sexta-feira, 3 de outubro de 2014

As ilusões eleitorais e suas consequências sobre a luta dos trabalhadores

O discurso petista de “votar no PT para evitar a volta da direita” está encontrando grande eco na população em geral e no funcionalismo público (magistério) em particular. É comum ouvir que com “Aécio (PSDB) e Ana Amélia (PP)” será muito pior. Porém, não existe diferença programática entre o PT e o PSDB/PP, sobretudo no que diz respeito a defender os interesses da grande burguesia. Tanto é assim que em nível nacional PT e PP estão juntos para eleger Dilma. Em outros casos, não existe diferença sequer de forma, pois a truculência dos primeiros anos do governo Tarso não ficaram devendo nada para Yeda (PSDB). É só relembrar a aplicação da Reforma do Ensino Médio Politécnico, enfiada goela abaixo dos trabalhadores em educação. Ou ainda: existem diferenças entre as privatizações de FHC e os leilões de petróleo do governo Dilma?
           
O raciocínio oportunista isola um dos elementos da realidade e ignora todo o restante: o fato do PT ser mais “brando” em seus ataques do que o PSDB/PP e jogar maiores migalhas ao povo; enquanto ignora que os grandes empreiteiros e os bancos lucraram como nunca às custas dos serviços públicos e da vida do povo. É ilustrativo o fato de o PT ter dado aos banqueiros 100 vezes mais do que pagou ao Bolsa Família (R$1 bilhão para o Bolsa Família enquanto pagou R$ 1,5 trilhão para a dívida interna e R$ 485 bilhões para a dívida externa). As isenções de impostos às empresas multinacionais foram recordes, tanto por parte do governo Dilma quanto pelo governo Tarso. E mesmo assim essas empresas continuam demitindo e ameaçando “ir embora” do país e do Estado. Ou seja, no essencial o PT manteve a mesma estrutura econômica e política dos governos do PSDB. Aliás, estas políticas assistencialistas tornam-se uma necessidade para manter o próprio funcionamento do capitalismo, sustentando o consumismo e evitando o descontentamento generalizado.
           
Abstratamente, os governos petistas podem ser “menos piores” do que os governos de PSDB e PP. Mas quando olhamos a realidade concretamente, analisando todas as suas contradições, vemos que não existe diferença real entre PT, PSDB, PP e todos os demais partidos burgueses (PMDB, PSB, PDT, etc.). Não há outra alternativa senão prepararmos a luta revolucionária pelo socialismo, única forma de sairmos desta armadilha que a democracia burguesa nos impõem de “votar no menos pior”.

Se não existem condições para uma mudança real no país, isto é, para uma revolução socialista, então devemos trabalhar no sentido de criar estas condições. O voto no PT não ajuda a criá-las, mas anda no sentido oposto: não apenas mantém, mas intensifica e fortalece as estruturas capitalistas da sociedade, fazendo terra arrasada da luta independente dos trabalhadores, sabotando as greves e retirando os direitos sociais já conquistados com a justificativa falsa de fazer “reformas”. Não há dúvida que PSDB e PP atacarão violentamente os direitos dos trabalhadores, mas é uma ilusão achar que o PT será mais “brando” que eles. A experiência de seus governos nos mostrou que ele também atacou impiedosamente os direitos dos trabalhadores, somente sendo mais demagógico e tendo o suporte dos movimentos sociais. Esse discurso, portanto, serve apenas para obscurecer a própria experiência com o PT e confundir a consciência política dos trabalhadores, fazendo inimigos passarem por amigos. O problema está no autoritarismo do grande capital que esmaga e oprime os trabalhadores e que, tanto PT, quanto PSDB e PP, disputam para tornarem-se gestores através do controle do Estado.

A esquerda conciliadora (PSOL, PSTU, PCB) não combate esse discurso cínico do PT. O reforça de diversas maneiras, seja fazendo um debate estéril nas eleições, seja apoiando – aberta ou disfarçadamente – a política oficial do PT no movimento sindical. É por isso que não existe alternativa independente para os trabalhadores nestas eleições e o único voto de independência de classe é o voto nulo. Votar no PT para “evitar a volta da direita”, ou no PP e PSDB para “punir o PT”, é um grande equívoco que apenas serve para legitimar a opressão sobre nós mesmos.
           
O neoliberamos à la PSDB-PP e o neoliberalismo à la PT

O petismo a nível federal afirma que votar no PSDB significa votar em seus projetos neoliberais, nas privatizações, no “estado mínimo”. A candidatura de Tarso (PT) também afirma que o PP de Ana Amélia fará um governo de “estado mínimo”, ou seja, neoliberal.

