do campo das ideias e no sentido construtivo de se educar toda uma categoria (ou mesmo a classe trabalhadora como um todo), mas tratados com ataques baixos, como simples “loucura” que não é digna sequer de ser considerada. Isto é, vemos, na prática, uma censura autoritária disfarçada.

         Sabemos que existem oposições irrealistas ou mesmo “irresponsáveis” (para se usar um jargão muito utilizado pela burocracia cutista), mas nem todas as oposições ou posições da base podem ser classificadas desse jeito tão edificante, nem devem ser respondidas com métodos autoritários de censura e exclusão. Como os sindicatos são órgãos coletivos por excelência, todos os seus eventos devem ser utilizados para uma formação teórica coletiva – mesmo os mais insólitos e aparentemente desrespeitosos.

         O debate precisa ser qualificado, e não simplificado a partir de generalizações rasas que apenas rotulam para a manutenção do que aí está. Este tipo de “formação sindical” – que é a que impera no sindicalismo cutista/petista – apenas pode alimentar o espírito de rebanho, pois não educa a classe no sentido da reflexão crítica e do questionamento, tensionando setores a se localizar embaixo da asa de um ou de outro caudilho sindical.

 

Alimentando o espírito de rebanho

No CPERS, que serve de exemplo por ser um dos maiores sindicatos do Brasil e da América Latina, dirigido por PT-CUT e PCdoB-CTB, qualquer crítica é tratada como “um ataque” e vista sempre como automática auxiliadora da direita. É comum ouvir comentários tristes e singelos como esse: “votaram na direita e depois querem que o sindicato resolva”. Como se tudo se resumisse às eleições burguesas – sendo que ninguém sabe ao certo em quem cada um votou. Como construir alguma luta séria com um debate tão raso e mesquinho, incapaz, no geral, de fazer surgir pensamento crítico?

         Com este tipo de “discussão” não é de se admirar que se formem apenas rebanhos humanos e currais eleitorais, de bases mais ou menos perdidas, que oscilam de um lado para outro, em busca de uma liderança que diga o que se tem que fazer. Um sindicalismo alternativo necessitaria trabalhar em uma nova perspectiva sindical, não apenas com formação teórica e política, mas com escuta sincera e diálogo permanente (aquilo que propõe Paulo Freire, que é sempre muito cultuado, mas quase nunca praticado). Ou seja, este sindicalismo necessitaria evitar criar novas cunhas e divisões dentro de cada aparato sindical, mas priorizar a resolução honesta das divergências que inevitavelmente surgem.

         Os congressos, plenárias e instâncias sindicais são viciados e meramente reprodutivos de práticas típicas de currais eleitorais que lembram muito o voto a cabresto da República Velha. A militância petista funciona, portanto, como uma reprodutora da estrutura oficial do Estado, de uma forma ou de outra, reforçando, assim, o espírito ordeiro de rebanho. Desta forma, não podemos ver surgir um sindicalismo crítico, ativo, revolucionário, que enfrente as estruturas; apenas um questionamento pontual ao que é tolerado pelo próprio sistema.

 

O petismo nos sindicatos segue a mesma prática do stalinismo

         O PT e Lula falam seguidamente em “democracia” e muitas vezes condenaram o “socialismo autoritário” (no caso, deveriam chamar pelo nome correto: stalinismo), contra o que não há nada a se objetar, porque é muito importante questionar as experiências socialistas autoritárias e burocráticas; porém, incorre nos mesmíssimos métodos do stalinismo quando está na direção dos sindicatos: calúnia, trapaças e uso de diplomacia secreta. Abafa críticas e as ridiculariza, tirando do contexto sempre que preciso – seja uma crítica que venha de pessoas organizadas em partidos e correntes sindicais ou não. O petismo não precisa recorrer à repressão física e ao assassinato de opositores como fez o stalinismo porque existem métodos mais sofisticados, feitos “democraticamente”; por exemplo: ignorando aqueles que estão “fora da legalidade sindical” e os “degolando burocraticamente”.

Isso não quer dizer que o PT não possa sofrer com oposições também desonestas e que exagerem ou mintam, mas o fato é que não está aberto a ouvir críticas e respondê-las com sabedoria, sobriedade, mas, sobretudo, com honestidade em reconhecê-las. Parte do combate das oposições histriônicas e exageradas está em não usar da desonestidade e omissão, mas enfrentá-las com argumentos e paciência, aprendendo a demonstrar suas contradições ou mentiras. Contudo, não é assim que age o PT nos sindicatos, mas as abafa com a mão burocrática do aparato e geralmente coloca todas as oposições no mesmo “saco de gato”, prestando um desserviço ao pensamento crítico e à própria construção teórica e formativa da base sindical.

