O “debate” eleitoral feito pela população –
sobretudo nas redes sociais – é assustador, dado o grau profundo de ilusões, de
incertezas, de ausência de alternativas e perspectivas; em suma, do beco sem
saída ao qual se encontra, em razão da ausência de um movimento de massas independente
dos trabalhadores. A falta de clareza de que o problema não são apenas os
“políticos” e a corrupção, mas o sistema econômico que dá sustentação a esta
“democracia”, o capitalismo, impede de compreender a situação em sua totalidade
e traz a tona o turbilhão de confusões que cegam e desarmam os trabalhadores
frente à mentira institucionalizada, à hipocrisia e à demagogia eleitoral
infindável. Muitos trabalhadores votarão nos seus inimigos de classe e irão
pagar muito caro por isso (a grande maioria sem ter plena consciência disso).
Depois, procurarão explicações para suas desgraças nas “forças ocultas”,
“diabólicas”, sobrenaturais, no seu “azar pessoal”; ou o que é pior: na sua
família, nos filhos, nos pais, nos vizinhos, no colega de trabalho.
A máquina eleitoral gera ilusões a todo o vapor. A
pressão ideológica do “voto útil”, do TSE e da mídia vem como um tsunami:
arrasa qualquer resquício de consciência de classe. Lamentavelmente, muitos
trabalhadores que enxergam esta situação preferem não ver. Aceitam o discurso
da propaganda eleitoral e a “ausência de alternativas” (ou o “menos pior”) como
inevitáveis. Adaptam-se à zona de conforto. A ausência de um movimento
proletário independente cria um vazio que impede de vislumbrar uma saída para
além do voto e da democracia burguesa. A experiência no movimento com os
partidos reformistas também é catastrófica (e a sua propaganda eleitoral não
fica atrás). A apatia, a desorganização, a inconsciência, o medo, refletem esta
falta de perspectiva: votar no “menos pior” é a única “saída” realista. A
partir daí pensam que, apesar dos pesares, irão “punir” um votando no outro, ou
votando no “PT para evitar a vitória da direita”.
Cabe perguntar: que motivos impedem a existência de
um movimento de massas independente dos trabalhadores? Não há apenas um único
fator, mas arrisco a pontuar alguns: 1) o stalinismo e seus sucedâneos (castrismo,
maoísmo) mancharam o nome do “socialismo” e desorganizaram os trabalhadores,
aniquilando sua consciência de classe e “legalizando” política e teoricamente o
fim da independência de classe; 2) A “força política organizada” dos
trabalhadores brasileiros hoje é controlada com um misto de demagogia e de mãos
de ferro pelo PT. Para que consigamos soltar as amarras dos trabalhadores e
construir sua independência de classe é preciso destruir este controle.
Utilizando-se dele, o PT e seus “teóricos” lançam inúmeras ideologias para
defender a sua conciliação de classe, disfarçando a sua metamorfose em partido
burguês com um discurso de “esquerda” e de “defesa” dos trabalhadores. Com que
finalidade o PT controla esta “força organizada dos trabalhadores”? A controla
para assegurar a aplicação de um programa burguês, neoliberal, que fala em
“reformas” para melhor iludir os trabalhadores, enquanto retira os seus
direitos falando que os “defende”. É o testa de ferro da burguesia, disfarçado
com as cores dos trabalhadores. Toda esta confusão arrasa a consciência proletária
e uma saída classista. Se o PT degenerou foi em razão da adoção de uma estratégia
reformista, de conciliação de classes (em épocas eleitorais, como esta, os
teóricos petistas tentam desesperadamente sustentar a viabilidade dessa
estratégia, formando inúmeros novos militantes que reproduzem esta lógica). Os
partidos de “esquerda” menores (PSOL, PSTU, PCB e PCO) são apenas rêmoras deste
controle dos movimentos sociais petista, sendo subserviente à sua política oficial
nos sindicatos e movimentos sociais.
O petismo é o “getulismo” do século XXI, pois é
hoje o principal responsável por conter e manipular as massas para evitar que
suas lutas avancem para a revolução social. A diferença reside no fato de que o
“getulismo”, ao mesmo tempo em que controlava o movimento sindical brasileiro,
concedia algumas migalhas autênticas, como a CLT; enquanto que o petismo
controla o movimento sindical para aplicar “reformas” que retiram direitos –
como a CLT –, privatiza poços de petróleo, dá isenções de impostos e lucros
recordes aos bancos e multinacionais, vendendo essa catástrofe aos
trabalhadores como a “única política possível”.
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