quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A professora Anta e a aluna Tartaruga

Um dia uma tartaruga filhote que gostava de ajudar os animais foi para aula. Essa tartaruga pensava diferente de todos os outros animais. As vezes se sentia ignorada por quem estudava com ela, afinal, eles não a entendiam muito bem, mas conviviam com respeito. A tartaruga sempre quis ajudar seus outros coleguinhas animais, muitas vezes se mostrando participativa e cooperativa  com seus professores bichinhos. A tartaruga gostava de ensinar por que acreditava que só aprendia de verdade algum conteúdo depois que ela ensinasse e ajudasse outro coleguinha animal a aprender, porém, os coleguinhas animais não entendiam isso muito bem.

 A tartaruga vivia em uma floresta com um regime “democrático", já que as leis da selva não funcionavam mais. E então, estava para acontecer a votação para decidir quem seria o novo rei da floresta, já que a população de animaizinhos não queria mais que o leão, que governava até então, continuasse no poder. 

Logo a tartaruga percebeu que alguns dos outros animais iriam votar em um jegue que maltratava os outros animais por ele ser mais forte ou por que o jegue cativava o lado selvagem dos outros animais, que já estavam sendo domesticados pelo "sistema democrático" da selva. Então, a população viu nas propostas do jegue soluções fundamentadas em instintos que diziam que iria melhorar a selva quando na verdade poderiam destruir com a floresta,  por falta de opção também. A tartaruga compreendeu que talvez isso tenha acontecido por falta de informação entre os outros animais, e se posicionava de uma forma diferente, tentando conscientizar, mas era mal interpretada por não seguir o padrão que a selva cobrava. 

Até que um dia, em uma de suas aulas, a professora anta entrou em sala e dando sua "aula", criticou na frente da turma os ideais que a tartaruga acreditava, a tartaruga se sentiu ofendida e perseguida. Ela e a anta tinham muitas diferenças, mas a que mais pesou no momento foi que a anta não cumpria seus deveres e, portanto, não poderia cobrar seus direitos e a tartaruga cumpria seus deveres e cobrava seus direitos. Quando a anta atacou os ideais da tartaruga, a chamou de "socialista" e ironizando disse que "conhecia bem o comunismo" e disse também que comunismo era oque aconteceu na Rússia e na Venezuela. A tartaruga parou e pensou lentamente no que responder, como de costume, para não se comprometer. Detalhe: A tartaruga gostava de estudar História e percebeu que a anta tinha um conceito errado sobre comunismo, ela confundia comunismo com stalinismo, duas coisas completamente distintas.

A tartaruga sabia que a anta era mau caráter, então, foi esse assunto que ela usou para se defender. Tudo isso acontecendo e a tartaruga calma, a anta ironizou na frente dos outros animais as suas respostas racionais.

Por  livre e espontânea pressão a tartaruga foi indicada para ler um texto. Tudo bem a tartaruga gostava de ajudar, mas não aquela professora anta que a desrespeitou na frente de seus coleguinhas animais. A tartaruga não compreendia por que ela tinha que respeitar um outro animal que não a respeitava, e não respeitava nem a si próprio. 

A tartaruga que gostava de ensinar, queria ensinar a anta um pouco de História já que a anta a julgou sem nem saber do que estava falando (repito a anta iria votar num jegue, pois, ela também era intolerante como ele), mas quem disse que ela teria humildade para aprender?!

Obviamente, a tartaruga percebeu que ficou feio para anta, porque ela não sabia o que era comunismo e abriu a boca para atacar quem a ajudava, além de que a anta ao invés de dar aula ela reclamava demais da vida, falava da vizinha ovelha, dos cocôs de pomba na frente de sua toca e até reclamava sobre o "macho alfa" reprodutor de sua espécie... A anta era uma verdadeira "sem noção", fútil e vazia, tal como o jegue.

E de novo a tartaruga tenta ajudar, não só a anta, mas todos os bichinhos que tem a mentalidade parecida com a dela, tendo em mente que é como brincar com uma cobra: não importa o quão boa sejam suas atitudes e intenções, uma hora ela vai tentar picar você de novo...

*CONCLUSÕES DA TARTARUGA:

0 - IDADE NÃO DEFINE CARÁTER
1 - Não julgue para que não seja julgado.
2 - Estude antes de sair falando (elimine o senso comum primeiro e depois dê sua opinião)
3 - Cumpre os seus deveres, para depois poder cobrar os seus direitos. Não adianta querer sem fazer, dê o exemplo!
4 - Respeite aos outros, mas principalmente a si mesma, se nem você se respeitar, quem vai?
5 - Humildade é a base para o saber. Sem humildade? sem aprendizado! = repete o ensinamento até aprender... 
6 - Quando pensar que vai fazer o mal a uma pessoa, tome cuidado, será que você vai ferir ela, ou a si própria?
7 - O feitiço vira contra o feiticeiro.
8 - Você colhe o que você planta!
9 - Seja sincero e fale a verdade, ou o que lhe incomoda de alguma forma.
10 - Transforme algo negativo em positivo, nem que seja através de textos, poesias, fábulas...Mostre a diferença, afinal, o mundo já está cheio de pessoas vazias.

Rafaela Lima (em 10/10/18)

2019

- Bom dia, amor!
- Bom dia! Dormiu bem?
- Sim! E tu?
- Também!
- Vou levantar pra abrir a janela.
- Sim, só cuidado com aqueles corpos torturados e sangrando ali no chão!
- Corpos? Que corpos?
- Aqueles ali, bem debaixo de ti.
- Não tô vendo nada! Que tal irmos no shopping hoje fazermos umas comprinhas? Tá um lindo dia, não acha?
- Sim! Olha esse céu azul. Ué... e aquele monte de cadáveres empilhados, bem debaixo daquela árvore? Aquele ali não é o teu primo?
- Meu primo? Não. Aquele ali é um terrorista perigosíssimo que foi preso anteontem.
- E aquele outro? Não é o Zé ali da esquina?
- Que Zé que nada. É um preto sem vergonha, que ficava pedindo gorjeta e não queria trabalhar. Agora ele teve o que merece.
- Tô olhando aqui no jornal, o dólar tá só R$3, pelo menos isso, né?
- Eu não sei não. Acho que esse país não tem mais solução. Acho que temos que voltar pra Miami, aqui tá muito perigoso! Agora te veste pra gente levar as crianças no shopping pra almoçar.
2019 está logo ali...
"Só num mundo de cegos as coisas serão o que verdadeiramente são" (J. Saramago).

