Não fosse a excelente oportunidade de pensar
uma renovação das práticas da esquerda, ficaria fora de qualquer propósito
razoável responder o texto do camarada João de Barro (JB) e as suas velhas acusações
inquisitórias. Segundo ele, eu fui gentilmente “advertido” de todos os
malefícios da posição reichiana e, como
não obteve sucesso nessas advertências, as defesas destas posições reacionárias
seguiram, “caracterizando não mais um
engano, mas um oportunismo”.
Interessante notar que o oportunismo está
apenas no querer conhecer, estudar e
desenvolver uma teoria, não havendo nenhuma crítica à prática concreta ou
mesmo à produção textual e teórica dentro e fora dos movimentos que participo.
Isso talvez se explique pelo fato de que ao camarada basta suas próprias
conclusões para validar todo um raciocínio, tal como me acusou a quase 10 anos
atrás de ser um militante infiltrado de organizações reformistas, sem nunca
demonstrar uma única prova concreta e sem nunca reconhecer que isso não passou
de um erro.
Sem maiores ilusões de que o presente texto
mudará as posições do camarada, este debate serve, sobretudo, para pensarmos em
cima das suas críticas à teoria reichiana,
bem como uma resposta à contraposição dicotômica que foi feita ao trotskismo.
Economia e psicologia
A grande preocupação de JB é que
sejamos todos infectados pelo “psicologismo” de Reich, que explicaria toda a
realidade e, em particular, a luta de classes. Assim, estaríamos abdicando de
posições históricas dos trabalhadores, como a explicação do fascismo e do
próprio capitalismo pelas questões econômicas e pela evolução da luta de
classes. Cairíamos, então, em contradições insolucionáveis como “o ser-humano é inapto para a liberdade”,
ou que a “mentalidade escrava seria uma
segunda natureza enraizada no próprio corpo”, além de explicar as guerras através
da biologia em detrimento da economia.
Todas estas preocupações são justas,
ainda que nenhuma lhe dê autorização para afirmar a atribuição a mim de uma opção
consciente e irreversível em direção ao oportunismo, justamente porque nunca
afirmei nada semelhante. De fato, todas estas colocações de Reich abrem
profunda ruptura com o pensamento marxista. Também não objetamos a existência
de “dois Reichs” contraditórios em duas fases distintas da vida. O que
objetamos é a recusa de JB em querer estudar e desenvolver o “Reich
progressivo” contra o “Reich reacionário”; além de jogar tudo fora como se
fossem idênticos, uma vez que o primeiro já conteria em germe o pecado original
do “oportunismo” e da “loucura” do segundo, contra o quê nada pode ser feito.
Em nenhuma política expressei a posição
problemática de que “as massas seriam incapazes de liberdade”, ainda que
reconheçamos as suas graves e profundas limitações psicológicas e, acima de
tudo, tentemos chacoalhar e trazer a tona essas contradições. Jamais esquecemos
o peso decisivo da economia e das contradições de classe em qualquer análise
política, conjuntural, sindical ou mesmo “psicológica”, inclusive em todas as
análises que fizemos sobre o neofascismo. Menos ainda conciliamos com as
burocracias sindicais, com o reformismo, com a burguesia liberal, com o
imperialismo ou com quem quer que seja no campo da classe dominante. Continuo
voltado para a classe trabalhadora e a necessidade imperiosa de desenvolver a
sua luta de classes, ainda que hoje seja um olhar bem diferenciado, que leve
vários fatores subjetivos em consideração; entre estes, o olhar da psicologia de massas.
Permaneço valorizando a análise das
crises econômicas do capitalismo como elemento decisivo para explicar o fascismo
ou qualquer outro fenômeno social de massas. Porém, a questão é desenvolver uma
análise que traga as novidades salutares do debate psicanalítico e reichiano; e não velhas barreiras
estanques: o fascismo é explicado primeiramente pela crise econômica e apenas
secundariamente pela psicologia de massas. Isso é metafísico se considerarmos
que na conjuntura política brasileira que levou Bolsonaro ao poder a psicologia
de massas adquiriu importância fundamental junto com as perguntas não
respondidas levantadas pelo “Reich progressista”.
O camarada JB ainda nos diz que: “A submissão das massas ao chefe tem causas
histórias para além da psicologia e não acontece em quaisquer circunstâncias.