Entendemos por neoliberalismo a política econômica do Estado capitalista que trabalha no sentido de gastar o menos possível com os serviços públicos, destinando o orçamento público de educação, saúde e infraestrutura para o pagamento dos juros e amortizações das dívidas externa e interna. Além disso, o Estado não deve interferir no mercado e prega a privatização de todas as empresas e serviços públicos. É a política do imperialismo para o capitalismo em sua fase de decadência, onde o lucro da burguesia precisa sobreviver às custas do dinheiro público. Ou seja, é a institucionalização do “capitalismo selvagem”, onde o lucro é sempre privatizado e os prejuízos “socializados”. Partindo desta definição, não restam dúvidas de que o PSDB-PP e a grande maioria dos partidos brasileiros são declaradamente neoliberais.

O governo de FHC (PSDB) em nível federal, e de Antonio Brito, Germano Rigotto (PMDB) e de Yeda (PSDB) no RS, foram trágicas experiências neoliberais que privatizaram inúmeras empresas e serviços públicos à preço de banana. Mas o PT realmente combate o neoliberalismo?

O PSDB aplicou o neoliberalismo de forma truculenta, passando a patrola das privatizações sobre o povo e manipulando a opinião pública para cometer estes crimes lesa pátria através do apoio cúmplice da grande mídia. O PT fortaleceu o seu discurso reformista e elegeu diversos parlamentares e governos contra as privatizações durante a década de 1990. Uma vez eleito, o PT apenas mudou de tática para continuar aplicando os projetos neoliberais: não usou o discurso de privatização aberto, tal como fazia o PSDB-PP, mas falou em “reformas”. Em outros casos, onde sequer mudou a tática – como no caso dos leilões de petróleo – o petismo usou a sua influência sobre o movimento sindical (CUT, UNE, MST) para sabotar e frear a mobilização, afim de concretizar os planos neoliberais da burguesia. Há muito tempo que o PT sacrificou a independência política dos trabalhadores e a luta pelo socialismo em troca de cargos dentro do Estado burguês. É o preço pago à classe dominante por sua estratégia reformista e eleitoreira.

Uma breve análise dos governos petistas não deixa margem à dúvidas: reforma da previdência de 2003 (o objetivo era privatizar “suavemente” a previdência e aumentar a idade mínima para a aposentadoria, medida já defendida por FHC e condenada pelo PT quando era oposição); reforma sindical e trabalhista; Acordo Coletivo Especial (ACE); Plano Nacional de Educação (PRONATEC, Reforma do Ensino Médio Politécnico, etc.); Leilão de Libras, que entregou as reservas do pré-sal para as petroleiras multinacionais, sem falar na intensificação da política de “capital misto” da Petrobrás.

Durante o debate da FIESP, perante a burguesia paulista – onde acontece o verdadeiro “horário eleitoral” sem falsas promessas –, Dilma apresentou o seu real programa de governo “em sete ações voltadas ao empresariado: desoneração de tributos, crédito subsidiado, direcionamento das compras governamentais, foco na educação técnica e científica, investimento na infraestrutura, diminuição da burocracia e fortalecimento das parcerias privadas, incluindo as concessões – que promete ampliar (Folha de S. Paulo, 31/07/2014). É o mesmo programa de PSDB, PP e PSB. Tanto é assim que os demais candidatos, que também estavam presentes no debate, não fizeram nenhuma crítica ao programa de governo petista.

Como o PT controla os movimentos sociais, a burguesia optou por este partido para garantir a aplicação do receituário neoliberal. O PSDB não dispõem deste “apoio” e aí reside a sua atual fraqueza eleitoral. Ele não consegue frear o movimento sindical. Pelo contrário. Qualquer governo do PSDB sofre oposição sistemática do PT, seja parlamentar ou sindical. O PSDB faz oposição institucional ao PT, no sentido de puxar-lhe pela direita, e obtém grandes resultados sem muito esforço. Enquanto isso, a burocracia sindical e estudantil petista faz o trabalho ideológico de convencimento dos trabalhadores de suas “reformas” em benefício do povo, que são grandes armadilhas floreadas com um discurso de “esquerda” e, em alguns casos, até mesmo “socialista”.

Os militantes petistas dizem que a “única política possível e realista” para o movimento dos trabalhadores é votar no PT. Isso significa subordinar a nossa luta ao jogo viciado da burguesia e à abdicar de um caminho independente. A questão fundamental do movimento socialista sempre foi como colocar sua atividade prática imediata de acordo com o seu objetivo final. A lógica reformista do “possível”, defendida e propagada pelo petismo, abdica do objetivo final (o socialismo), em troca de um imediatismo que nos condena à perpetuação da escravidão assalariada. Não existe caminho para os trabalhadores fora da perspectiva do socialismo. A consciência pequeno-burguesa, amplamente disseminada nos dias de hoje pela mídia e pelos partidos reformistas (sobretudo pelo próprio PT, que tem os melhores ideólogos para isso), dá o suporte para o funcionamento da democracia burguesa, onde se espera que um “messias” eleito resolva os problemas dos trabalhadores independentemente da nossa mobilização, conscientização política e organização de classe.

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