domingo, 28 de outubro de 2018

A ditadura de Bolsonaro colocará o Brasil numa nova etapa de exploração do capitalismo


I.
Talvez uma das lavagens cerebrais mais recorrentes da intelectualidade burguesa atual é que vivemos num regime de “livre mercado”. Isso é repetido pelos meios de comunicação, passando pelos partidos burgueses e reformistas, MBL, até os membros da classe média, com os seus “experts mirins” em economia.
O que significa livre mercado? Teoricamente seria aquela forma de economia em que o empreendedorismo individual iria competir entre si, em condições de “igualdade”, regidos pela lei da oferta e da procura, desenvolvendo uma taxa média de lucro e fomentando a produção econômica. O “livre mercado” demonstraria quais são as tendências econômicas principais e o “mérito individual do empreendedor” iria desbancando e conquistando mercados dos concorrentes. O Estado não deveria intervir neste processo, pois isso seria concorrência desleal e geraria “deformações”, deixando que a liberdade de investimento guie os capitais na sua justa competitividade; exceto, é claro, quando percebe algum tipo de exagero ou “injustiça” nessa disputa, o que denotaria necessidade de regulamentar certos setores. 
Para o liberalismo clássico, o egoísmo individual na busca por lucros geraria o desenvolvimento social e “faria o bolo crescer”, possibilitando o desenvolvimento social, ainda que desigualmente entre todos os membros da sociedade. Isso significa que estranhamente todos sairiam ganhando de alguma forma. Esta estrutura, segundo eles, seria a forma social e econômica mais perfeita e democrática. Para os liberais clássicos e para os seus reprodutores tupiniquins, qualquer ingerência do Estado na economia, na regulamentação de setores ou, principalmente, no investimento social a partir de estatais, é visto como uma heresia, como “gastança” ou, ainda, como “socialismo”. A “intervenção estatal” na economia seria em si mesma e em qualquer circunstância autoritária.

II.
Esta mentalidade, típica da nossa classe média, criou a mitologia de que tudo o que provém do Estado é ineficiente ou corrupto; e tudo o que venha do mercado ou da iniciativa privada é bom, eficiente e serve de “solução” para todos os nossos males. Como sabemos, a corrupção não se resume apenas ao Estado; e o mercado não é um centro de virtudes. A corrupção está tanto num, quanto noutro; assim como os dois também possuem virtudes.
Na formação histórica do Brasil não houve um período de liberalismo clássico, que possibilitasse o desenvolvimento da concorrência dentro de um mercado interno. Tudo foi fomentado pelo Estado, sobretudo a industrialização nacional, que criou as bases para o desenvolvimento de um mercado interno a partir do Estado Novo varguista. Segundo vários autores brasileiros, somos um país de industrialização hipertardia, que por se processar numa época em que o capitalismo já tinha alcançado a fase imperialista, é necessariamente dependente.
Esta fase do capitalismo, iniciada em fins do século 19 e início do 20, é caracterizada, dentre outras coisas, pelo fim do livre mercado. Surgem os monopólios, cartéis e trustes que definem os preços artificialmente e controlam ramos inteiros da produção e do mercado. Exemplo: 11 grandes marcas controlam tudo o que é vendido nos supermercados brasileiros. O setor eletroeletrônico e automobilístico é totalmente dominado pelas multinacionais. Grande parte dessa classe média reproduz a falsa ideia econômica da grande mídia de que estão “defendendo” o livre mercado e o empreendedorismo. Isso não existe há, no mínimo, 1 século, e, no Brasil, nunca chegou a existir plenamente em razão da dependência econômica internacional. Sente, intuitivamente, que seus privilégios como classe média dependem dessa estrutura econômica, ao mesmo tempo em que mantém o país como parte da periferia do mercado mundial, exclusivamente produtor de commodities, condenando a maior parte da população à pobreza e ao subemprego. Os monopólios estatais são duramente atacados nos aspectos que servem ao povo, até caírem por completo; as empresas públicas de ponta, como a EMBRAER e a Petrobrás, são cobiçadas e fatiadas por sucessivos governos. A “corrupção” nas estatais (que existe tanto quanto nas empresas privadas) é o álibi para a sua privatização; além do falso discurso de ineficiência. Este procedimento cínico visa colocar a empresa pública trabalhando dentro das regras impostas pela dinâmica macroeconômica do capitalismo monopolista de Estado (CME).
Onde está o “livre mercado” nisso tudo?

III.
Um dos principais sintomas do esgotamento do modo de produção capitalista é a lei da queda tendencial da taxa de lucros, já prevista por Marx há quase 2 séculos. Com o aumento do uso de tecnologia e a diminuição física do proletariado, o capital constante – expresso nos gastos com as máquinas e as matérias-primas – tende a aumentar, e o capital variável – expresso nos gastos com salários e, também, de onde provém o lucro – tende a diminuir. De onde, então, a burguesia compensa esta tendência à queda da taxa de lucro? Ora, do inimigo número 1 dos neoliberais: da intervenção do Estado! O tesouro nacional funciona como uma espécie de fiador do capital financeiro geral; isto é, como o pressuposto do lucro privado.
Assim, a mentira da ineficiência do Estado, bem como a heresia liberal da proibição da intervenção do Estado na economia caem por terra: a burguesia necessita do Estado para si, para sustentar a taxa dos superlucros exigidos pelo imperialismo e a sua sócia menor, a elite nacional, em detrimento da maioria da população. É precisamente isso que está em jogo, e não aquela velha cantilena liberal de “sanar as contas públicas para se tornar atrativo aos investimentos internacionais”. Isso explica também as maiores taxas de juros do mundo, que servem para estimular uma taxa de lucro superior àquela existente nos países centrais.
Segundo Carlos Nelson Coutinho (CNC), o Estado transfere para os grupos privados uma parte da mais-valia que gera ou de que se apropria através dos impostos; com isso, aumenta a taxa de lucro do setor privado (em especial das multinacionais imperialistas) e aparece como um fator decisivo para contrabalançar a lei da queda tendencial da taxa de lucros. Portanto, a função última das empresas estatais, dos recursos naturais do país e da sua capacidade de arrecadação é desvalorizar o seu capital, transferindo parte da mais-valia gerada por elas para os ramos de bens de luxo, dominados essencialmente pelos monopólios multinacionais privados; uma transferência que se dá mediante a venda a preços baixos das matérias-primas criadas pelo setor estatal e que entram no consumo produtivo das empresas privadas. Outra forma recorrente é a isenção de impostos para estes setores monopolistas, além da venda de títulos da dívida pública no sistema financeiro, o que gera, alimenta e aumenta a famigerada dívida pública. O senso comum, inclusive o da classe média que idolatra o capitalismo, a burguesia e os EUA, entende a ineficiência do Estado apenas como resultado da corrupção, da cobrança de impostos e da má “administração”, ignorando toda esta lógica monstruosa de funcionamento.