No CPERS, por exemplo, PT e PCdoB exercem uma tirania burocrática contra todos aqueles que pretendem militar de forma independente e com consciência de classe, controlando o aparato através do legalismo, manobrando, sufocando ou condenando debates que questionem seu projeto de poder e o seu programa. Não deixa nenhum movimento independente se desenvolver pelo livre debate de ideias, pois as teme (por mais que jure de pés juntos o oposto).

Essa contenção do movimento pela força burocrática beneficia a quem? Ora, beneficia a própria direita e as forças conservadoras, a tradição e a zona de conforto em torno daquilo que existe – se considerarmos que o bolsonarismo é uma expressão organizada dessas forças, logo, o petismo o beneficia indiretamente, mesmo dizendo o oposto. O neofascismo só pode ser melhor combatido pela diversidade organizada e consciente de si mesma, não pelo cinismo institucional, que submete tudo à sociedade oficial. Este cinismo, no geral, tende a facilitar o trabalho do neofascismo, que sabe se utilizar e dialogar muito bem com ele.

 

Que postura ter frente ao futuro governo Lula com um sindicalismo deste tipo?

O novo mandato de Lula à frente do governo federal contará com medidas de contenção da crise econômica e social, a exemplo da Argentina, que vive o aprofundamento de graves problemas econômicos, a inflação descontrolada, cujo presidente, Alberto Fernandez, não conseguiu enfrentar com os tradicionais métodos da democracia parlamentar burguesa. O mesmo problema pelo qual passou Gabriel Boric no Chile, com uma tremenda desvalorização dos salários, bem no auge do debate sobre a “nova Constituição”.

Os sindicatos e centrais petistas certamente cumprirão um papel de aprofundar o controle e a contenção do movimento de massas – ainda que grande parte delas se coloque embaixo de suas asas de bom grado. Qualquer crítica ao governo Lula, mesmo aquelas honestas, refletidas e bem fundamentadas, serão tratadas com rechaço por parte da sua base mais fanática, que dirá se tratar de um automático apoio à direita. Este tipo de “resposta” não pode contribuir para a formação de um pensamento sindical e militante crítico e ativo, mas apenas erigir uma blindagem em torno do governo que serve como cortina de fumaça para deixar o caminho livre para novos e piores golpes de direita.

Onde não há criticidade viva, honesta e ativa, impera a despolitização e a reprodução de rebanho.

O fato é que existe uma notável correlação entre a educação e a opinião pública política dos eleitores (sejam nas eleições sindicais ou nas eleições gerais). Os eleitores menos esclarecidos inclinam-se para soluções irracionais e fanáticas. A própria estrutura da justiça eleitoral, da cobertura midiática, dos debates e das pesquisas eleitorais reduzem o debate ao que é aceitável para o sistema e tudo o que foge à sua lógica é condenado, combatido ou censurado. O mesmo método é utilizado pelo petismo dentro dos sindicatos, reduzindo a luta sindical centralmente ao calendário eleitoral.

         A liberdade política é uma condição de liberdade humana só porque favorece o desenvolvimento do que é especificamente humano. A liberdade política numa sociedade alienada, que contribui para a desumanização do ser-humano, transforma-se em não-liberdade. Um debate sindical restrito forçosamente às eleições burguesas é um não-debate.

 

A preferência pela calmaria e estabilidade do funcionalismo público

O sindicalismo petista também prefere se enraizar no funcionalismo público, pois reforça a sua prática legalista. Como é centralmente restrito a este setor (prática seguida por outros partidos como Psol PSTU, etc.), ignora a organização e as necessidades dos trabalhadores das empresas privadas, bem como dos terceirizados e precarizados de todos os setores – vistos, em última análise, como responsáveis pela sua própria situação.

         Ao ter este tipo de estratégia sindical, acaba por se desconectar das demandas reais da totalidade da classe, que não está no funcionalismo público. Muitas vezes não sabe criar uma unidade harmônica entre os diversos segmentos de classe e seus setores, criando benefícios e privilégios de uns em detrimento de outros. Muitas oposições país afora – às vezes com métodos corretos, às vezes com métodos incorretos – alertam as direções petistas desta contradição, mas são ignoradas ou abafadas (às vezes expulsas dos sindicatos).

