domingo, 22 de setembro de 2019

Considerações finais a JB


Conforme o esperado, JB reforçou todas suas velhas acusações inquisitórias, acrescentando novas. A isso, cabem apenas algumas considerações finais.
1) “Qualquer crítica ou caracterização que a ele tenha feito ficaram ali sepultadas, jamais as repeti fora dos seus quadros, como manda os princípios de uma organização”. Isto é uma cínica tergiversação. Esta “caracterização” pautou sua atuação em relação a mim por quase uma década e continua pautando. Assim, a atual polêmica tem tudo a ver com isso. Me afastei da LM para preservá-la, mas não adiantou. Você a destruiu, não eu. Isso é igual ou pior do que uma infiltração. Talvez por isso “não queira escarafunchar o passado”, pois elas podem explicar parte da sua atuação na reunião da Antifa e nas suas respostas do texto anterior.
2) “Com atraso de um ano e apenas no privado” eu teria respondido suas críticas. Eu não o fiz apenas no privado. Chegou a quem tinha de chegar e, sobretudo, a quem está interessado; ao contrário da sua desculpa de se esconder atrás dos “princípios de uma organização” para não assumir publicamente a responsabilidade pelos seus erros.
Você acha que é uma espécie de Papa? Ou algum tipo de chefe inconteste da internacional comunista, a quem todo mundo deve satisfações? Respondi, como disse no texto anterior, não porque ache que lhe devo alguma satisfação, mas porque algumas questões levantadas por você são pertinentes a toda a esquerda no que diz respeito ao debate entre marxismo e psicologia de massas. No texto anterior elas já foram devidamente esclarecidas.
3) “Naquela plenária você falou uma hora exclusivamente de psicologia”: sim, o tema era “psicologia de massas do fascismo”, você queria que eu falasse de quê? Além do mais, pontuei outras causas do fascismo e, inclusive, as limitações do pensamento de Reich, como sempre fiz. Mas você, então, certamente dirá que foi por causa da sua magnífica presença ou das suas críticas que procedi dessa forma; então, voltaremos ao início, e todo o velho ramerrão inquisitório recomeçará.
4) “Você se tornou um militante do psicologismo” e “um discípulo acrítico da teoria psicologista de Reich sobre o fascismo, responsabilizando exclusivamente as massas por ele”. A isso posso responder, sem prejuízo ao debate, que JB se tornou um discípulo do método “LBI de debate”, a qual, como podemos ver, é muito profícuo para aglomerar militantes e construir organizações.
Sempre tratei a psicologia como subordinada à sociologia (pode consultar qualquer camarada atuante da CPB para tirar dúvidas). Isto não é apenas uma declaração escrita e teórica: é a minha prática militante cotidiana. Nos textos que escrevi, nas minhas declarações públicas e atuações sindicais onde disse ou demonstrei que as massas não são capazes de liberdade? Se realmente pensasse isso estaria em casa, desiludido ou, de fato, professando filosofias niilistas ou congêneres. Sempre critiquei esta visão reichiana. Sempre estive empenhado em procurar as melhores formas de incorporar a psicologia de massas e as conquistas da psicanálise ao marxismo, como ferramentas da luta de classe e, sobretudo, para a emancipação dos trabalhadores. Nunca propus ou executei o que você me acusa sobre “não denunciar suas causas de fundo” (a questão econômica). Você pateticamente tergiversa na questão da minha prática militante porque não pode responder sobre isso, fazendo tal qual a LBI, distribuindo rótulos e caracterizações para reafirmar as “suas verdades”.
Se por “militante do psicologismo” e “discípulo acrítico de Reich” você entende toda pessoa que quer “conhecer, estudar e desenvolver uma teoria”, para somá-la ao marxismo, enriquecê-lo, tal como Marx e Engels o fizeram criticando Feuerbach, Hegel e outros; então, sou tudo isso que você me rotula.
5) “A dialética não é apenas a influência recíproca de certas causas. Existe uma hierarquia entre essas causas”. A dialética também demonstra que as hierarquias não são fixas e imutáveis (caso contrário não seriam dialéticas). Você mesmo reconhece no parágrafo seguinte: “Parte das massas brasileiras delegaram sorte ao chefe Bolsonaro, que lhes vendeu ilusão de salvador da pátria...”. Assim, a psicologia de massas ganhou momentaneamente relevância sobre a economia, sem deixar de vermos a psicologia como subordinada à sociologia e à economia. E nem era a minha preocupação maior, mas sim à necessidade de pensarmos uma forma de intervir sobre essa psicologia de massas no sentido que interessa à emancipação dos trabalhadores.
6) Segundo JB, EC como “discípulo de Reich, culpa prioritariamente as massas pela sua submissão”, tal como culpa “pobres pela pobreza, as mulheres pelo estupro”, etc. Este argumento patético não pode ser levado a sério. Demonstra o nível baixo a que JB chegou.
De um trecho que escrevi, como este: “Mesmo que a responsabilidade maior seja dos governos, dos partidos reformistas, da burocracia sindical e da repressão policial – e isso está completamente fora de dúvida –, as massas possuem sim, secundariamente, responsabilidade por determinadas ações e escolhas”; JB conclui todos aqueles disparates, além de dizer se tratar de uma “afronta ao marxismo”. Se por “afronta ao marxismo” entendemos qualquer tentativa honesta de responder as suas lacunas, então só teremos, daqui por diante, novas afrontas.
7) “Fora disso não há salvação psicologista milagrosa”. Poderíamos traduzir este trecho como a demonstração de que fora do caminho milagroso de JB não há salvação. Não acho que a psicologia de massas seria uma salvação psicologista milagrosa, mas apenas um caminho a ser explorado e que pode ajudar em muito na luta pelo socialismo. É justamente a psicologia de massas que pode nos esclarecer porque as massas e a esquerda tendem à saídas messiânicas e milagrosas. A minha defesa da psicologia de massas reichiana é voltada exclusivamente para desenvolver as suas boas contribuições, por entender que elas podem, de alguma forma, como já foi dito, “ajudar na luta contra a burocratização inevitável de qualquer processo na sociedade de classes”.
*** 
Isto é suficiente para esclarecer suas “interpretações” e distorções, que terminam sempre por me atribuir “oportunismo” e outros rótulos edificantes. De resto, voltaremos sempre ao início. Enquanto não reconhecer aos envolvidos o seu erro crasso em relação a mim na LM, nem o seu próprio papel determinante na sua destruição, não temos mais nada a conversar.

EC, em 19 de junho de 2019.

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