IV.
A política do PT de programas sociais gera uma disputa com a burguesia imperialista e nacional pelos recursos do Estado. Em épocas de expansão econômica é possível aumentar a trilionária “bolsa banqueiro, empresário e do agronegócio”, ao mesmo tempo que se garante a esmola do bolsa família, do ProUni, do Pronatec, etc. Porém, em épocas de crise internacional, através de “reformas”, exigem a totalidade desses recursos para contrabalançar a queda tendencial da taxa de lucros. Os governos do PT tentaram investir num desenvolvimentismo a partir das estatais, em particular, da Petrobrás. Adquiriram refinarias para produzir combustível e, assim, garantir uma relativa estabilidade de preços.  Isso bastou para a elite nacional e a sua mídia comercial taxarem o PT de “comunista”. Por essas razões, a Petrobrás foi grampeada pelo imperialismo, segundo denúncias de Edward Snowden; e não casualmente foi um dos principais alvos do golpe do impeachment de 2016. A conciliação política e programática do PT, na contra mão da luta direta, levou ao fortalecimento da direita e à possibilidade real de uma nova ditadura militar!
Esta estrutura estatal voltada para a sustentação do lucro privado foi batizada por CNC e outros teóricos de capitalismo monopolista de Estado (CME). Segundo ele, foi precisamente a ditadura militar que colocou o Brasil nesta fase. No Brasil, esta integração entre Estado e monopólio se processou, sobretudo, depois do golpe de 64, mas é algo que já se esboçava como linha programática desde a aplicação do Plano de Metas do governo Kubitschek. Nesse sentido, foi uma necessidade histórica da burguesia imperialista, usada para quebrar resistências populares e “nacionalistas”, que queriam manter uma política estatal antimonopolista e antiimperialista. A partir da ditadura militar de 64 o Estado foi colocado a serviço da grande concentração de capital, criando assim, a articulação entre Estado e monopólio privado, que caracteriza o CME. Além da repressão do movimento operário, uma das suas principais tarefas foi a sujeição dos interesses setoriais capitalistas à lógica da reprodução monopolista do capital.

V.
A ditadura militar que Bolsonaro (PSL) pretende implantar agora, para além da repressão aos trabalhadores, pobres, negros, LGBTs, etc., têm finalidades econômicas claras. Não se trata apenas de um ultraneoliberalismo e de facilitar a repressão contra as resistências proletárias, mas de garantir uma nova forma de funcionamento político que facilite o ajuste fiscal e, portanto, uma nova forma de acumulação capitalista. Para isso, tem o aval e o apoio do imperialismo de Trump e do Partido Republicano, que querem alinhar os países semicolonais do hemisfério ocidental para fazer frente ao “imperialismo chinês e russo”. Nesse sentido, começará pela imposição do ajuste fiscal nos países periféricos para acabar com os resquícios do “Estado de bem estar social”, aumentando a exploração sobre o proletariado no sentido de possibilitar a mesma taxa de lucro e as mesmas garantias dadas pelo Estado que caracterizam o atual capitalismo chinês. As instituições da democracia burguesa, como o Congresso Nacional, não poderão concretizar tamanhos ataques de forma pacífica e “democrática” sem enfrentar profundas resistências. A burguesia imperialista liderada por Trump e a elite nacional representada pela candidatura de Bolsonaro mexeram no tabuleiro e colocaram suas peças na ofensiva para concretizar este projeto.
A nova fase exigida pelo CME precisa destruir todos os gastos sociais do Estado, como os direitos trabalhistas, a previdência, os serviços públicos, o funcionalismo. Quer desmantelar totalmente o Estado que era supostamente protegido pela Constituição de 1988; legalizar o subemprego (o precariado). Provavelmente dividirá os trabalhadores jogando uma massa sem direitos contra um pequeno setor que ainda detém algum tipo de seguridade. Tudo visando evitar a queda tendencial da taxa de lucros, que exige sempre maiores e piores sacrifícios dos trabalhadores e do povo pobre. Tal como em 64, a elite precisa desmoralizar o “comunismo” e o “socialismo”, criminalizando as “esquerdas”, pois somente elas – apesar das suas profundas diferenças – representam uma alternativa econômica a esta barbárie que pretendem institucionalizar.
É precisamente esta tendência da economia capitalista que explica a força de uma candidatura liderada por um sociopata, em uma legenda de aluguel sem expressão alguma até ontem, que passou a sustentar um discurso totalmente irracional e odioso. Em sua sanha incontrolável e predatória por lucros, tal como o nazi-fascismo na Europa e a ditadura militar no Brasil, o capitalismo – gritando contra o “comunismo” e o “socialismo” fictícios – deixará um rastro de sangue e de morte nesta sua passagem para esta nova etapa. A desumanização de todos aqueles que apoiam este projeto e da sociedade como um todo é a consequência inevitável.

