domingo, 22 de novembro de 2020

Um tributo a Lima Barreto

 

Esse é o Lima Barreto (1881-1922). Um dos maiores nomes da literatura brasileira. Infelizmente apenas hoje ele tem esse reconhecimento, pois na sua época, por ser negro, recebia, em sua maioria, negativas das redações de jornais. Apenas com o surgimento dos sindicatos (antes deles serem engolidos pelo Estado) Lima Barreto pôde publicar seus principais escritos, além de outros livros que teve que pagar com o dinheiro do próprio bolso.

Segundo Carlos Nelson Coutinho, Lima Barreto "foi um dos maiores representantes da linha humanista e democrático popular na literatura brasileira", além de ter ressaltado que "a simples mudança de regime político em nada alterara os vícios fundamentais da formação histórica brasileira". E ele foi testemunha ocular de duas destas "mudanças": o fim da escravidão e a proclamação da República. Nascido no período em que vigorava a escravidão, escreveu que "em 1888, dias antes da data áurea, meu pai chegou em casa e disse-me: a lei da abolição vai passar no dia de teus anos. E de fato passou; e nós fomos esperar a assinatura no Largo do Paço. Havia uma multidão ansiosa, com o olhar preso à janela do casarão". E concluiu: "como ainda estamos longe de ser livres! Como ainda nos enleamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis!".

Lima Barreto foi um dos maiores críticos da estrutura política brasileira, sobretudo em Os Bruzundangas, onde denuncia as aberrações do país. Também foi impiedoso com o funcionalismo público, o qual demonstrou ser um exército de "homens que falam javanês", além, é claro, da denúncia racial, que lhe foi muito cara, em Clara dos Anjos e Recordações do Escrivão Isaías Caminha. Graças a Lima sabemos que "o brasileiro é vaidoso e guloso de títulos ocos e honrarias chochas" e que "não temos povo, mas público". Lima foi excluído da crítica oficial com um "silêncio implacável" não apenas por ser negro, mas por suas "posições contundentes", que lhe custaram a marginalidade e a indiferença da elite cultural.

Foi um autêntico outsider da sociedade brasileira, a quem prestamos reverência e o devido reconhecimento. Em sua memória, devemos fazer com que o Brasil deixe de ter público e passe a ter povo!

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