         A mentalidade média do trabalhador do funcionalismo público procura uma vida tranquila e sossegada, fechada em si mesma, que geralmente apenas os governos petistas lhe proporcionam. Por isso, parte bastante sólida do eleitorado militante petista se encontra aí. Enquanto que a direita mais raivosa tende a se enfrentar aberta e diretamente contra o funcionalismo, pregando quase que como uma religião o Estado mínimo e a privatização de tudo.

         Dado os anos de neoliberalismo, de desarticulação de vínculos trabalhistas, de representação fragmentária de sindicatos e centrais, o apoio popular e sindical organizado do petismo nos dias de hoje não está mais na classe trabalhadora, mas no funcionalismo público. Mesmo o bolsonarismo hoje possui um grande peso no seio da classe trabalhadora – talvez tanto quanto o petismo! Ele os atinge por outros meios que não a intervenção sindical direta, como por exemplo, os métodos refinados do neofascismo de manipulação da psicologia de massas através da utilização das redes sociais.

         Ao não avançar para uma organização coesa de todos os setores e segmentos da classe trabalhadora – até onde isso é possível –, acaba por reforçar as pautas e demandas do funcionalismo público, como se essas refletissem a realidade de toda ela. A culminância disso tudo é a CUT, que dá preferência às categorias do funcionalismo público e trata secundariamente as categorias do setor privado.

 

A confusão em relação à estratégia socialista

         Os sindicatos surgiram como uma força independente na sociedade europeia do século XIX. Só puderam se desenvolver e conquistar direitos porque se mantiveram nesta condição. Posteriormente, ao longo do século XX, foram sendo cooptados pelo Estado burguês e sua institucionalidade. O fascismo italiano abriu um longo caminho que subordinou totalmente o sindicalismo ao seu Estado, no que foi copiado por Vargas no Brasil. Todos os governos brasileiros subsequentes mantiveram a mesma legislação restritiva e subordinadora. O petismo cumpre hoje o mesmo papel regulador dos sindicatos exercido pelo varguismo no passado, embora com métodos muito mais refinados.

         A força criadora, organizadora e propulsora do sindicalismo está nesta sua independência do Estado, da sua legalidade sufocadora, da sua institucionalidade. Sem esta independência, o sindicalismo se torna, em maior ou menor medida, um simples reprodutor da ordem vigente.

O petismo é confuso e dúbio em relação ao socialismo, tanto na esfera política quanto na esfera sindical. Ao abandonar a estratégia socialista, termina por se afundar na única legalidade que existe: a burguesa!

         Isso não é precisamente uma novidade. Florestan Fernandes já havia analisado isso em detalhes nos congressos do PT na década de 1990. O petismo não resolveu este problema porque optou por seguir um caminho de conciliação com o grande capital.

Observemos algumas citações de Florestan Fernandes tiradas de um livro que reúne suas principais contribuições aos congressos petistas (Reflexões sobre a construção de um instrumento político, Editora Expressão Popular, 2019):

“As lições tiradas da ‘crise do socialismo real’ são equivocadas e perfilham tendências social-democratas, ou de um ambíguo ‘socialismo democrático’, que condenam as classes trabalhadoras e os movimentos populares radicais e revolucionários à castração social-democrática. Nas bases, as manifestações se dispersam, naturalmente, pela influência quase hegemônica dessas lideranças, todas reformistas, e como efeito do tipo de organização vertical-horizontal, que eleva demais os militantes e os quadros por suas categorias e por suas tendências. O ‘petismo como modo de ser’, ou ‘como estado de espírito’, sofre um esfarelamento, resultante do modelo organizatório e administrativo mais adequado à transferência do micropoder para as instâncias dirigentes, dos diversos níveis, que à articulação ideológica e politicamente unificada das massas” (página 96).

“No PT prevalece uma predisposição muito forte por realizações e ganhos relativos na competição pelo micropoder, o poder pequeno que nasce na estrutura hierárquica do partido e das probabilidades de mando que ela confere. Há também uma ambição clara de chegar ao poder institucionalizado, intrínseco à ordem social vigente, o que envolve a instrumentalização do partido para a satisfação de objetivos pessoais e de grupos congeniais” (página 95).

