Alguns torcedores do São Paulo tocaram pedra e bomba no ônibus do time de futebol como forma de demonstrar seu descontentamento com o empate. Gente que certamente não teria a mesma coragem pra enfrentar, com a mesma determinação e paixão, Covas e Dória se fossem convocados.
Certa vez, Lima Barreto disse: "o Brasil não tem povo, tem público"; e um amigo meu acrescentou: "não tem público, tem torcida organizada".
Episódios como esse, que são bastante recorrentes, me lembram da poesia do camarada Paulo (publicada na revista Zé! Nº1):
PÃO & CIRCO
Há pouco tempo, num jogo de vôlei, uma torcida inteira urrou a homossexualidade de um jogador do time adversário, tentando desestabilizá-lo.
Era um jogo importante, se não estou enganado. Decisão de um título, acho.
Então é licito que se perca o respeito por um ser humano.
Que se jogue as favas a dignidade de alguém.
Que se apele ao mais reles preconceito. Tudo pelo nosso time!
Já se vem fazendo isso há muito tempo neste país.
Aqui não se luta por direitos, mata-se por futebol.
Não se range os dentes para a injustiça, mas para o adversário.
“Jornalistas” discutem seriamente um 0x0 medíocre entre jogadores medíocres.
Enquanto a violência e a falta de ética grassam nos gramados e mal noticiadas, homens feitos aguardam ansiosamente por uma copa do mundo.
E continuarão aguardando ansiosamente, no chão de uma sala de espera de um hospital.
E ansiosamente sairão à rua para trabalhar, temendo a falta de segurança.
– Não há dinheiro – dizem.
O que não há é vergonha na cara – digo eu.
Como ter esperanças?
Antônio Abujamra diz que a Esperança matou este país.
E não sei se cada povo tem o governo que merece...
(embora muitas vezes pareça que sim).
Panis et circenses...
(Paulo de Quadros)
PS: a grande mídia condena duramente o vandalismo desses torcedores, mas é co-responsável pelo seu fanatismo.
PS 2: nesse post não abordamos as divergência sobre a religião, mas o blog tem diversas postagens sobre esse tema.
PS 3: este blog mantém o mais profundo respeito às torcidas organizadas antifascistas que lutam contra a discriminação e os problemas da politicagem burguesa nas arquibancadas dos grandes estádios e nas ruas.
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