quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O espontaneísmo na luta de classes da América Latina



A recente onda de golpes reacionários e rebeliões de resistência na América Latina traz novamente à tona o problema do espontaneísmo na luta de classes. Antes de tudo, há que se conceituar o que é o espontaneísmo. Trata-se de um desvio crônico da esquerda latino-americana e mundial, também chamado de economicismo, que se caracteriza por restringir o movimento dos trabalhadores à luta econômica, pois se opõe à luta de classes no seu sentido revolucionário. Trocando em miúdos, significa dizer que os trabalhadores devem se limitar às aspirações imediatas, como, por exemplo, reivindicações salariais ou exigências práticas quaisquer que se mantenham inconscientes dentro dos limites do capitalismo.
         A luta econômica, as greves e as explosões populares devem ser apenas o ponto de partida para a verdadeira luta de classes. Mas vemos que a esquerda cronicamente se mantém refém dos limites economicistas, escondendo-se atrás de uma fraseologia revolucionária, enquanto mantém uma prática espontaneísta. A tradição marxista afirma “que os atuais movimentos que reivindicam exclusivamente melhores salários e menos horas de trabalho se envolvem num círculo vicioso sem saída; que não são os baixos salários, mas o salário em si mesmo que constitui o mal fundamental do sistema. (...) que se aproxima a hora em que a classe operária, tendo compreendido que a luta por melhores salários e encurtamento da jornada de trabalho, assim como o conjunto das ações atuais dos sindicatos, não é um fim em si, mas um meio, um meio necessário e eficaz, mas somente um entre muitos outros, para atingir um objetivo mais elevado: a abolição do próprio trabalho assalariado” (artigo de Engels no Labour Standard).
         O espontaneísmo contemporâneo assumiu características peculiares, embora continue impedindo que os trabalhadores atinjam, ou pelo menos, se proponham “objetivos mais elevados”. O horror à ideia de se propor a perspectiva socialista, que surge como um reflexo das experiências com o stalinismo (chamado pelos ideólogos burgueses de “socialismo real”), conduz a repulsa aos partidos e a qualquer forma de organização, fazendo com que se desenvolva uma forma de purismo estéril que se transforma em reformismo passivo ou em alguns tipos de romantismo puritano[i]. A própria burguesia já se apercebeu deste “poder ideológico” e é a que mais dissemina o ódio aos partidos em geral (enquanto conserva a totalidade dos seus, é claro), além das diversas formas de preconceitos anti-socialistas que servem perfeitamente para manter as rebeliões populares dentro de estreitos e controlados limites políticos do capitalismo.
         Combater o espontaneísmo não significa negar e controlar todas as iniciativas espontâneas da massa. Estas foram e continuam sendo importantes termômetros, mas sem uma orientação decidida e conquistada a partir do debate e do convencimento político, todo movimento termina como espoleta sem pólvora. Diversas vertentes da esquerda – desde o reformismo até o anarquismo – cultuam a massa tal como ela é, ignorando os perigos de sua consciência entorpecida pelas ideologias burguesas, bem como suas ações limitadas por essa mesma consciência. Outros, mais refinadamente, tentam passar o seu espontaneísmo como política revolucionária e “marxista”, mas não fazem nada além de cultuar o espontâneo.
         Para os anarquistas (e para muitos setores da esquerda), a proposta marxista de partido revolucionário ou direção revolucionária do movimento dos trabalhadores significaria somente tratar a massa humana como uma matéria bruta privada de vontade, de iniciativa e de consciência, além de julgá-la incapaz de dirigir a si mesma. Se por um lado é importante reconhecer que existem sim dirigentes ditos “marxistas” e, até mesmo, partidos “marxistas”, que usam o discurso de direção revolucionária para manipular, oprimir, abafar e controlar iniciativas da massa humana; por outro, desprovidos de uma compreensão de que esta mesma massa humana é um corpo multiforme, repleto de contradições, sentimentos e ideologias reacionárias, prontas a cair em contos paternalistas e a reproduzir ideologias burguesas, ficamos reféns do espontaneísmo e condenamos qualquer saída revolucionária; ou pior, acabamos cultuando o espontaneísmo e idealizando uma massa humana que não existe, a não ser, é claro, nos nossos sonhos idílicos. Bem entendido: “dirigir” uma massa humana jamais pode ser sinônimo de imposição ou controle, mas apenas de convencimento através do debate das melhores ideias, táticas e estratégias. Isso não exclui o respeito e o desenvolvimento das tendências que surgem espontaneamente no seio da massa durante os processos de mobilização, porém, sem se restringir às suas limitações.