“O partido não tenta aproveitar politicamente as potencialidades do comportamento coletivo e permite que ele se dissipe nos fins institucionalizados e regulados pela ordem, no plano da representação e das eleições ritualizadas. Tampouco lhe infunde uma duração permanente e conteúdos ideológicos contra a ordem, restringindo-se a colher os frutos das mobilizações mais imediatistas” (página 97).

“A educação para o socialismo continua a ser uma esfera pobre e secundária” (página 85).

“Trata-se não só de adquirir uma consciência social operária e socialista, mas de eliminar a alienação social das estruturas mentais e da imaginação política dos assalariados, moldadas pelo capital. Por fim, é preciso inseri-los na luta política, salientando suas duas faces: a corporativa e ‘economicista’, e aquela que, a médio e longo prazos, enfatiza a perspectiva do poder e do que fazer com o Estado. É atribuição do partido produzir e difundir entre os militantes da causa operária uma visão teórica e prática desse processo multiforme, fator  sem o qual a luta pelo poder se dissolve nas fricções e entrechoques do dia a dia” (página 74).

Florestan Fernandes, assim como muitos ex-militantes petistas, alertou para os problemas decorrentes do curso que o petismo estava tomando. Até hoje as advertências inconvenientes são ignoradas. O resultado não pode ser diferente. Talvez veremos daqui por diante apenas uma trégua com a direita neofascista, que conhecendo e surfando em todas essas contradições petistas, recuperará a força e criará as condições para alijar o petismo do poder novamente, já que ele não pode ser derrotado pela prática política do PT.

***

         Em síntese, para o petismo a luta sindical é tolerada enquanto não se choque com as estruturas institucionais da sociedade “democrática”. Isto é: enquanto a luta não sai do grito ordeiro, de cima da calçada, preferencialmente, pode ser tolerada e até “admirada”, mas no momento que questiona algum tipo de institucionalidade a luta passa a ser atacada pela burocracia sindical muitas vezes tão ou mais virulentamente do que a própria direita.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

A pauta tributária do novo Congresso

Publicado originalmente em: https://knigaeconomiapolitica.blogspot.com 


Espetáculo por espetáculo, qual foi o maior e mais impactante: a posse de Lula dia 1º de janeiro de 2023 ou o vandalismo da turba bolsonarista dia 8? Só a história responderá. Neste cenário de dissonâncias cognitivas: um fala branco outro fala preto, uns fazem balanço positivo, outros negativo, alguns dizem que Lula 3 sai fortalecido, outros acham que o governo foi golpeado e se enfraqueceu. Alguns acham que a democracia venceu, saiu fortalecida, outros acham que o governo seguirá refém do bolsonarismo (denominação genérica para as forças de direita). 

O espetáculo da posse recheado de mensagens pacificadoras, integradoras e inclusivas foi ofuscado pelo espetáculo do quebra-quebra no domingo seguinte. Na margem de tempo de uma semana ficou evidenciado o antagonismo entre as classes na sociedade capitalista. Embora petistas e bolsonaristas não compartilhem de que no capitalismo prevaleça a divisão de classes: petistas olham para as desigualdades promovidas pelo sistema e com visão romântica das contradições do capitalismo, pensam que podem erradicá-la com harmonização de interesses. Já os bolsonaristas só enxergam o apocalipse. 

Em 1º de fevereiro tomaram posse os novos parlamentares e na mesma data elegeram a mesa diretora das duas casas que compõem o Congresso. Da mesma forma que o atual vice-presidente Geraldo Alckmin, os senhores Arthur Lira (Progressistas – AL) e Rodrigo Pacheco (PSD – MG), respectivamente presidente da Câmara de Deputados e Senado, se converteram em companheiros. O processo eleitoral de ambos seguiu os ritos habituais: troca de cargos. A gestão Lula 3 reitera o fisiologismo e o cretinismo parlamentar. Por trás de uma retórica inflamada aos eleitores, o modus operandi nos bastidores se repete e perdura.

Por isso, não constitui surpresa que no caso da eleição de Lira para a Câmara dos Deputados tenha ocorrido um rendez-vous (tradução: regabofe) à altura do cretinismo parlamentar que acomete os partidos, tanto os da situação, como os da oposição (em alternância de poder). O jornal O Globo em sua edição de 28 de janeiro de 2023, página 8, informou que no dia 26 uma quinta feira a noite, em jantar para promover a eleição de Arthur Lira à presidência da Câmara compareceram, dentre outros comensais, os ministros petistas Luiz Marinho (Trabalho) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário); o governador de São Paulo Tarcísio Freitas (Republicanos); e os seguintes deputados federais, pelo PSOL – SP Guilherme Boulos e Erika Hilton; pelo Republicanos – SP o também Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcos Pereira, pelo PT – RS Maria do Rosário, a cônjuge do senador Sérgio Moro a deputada pelo União de SP Rosângela Moro e o filho de Jair Bolsonaro o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL – SP).