VI.
         PS: quando a panela de pressão estiver prestes a estourar novamente, repleta de dor, sofrimento, torturas e assassinatos, é possível que, após implantar e consolidar essa nova etapa de exploração e acumulação de capital, a burguesia possa prescindir do regime fascista. A partir daí se abriria um novo período de democracia burguesa com um precariado sobrevivente, reiniciando o ciclo e se abrindo um “novo” período de “crescimento econômico”... para a burguesia.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Cartilha de esclarecimento sobre o irracionalismo fascista - dez tópicos para ajudar a resistência em meio à tempestade


O fascismo é um regime político que se baseia em dois pilares fundamentais: ditadura militar e a defesa da propriedade privada capitalista. Um ditador dirige esse regime que trabalha para subjugar toda a massa às suas ordens e aos interesses de classe que defende, inclusive podendo ficar acima e independente dela. Parte dessa submissão não é imposta via repressão militar, mas conquistada a partir de uma manipulação psicológica e social, a qual os indivíduos se submetem voluntariamente. O fascismo emprega a utilização de poderosas forças psíquicas primitivas e irracionais, impossíveis de serem explicadas apenas por fatores econômicos e exigindo novos instrumentos de análise e interpretação.
            Embora os fatores econômicos não expliquem tudo, são fundamentais para entendermos a totalidade do fenômeno. O fascismo é parte indissolúvel do capitalismo. Mesmo nos seus períodos “democráticos” ele existe em estado de latência. Nos momentos de crise econômica – e isso acontece periodicamente, numa média de 10 em 10 anos – o aumento da miséria, do desemprego, da criminalidade e do desespero social conclamam por uma “saída”. Mentes com baixa formação política e científica, maltratadas pela exploração do trabalho e pela superstição religiosa, especialmente a de tipo evangélica, tendem a acreditar em falsas “saídas”, que propõem apagar fogo com gasolina. O fascismo necessita de mentes frágeis, dispostas a acreditar em qualquer mentira sustentada, sobretudo, pelo medo, pelo sadismo e pelo ódio. Em um ambiente de crise e falta de perspectiva, não é difícil manipular mentes. Ao contrário, torna-se parte importante da dominação do sistema.
            Dentro deste contexto e apoiado por técnicas modernas de manipulação das redes sociais, o atual fascismo brasileiro alimenta o ódio, o sadismo e o preconceito, que são sempre armas eficientes para controlar mentes. Ou seja, baseiam-se no lado mal do ser-humano, na sua necessidade de destruição, de vingança e utilizam isto sem escrúpulo algum. Além disso, o fascismo cultua a tortura, a guerra e o ódio insaciável. Conclui sua obra de dominação com a repressão sexual das grandes massas, presas à um moralismo hipócrita que se transforma em sadomasoquismo. Tudo isso contribui para a formação do discurso irracional apoiado e sustentado por milhões hoje em dia. A própria essência do fascismo consiste num pacto indissolúvel com a morte e com a crise social e econômica, da qual é uma cria. Sem uma profunda crise econômica e social o fascismo não poderia controlar e manipular mentes tão eficazmente.
            Parte da classe média tem consciência disso tudo, pois está numa condição social privilegiada, que desfruta de boa educação, renda, moradia e perspectivas de vida; embora também sofra com a repressão sexual e o moralismo. Alimentam a mentalidade fascista por medo de perder seus pequenos privilégios e, também, porque sabem que a repressão militar não recairá contra si, mas contra o povo pobre e os trabalhadores. A grande burguesia, por sua vez, é beneficiária do fascismo, pois seu sistema econômico, o capitalismo, necessita, em tempos de crise, da imposição de uma ordem que garanta seus privilégios e o aumento dos seus lucros. Apesar disso, está dividida, pois sabe das contradições fascistas. A arma deles também pode se voltar contra si em determinados momentos.
            Ao longo dos últimos anos, a grande mídia, a justiça brasileira, as universidades e tantos outros atores sociais de destaque toleraram o crescimento do discurso do ódio e a disseminação de fake news. Agora parte deles se desespera porque perceberam o crescimento do monstro que pode devorá-los. As universidades, em particular, incentivaram o discurso pós-moderno de “auto verdade” que não necessita de fatos para se sustentar. A política do fascismo atual se baseia nesse tipo de pensamento, que não necessita de fatos e confunde propositalmente a propagação do ódio e do preconceito – teoricamente proibidos por lei – com “liberdade de expressão”.