         Vemos hoje diversas organizações ditas de esquerda (incluso organizações anarquistas) que condenam a palavra “direção”, os partidos e qualquer tipo de institucionalidade, cultuarem direta ou indiretamente o espontaneísmo mais bárbaro – isto é, a massa como ela é, inclusive reproduzindo os seus piores desvios e vícios. Quando, por exemplo, vemos o espontaneísmo contemporâneo abordar temas como o apartidarismo, o “basismo” e a necessidade de repelir qualquer institucionalidade, isso não impede esta “esquerda” de, na prática, sustentar e reproduzir a política de todos os partidos burgueses e a estrutura social burguesa que jura combater, ao mesmo tempo em que acredita ser o suprassumo da independência política. Ao combater a “direção” e a apresentação de um programa político por medo de serem “autoritários”, estão abraçando a massa tal como ela é e ajudando a perpetuar todos os seus vícios; o que serve muito bem para sustentar a classe dominante e toda a sua estrutura social.

Algumas notas sobre o espontaneísmo contemporâneo: o caso do Chile
         A recente rebelião popular no Chile contra o aumento do metrô e as décadas de aplicação do neoliberalismo fez vir à tona uma série de posições da esquerda acerca da natureza e da perspectiva dessas mobilizações. Algumas organizações falam que se trata do “maior levante de massas na América Latina desde a Revolução Cubana de 1959”[ii]. Não restam dúvidas quanto a importância destas mobilizações populares na América Latina, mas há que se ponderar certos exageros.
Esta explosão popular chilena foi precedida pela luta do povo equatoriano, que se levantou contra os planos de ajuste do governo Lenín Moreno. O fato de lá ela já ter refluído, mesmo que todas as palavras de ordem tradicionais e batidas – que analisaremos adiante – tenham sido levantadas febrilmente pela esquerda, não a faz tirar conclusão alguma. O mesmo poderia ser dito para os coletes amarelos na França.
As mobilizações do Chile, por sua vez, ainda continuam. Por isso, cabe o exame das palavras de ordem de 2 organizações de trabalhadores que se reivindicam “revolucionárias” e que possuem intervenção no Chile: o Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST), ligado à UIT; e o MIT, ligado à LIT (PSTU). O MST e o MIT servem como bons exemplos porque expressam a posição do conjunto da “esquerda” latino-americana, em geral, e da brasileira, em particular, sobre o que se passa e sobre o que fazer no Chile. Em todos os seus manifestos e declarações públicas podemos ver a tendência ao culto permanente de saudar as massas nas ruas como um fim em si mesmo. O MIT defende “continuar nas ruas até que caia Piñera, todos eles e a Constituição de 80”[iii], porém, não nos diz como fazer isso; a não ser, é claro, ficando na rua.
Sem dúvida a mobilização massiva dos trabalhadores equatorianos e chilenos deve ser saudada por todos os revolucionários, mas essa saudação precisa partir da compreensão básica de que isto é apenas o primeiro passo; e que se nada for feito além disso elas tendem a refluir à situação original. Para onde caminham as mobilizações, qual é a hierarquia das suas tarefas e palavras de ordem, bem como quais são as suas reais condições de por o governo Piñera para fora, são questões analisadas precariamente ou ignoradas por completo, quando não romantizadas.
         O fenômeno mais importante das mobilizações chilenas é o da criação das Assembleas Territoriales, que surgiram e se multiplicaram nos bairros populares no calor das manifestações e da repressão do governo chileno. Estas assembleias são organismos de base que tiveram e tem papel fundamental não apenas na organização e manutenção dos protestos, mas, também, na organização de base, possuindo funções de policiamento de rua e do fluxo de pessoas nos bairros, mesmo frente ao decreto do toque de recolher do governo Piñera. A bem da verdade, são frágeis embriões de duplo poder, embora possamos ver neles uma potencialidade revolucionária.