Determiná-las é uma tarefa da sociologia política e apenas secundariamente da
psicologia. Não haveria fascismo sem a traição da social-democracia e do
stalinismo”. De fato não haveria, assim como também não haveria fascismo e
a manutenção do capitalismo em decadência se não houvessem mecanismos
psicológicos cultivados na massa diariamente para serem acionados em momentos
de crise, como os grilhões da família patriarcal, o moralismo, a religião, o
misticismo, o irracionalismo, etc. Um alimenta o outro dialeticamente e não em
apenas um sentido. A submissão das massas ao chefe tem sido a regra, não a
exceção. Isso não quer dizer que não existam as explosões revolucionárias (aí
está a base da chamada “situação revolucionária” que são mais raras e levam à
“insubmissão aos chefes”). Por outro lado, concordo que isso não nos autoriza a
afirmar, como faz o “Reich reacionário”, que as massas são incapazes de
liberdade (pois aí estão as inúmeras revoluções da história), mas nos coloca
uma tarefa fundamental, tal como se deu o “Reich revolucionário” em 1933, de buscar suas raízes e fazer perguntas
incômodas.
Se podemos afirmar que o preponderante é a
economia e as traições políticas, não o é menos importante para a manutenção do
capitalismo o aproveitamento que este faz da psicologia de massas e do seu
irracionalismo. E não é menos importante tentarmos desenvolver formas políticas
de agitação e propaganda que combatam esta irracionalismo para tentar reverter
todo o processo, levando em consideração o avanço progressivo deste campo. Este
é precisamente o objetivo das propostas de se debater a psicologia de massas do
fascismo no movimento Anti-fascista, que foi acusado raivosamente por JB de ser
“não mais um engano, e sim um oportunismo”.
É o mesmo que dizer: nós já sabemos
tudo que precisamos! Não vamos perder tempo com “bobagens psicologistas” que
levam ao oportunismo! O grande esforço do “Reich revolucionário” que deve ser
saudado, resgatado, e dado coerência, foi justamente o de combater o marxismo
vulgar que “separa esquematicamente o ser
social, na maioria das vezes o ser econômico, do ser em geral” (Psicologia
de massas do fascismo – PMF). Ao contrário disso, JB propõe voltar as costas a
esta tarefa teórica e política fundamental, cuja experiência com o neofascismo
atual nos coloca na ordem do dia, para ruminarmos o que todos nós já sabemos e
que ninguém negou: que não haveria
fascismo sem crise do capitalismo; que a Alemanha nazista foi uma resposta à
URSS; que a próspera Alemanha chegou tarde à divisão do mercado mundial e a
derrota na primeira guerra a jogou em profunda crise social; que o nazismo
representou o desespero das classes médias diante dessa crise, uma reação
contra as condições do tratado de Versalhes e o desejo de revanche da burguesia
alemã; e um longo etc.
Invocamos o “Reich revolucionário”,
sobretudo em razão das questões imprescindíveis levantadas por ele, que são
fortes o suficientes para se manterem por si mesmas e que exigem respostas: “A recusa
da observação e da prática psicológica na política proletária deu origem até
agora nas discussões a uma problemática política improdutiva. Por exemplo, os
comunistas explicaram a tomada do poder pelo fascismo pela política ilusória e
enganadora da social-democracia. Essa explicação acaba por levar a um beco sem
saída, pois que é precisamente essa a função da social-democracia enquanto
pilar objetivo do capitalismo: espalhar ilusões. Enquanto ela existir é isso
que fará. Essa explicação não origina
uma nova prática. (...) Não é
produtivo – pois não aponta uma saída – fundamentar a política unicamente na
função objetiva de um partido capitalista, função que consiste em ser ele um
sustentáculo do domínio capitalista. Naturalmente
é preciso tornar patente a função objetiva da social-democracia e do fascismo
[função essa que todos nós temos a pretensão de cumprir]. Mas a experiência ensina que a revelação
sob mil formas dessa função não persuadiu as massas, portanto que a
problemática socio-econômica por si só não basta. É-se levado a perguntar o
que se passa nas massas para que elas não tenham podido nem querido reconhecer
essa função?” (PMF – grifos meus).
Reich diz que a resposta típica é que “os
trabalhadores não podem deixar de reconhecer” ou “estão alienados”. Por mais
importante que sejam todas essas respostas, deixam de ter utilidade se não
avançamos para as perguntas subsequentes: por que os trabalhadores não
reconhecem, não compreendem ou não vão à esquerda quando são traídos pela
social-democracia e o PC? Ao contrário, tendem a ir à direita, mesmo frente a
uma crise econômica brutal. Poderia se responder: é o resultado da crise de
direção; com o que não há diferenças. Porém, quer-se ir além: buscar as raízes
desta crise de direção e a influência da psicologia de massas do capitalismo e
do fascismo nesta mesma crise de direção revolucionária. Se não for assim, caímos
num círculo vicioso preocupante, que não
resulta em uma nova prática.
