segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Uma Disneylândia com pena de morte

 

"Uma Disneylândia com pena de morte": assim um ocidental definiu Singapura. Um entreposto comercial do ocidente cravado no meio das rotas comerciais marítimas da Ásia. Cidade-Estado, que reúne os bilionários do continente e serve como paraíso fiscal e de investimento praticamente sem impostos.
É conhecido o tratamento que a mídia burguesa dispensa à China e a pobre Coréia do Norte: ditaduras sanguinárias, violadoras de direitos humanos, déspotas que controlam a vida de milhões e patrocinam a censura na imprensa "livre". Tudo isso seriam os sintomas da aplicação do "maldito" comunismo.
Justamente aqui cabe perguntar como funciona Singapura, o "jardim do Éden" do ocidente? O modelo econômico que, segundo a grande mídia, deveria ser seguido por todo o mundo...
Lee Kwan Yew — o ditador de Singapura, que a governou com mãos de ferro de 1959 até 1990, seguindo como "consultor" (na verdade chefe de Estado informal) nos bastidores até a sua morte, mas chamado pela mídia ocidental como "político de sucesso", como "o homem que vê à frente" — moldou Singapura como um Estado unipartidário, onde o seu partido (PAP) é estratificado de acordo com a competência tecnocrática (de "livre" mercado). Oposições são perseguidas e não consentidas. Em Singapura (tal como na China e na maior parte dos Estados asiáticos "modernos") os valores confucionistas básicos são a extrema disciplina e a cega obediência à autoridade.
O tráfico de drogas era punido com pena de morte (para os miseráveis, é claro, não para a elite, que faz uso "legal" delas), o que levou àquela citação sobre "Disneylândia com pena de morte". Até bem pouco tempo atrás a homossexualidade também era punida com a pena de morte.
Na doutrina confucionista, enquanto o reino está em paz e é próspero, o imperador tem o direito de reter o mandato sem maiores questionamentos (isso explica, em parte, o despotismo dos governos autoritários do continente, que são vistos assim apenas pelo ocidente). A única ideologia de Singapura — que casa como uma luva com a capitalista — é "pragmatismo" e "eficiência" (às custas de quê? Às custas da exploração do meio ambienta e dos direitos mais básicos e elementares da classe trabalhadora — embora seja vendido pela mídia oficial do país, em conluio com a ocidental, que ela está feliz em razão da prosperidade).
O governo e seus ideólogos (de lá e de cá) afirmam que quando observamos o nível de vida alcançado por Singapura é praticamente impossível acusar o governo de não zelar pelo "bem coletivo". E enquanto se demoniza a "liberdade de imprensa" da China, se exalta a mídia oficial controlada em Singapura, afirmando que "à parte a reverência ao governo, seu nível técnico é excelente". Como se vê, sempre dois pesos, duas medidas. Isso não é nos tratar como palhaços?
E por que age assim a grande mídia ocidental? Não é preciso ser um gênio em sociologia, economia ou geopolítica pra entender que enquanto ela crucifica China e Coréia do Norte, exalta aberta ou disfarçadamente as ditaduras de Singapura, Malásia, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Indonésia, dentre outras, justamente porque as primeiras passaram por revoluções "comunistas" (com todas as suas contradições, que não esquecemos) e que, bem ou mal, tais revoluções questionaram pontualmente o imperialismo e as suas ideologias de "livre mercado". Para a grande mídia ocidental não interessa que haja obediência cega, controle da mídia e partido único em Singapura. Interessa que ela dê lucro recorde ao capital internacional que lá investir e dance conforme a música do mercado mundial. Esta é a senha para ser santificado... ou demonizado!
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A China, através do seu PCC, bem como o governo de Singapura, "se levanta" contra o que chamam de os 6 males do ocidente: "drogas, pornografia, prostituição, rapto de mulheres para posterior venda, jogo e superstição".
Os governos das potências asiáticas atribuem esses males à "vida decrépita" do Ocidente (e, em especial, da América do Norte). Mas aqui, cabe perguntar: por que, então, esses males se proliferariam com tanta facilidade no oriente se não houvesse uma propensão no ser humano para eles? A resposta é que isso são mazelas da sociedade capitalista (e não do "ocidente"), sem o quê, o sistema não pode existir. O PCC e o "moderno governo" de Singapura, ao escancararem as suas portas ao capitalismo internacional, abriram a porta para estes males, que já existiam nas suas sociedades em estado latente, embora em menor número do que hoje.
Sem combater o capitalismo, no sentido de avançar do "capitalismo de Estado" ao socialismo (isto é: mudar a psicologia de massas do povo visando uma real autogestão coletiva que escute as pessoas e crie uma nova sociabilidade humana), estes "6 males" não apenas não serão derrotados, como se aprofundarão.
Aliás, nada mais parecido com a degeneração dos "6 males", oriundas do estilo de vida da burguesia ocidental, do que a visão de mundo e as práticas da atual burguesia oriental. Não há como fazer a "liberdade" de mercado funcionar sem abrir esta caixa de Pandora.


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