Se analisada à luz da atual conjuntura, a candidatura de Bernie Sanders traz consigo elementos positivos e negativos. Os primeiros se sobrepõem aos segundos, por isso ela deve ser apoiada.
Trata-se de um fato muito importante o debate introduzido por Bernie em um país autoritariamente neurótico e paranóico contra a simples ideia de "socialismo", embora não possamos concordar com sua autoclassificação (ecoada na grande mídia) de "socialista". Ele está muito longe disso, pois sequer questiona o capital e se encontra no Partido Democrata, uma máfia de bilionários que sustentam uma espécie de "imperialismo democrático".
Em outra conjuntura mundial talvez Bernie não merecesse atenção e apoio, dada justamente essa dubiedade programática e política, mas num contexto onde imperam fake news, Donald Trump e seu Tea Party, e políticos escrotos como Jair Bolsonaro, a candidatura de Bernie, e sobretudo o entusiamos que causou, merece ser apoiada criticamente.
Outro ponto positivo de sua candidatura que merece destaque é o fato de causar certo desconforto entre os bilionários norte-americanos, que por décadas se sentiram tranquilos. Lhes gerar mal estar e incômodos, ainda que isso esteja muito aquém do que necessitamos, e instigar debates progressivos na doente sociedade estadunidense, é um importante foco inicial de resistência.
Contra Bernie se juntaram as iras da classe dominante dos EUA e os seus papagaios neocoloniais. Mike Bloomberg (ex-prefeito de NY) e o "progressivo" Pete Buttgieg consolidaram o seu apoio ao ex-vice-presidente de Obama, o também bilionário Joe Biden, na esperança de estancar e sabotar o crescimento eleitoral de Sanders. No final das contas, os bilionários se entendem implicitamente contra a "ameaça comum".
Joe Biden e Bernie Sanders em debate nas prévias do Partido Democrata |
As neocoloniais Folha de São Paulo e ZH tentam desmoralizar Sanders pela idade avançada ou buscam igualá-lo a Bolsonaro (um radical que não votou nenhum projeto de lei, só que à esquerda). Para isso, ignoram suas propostas e o maciço apoio que recebe da juventude trabalhadora, universitária e, sobretudo, latina. Tal como seus mestres (os bilionários ianques), os capachos latino-americanos também temem Sanders.
Por outro lado, Slavoj Zizek propõe um debate um pouco exagerado. Ela fala no início de uma "guerra civil" dentro do Partido Democrata e na intensificação da luta de classes dos EUA. Se é certo que deve haver uma intensificação da luta de classes, é certo que os trabalhadores norte-americanos estão totalmente inconscientes e desorganizados; além de desarmados programaticamente.
Os estragos ideológicos ocasionados pelo stalinismo e a restauração do capitalismo nos ex-estados operários durante o século XX, somadas a uma conjuntura de avanço do neofascismo, cobram um preço alto demais. Os trabalhadores de todos os países nunca estiveram tão confusos e desorganizados. Tudo isso exige que engulamos e controlemos certos "puritanismos". Dar suporte para que Sanders avance é importante. Este apoio, é claro, deve ser crítico e evitar qualquer tipo de embelezamento do senador democrata.
Se há alguma chance de derrotar eleitoralmente Trump neste ano, esta chance é da candidatura de Sanders, já que a disputa entre Trump e Biden será uma conchavo entre bilionários, onde, no fundo, o grande lance é descartar a mínima "ameaça" às suas fortunas e aos seus rendimentos. Nesse sentido, Biden se entregará de bom grado a Trump.
Muito boa análise. A ultima coisa que o democrata Sanders representa é socialismo, beira o petismo, quem sabe ??
ResponderExcluirAcredito que ele esteja à direita do petismo, mas ainda assim é o que tinha de mais progressivo com certa "influência de massas" dentro dos EUA.
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