         Em outubro deste ano, o blog Consciência Proletária publicou uma análise sobre o Equador e o Chile que afirmava o seguinte: “foi-se o tempo em que os conselhos populares surgiam espontaneamente. Provavelmente esta seja uma das principais tarefas de um partido revolucionário”[iv]. Ou seja, neste momento o que deveria estar sendo incentivado prioritariamente no Chile é o fortalecimento e a coordenação nacional dessas assembleias territoriais, para que elas sintam a sua força e possam vir a cumprir o papel de duplo poder com o governo Piñera. As massas trabalhadoras do Chile apontaram – precariamente – para estas assembleias, que estão sendo secundarizadas ou totalmente ignoradas pelas organizações de esquerda em prol de palavras de ordem e ações pseudo-radicais, que não podem ter outro desfecho a não ser o fortalecimento da institucionalidade burguesa e o cansaço das massas. Sem serem conscientemente fortalecidas, sobretudo para atingir e controlar os locais de trabalho que ainda são hegemonicamente dominados pela burguesia, estas assembleias não terão a força suficiente para se colocar como alternativa de poder. Aí está a principal tarefa de uma organização revolucionária no Chile. A “esquerda” revolucionária atual entende a crise de direção como a mera necessidade de existência física de um partido com expressão numérica entre os trabalhadores, ignorando por completo qual política e qual programa deve ser levantado no seio do movimento.
As massas estão sendo disputadas a todo o momento por centenas de propostas que tem a mesma finalidade: recompor a estrutura do Estado burguês e acalmar os protestos de rua para, no fim, conseguir aplicar o plano de reajuste e reciclar o capitalismo. Há que se separar urgentemente as palavras de ordem que levam água ao moinho da burguesia chilena e ao imperialismo daquelas que empoderam os trabalhadores e a juventude. O MST, o MIT e a maior parte da esquerda levantam prioritariamente aquelas que fortalecem o espontaneísmo e a confusão reinante.
O que sustenta o MST e o que vemos se repetir quase como um mantra são as seguintes orientações genéricas: “Fora Piñera”; “por um plano econômico operário e popular de emergência”; “punição aos militares e a Piñera pelas violações dos direitos humanos”; “por uma verdadeira assembleia constituinte livre e soberana, convocada pelo povo mobilizado”; e a mais progressiva, levantada basicamente pelo MST: “coordenar as assembleias autônomas”, embora apareça apenas uma vez, não diga nada de concreto sobre como coordená-las e, na maior parte do texto, sirva apenas para confundi-las com a assembleia constituinte. Outras organizações, dentre as quais se incluem o MIT, levantam a necessidade de uma “greve geral por tempo indeterminado para derrubar Piñera”.
Como se pode ver, todas elas colocam a carroça na frente dos bois. Tirar Piñera do poder, puni-lo pelos seus crimes, aplicar um plano econômico ou chamar uma assembleia constituinte que sirva aos interesses dos trabalhadores, como palavras de ordem para a agitação imediata, devem ser precedidas pelo fortalecimento das assembleias territoriais. Como fortalecê-las, então? Dando consciência aos trabalhadores sobre a necessidade de priorizar esta tarefa política, atingindo, sobretudo, os locais de trabalho – imunes até o momento.

Piñera só cairá se as assembleias territoriais se tornarem o poder dominante!
Os “Fora este” ou “aquele”, insistentemente levantados no Brasil – como o atual “Fora Bolsonaro” – são delirantes, pois ignoram a real correlação de forças e, na maioria das vezes, serve para ajudar a conformar outro governo burguês (como foi o caso do “Fora Dilma” apoiado pela LIT e pela UIT). No Chile, o “Fora Piñera” parece mais plausível; sendo quase possível concretizá-lo. Mas há um engano profundo! Não há poder alternativo para por em seu lugar. Na melhor das hipóteses, se Piñera caísse pela pressão popular, entraria em seu lugar um novo governo burguês que reconstituiria a estrutura do Estado burguês; o mesmo ocorreria com a concretização improvável de uma assembleia constituinte.
