segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O petismo como um sucedâneo do “getulismo”

O “debate” eleitoral feito pela população – sobretudo nas redes sociais – é assustador, dado o grau profundo de ilusões, de incertezas, de ausência de alternativas e perspectivas; em suma, do beco sem saída ao qual se encontra, em razão da ausência de um movimento de massas independente dos trabalhadores. A falta de clareza de que o problema não são apenas os “políticos” e a corrupção, mas o sistema econômico que dá sustentação a esta “democracia”, o capitalismo, impede de compreender a situação em sua totalidade e traz a tona o turbilhão de confusões que cegam e desarmam os trabalhadores frente à mentira institucionalizada, à hipocrisia e à demagogia eleitoral infindável. Muitos trabalhadores votarão nos seus inimigos de classe e irão pagar muito caro por isso (a grande maioria sem ter plena consciência disso). Depois, procurarão explicações para suas desgraças nas “forças ocultas”, “diabólicas”, sobrenaturais, no seu “azar pessoal”; ou o que é pior: na sua família, nos filhos, nos pais, nos vizinhos, no colega de trabalho.

A máquina eleitoral gera ilusões a todo o vapor. A pressão ideológica do “voto útil”, do TSE e da mídia vem como um tsunami: arrasa qualquer resquício de consciência de classe. Lamentavelmente, muitos trabalhadores que enxergam esta situação preferem não ver. Aceitam o discurso da propaganda eleitoral e a “ausência de alternativas” (ou o “menos pior”) como inevitáveis. Adaptam-se à zona de conforto. A ausência de um movimento proletário independente cria um vazio que impede de vislumbrar uma saída para além do voto e da democracia burguesa. A experiência no movimento com os partidos reformistas também é catastrófica (e a sua propaganda eleitoral não fica atrás). A apatia, a desorganização, a inconsciência, o medo, refletem esta falta de perspectiva: votar no “menos pior” é a única “saída” realista. A partir daí pensam que, apesar dos pesares, irão “punir” um votando no outro, ou votando no “PT para evitar a vitória da direita”.
           
Cabe perguntar: que motivos impedem a existência de um movimento de massas independente dos trabalhadores? Não há apenas um único fator, mas arrisco a pontuar alguns: 1) o stalinismo e seus sucedâneos (castrismo, maoísmo) mancharam o nome do “socialismo” e desorganizaram os trabalhadores, aniquilando sua consciência de classe e “legalizando” política e teoricamente o fim da independência de classe; 2) A “força política organizada” dos trabalhadores brasileiros hoje é controlada com um misto de demagogia e de mãos de ferro pelo PT. Para que consigamos soltar as amarras dos trabalhadores e construir sua independência de classe é preciso destruir este controle. Utilizando-se dele, o PT e seus “teóricos” lançam inúmeras ideologias para defender a sua conciliação de classe, disfarçando a sua metamorfose em partido burguês com um discurso de “esquerda” e de “defesa” dos trabalhadores. Com que finalidade o PT controla esta “força organizada dos trabalhadores”? A controla para assegurar a aplicação de um programa burguês, neoliberal, que fala em “reformas” para melhor iludir os trabalhadores, enquanto retira os seus direitos falando que os “defende”. É o testa de ferro da burguesia, disfarçado com as cores dos trabalhadores. Toda esta confusão arrasa a consciência proletária e uma saída classista. Se o PT degenerou foi em razão da adoção de uma estratégia reformista, de conciliação de classes (em épocas eleitorais, como esta, os teóricos petistas tentam desesperadamente sustentar a viabilidade dessa estratégia, formando inúmeros novos militantes que reproduzem esta lógica). Os partidos de “esquerda” menores (PSOL, PSTU, PCB e PCO) são apenas rêmoras deste controle dos movimentos sociais petista, sendo subserviente à sua política oficial nos sindicatos e movimentos sociais.
           
O petismo é o “getulismo” do século XXI, pois é hoje o principal responsável por conter e manipular as massas para evitar que suas lutas avancem para a revolução social. A diferença reside no fato de que o “getulismo”, ao mesmo tempo em que controlava o movimento sindical brasileiro, concedia algumas migalhas autênticas, como a CLT; enquanto que o petismo controla o movimento sindical para aplicar “reformas” que retiram direitos – como a CLT –, privatiza poços de petróleo, dá isenções de impostos e lucros recordes aos bancos e multinacionais, vendendo essa catástrofe aos trabalhadores como a “única política possível”.

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