Interessa-nos, todavia, a pauta econômica inicial da nova legislatura. No Congresso Nacional a equipe econômica pretende pautar a reforma tributária. Embora exista várias propostas na mesa de ambas as casas legislativas, há expectativa de qual deles será abraçado pelo governo. No entanto, com base em declarações à imprensa tanto do presidente da Câmara dos deputados, como da equipe econômica, a prioridade é iniciar por uma ampla e radical reformulação dos impostos que incidem sobre o consumo. Aqueles que incidem sobre a renda e a propriedade ficariam para depois. Ou seja, o que poderia favorecer os trabalhadores fica para depois. A urgência em alterar o caráter regressivo da nossa política tributária (quem ganha menos acaba pagando mais imposto) fica adiada. 

Por esse motivo existe um consenso entre as elites por onde começar a reforma. O governo dessa forma irá contrariar os interesses populares. A reformulação das bases de arrecadação dos impostos no Brasil deveria ser iniciada pela renda e propriedade. Exatamente onde os desfavorecidos são mais prejudicados. Três medidas podem e devem ser encaminhadas: a regulamentação do imposto sobre grandes fortunas, a revogação da isenção nos lucros e dividendos e o voto de qualidade no CARF.

 

GRANDES FORTUNAS

Os trabalhadores não podem se deixar contaminar pelo cinismo e desfaçatez dos parlamentares, ministros e demais representantes do capital. O imposto sobre grandes fortunas não demanda votação ou debate. Já está aprovado, é lei constitucional. Como está prescrito pela Constituição Federal artigo 153 inciso VII, aqui citado em sequência: “Compete à União instituir impostos sobre grandes fortunas, nos termos de lei complementar”. Consequentemente cumpre de modo simples regulamentar a lei. Dada uma terceira oportunidade a Lula e uma quinta ao PT, que eles não se façam de rogados e, ao contrário dos mandatos anteriores, promovam a regulamentação da lei e mobilizem por sua aprovação.  

 

LUCROS E DIVIDENDOS

Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro mandato isentou de imposto de renda os lucros e dividendos em uma lei geral que trata de outros assuntos. Desnecessário perder tempo com nova legislação. Um passo inicial e simples é revogar o artigo 10º da Lei 9.249, de 26 de dezembro de 1995 que altera a legislação do imposto de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro líquido, e dá outras providências: “Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior”. A manutenção desse dispositivo lesa os cofres públicos. Sua revogação deve ser encampada pelo movimento popular e contra a vontade de uma maioria de deputados e senadores impor uma vitória aos interesses populares.   

 

CARF

A Medida Provisória 1.160, de 2023, cuja ementa: “Dispõe sobre a proclamação do resultado do julgamento, na hipótese de empate na votação no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, e sobre a conformidade tributária no âmbito da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda e altera a Lei nº 13.988, de 14 de abril de 2020, para dispor sobre o contencioso administrativo fiscal de baixa complexidade.”. Nem reforma, nem extingui o CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Diante disso nos resta defender sua aprovação apesar da timidez com que trata do problema crônico da sonegação de impostos. O montante é assustador até junho de 2022, as dívidas no Conselho chegavam a R$1 trilhão, que somados aos R$216 bilhões em litígio nas Delegacias de Julgamento da Receita Federal chegam ao total de R$ 1,216 trilhão. Só nos dois anos que antecederam a mudança sobre o voto de qualidade (voto de minerva do presidente do Conselho, um auditor fiscal), 2018 e 2019, foram arrecadados R$ 142,15 bilhões. Prova de que dinheiro há e muito. O Conselho é controlado pelas confederações empresariais que indicam metade dos julgadores, a outra metade é composta por auditores. No entanto, quando o governo perde, a decisão possui caráter terminativo, quando os empresários perdem podem recorrer ao Judiciário. Entre a disputa nos órgãos da Receita Federal e no Judiciário o tempo médio é superior a 15 anos. Tal o descalabro em sua permanência e rotina de atuação que não somos os únicos a denunciar a existência do órgão e propor seu fim: “O CARF controlado pelas corporações empresariais não é uma instituição republicana! É um esbulho patrimonialista com raízes nas oligarquias do Império. Pelo fim imediato do CARF! (cf. Ricardo Fagundes da Silveira – Auditor Fiscal da Receita Federal e Membro do Conselho Deliberativo do Instituto Justiça Fiscal e Wilson Luiz Müller – Integrante do Coletivo Auditores Fiscais pela Democratização – AFD https://jornalggn.com.br/crise/carf-o-estouro-da-maior-boiada-de-bolsonaro/ )

