terça-feira, 25 de abril de 2023

Para onde estão nos levando os valores sociais e educacionais do capitalismo?

A entrada da escola, em Santa Catarina, após o comunicado sobre os atentados

No início de abril uma escola de educação infantil em Blumenau (SC) foi atacada por um homem armado com um machado, que assassinou, pelo menos, 5 crianças e feriu várias outras, além de deixar toda uma comunidade escolar traumatizada. O Brasil teve 5 ataques com mortes em escolas entre 2022 e 2023. Ao todo, 52 pessoas foram assassinadas em atentados contra instituições de ensino brasileiras desde 2011, sendo 7 somente em 2022. Um surto de postagens fakes nas redes sociais, com ameaças de repetir o ocorrido em Blumenau, se disseminaram por várias comunidades escolares do Brasil, disseminando o pânico. Aulas foram canceladas e a histeria social se instalou. Diversas propostas paliativas e desesperadas foram "debatidas" em reuniões de pais, de professores e através da grande mídia.

Tais ataques reproduzem uma tendência comportamental que ocorre nos EUA desde a década de 1990 como forma de encontrar uma "válvula de escape" para os graves problemas sociais através do discurso de ódio e de armamento, e que até o presente momento não encontram nenhuma forma concreta de solução. O texto abaixo é uma tentativa de interpretação desta realidade complexa e triste.


A violência nas escolas é um reflexo dos valores da nossa sociedade, baseados na meritocracia, na competição, no hedonismo, no narcisimo e no individualismo. As opções políticas e econômicas adotadas pelos sucessivos governos brasileiros, de cópia dos modelos estrangeiros — neste caso, numa cópia do estilo de vida americano —, cobra o seu preço.
Este estilo de vida é a raiz central do problema, que precisa ser questionada, sem o quê, nada de essencial muda. Ele se baseia no fato de que os inimigos são supostamente externos, já que quase tudo o que é diferente e pensa diferente é visto como inimigo; isto é, este estilo de vida é tão frágil e necessita tanto de um espírito de rebanho, senão ele nao funciona, que o que é diferente e pensa diferente deve ser excluído, não-ouvido, não-levado em consideração e, muitas vezes, ridicularizado.
A classe média, e também as pessoas da classe trabalhadora que pensam que são parte da classe média, agora se desesperam. Pulam e exigem mais violência contra qualquer suposto suspeito e ainda mais controle: é a única coisa que sabem reivindicar. Não percebem que o estilo de vida criou os próprios inimigos que podem estar em qualquer lugar, e, principalmente, dentro de nós mesmos, se retroalimentando permanentemente. Os muros e as grades "nos protegem" de nosso próprio mal, que está na nossa conduta, na nossa visão de mundo, na nossa sociedade egocêntrica, classificatória, competitiva e violenta. O "inimigo" pode estar sendo gestado dentro de casa, neste exato momento, em uma criança isolada e negligenciada, que é ignorada e ridicularizada por um mundo que ela não compreende e que, por sua vez, também não a compreende.
Se se continua condenando o outro, sem perceber que isso gera o inimigo oculto que pode estar em qualquer lugar, e que ele não será combatido com mais armas, mais polícia, mais exército e mais repressão, mas com a mudança de conduta social, econômica, política, emocional, pessoal, simplesmente se amplifica o problema e se adia sua solução.
Pra piorar, os mal intencionados e oportunistas aproveitam o pânico e o desespero, de uma sociedade caótica, que vive e precisa disso, pra vender mais e se impulsionar (vide os programas sensacionalistas de "jornalismo" policial), para sabotar, para dificultar as coisas, para tirar vantagem, por menor e mais insignificante que ela seja, para sair da mesmice medíocre em que a nossa vida cai diariamente.
Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há indício de que a ajuda virá de outro lugar para nos salvar de nós mesmos, que não seja uma ajuda que parta de nós mesmos. E não há solução possível para a violência nas escolas simplesmente buscando-as fora de nós, com medidas paliativas que sequer tocam no cerne da questão, que é o estilo de vida da sociedade e a relação entre nós e conosco mesmo!
Não adianta gritar contra o outro, exigir um milagre de governos e "autoridades" que são os mesmos que promovem ou protegem a gestação desta mesma violência, ou, então, olhar pro céu com "muita fé", mas com pouca luta e disposição de mudar de estilo de vida para não perder esta ilusória sensação de segurança...


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