O coronavírus expõe o retrato caótico e sombrio da humanidade de hoje. Todos os egoísmos, individualismos e medos mais mesquinhos afloram de forma involuntária, nítida e violenta, chacoalhados pelo medo da morte.
Este momento ruim poderia significar uma aproximação entre os seres humanos no sentido de se ajudarem, se ouvirem e quererem juntos superar uma ameaça comum que é um vírus, que não escolhe hospedeiro e que, uma vez instalado numa pessoa que eu não conheço, pode se transferir pra mim.
Mas não! As filas dos supermercados falam por si mesmas, principalmente quando vemos nelas alguns ilustres membros da classe média, com seus três carrinhos, fazendo estoques de comida e mantimentos particulares sem se preocupar com nada e nem com ninguém. Nesses dias sombrios vê-se também notórios egoístas, propagadores das mais perniciosas ideologias neoliberais, dizendo que "não se preocupar com a transmissão é egoísmo", quando, na verdade, estão pensando apenas em si mesmos, com medo da sua contaminação, que pode estar — nos dizem —, em qualquer lugar, no ar, no outro, no asfalto! — inclusive no seu próprio mal interno, do qual vacina ou quarentena alguma podem curar. Por isso, não se cumprimentem, não cheguem perto, de preferência nem se olhem!
E se falamos em álcool gel, então, a histeria social, somada a ganância mais rasteira, demonstra que alguns comerciantes lucram mais de 100%, atingindo o valor de quarenta e tantos reais. Sem mencionar os pequenos e grandes especuladores — o mais baixo escalão da espécie humana —, que compram estoques de álcool gel, um artigo tão simplório e sem valor ontem, pra revender superfaturado hoje.
Assim, ao invés de solidariedade e empatia frente ao coronavírus, temos tido a oportunidade de ver apenas a filosofia do "eu em primeiro lugar", da ganância e uma pandemia de cinismo e egoísmo. Em suma: o lado sombrio dos seres humanos sem máscaras.
E se tudo isso ainda não é suficiente, temos as correntes ininterruptas da grande mídia e das redes sociais que afirmam que "todas as vidas importam", mas a postura do cotidiano dessas pessoas, da grande mídia e do governo é que "a minha vida importa mais". Quando — e se — tudo isso passar, veremos o quanto é hipócrita esse discurso de ocasião, já que os moradores de rua da esquina da minha casa e de tantas outras esquinas no Brasil e no mundo, não apenas continuarão lá, como seguirão morrendo de fome e de doenças banais, além de estarem sujeitos à proliferação do vírus da indiferença e do cinismo, tão disseminado pelo capitalismo, que busca desesperadamente — e como sempre — se salvar com trilhões do dinheiro público e com a permanente "ajuda" do Estado...
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