Fazer troça do pensamento de Reich por suas
contradições, chamá-lo de “louco”, colocá-lo de lado como coisa inútil ou
reacionária, ignorando as questões
fundamentais levantadas por ele, não ajuda em nada, mas no melhor dos casos nos faz estagnar. Ignorar
a repressão sexual das massas, o irracionalismo, o misticismo, virando as
costas para as tarefas que isso nos impõem no sentido de respondê-las, nos tira
armas de luta, de reflexão, de influência. Não estou propondo, ao contrário do
que JB insinua, abandonar as boas experiências dos 200 anos de movimento
operário. Ao contrário, é preciso reelaborá-las de acordo com as novas
descobertas científicas.
As massas são eternas
crianças?
O camarada JB ainda diz no seu esforço de
explicar as “verdadeiras causas”: “A
vitória nazista, também, não teria acontecido sem a traição do Partido
Socialista, que apoiou a primeira guerra, e do Partido Comunista, que frustrou
o desejo de unidade do proletariado”. Está fora de questão o papel da
social-democracia e do PC alemão na vitória do fascismo, mas por acaso podemos ignorar
o fato de que “o desejo de unidade do proletariado” era confuso e repleto de
contradições, uma vez que a própria massa é composta de diversas forças e
facetas auto excludente, vanguarda e retaguarda, setor consciente e inconsciente,
racional e irracional; além do que é disputada por inúmeras políticas e
ideologias sociais, econômicas e religiosas?
Podemos desvincular totalmente a traição do PS
e do PC das massas que lhe sustentavam, como se isso não tivesse nenhuma ligação com as responsabilidades
destas mesmas massas, por menores que estas sejam em comparação à traição
política? Reafirmar apenas a traição do PS e do PC seria uma espécie de tantra
para ganhar a totalidade das massas nos eximindo de olhar a massa tal como ela
é? Que papel desempenhou o irracionalismo das massas nesta traição? Acaso não
haveria nenhuma relação entre a psicologia das massas e a traição da
social-democracia e do PC que merecesse um estudo aprofundado e a tentativa de
novas respostas? Com toda a segurança de um padre na infalibilidade de um santo
concílio, o camarada JB poderia nos assegurar tudo isso negativamente?
O fato é que respeito as leis econômicas
gerais do capitalismo, suas crises, a luta de classes, na explicação do
neofascismo, mas precisamos avançar para novas interpretações e métodos de luta
contra ele, sem o quê, não teremos uma nova prática que a conjuntura atual
exige. E nesta nova prática, denunciar as contradições e vacilações da massa ou
do “homem pequeno”, no linguajar reichiano,
é fundamental, porque são elas que abrem os vácuos para que ocorram as traições
políticas e tudo siga igual.
“Então” – poderá dizer o camarada JB –, “você
quer igualar as vacilações da massa, alienada e brutalizada pelo capitalismo,
com as traições dos governos, dos partidos reformistas e da burocracia sindical
como se fossem a mesma coisa?”.
A isso posso responder da seguinte maneira:
não se trata de igualar! Sabemos bem o papel cumprido pelos governos, pelos
partidos reformistas, pela burocracia sindical, pela repressão policial; em
suma: pelo capitalismo. O que queremos estabelecer é justamente o papel das contradições
da massa nesta dialética. E, para isso, a psicologia de massas é fundamental,
trazendo à tona a análise do irracionalismo, da repressão sexual, do moralismo,
das vacilações, das suas contradições.
É importante tirar a massa do seu papel
idealizado: “perdoa-os pai, elas não
sabem o que fazem!”. Se é certo que são alienadas e ignorantes, possuem
hoje muito mais fontes de informação e de experiências do que no passado. Cabe,
no melhor estilo reichiano do “primeiro
período”, perguntar: por que o senso comum da massa em geral, que desconfia de
partidos, políticos, até mesmo dos ricos e da grande mídia em alguns casos, nos
momentos de crise não evolui para a revolução, mas para o abraço dengoso de
qualquer charlatão fascista (vimos isso em 1922, 1933, 1964 e 2013-2016) que
sabidamente vai reforçar os partidos burgueses, os políticos e os ricos?
