Há uma tendência bastante preocupante no movimento dos trabalhadores — impulsionada, sobretudo, pelo partido democrata (o imperialismo soft) — de colocar questões identitárias acima das classistas, em todo e qualquer contexto, conforme atesta o lamentável episódio da "ocupação" do congresso estadunidense por trumpistas.
Vi que muita gente colocou que os "manifestantes" não foram reprimidos em razão de serem homens brancos. Isto é um erro. Eles não foram reprimidos porque são neofascistas, estão a serviço do grande capital e de todo o projeto de Trump. Coloque-se um trabalhador branco a invadir o congresso ianque por alguma reivindicação que se choque com os interesses do grande capital norte-americano, e então teremos a velha repressão conhecida da classe operária (independentemente de cor, sexo, orientação sexual, etnia ou credo).
Da mesma forma, coloquem lideranças democratas em tais protestos, como Barack Obama, Kamala Harris, Michèle Flournoy ou o "general negro" Lloyd Austin, e veremos a polícia tratá-los da mesma forma que os supremacistas brancos foram tratados (isso, é claro, se desconsiderarmos a tendência desses indivíduos a desacreditar do método de protestos populares).
Antes de tudo, um salvo-conduto: não quero dizer que não exista repressão aos negros e negras nas periferias — os bairros "negros" dos EUA e as favelas brasileiras não deixam dúvida (ainda que também possamos argumentar que lá existe uma repressão principal à pobreza, à ausência de propriedade, o que, infelizmente, ainda remete à uma maioria populacional negra). Mas este certamente não foi o caso na "invasão" do congresso ianque.
Quero, na verdade, chamar a atenção para as questões de classe e a importância de termos cuidado em relação a essa tendência mundial impressa pelo partido democrata que, a despeito de se basear em elementos reais, podem ter desfechos reacionários e segregacionistas para a classe trabalhadora (mais dos que já existem...).
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