Como combater o fascismo?
            Tornou-se senso comum entre a esquerda o discurso de que “com o fascismo não se discute, se combate”. É claro que com a cúpula do fascismo e os seus grupos armados não há discussão alguma. Temos que combatê-los na mesma moeda e nos preparar conscientemente pra isso em todos os sindicatos e movimentos sociais. Porém, para a grande massa hipnotizada pelo fascismo, é necessário uma política diferenciada, que leve em consideração a manipulação dos seus sentimentos infantis. E isso, evidentemente, não pode ser resolvido com socos, pontapés ou insultos. À política de massas do fascismo precisamos contrapor uma política de massas do socialismo, do trabalho, do amor e da sabedoria. Esta política ainda é muito vaga, mas temos alguns norteadores pra começarmos a delineá-la.
            Um dos pontos centrais do fascismo é que ele se sustenta na mentalidade desenvolvida pelo capitalismo e, portanto, todo o reformista que ajuda a preservá-la e a conter a revolta social, prepara a sua ascensão, se não hoje, depois de amanhã. A energia revolucionária das massas é, assim, canalizada para a “saída” fascista, do ódio, da repressão militar, da submissão a um “messias”. Nesse sentido, nada há para acrescentar na necessidade de se lutar contra o capitalismo e o reformismo, expresso nos sindicatos pela burocracia sindical.
            Porém, é necessário acrescentarmos novos métodos de percepção e de luta. O fascismo, segundo Wilhelm Reich, constitui a “atitude emocional fundamental do homem em toda a sociedade autoritária”. Como não conhecemos outra sociedade que não a autoritária (pois mesmo a “democracia” burguesa é uma sociedade autoritária para os trabalhadores e o povo pobre), não existe uma única pessoa cuja estrutura esteja isenta da “sensibilidade” e do pensamento fascistas, incluindo a “esquerda”.
            Segundo Carl Gustav Jung, aquilo que chamamos de “consciência civilizada” não tem cessado de afastar-se dos nossos instintos básicos, mas nem por isso os instintos desapareceram, apenas perderam contato com a consciência. O ser-humano acredita-se senhor de “sua alma”, mas enquanto não for capaz de controlar os seus humores e emoções, ou de se tornar consciente das inúmeras maneiras pelas quais os fatores inconscientes se insinuam sobre seus projetos e decisões, certamente não será “seu próprio dono”. Certos aspectos da sua vida exterior e interior são conservados em “gavetas separadas” e nunca confrontados uns contra os outros.
            Um dos exemplos dados por Jung é ilustrativo para o momento atual: um alcoólatra que se deixou influenciar por um certo movimento religioso e, fascinado pelo entusiasmo e as sensações que o culto lhe despertou, esqueceu-se da sua necessidade de beber. Declararam-no milagrosamente curado por Jesus e passaram a exibi-lo como graça divina da dita organização religiosa. Mas depois de algumas semanas, começou a perder sua força e pareceu-lhe válido um “certo revigoramento” pelo álcool, voltando a beber. A “caridosa organização religiosa” chegou à conclusão de que se tratava de um “caso patológico” e não se prestava mais a uma intervenção de Jesus. Logo foi totalmente abafado e esquecido, embora as impressões iniciais causadas nos fiéis tenham permanecido inquestionadas.
            Este é um aspecto da mente moderna que merece nossa atenção. Revela um alarmante grau de dissociação e confusão psicológica. Se, por um instante, conclui Jung, considerarmos a humanidade como um só indivíduo, verificaremos que a raça humana lembra uma pessoa arrebatada por forças inconscientes. Também ela gosta de colocar certos problemas em “gavetas separadas”.
Se utilizar das emoções e sensações individuais, “impressionar” e gerar fortes sensações em uma plateia de fiéis e, uma vez que passe o efeito, se esquecer completamente do que deu origem a tudo isso, é um método de manipulação utilizado não apenas pelas igrejas e o fascismo, mas pela publicidade capitalista, que nos bombardeia 24h por dia e 365 dias por ano. Inclusive as organizações da “esquerda” reformista estão infectadas por este método escuso.
Para combater o fascismo, então, é necessário fazermos um esforço sério para conhecermos as “nossas próprias sombras” e a sua nefasta atividade. Enquanto estivermos tentando convencer a nós e ao mundo de que apenas eles estão errados, isso não estabelecerá diálogo ou solução possível. Um singelo exemplo: numa recente aula pública sobre “como conversar com eleitores de Bolsonaro” na Redenção, organizada por militantes petistas, os velhos métodos que possibilitam a fala apenas para os dirigentes e deputados (isto é, os “iluminados”) tirou o protagonismo dos presentes e a possibilidade de um debate de ideias que surgissem de participantes independentes. Esta educação das massas apenas para “receber e reproduzir” é um embrião de fascismo. O mesmo poderia ser dito sobre a ditadura sindical que os petistas impõem nos sindicatos. Ignorar as críticas chamando adversários de “loucos” não ajuda a combater a mentalidade fascista, apenas a reforça.
***
            Ouvir uma pessoa manipulada pelo pensamento fascista é muito difícil, pois há uma sucessão de ataques irracionais, que além de não se sustentarem, estão baseados em descargas emocionais mal resolvidas. Resistir a isso é muito difícil. Mas o primeiro passo para superar um problema é tomar consciência dele.
            Uma pessoa sob a hipnose fascista é como um doente neurótico ou uma pessoa sob ataque histérico. Xingá-la, espancá-la e devolver na mesma moeda a sua agressividade não poderá solucionar o problema. É preciso tentar entender, separar o joio do trigo e responder calma e racionalmente (como nos é possível). Chamá-la à razão ou demonstrar que outras forças estão operando é importante. A partir de determinadas lógicas desenvolvidas pelo hipnotizado se pode tentar estabelecer um diálogo (isso tudo, obviamente, vale apenas para a massa que é dominada pelo fascismo, não para a sua cúpula, que age com plena consciência). No entanto, se a nossa prática não condiz com as nossas palavras, certamente isso reforçará o discurso fascista e nós perderemos terreno, talvez irremediavelmente. É por isso que, para combater o fascismo, é necessário também uma autorreflexão sobre a nossa própria conduta.