Possivelmente a isso se responderá: é a falta
do partido revolucionário! Sem dúvida isso é verdadeiro. Mas assim como ele,
falta também entender porque as massas médias tendem a evoluir à direita. Não
fosse assim, o isolamento dos revolucionários autênticos não seria brutal. Entender
a psicologia de massas não é fundamental inclusive pra construção do partido
revolucionário? Mesmo que a responsabilidade maior seja dos governos, dos
partidos reformistas, da burocracia sindical e da repressão policial – e isso
está completamente fora de dúvida –, as massas possuem sim, secundariamente,
responsabilidade por determinadas ações e escolhas. É preciso levar isso
seriamente em consideração para encontrar meios de interferir sobre esse curso,
bem como procurar formas de inibir, coibir esta prática, ao mesmo tempo em que
se incentiva uma nova. Além disso, o que se quer com o debate da psicologia de
massas não é afirmar que “o ser-humano é incapaz de liberdade”, mas renovar os
métodos, pensar experiências em relação à política
sexual – especialmente entre a juventude proletária – e politizar a vida
privada e as questões cotidianas para se contrapor às práticas das igrejas
evangélicas e da direita neofascista, que, ao contrário da “esquerda”, leva
tudo isso muito a sério.
Dialética ou dogmatismo para
superar as contradições do pensamento reichiano?
Marx e Engels foram enfáticos ao dizer
que os trabalhadores conscientes deveriam acompanhar a evolução científica do
seu tempo e incorporar todas as conquistas do conhecimento e da técnica na luta
pela sua emancipação. Não restam dúvidas de que Freud e Reich, cada um a seu
jeito, contribuíram decisivamente para a evolução da ciência e, em particular,
da psicologia. Podemos continuar ignorando a descoberta do inconsciente e as suas
consequências sobre a conduta individual e o movimento de massas?
Ignorar isso se torna mais grave ainda
quando somos lembrados por JB, citando Trotsky, que “o conceito de fascismo ‘tem um caráter de generalização. Os fenômenos
históricos nunca experimentam uma repetição completa’”. E aqui Trotsky
acerta em cheio, pois insinua, tal como Reich, a necessidade de se manter a
“conservação sempre viva do método do materialismo dialético, a apreensão por
este método, de modo sempre renovado, de cada fenômeno social novo” – e o fascismo já o era na época de
Reich e Trotsky; com mais razão é agora o neofascismo.
Frente aos “dois Reichs”, não seria o caso,
então, de se fazer uma crítica materialista dialética da teoria reichiana, tal como Marx e Engels
fizeram de Hegel, Feuerbach e tantos outros? A teoria de Reich estaria
irremediavelmente perdida, como a de Berstein, Kautsky ou Moreno? Ela seria
apenas um arremedo de oportunismo
para desvirtuar o proletariado? Reich seria um inescrupuloso oportunista,
interessado em perpetuar a ordem capitalista? Ou seria Reich um louco,
delirante degenerado e um charlatão, como o acusou a justiça dos EUA? Se o
camarada JB responde negativamente a todas estas perguntas, podemos concluir,
então, que existem mais elementos envolvidos nesta impiedosa crítica a Reich e
ao “meu oportunismo” do que a política pode nos dizer.
O trotskismo sozinho explica
tudo sobre a URSS?
Não tenho dúvida do papel imprescindível
e único do trotskismo pra explicar não apenas a URSS, mas todo o século 20. O
camarada lembra o que Reich afirmou sobre a degeneração da URSS: “seria absurdo atribuir a culpa a Stálin ou
a qualquer outro”. Tenho acordo de que se trata de uma declaração
extremamente problemática que reforça a necessidade de crítica ao “Reich
reacionário”. Há, porém, no livro A
Revolução Sexual toda uma análise a partir de uma perspectiva da economia sexual sobre a reação
stalinista contra a revolução, que se aproxima muito das posições trotskistas. Ela
demonstra como o governo soviético foi abandonando as pautas progressistas em benefício
das mulheres, do aborto, de outras formas de família; bem como foi
reintroduzindo as condecorações e gradações no exército, o ressurgimento dos
campos de trabalho forçado contra homossexuais e toda a moralidade patriarcal e
burguesa. Se é certo que há problemas na visão de Reich sobre a URSS e, mesmo
sobre uma idealização da democracia burguesa norte-americana, é mais certo
ainda que não podemos prescindir de questões fundamentais levantadas pela
psicologia de massas reichiana para
explicar o triunfo do stalinismo. Quem sabe não está no desenvolvimento de sua
teoria contribuições decisivas para se lutar contra a burocratização inevitável
de qualquer processo na sociedade de classes?
