Não é só no templo de Jerusalém que habitam vendilhões.
No Brasil, eles se consolidaram no poder, criaram uma estrutura social,
política e econômica que impossibilita o surgimento de qualquer Jesus com força
para expulsá-los do templo! Senão que eles próprios vendem o país inteiro “em
nome de Jesus”.
O Brasil nunca teve
uma elite com o propósito de desenvolver uma filosofia e cosmogênese próprias
que encarnassem o “espírito” do desenvolvimento nacional de forma autônoma e
corajosa. Ao contrário. Sua “tradição espiritual” e visão de mundo é reproduzir
os valores ocidentais europeus e estadunidenses — como, por exemplo, a
ideologia do “livre mercado” — para tentar se integrar no mercado mundial e
vender o país. Esta “tradição espiritual” e visão de mundo transforma-se em
tipos particulares de mentalidade e psicologia social nas massas, que tomam
como se fossem suas, embora nada influem e só sofram.
Os vendilhões do Brasil criam teorias,
ideologias, signos e narrativas diariamente para continuarem vendendo o país,
pois daí vem o seu lucro e o seu modo de vida dominante. Menosprezam o povo e,
indiretamente, o próprio país — sua cultura, seus costumes, dificuldades,
sofrimentos, história, etc.
Podemos nomear os
principais vendilhões do país: a grande mídia (que controla a narrativa através
do seu noticiário econômico diário); FEBRABAN (que controla a farra dos juros e
do sistema financeiro); FIESP (que mantém o poder econômico centrado em São
Paulo e numa indústria esquálida, voltada a glorificar o agro, se contentando
com a condição subalterna no mercado mundial de produtos primários); o
agronegócio (que manda e desmanda no país, controlando terras, desmatando,
assassinando índios e quaisquer opositores Brasil afora, desde a época
colonial, só mudando de produto de exportação ao longo do tempo); os políticos
da direita e da extrema direita — em especial os bolsonaristas, que encarnam o
espírito da entrega colonial — que sempre governaram o Brasil em nome deste
projeto de o vender ao imperialismo à preço de banana; e, por fim, a esquerda
reformista e conciliadora, que faz aliança com todos os vendilhões em nome de
uma governabilidade que, em última análise, ajuda a manter toda a estrutura de
dependência e semicolonialismo, além de burocratizar e paralisar o movimento sindical.
Um país soberano, na
prática, não deve tolerar que os interesses econômicos — sobretudo os
estrangeiros — ditem seus imperativos para a esfera política e econômica.
Isso, no entanto, é justamente o que ocorre no Brasil e na América
Latina: os interesses econômicos da cúpula do mercado mundial ditam o que é
certo e errado, a mídia comercial reproduz à exaustão e os vendilhões — que
lucram milhões com essa submissão — obrigam os seus políticos de estimação à
traduzirem tudo isso em sua prática política.
Vejamos um exemplo:
O projeto de
“modernização” do corredor ferroviário que liga a Bahia e o Acre ao Peru,
proposto pelos chineses, não tem nada a ver com uma integração nacional e
latino-americana, mas tem como objetivo central facilitar o escoamento da soja
e da carne do agronegócio para a China. Não há, portanto, nenhuma grande
preocupação com o desenvolvimento econômico que redunde num bem-estar social do
povo, mas apenas no atendimento das demandas do agronegócio, que nos remetem
aos tristes tempos do colonialismo português, quando se produzia pau-Brasil,
açúcar, ouro e café.
O Brasil foi fundado sobre esses interesses: primeiro foram as feitorias
e fortalezas portuguesas no litoral; depois foram as ferrovias de capital
inglês; no século XX foram as rodovias, montadoras e petroleiras ianques. No
século XXI é o agronegócio e a sua exportação para a China, embora sobrevivam
muitos vendilhões ligados ao imperialismo estadunidense em distintas esferas.
Os vendilhões
possuem muita grana, o que possibilita financiar jornalistas, escritores e
publicitários nas mais distintas esferas para propagandear os seus interesses individuais
e mesquinhos como sendo o mesmo que o desenvolvimento nacional. No entanto, são
justamente estes mesmos interesses que mantém o povo vegetando na miséria, no
desemprego e numa economia que lhe é estéril, porque não se preocupam e nem
querem projeto de país diferente dessa estrutura econômica.
Trata-se, portanto,
da manutenção do Brasil como um país semicolonial, enquanto vendem a imagem de
único “desenvolvimento” possível. Os vendilhões se adaptam rapidinho aos “novos
tempos”: antes Portugal, Inglaterra e EUA; hoje a China!
A briga, portanto, se
dá entre os vendilhões que querem dar de bandeja o país ao imperialismo dos
EUA, que não aceita perder seu trono, caluniando, sabotando, dando golpes e
matando; ou para aqueles que querem começar a negociar a venda do país em
condições um pouquinho melhores para a China.
Até quando o povo brasileiro tolerará esse tipo de conduta?
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