A ideologia do atual fascismo brasileiro
            A ideologia do fascismo é sempre pela manutenção da ordem capitalista. Nesse sentido, não se diferencia do nazi-fascismo da Segunda Guerra Mundial. Porém, atualmente assume alguns discursos peculiares, com o que tenta estabelecer uma conexão com o mundo real. Para combater o seu irracionalismo e a sua ideologia é necessário não se deixar sugestionar pelo refluxo geral e não desanimar. Selecionamos alguns tópicos importantes abaixo:
I) A questão econômica: o socialismo sofre ainda hoje os mais virulentos ataques das classes dominantes. Por um lado, estes ataques se baseiam na experiência da União Soviética, que chamamos de regimes stalinistas. Foram regimes cruéis, autoritários, que não reconhecemos como “socialistas”, mas como um desvio deste caminho. O regime de Stalin enlameou o nome do socialismo perante os olhos dos trabalhadores do mundo e ainda hoje pagamos o preço. Somos os primeiros críticos dessa experiência, mas também não fechamos os olhos ao autoritarismo, a opressão e a miséria dos trabalhadores sob o capitalismo, que apenas aumenta e condena toda a sociedade à barbárie, garante “democracia” para os ricos e ditadura sobre os pobres. Por outro lado, estes ataques ao socialismo também estão embasados na fantasia, na ignorância e num anti-comunismo neurótico e doentio, que apenas esconde o medo da elite de perder os seus privilégios garantidos pelo capitalismo e o próprio medo do novo, da mudança, presente em muitas pessoas comuns.
            A violência urbana, os assaltos, assassinatos e outros crimes são um subproduto de uma sociedade profundamente desigual política e economicamente. A crise econômica, o desemprego e a miséria tendem a agravar a violência urbana e os demais problemas sociais. A concentração da riqueza e da cultura em um polo gera inevitavelmente desempregados, miseráveis e “marginais” no outro. O programa econômico do fascismo não combate as desigualdades geradas pelo capitalismo e, tampouco, resolve os problemas da crise econômica. Ao contrário: a tendência é aprofundá-los. Sendo assim, não podem resolvê-los. O armamento da população civil como suposto combate à criminalidade só terão um desfecho trágico para os mais pobres e, inclusive, para setores da classe média.
            II) A corrupção é um problema intrínseco ao capitalismo. A pressão dos grandes empresários sobre o poder público é uma realidade não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Os políticos e os seus partidos são agentes destes grandes empresários e dos bancos. O candidato do fascismo se vende como ético e um combatente da corrupção, mesmo tendo passado por vários partidos reconhecidamente corruptos (como o PP), recebido caixa 2, sonegado patrimônio milionário e mantido funcionários fantasmas. O PSL, atual partido de Bolsonaro, está tão envolvido na Lava Jato quanto o PT. Somente o irracionalismo fascista, que envolve outros sentimentos, é capaz de manipular e apagar tudo isso.
A direita tradicional e fascista vende a ideia de que todos os problemas da sociedade estão concentrados no Estado e nos serviços públicos; e que o mercado e o setor privado são a solução. Por isso, sustentam as privatizações, que representam lucros bilionários para meia dúzia de acionistas, baseado numa sucessão de escândalos de corrupção. Sendo assim, os problema de corrupção não podem acabar sob um governo fascista. Apenas serão abafados pelo cassetete policial. As privatizações não resolveram nenhum problema social do Brasil e só aprofundaram as desigualdades, legalizando o saque de riquezas naturais do país. Os agentes do mercado e o setor privado geralmente são os principais corruptores do poder público, não sendo melhores, nem piores do que qualquer político corrupto ou serviço público. Todas as raízes econômicas levam ao principal problema que é a exploração de classe e a propriedade privada. Nisto o fascismo jamais tocará! Ao contrário: é o principal agente militar!
III) Outra “proposta” eleitoral do fascismo é aumentar o imposto sobre os mais pobres, preservando os milionários; acabar com os direitos trabalhistas, como o 13º salário, férias, licença maternidade e outros. Muitos trabalhadores votarão nesse candidato, mesmo sabendo disso tudo. Apesar do choque inicial que temos ao saber disso, é necessário falar e repetir isso aos quatro cantos, sem esmorecer, tal como se chama várias vezes à razão um sonâmbulo.
            IV) A questão da Venezuela: a campanha eleitoral do fascismo tenta associar o regime da Venezuela ao “comunismo” e à fome. A história recente da Venezuela é marcada por esta guerra não declarada entre a elite e o movimento chavizta, entrecortado por inúmeras tentativas de golpes de Estado. O assim batizado por Chávez “socialismo do século 21” ou o seu “regime bolivariano” nada tem de socialista. Não mexeu na propriedade privada dos meios de produção. Pretende patrocinar o desenvolvimento social a partir do Estado capitalista, fortalecendo as instituições democrático-burguesas. Nesse intento, choca-se inevitavelmente com a elite nacional e estrangeira, ávida por colocar as mãos na totalidade dos recursos do petróleo. O que há na Venezuela, então, é uma disputa entre a elite e o governo chavizta pelos despojos da exploração petroleira. Para a elite latino-americana, obsessivamente anti-comunista, isso é “socialismo”, mesmo que a propriedade privada e o capital sigam intactos.
            O Estado “investir” na sociedade a partir de recursos do petróleo ou criar programas sociais, por exemplo, não torna um governo socialista ou comunista, como a intelectualidade doentia da classe média e do fascismo afirmam. Ao contrário, os programas sociais são orientados pelo FMI e o Banco Mundial. Este irracionalismo ignora toda e qualquer premissa teórica do debate econômico mais elementar.
            V) Com a mesma intenção que tenta criar um fantasma ligado à Venezuela, o fascismo inventa uma “ameaça comunista” para manipular o medo irracional das massas e fortalecer o seu próprio poder político. Foi assim com o nazi-fascismo na Europa, McCarthy nos EUA, Getúlio Vargas e a ditadura militar no Brasil. Agora não é diferente. Desgraçadamente não aprenderam nada com a história (e talvez nem queiram aprender pelo medo da verdade). A “ameaça comunista” é associada ao PT, aos seus governos (que, assim como a Venezuela, nada tem de comunista; o próprio PT reconhece essa acusação como “fake news”). O antipetismo é utilizado então como uma forma de destilar preconceito contra toda a esquerda, contra os pobres, contra as manifestações populares, os negros, as mulheres, os LGBTTs. Tudo isso é uma maneira de destilar preconceito contra ideologias e a organização política dos trabalhadores, sem fazer uma real reflexão sobre as experiências dos governos petistas; apenas preconceitos e mentiras para melhor manter os privilégios sociais das classes médias e da burguesia.
            VI) O fascismo atual não está ligado diretamente à Igreja Católica, mas às centenas de igrejas evangélicas atuais no Brasil, que funcionam como espécies de milícias (ainda não armadas). A maior parte da massa evangélica, hipnotizada pela manipulação emocional do fascismo, não vê contradição entre o discurso do ódio, do armamento, da raiva descontrolada, que redundou em agressões e assassinatos de eleitores de oposição ao fascismo com a mensagem de Cristo. Pra mentalidade irracional tudo é tratado como coerente e conexo. Parte da explicação para este “fenômeno” está no livro O assassinato de Cristo, de Wilhelm Reich, onde ele aponta que os cristãos “se purificam rezando pelos pecados do passado para continuarem cometendo assassinatos no presente”. Portanto, o frenesi e a manipulação religiosa das massas evangélicas contém o germe da mentalidade e da ação fascista.
            VII) Talvez a principal característica do fascismo atual é a manipulação através da divulgação de “fake news” nas redes sociais, cujos assessores são técnicos utilizados até mesmo pelo imperialismo. Elas são parte indissolúvel dessa dominação fascista, pois ajuda a espalhar e consolidar o irracionalismo, uma vez que a hipnose da massa necessita deste controle a partir do ódio, do sadomasoquismo e do medo. O atestado de que o fascismo necessita deste método escuso foi a recusa de Bolsonaro em assinar um acordo de combate às “fake news” com Haddad (PT).
            VIII) Outra característica do fascismo é a imposição e a exaltação da família patriarcal, que é a unidade básica geradora e disseminadora da mentalidade fascista. Não apenas porque o modelo reforça a “ordem social fascista”, de um guia, sendo o símbolo paterno; a nação, o materno; e os “filhos”, a massa dominada pelo líder. A família patriarcal reprime a sexualidade e pune. Quem clama pela repressão de uma ditadura militar e a tortura busca, ao mesmo tempo, o “prazer” sadomasoquista e a punição por um desejo ou uma culpa inconsciente. O conceito de família é quem acolhe com amor, dedicação e compreensão, independente do formato ou de qualquer orientação sexual. Inclusive deve-se respeitar o direito de quem não quer ter família.
            IX) A campanha fascista tenta dissociar a imagem de Bolsonaro do nazismo, como se a única característica deste regime fosse a execução em massa de judeus. O seu “principal argumento” é que Bolsonaro apoia o Estado de Israel, o que comprovaria que ele, de fato, não é um nazista e não simpatiza com tal regime. O Estado de Israel existe há mais de 60 anos e há decadas comete atrocidades contra os palestinos, tomando seus territórios, construindo muros e campos de concentração típicos do nazismo. Já acompanhamos inúmeros casos de genocídios, torturas e assassinatos. Setores do próprio sionismo combatem o Estado de Israel e o reconhecem como autoritário e tirânico.
            Além disso, é importante frisar o que disse José Saramago: “Os fascistas do futuro não vão ter aquele estereótipo de Hitler ou Mussolini. Não vão ter aquele jeito de militar durão. Vão ser homens falando tudo aquilo que a maioria quer ouvir. Sobre bondade, família, bons costumes, religião e ética. Nessa hora vai surgir o novo demônio, e tão poucos vão perceber a história se repetindo”.
            X) A massa de trabalhadores que apoia o fascismo está cega e é dominada por forças inconscientes. Será esmagada e humilhada, tal como foram os trabalhadores italianos e alemães pelo nazi-fascismo, sendo cúmplices de torturas, agressões e assassinatos. Trabalharão contra si próprios. Querendo mas ao mesmo tempo temendo a liberdade, terminaram reféns de um líder demagogo e populista, que “dialogou” com os seus sentimentos mais macabros e sujos. Por certo a miséria teórica e prática da “esquerda” – que em parte alimentou métodos similares – contribuiu muito para isso.
Porém, os objetivos do regime fascista são claros: discursando contra a "ditadura comunista", enfiarão goela abaixo do país o ajuste fiscal capitalista, mantendo o Brasil como plataforma de exportação de matérias-primas, usando a repressão do povo e daqueles que resistem como as últimas ferramentas que a classe dominante e o imperialismo têm para manter seus privilégios e aumentarem seus lucros a qualquer custo. A burguesia prepara um salto de acumulação do capital, garantindo as verbas públicas e o Estado como patrocinadores exclusivos da sua taxa de lucro, preparando o terreno com o porrete policial para o regime de exploração típico do sudeste asiático, em particular do capitalismo chinês, que paga 1 dólar por dia aos seus trabalhadores e tem lucro recorde para todas as multinacionais que lá operam. Assim, finalmente, o sonho burguês de retornar à exploração da revolução industrial do século XIX estará realizado.
***
            Educados na perspectiva cristã do “assassinato de Cristo”, de cometer os seus crimes (assassinar um homem) e depois ser eternamente perdoado para voltar a cometer os mesmos crimes, num círculo vicioso infindável e assustador, com a consolidação do governo fascista, a massa que o sustenta se verá novamente com as mãos cheias de sangue e, então, suplicará por perdão para “os seus pecados”. Nós, então, devemos dizer: sim, vocês sabem o que fazem! Existem milhares de exemplos na história!
            A luta contra o fascismo necessita de firmeza e coragem para manter a coerência. A direita, o fascismo e mesmo as burocracias sindicais fogem delas “como o diabo da cruz”. A coerência é a nossa principal arma contra o irracionalismo fascista, que quer nos levar para a lama, para a sua areia movediça de incoerências, ódios e medos. Não vacilemos! Manter a lucidez e a coerência no meio de um surto de cegueira faz parte da nossa responsabilidade histórica. Não hesitemos de gravar, não esquecer e punir todos os responsáveis de acordo com o nível do seu envolvimento com a futura ditadura militar.