No livro A
revolução traída Trotsky levanta questões pertinentes para a psicologia de
massas que, por mais esclarecedoras que sejam objetivamente para demonstrar a
ascensão do stalinismo, precisam de complemento subjetivo. Por exemplo, quando
explica parte da degeneração do Partido Bolchevique e a ascensão de uma camada
de burocratas: “Politicamente, tratava-se
de reabsorver a vanguarda revolucionária em um material humano desprovido de
experiência e de personalidade, mas em contrapartida, acostumado a obedecer os
chefes”.
Por que mesmo com toda a experiência
revolucionária persistiram aqueles indivíduos “acostumados a obedecer os chefes”? Por que estes elementos
atrasados e “sem personalidade” triunfaram sobre a oposição de esquerda, que
era o partido revolucionário dentro da URSS? O que a experiência na luta pela
libertação sexual poderia contribuir para superar a postura de estar “acostumado a obedecer os chefes”? A
repressão militar do stalinismo, o isolamento da URSS e o refluxo da revolução
mundial explicam quase tudo, mas não tudo.
O neofascismo e o século 21
Toda a análise política e econômica do
neofascismo feita pelo camarada JB no seu texto está correta e é muito
importante. Acredito que a esquerda deveria estudá-la e conhecê-la. Porém, despreza
os impactos do neofascismo na psicologia de massas do povo, como os discursos
do Bolsonaro e de Olavo de Carvalho, elaborados pelo marqueteiro do
imperialismo, Steve Bannon, bem como das manifestações de rua da classe média
brasileira, que precisam de novas respostas. Seriam papéis contraditórios
analisar a economia e a política atual, e confrontá-la com a psicologia de
massas?
Parece que para o camarada JB, sim! Vejamos uma
análise importante que denota a autossuficiência: “A restauração do capitalismo na ex-URSS e na China, pelas mãos da
própria burocracia, representou profunda derrota do proletariado internacional,
equivalente à derrota sofrida com a vitória do fascismo. A sua organização foi
virtualmente destruída. Seus partidos transformaram-se em agencias do capital e
os sindicatos apelegaram-se. Disso se conclui apenas que é preciso recomeçar”.
Sem dúvida a restauração do capitalismo representou uma derrota histórica para
os trabalhadores e as organizações proletárias foram destruídas ou se
transformaram em agências da burguesia! A solução, porém, é simplória: se conclui apenas que é preciso
recomeçar!
É preciso recomeçar sempre, mas sempre do mesmo jeito? Sem nenhuma novidade? Sem
nenhuma mudança ou busca de novas interpretações e práticas das vitórias e,
sobretudo, das derrotas? Ninguém está propondo, ao contrário do que o camarada JB
insinua, substituir uma teoria por outra ou jogar toda uma prática proletária
fora. Estamos, isso sim, tentando contribuir com o enriquecimento da teoria
para aprimorar as nossas armas, mesmo que estejamos apenas na singela fase do “tomar
conhecimento”, sem nenhuma proposta concreta para agora justamente porque não
se pode tirar “coelhos da cartola”. Mas ignorar as contribuições da psicologia
de massas, por exemplo, não é uma atitude inteligente.
A direita neofascista e o imperialismo
não abrem mão dela. Enquanto Olavo de Carvalho, Steve Bannon e outros
sociopatas a soldo do imperialismo afirmam que “A crítica não tem sobre a psicologia das massas o poder sugestivo que
têm as crenças afirmativas, mesmo falsas”, demonstram que não desprezam
como “secundário” os estudos e a intervenção sobre a psicologia de massas. Se
pode objetar que estes sociopatas só estão na crista da onda porque existe uma
crise econômica mundial. Isto é certo, mas insuficiente. Independentemente da
crise, devemos procurar conhecer e combater todos os métodos nefastos usados
pelos nossos inimigos de classe. Ignorar sua influência sobre a psicologia das
massas, bem como suas “crenças afirmativas”, renunciando a busca de novos
métodos de combate neste campo, é deixar o caminho livre para o imperialismo e
se auto sabotar.
Combatamos não apenas o imperialismo e
o capitalismo, mas também as couraças sadomasoquistas da classe média e de
grande parte da classe trabalhadora (incluso as nossas próprias). Tenho certeza
de que com isso não estamos apenas totalmente dentro do campo proletário,
contribuindo para a destruição dos seus grilhões de classe, como teremos todo
um mundo novo por ganhar...
Com minhas melhores
saudações revolucionárias, em 2 de junho de 2019
Eduardo Cambará
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