Devemos comparar o “Fora Piñera” com o método empregado por Lenin durante a Revolução de 1917, mais especificamente enquanto ocorriam as jornadas de julho, quando operários armados exigiam a saída dos “ministros capitalistas” e a própria derrubada do governo provisório. Nesta ocasião, Lenin disse o seguinte: “O verdadeiro governo é o Soviete de Deputados Operários... Nosso partido é uma minoria no Soviete... Isso não pode ser contornado! Cabe a nós explicar – pacientemente, persistentemente e sistematicamente – a erroneidade de suas táticas. Enquanto formos uma minoria, nossa tarefa é fazer a crítica com o objetivo de abrir os olhos das massas (...) A questão é que o proletariado não está suficientemente consciente e nem suficientemente organizado. Isso deveria ser admitido. A força material está nas mãos do proletariado, mas a burguesia está alerta e pronta”[v].
Isso foi dito na Rússia em julho de 1917, companheiros! No Chile estamos numa situação ainda pior, pois além de as organizações revolucionárias serem numericamente frágeis e levantarem palavras de ordem equivocadas – o que joga a sua realização para mais longe ainda –, as assembleias territoriais são menos organizadas e atuantes do que os sovietes; portanto, ainda estão longe de ser o “verdadeiro governo”. Há que se fortalecê-las para que venham a cumprir o mesmo papel. Estaria correto falar no “Fora Piñera” do ponto de vista da propaganda (desde que coordenada com ações práticas de fortalecimento das assembleias); como agitação direta esta consigna significa ignorar perigosamente que as condições de colocá-lo para fora ainda não estão maduras. O mesmo poderia ser dito sobre as mirabolantes propostas de assembleia constituinte.
O MST diz, num dado momento perdido do seu jornal, que “no desenvolvimento e coordenação a nível nacional das assembleias territoriais está a oportunidade de que a heroica luta de hoje seja conduzida por autênticos representantes que, democraticamente eleitos, façam ainda maior e decisiva a luta contra Piñera”[vi]. A análise está correta, mas segue em contradição com as principais palavras de ordem do MST, que pressuporiam que este estágio de desenvolvimento e coordenação nacional das assembleias já estivesse concluído, o que não é o caso. Assim, antes do “Fora Piñera”, a principal e mais importante palavra de ordem deveria ser: “fortalecer e coordenar nacionalmente as assembleias territoriais”, seguida por “organizar as assembleias territoriais por local de trabalho, estudo e moradia”. Uma vez que esta tarefa fosse concluída, poderíamos nos preparar para o estágio seguinte de “Fora Piñera”, “assembleia constituinte convocada pelo povo mobilizado”, etc., que são levantadas pelo MST para serem concretizadas hoje!
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Examinemos, agora, o que diz o MIT e o PSTU. O MIT tem plena consciência da importância das assembleias territoriais. Tanto é assim que afirma o seguinte: “Devemos continuar impulsionando, multiplicando e coordenando as assembleias populares e operárias, sem representantes do empresariado, com total independência de classe. Essas assembleias também devem organizar a defesa das manifestações e da população, por exemplo, formar comitês de vigilância nos bairros, comitês de choque ou defesa para os protestos. (...) Hoje, essas assembleias têm coordenação regional em alguns lugares e já existe um Encontro nacional convocado. Essas coordenações mais centrais devem ser fortalecidas, as assembleias das comunas ou bairros populares devem votar democraticamente seus representantes e que seus cargos devem ser revogáveis. Esses representantes devem levar a discussão e as propostas de sua assembleia para os encontros regionais ou nacionais”[vii].
São importantes algumas delimitações e propostas do trecho acima, mas nenhuma delas se reflete como prioridade nas suas palavras de ordem concretas e, também, ignoram os conselhos de Lenin dados em julho de 1917. Conclui com as seguintes preocupações: “Para avançar, precisamos começar com coisas prévias, por exemplo, que as assembleias tenham o controle de preços contra aumentos injustificados dos comerciantes: por exemplo, em Valparaíso, em vista do aumento e especulação dos comerciantes da vizinhança, a assembleia se reuniu com eles e pediu que baixassem os preços porque, caso contrário, eles organizariam o auto abastecimento, indo em caravana para comprar em locais rurais e também ameaçaram não continuar vigiando suas instalações”[viii].