domingo, 21 de outubro de 2018

Quem teme a frustração, não pode fazer uma revolução! Em defesa do bolchevismo!


Se diz violento ao rio que tudo arrasta
Mas ninguém diz violento as margens que o oprimem
(Bertolt Brecht)

Quem teme lobos não vai à floresta
(Lenin)

        Há uma visão na “esquerda” que, reproduzindo ecos de cima, insiste em igualar o bolchevismo (isto é, o leninismo e o trotskismo) ao stalinismo. Não se trata, é claro, de meros problemas linguísticos ou da autoproclamação dos stalinistas, que se diziam os legítimos herdeiros do bolchevismo. Esta perspectiva está definitivamente fora da compreensão deste texto.
Por certo, como já demonstrou Trotsky em inúmeros artigos, existem traços em comum entre bolchevismo e stalinismo, tal como existe em quase todas as teorias e culturas políticas. Também há uma relativa ligação histórica, o que parece ser a “prova definitiva”. No entanto, tudo isso não nos faz avançar um único centímetro na crítica a estas experiências “socialistas”. Ao contrário! Nos faz retroceder a etapas já superadas do pensamento socialista e, de quebra, ainda nos faz renunciar a uma teoria política que ensinou ao proletariado como tomar o poder e conservá-lo, pela primeira vez na história.
        Além da má fé (no caso burguês), o debate também é pautado pela ignorância, que desconhecendo fatos históricos e a teoria revolucionária, acaba reproduzindo inúmeros erros do senso comum (no caso proletário). O atual nível de formação da “esquerda” brasileira, profundamente atolada numa miséria teórica sem precedentes, acaba sendo o lamentável palco para este tipo de compreensão já desmascarada por inúmeros artigos e fatos históricos.
O presente texto não está levando em consideração nem a má fé, nem a ignorância. Partimos do pressuposto de que os ativistas que sustentam esta compreensão errônea acreditam que o “bolchevismo é igual ao stalinismo” sinceramente. Por isso, se faz necessário uma reflexão acerca do que escreveram aqueles que passaram pela experiência deste processo extraordinário, pioneiro, complexo e contraditório, que foi a Revolução Russa.

