sábado, 25 de outubro de 2014

Avanço ou catarse?

                Avanço: ação ou resultado de avançar, de ir pra frente; desenvolvimento, progresso.
                Catarse: sentimento de alívio ao se trazer à consciência sentimentos, traumas, etc.,
que estavam reprimidos; libertação desse sentimento através de encenação.

A propaganda eleitoral do PT fisgou centenas de milhares de pessoas. Os trabalhadores, no geral, são presas fáceis: trabalham longas jornadas, não tem condições de maiores esclarecimentos, seguindo em maior ou menor medida o que diz a mídia (e o petismo hoje também dispõe de muitos veículos de grande mídia); não contam com sindicatos e organizações classistas de massas, que estão nas mãos da burocracia sindical. Outros, profundamente equivocados, votam no PSDB para "punir a traição do PT", seguindo o voto da classe média alta, reacionária até a medula. Não percebem que esta "punição" tem conteúdos diferentes. É natural, portanto, que acabem sendo arrastados pela maré eleitoral. O que realmente surpreende é a “vanguarda” dos trabalhadores, que também foi facilmente fisgada (muitos "anarquistas", inclusive). A sua postura denota uma profunda consciência reformista, pois desconsidera a experiência com o PT e também não compreende o seu papel histórico (algo como a social-democracia alemã).
           
A crítica eleitoral que o PT faz ao PSDB é parcial e omissa. É parcial porque não reconhece as privatizações, as parcerias público privadas, a priorização do pagamento dos juros e amortizações das dívidas externa e interna. É omissa por que não assume que toda a política econômica, no essencial, é idêntica a do PSDB, apenas com algum disfarce “dos trabalhadores”. O PSDB representa a velha elite brasileira, de mentalidade retrógrada e escravocrata, disseminando na sociedade os piores preconceitos e ideologias burguesas, disfarçadas com uma roupagem “progressista” e, às vezes, até de “esquerda”. O seu “anti-petismo” reflete esse conteúdo. Agora, frente ao desgaste político do PT (que é o resultado inevitável de quem decidiu jogar o jogo da burguesia), aproveita para se vender como “novidade”. Por tudo isso é preciso conscientizar os trabalhadores desta falsa dicotomia. Mas esta tarefa não é do PT, conforme pudemos ver em seus 12 anos de governo. Tudo o que fez ao “jogar o jogo da burguesia” foi deixar a porta aberta, possibilitando a volta do PSDB. Derrotá-lo, portanto, é uma tarefa dos trabalhadores organizados pela via revolucionária.
           
A apologia do petismo, por sua vez, sustenta que, apesar dos pesares, o Brasil “avança” com os seus programas sociais. Não definem bem para onde este avanço nos leva: a um “capitalismo humanitário” ou ao “socialismo”? Misturam teorias reformistas com retórica revolucionária para angariar votos; falsificam a realidade e anestesiam a classe “média” e a população no geral através das estatísticas! Todos os principais programas sociais do PT são “políticas compensatórias”, não casualmente, amplamente apoiadas e incentivadas pelo imperialismo, não apenas no Brasil, mas em diversos outros países. Portanto, todo este discurso não representa nada de novo: foi sustentado por todos os reformistas ao longo do século 20 e só levou a classe trabalhadora à derrotas cada vez mais profundas e à uma desorganização caótica.
           
Não existe “avanço” algum para os trabalhadores, os subempregados, os desempregados, os favelados e moradores de rua; milhões de pessoas ainda estão fora das universidades, das escolas e seguem analfabetas. Estamos falando de um “processo vivo” da economia e não de uma média estatística estável. Em nome de um suposto “avanço” se esquece que o governo pagou mais de R$ 480 bilhões para os agiotas internacionais, R$1,5 trilhão para os nacionais e apenas R$1 bilhão para o Bolsa Família; que os bancos continuam mandando e desmandando na economia do país e decidindo as suas prioridades. A suposta “superação” da fome é uma ilusão, porque as estruturas econômicas e políticas que a geram – o capitalismo – continuam intactas e operantes. O PT não apenas as manteve, como as aprofundou. Não foi à toa que Delfin Neto, ministro da ditadura militar, afirmou que “Lula salvou o capitalismo no Brasil”. E Dilma continua salvando: assentiu com a demissão de centenas de milhares de operários da GM, da Embraer e de diversas outras empresas; deu bilhões de reais em isenção de impostos às multinacionais e bancos para “salvá-los” da crise capitalista internacional; privatizou portos, aeroportos, poços de petróleo; incentivou PPPs, comprou vagas nas universidades e cursos técnicos privados com o dinheiro público. Alguém viu o PSDB criticar esta política econômica do PT?

O PT não acabou com os 500 anos de espoliação colonial do Brasil, apenas mudou a sua forma para torná-la mais tolerável e “aceitável”. Em suma, o PT realiza uma grande catarse para aliviar as contradições do sistema capitalista. Aliviando as tensões sociais da pobreza, garante as bases para a sua manutenção.

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