domingo, 17 de agosto de 2025

Os vendilhões do Brasil

 


Não é só no templo de Jerusalém que habitam vendilhões. 

No Brasil, eles se consolidaram no poder, criaram uma estrutura social, política e econômica que impossibilita o surgimento de qualquer Jesus com força para expulsá-los do templo! Senão que eles próprios vendem o país inteiro “em nome de Jesus”.

         O Brasil nunca teve uma elite com o propósito de desenvolver uma filosofia e cosmogênese próprias que encarnassem o “espírito” do desenvolvimento nacional de forma autônoma e corajosa. Ao contrário. Sua “tradição espiritual” e visão de mundo é reproduzir os valores ocidentais europeus e estadunidenses — como, por exemplo, a ideologia do “livre mercado” — para tentar se integrar no mercado mundial e vender o país. Esta “tradição espiritual” e visão de mundo transforma-se em tipos particulares de mentalidade e psicologia social nas massas, que tomam como se fossem suas, embora nada influem e só sofram.

         Os vendilhões do Brasil criam teorias, ideologias, signos e narrativas diariamente para continuarem vendendo o país, pois daí vem o seu lucro e o seu modo de vida dominante. Menosprezam o povo e, indiretamente, o próprio país — sua cultura, seus costumes, dificuldades, sofrimentos, história, etc.

         Podemos nomear os principais vendilhões do país: a grande mídia (que controla a narrativa através do seu noticiário econômico diário); FEBRABAN (que controla a farra dos juros e do sistema financeiro); FIESP (que mantém o poder econômico centrado em São Paulo e numa indústria esquálida, voltada a glorificar o agro, se contentando com a condição subalterna no mercado mundial de produtos primários); o agronegócio (que manda e desmanda no país, controlando terras, desmatando, assassinando índios e quaisquer opositores Brasil afora, desde a época colonial, só mudando de produto de exportação ao longo do tempo); os políticos da direita e da extrema direita — em especial os bolsonaristas, que encarnam o espírito da entrega colonial — que sempre governaram o Brasil em nome deste projeto de o vender ao imperialismo à preço de banana; e, por fim, a esquerda reformista e conciliadora, que faz aliança com todos os vendilhões em nome de uma governabilidade que, em última análise, ajuda a manter toda a estrutura de dependência e semicolonialismo, além de burocratizar e paralisar o movimento sindical.

         Um país soberano, na prática, não deve tolerar que os interesses econômicos — sobretudo os estrangeiros — ditem seus imperativos para a esfera política e econômica. 

Isso, no entanto, é justamente o que ocorre no Brasil e na América Latina: os interesses econômicos da cúpula do mercado mundial ditam o que é certo e errado, a mídia comercial reproduz à exaustão e os vendilhões — que lucram milhões com essa submissão — obrigam os seus políticos de estimação à traduzirem tudo isso em sua prática política.

         Vejamos um exemplo:

         O projeto de “modernização” do corredor ferroviário que liga a Bahia e o Acre ao Peru, proposto pelos chineses, não tem nada a ver com uma integração nacional e latino-americana, mas tem como objetivo central facilitar o escoamento da soja e da carne do agronegócio para a China. Não há, portanto, nenhuma grande preocupação com o desenvolvimento econômico que redunde num bem-estar social do povo, mas apenas no atendimento das demandas do agronegócio, que nos remetem aos tristes tempos do colonialismo português, quando se produzia pau-Brasil, açúcar, ouro e café. 

O Brasil foi fundado sobre esses interesses: primeiro foram as feitorias e fortalezas portuguesas no litoral; depois foram as ferrovias de capital inglês; no século XX foram as rodovias, montadoras e petroleiras ianques. No século XXI é o agronegócio e a sua exportação para a China, embora sobrevivam muitos vendilhões ligados ao imperialismo estadunidense em distintas esferas.

         Os vendilhões possuem muita grana, o que possibilita financiar jornalistas, escritores e publicitários nas mais distintas esferas para propagandear os seus interesses individuais e mesquinhos como sendo o mesmo que o desenvolvimento nacional. No entanto, são justamente estes mesmos interesses que mantém o povo vegetando na miséria, no desemprego e numa economia que lhe é estéril, porque não se preocupam e nem querem projeto de país diferente dessa estrutura econômica.

         Trata-se, portanto, da manutenção do Brasil como um país semicolonial, enquanto vendem a imagem de único “desenvolvimento” possível. Os vendilhões se adaptam rapidinho aos “novos tempos”: antes Portugal, Inglaterra e EUA; hoje a China!

         A briga, portanto, se dá entre os vendilhões que querem dar de bandeja o país ao imperialismo dos EUA, que não aceita perder seu trono, caluniando, sabotando, dando golpes e matando; ou para aqueles que querem começar a negociar a venda do país em condições um pouquinho melhores para a China.

         Até quando o povo brasileiro tolerará esse tipo de conduta?

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