quarta-feira, 18 de março de 2020

Um debate sobre o coronavírus nas redes sociais I

A: Fato muito importante: o coronavírus não tem nada a ver com a crise econômica do capitalismo que impõe a injeção de 1 trilhão de dólares na economia em vários países do mundo (sobretudo nos EUA).
Mas a mídia comercial insiste em abafar a crise econômica com a crise da saúde...

B: 
Tá. Mas não minimiza o impacto na saúde. Essa parte tem que ser clara: é uma tragédia. Outras coisas são a economia... Até agora o comércio deve ter tido alta, pois as pessoas de classe média estão estocando tudo.

A: O que quero dizer é bastante simples: uma coisa está sendo usada pra abafar ou minimizar a outra... a essência da questão, no que diz respeito ao abafamento, vincula uma coisa a outra, sim!

Não acho que o comércio deve ter tido alta. A crise está dada na estrutura do sistema desde 2008, não é um "consumismo" de ocasião que vai "salvar" a economia, até porque, vamos e venhamos, é um consumismo absurdo e restrito a determinados produtos.

E o petróleo, e o dólar, e a insolvência de todas as grandes empresas, e a queda da taxa de lucro que leva elas a se juntarem como sanguessugas no Estado, e as "reformas" anti-povo? Querem reduzir a crise econômica ao problema das companhias aéreas, como se toda ela se reduzisse a isso como um efeito direto do coronavírus. Não! Ela é anterior e muito mais profunda...

Tragédia, pra mim, é a histeria midiática e a cortina de fumaça feita na mídia pra esconder a crise capitalista, que terá efeitos catastróficos sobre o povo pobre e os trabalhadores.

Isso não significa, de forma alguma, ignorar problemas de pandemia ou epidemia. O problema existe, mas ele não pode ser transformado numa forma de eclipse pra esconder outros tão importantantes quanto ou até mais... até porque ônibus lotados não estão parando, nem comércio, nem shoppings, nem fábricas. Por que o capital não faz uma forma de funcionamento mínimo pra tudo isso? Por que não esvazia o máximo possível todos os locais de contato (incluíndo os de turismo no centro do país). Há esforço nesse sentido?

C: Exatamente. Dinheiro de FGTS liberado para trabalhadores que será utilizado para "se proteger" - utilizar para o consumo de ocasião, para as grandes redes de supermercados e farmácias e nada mais, e depois? - Já estamos a observar que matando o mercado interno com mataram, o FGTS tem sido liberado para minimamente possibilitar algum grau de consumo, uma artificialidade. Pequenos comerciantes já estão sofrendo com o declínio a bastante tempo, agora em desespero. Toda classe artística (não globais) que tb é trabalhadora com eventos cancelados, e me refiro a toda escala de trabalho que sobrevive desses, sem fonte de renda.

A crise da pandemia evidencia, uma vez mais, todas as outras crises e problemas estruturais do capitalismo neoliberal, desde as classes sociais subalternizadas que permanecem trabalhando, a Terra em espera enquanto permanecemos com a necessidade de organização e atuação de classe - movimentos, reuniões e atividades (de resistência, até) interrompidos -, ao passo que todas as ofensivas aos nossos direitos, os usos dos nossos recursos para dar alguma condição financeira aos grandes e médios empresários, aos bancos, será dado como sempre. E todas retóricas chauvinistas, antiimigração, racistas e elitistas estão ativadas e mais vivas ainda.

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