Estão, também, corretas estas observações, embora sejam insuficientes. Se é importante generalizar essa função de controle de preços, a condição para que isso ocorra é “avançar” para a organização e independência dos locais de trabalho, sem o quê não há mudança possível; tampouco revolução! Ou a greve geral deve estar imbuída desse espírito, ou então não passa de uma variante de espontaneísmo. Para isso, é evidente, deverá se desencadear uma luta implacável contra a burocracia sindical, que é guardiã da hegemonia burguesa nos locais de trabalho. Nesse sentido, as assembleias territoriais são mais progressivas porque estão livres deste empecilho (por enquanto!). Se elas puderem organizar os locais de trabalho sem greve geral, esta tornaria-se supérflua.
O PSTU, por sua vez, afirma que “no Chile, o desequilíbrio entre as classes foi o detonante para alterar o relativo equilíbrio econômico. Para restaurá-lo, a burguesia necessitará reequilibrar as relações entre as classes para o nível anterior à abertura do processo revolucionário. Em outras palavras, necessitará deter o processo de autodeterminação das massas antes que este se converta em duplo poder organizado[ix]. Só muito cuidadosamente podemos considerar as massas na rua como um duplo poder. Estas mobilizações tendem a tornarem-se reféns do espontaneísmo e, por isso mesmo, a perder força. Junto com as assembleias territoriais, são um embrião de duplo poder. Nós teremos duplo poder real apenas quando estas assembleias forem conscientemente fortalecidas e criarem raiz nos locais de trabalho e estudo. Nenhuma das palavras de ordens ou ações do MIT priorizam estas tarefas; ao contrário, andam na mesma linha do que diz o MST. Para o MIT-PSTU, por exemplo, “a primeira tarefa que temos pela frente é derrubar Piñera e, para isso, devemos continuar nas ruas mobilizadas”[x]. A primeira tarefa seria, portanto, continuar nas ruas para já derrubar Piñera (sem condições reais), e não fortalecer as assembleias territoriais. A exigência de “Fora Piñera” é totalmente desconectada do fortalecimento das assembleias territoriais e, portanto, alheia à criação de um duplo poder real. Dito de outra forma: Piñera só pode cair com a vitória das assembleias territoriais a partir do duplo poder criado por elas. Caso contrário, veremos apenas a ascensão de um novo governo burguês ou reformista que irá “reequilibrar as relações entre as classes para o nível anterior à abertura do processo revolucionário”.
Ao contrário disso, o PSTU e o MIT veem na atual situação chilena (em que as assembleias estão neste impasse embrionário) como uma revolução em curso. Dizem, textualmente: “continuar a revolução nas ruas e organizar uma greve geral que paralise o país inteiro para derrubar Piñera e conquistar o plano de emergência”[xi]. Ai daquele que confunde e ajuda a confundir os outros afirmando que a abertura de uma situação revolucionária é o mesmo que uma revolução!
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Frente a tudo o que foi dito aqui não é consentido interpretar a proposta prioritária de consolidação das assembleias territoriais como um infalível caminho para o triunfo revolucionário. Existem muitas pedras no caminho até lá, cuja pior é a manutenção das assembleias territoriais neste estágio embrionário.
No entanto, o certo é que as análises e palavras de ordem apresentadas pelo conjunto da “esquerda” representam apenas o fortalecimento do espontaneísmo e a condenação de uma saída revolucionária.


REFERÊNCIAS


[i] Este romantismo puritano já foi analisado com detalhes no texto: http://conscienciaproletaria.blogspot.com/2018/10/quem-teme-frustracao-nao-pode-fazer-uma.html
[vi] Opción anticapitalista, Nº72, outubro e novembro de 2019 – jornal oficial do MST-UIT no Chile.
[viii] Idem.
[xi] Idem (grifos nossos).

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