Os trabalhadores não têm a oportunidade de recusar pagamento ou questioná-lo pois são tributados na fonte ou no momento do consumo. O mesmo deve ocorrer com a patronal. Se houvesse honestidade entre os grandes empresários, a proposta de retomada do voto de qualidade no CARF não teria sido repudiada. E ao Ministro da Fazenda não deveria ser dada agenda para que sonegadores fossem recebidos presencialmente como ocorreu dia 1º de fevereiro. O objetivo dos sonegadores é barrar a medida, que por ser provisória, depende de aprovação do Congresso. Os R$ 50 bilhões previstos podem virar pó. Compete aos gestores governamentais não negociar nenhum acordo e fazer valer o interesse popular, executar as dívidas que alcançam a cifra de R$ 1,216 trilhão e destinar o recurso para o bem-estar social. O Congresso deve votar a medida provisória como ela foi elaborada.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Não existe amor em SP

 

A cracolândia em São Paulo é uma expressão de como o país e o seu sistema econômico e político tratam o povo pobre.
A "grande novidade" do momento é que ao invés de expulsar violentamente a sua população de um lado para o outro, agora espalhou ela um pouquinho aqui e um pouquinho acolá. Ou seja, uma cracolândia dividida, mas que ainda existe plenamente, sem nenhuma política séria de inclusão.
Dizem os porta-vozes da prefeitura que estão apostando em uma abordagem humanitária e não mais agressiva (para tristeza da classe média paulistana mais reacionária).
O fato é que políticas públicas humanitárias não se fazem apenas com supostas boas abordagens, mas com investimentos em serviço social, na economia interna, de diversas outras formas de inclusão que o capitalismo brasileiro não prevê orçamento algum.

***

A burguesia paulistana (sobretudo a que se esconde nas páginas do Estadão) ataca a política externa de investimento em países da América Latina tentando reavivar o espírito mais atrasado e odioso na população média brasileira, apelando para discursos de que se investir fora não terá recursos para investir no país. Um papo furado que se estende por décadas, cujo objetivo central é deixar o orçamento público refém dos interesses exclusivos do capital privado (sobretudo do empresariado paulista), e que não é combatido seriamente.
O Brasil tem papel fundamental no desenvolvimento da América Latina e qualquer desenvolvimento dos demais países do nosso subcontinente significa, no geral, também o desenvolvimento do Brasil...

domingo, 15 de janeiro de 2023

Língua viva!


Como pode
Modificar a língua sem saber como é estruturada?

Como pode boca fria
no entrave entre as línguas
Ser prática mecanizada?
Como pode?
A linguística sendo mordiscada
Em destroços seus pedaços caem conforme avança
A lingua é viva, mas nem por isso
Merecia ser violada
A língua pode ser tida como burguesa
E nem por isso, assassinada
A burguesia ainda é louvada com praticas veladas e outras escancaradas
Palavras com poder, ao invés de significadas e voarem
São jogadas no lixo
Palavras ao vento
Trazer à consciência processo dolorido
Enquanto a violência come em baixo do teto das casas
Palavras vão para lixeira
Novas formas de opressão
Que não trazem solução aos antigos problemas
Novas embalagens, novas faces
O mesmo grude verde vômito
Solução apresentada:
oportunidade pra alguns;
fome e exploração a todos!
Igualdade, sem justiça
Sistema e barbárie
Salve a língua
Salve, salve!
Que ainda pode ser utilizada contra o sistema
Salvem as ferramentas que desconstroem ideias
Se com as palavras demonstrar a prisão já é difícil, sem elas?
Como expressar? Como demonstrar?
Que modificar a língua importa, sim. Mas não derruba a burguesia por si só?
Como demonstrar que o debate poderá fortalecer? Como te dizer? Ou melhor como te mostrar?
Se as palavras andam tão esvaziadas?
Vamos ressignificar? Mostrar na prática...
Passando adiante ferramenta que auxilia na luta proletária

Rafaela Lima