A reação dentro da Revolução Russa originou o stalinismo
    Marx e Engels já identificaram, no passado, que a toda revolução corresponde uma contrarrevolução. Basta olhar qualquer processo revolucionário na história e isso torna-se bastante clarividente. A reforma protestante e a contra-reforma católica (em 1517 e 1545); a Revolução Francesa (jacobinismo versus girondinismo) e a posterior ascensão de Napoleão; à Revolução Cubana responderam os cubanos ricos com a invasão da Playa Girón, em 1961; dentre outros. Fica cada vez mais claro aquilo que Trotsky escreveu tantas vezes: o stalinismo foi a reação termidoriana[i] à grande explosão popular, de importância histórico-universal, que foi a Revolução Russa. O grau de perversão e crueldade do stalinismo foi a resposta ao impacto profundo da primeira revolução proletária vitoriosa da história.
        Esta conclusão é quase uma correspondência exata da lei física de ação e reação. Ao contrário desta interpretação, muitos ativistas tentam explicar a degeneração da Revolução Russa em stalinismo pelos “erros” e “excessos” do bolchevismo “contra os trabalhadores”, como se Stalin fosse a continuação exata dele e o seu resultado inevitável. Condenam o bolchevismo porque este não traz embutido em si mesmo uma garantia milagrosa contra a degeneração, tal como se tivessem proposto realizar uma tarefa fácil e a-histórica. Os argumentos que igualam o bolchevismo ao stalinismo se repetem ao longo do tempo, sendo possível fazer uma síntese das suas principais conclusões. Esta repetição indica certas tendências que procuram saídas reconfortantes, fora da luta de classes, que é cruel e contraditória por natureza (não por iniciativa dos trabalhadores, evidentemente, mas da burguesia).
        Dentre os argumentos que se repetem, está a ânsia por uma “volta ao marxismo puro”, lá de Marx e Engels, no século XIX (lá estariam condensadas as soluções de todos os problemas). Os seus seguidores seriam inescrupulosos deturpadores, corruptores e oportunistas. Ainda que a quase totalidade o seja, nem todos o são. Até mesmo entre os reformistas e oportunistas incorrigíveis existem boas contribuições; há que se procurá-las com lupa, mas existem. Um dos revisionistas que renegam a revolução e abraçam a frente popular stalinista, mas que possui inegáveis contribuições ao pensamento socialista, é Gramsci, por exemplo. Querer o retorno ao “marxismo puro” é uma contradição com o próprio pensamento marxista, que exige uma aproximação com a realidade concreta e todo o tipo de avanço científico e dos movimentos sociais. Poderia Marx ignorar a experiência da União Soviética? O velho revolucionário alemão se absteria ou colocaria um sinal de igual na disputa de valor histórico-universal entre o stalinismo e o trotskismo, que marcou todo o século 20?
        Buscar a origem do stalinismo no bolchevismo é exatamente a mesma coisa, num sentido mais geral, que querer buscar a origem da contrarrevolução nos princípios que desencadearam a revolução[ii].

De novo o debate sobre a dialética classe-direção: a questão dos sovietes
        Outro argumento que se repete é o que afirma o malefício da hegemonia dos bolcheviques nos sovietes. Todos reconhecem estes organismos populares como uma grande conquista da revolução e do movimento operário, mas não reconhecem o papel que os bolcheviques cumpriram neles. Os “manipuladores” bolcheviques teriam se apoderado deles e os deturpado. Este, talvez, seja o argumento mais equivocado e injusto, que coloca novamente o debate acerca da dialética entre classe e direção.
        Os sovietes estão no centro da Revolução Russa, chegando ao ponto de ser parte indispensável de sua vitória. Sem a organização dos sovietes, certamente não teria havido o triunfo revolucionário. Surgidos na revolução de 1905, os sovietes foram reprimidos durante o período de reação (1907-1916), ressurgindo em 1917. Entre fevereiro e outubro de 1917 os sovietes foram totalmente hegemonizados pelos mencheviques, que lhes imprimiram um caráter conciliador. Se estabeleceu, então, um período de duplo poder entre os sovietes e o governo provisório, empenhado em reestabelecer todas as instituições burguesas do país. Sovietes e instituições burguesas não poderiam conviver muito tempo nesta disputa não declarada pelo poder; alguém teria que terminar se impondo sobre o outro. A política menchevique, contudo, levava ao poder burguês e a subordinação total (isto é, a destruição) dos sovietes. Foram os bolcheviques que imprimiram um caráter de independência de classe aos sovietes, preparando as condições para que tomassem o poder em outubro de 1917, não, casualmente, durante um dos congressos de sovietes de toda a Rússia.
        A maioria bolchevique resolveu o duplo poder em favor dos sovietes. Esta maioria conquistada pelos bolcheviques não se sustentaria um único minuto se não fosse a expressão dos operários e camponeses em luta durante o processo revolucionário. Tampouco uma pequena fração do movimento operário russo, como foram os bolcheviques até setembro de 1917, poderia ter mantido o poder durante uma cruel guerra civil, caso não fosse a expressão direta dos interesses das massas trabalhadoras.
        Ignorando todos estes detalhes fundamentais, muitos companheiros argumentam que “os sovietes tinham que continuar livres” e que necessitavam se “centralizar pela classe” ou “pelo mundo do trabalho”, como se os bolcheviques representassem algo alheio à classe e ao mundo do trabalho. Ora, não existe uma “classe abstrata” com “interesses abstratos de classe”. De 1917 até a ascensão ao poder da burocracia stalinista, os bolcheviques foram a encarnação consciente dos interesses da classe operária russa. Nesse sentido foram uma direção política reconhecida da classe. Cumprindo este papel certamente cometeram erros, mas jamais traições, como foi o caso do stalinismo. Os camaradas que pensam desta maneira ignoram o fato de que não existe uma massa abstrata e perfeita; isto é, sem contradições. A massa possui distintos níveis de consciência e em grande parte é atrasada em razão das suas condições de vida e de educação. Portanto, querer uma “revolução perfeita” é pressupor que ela pode se homogeneizar do ponto de vista da consciência de forma espontânea, o que é praticamente impossível. Seria pressupor que a burguesia e os seus agentes diretos e indiretos abdicariam de tencioná-la no sentido da restauração do seu velho poder e de ter influência sobre ela. É precisamente esta pressão permanente feita pela burguesia nacional e internacional que tenciona no sentido da degeneração da revolução, além, é claro, dos problemas internos da própria massa, que tem um nível cultural baixo e sofre com o seu alto grau de heterogeneidade. Estes dois problemas – pressão da contrarrevolução burguesa e atraso de parte das massas – estão interligados.
        Os sovietes foram a forma organizada da aliança entre a classe e a sua vanguarda mais consciente, que estava no partido bolchevique. Não é o mero fator da vanguarda se organizar em partido que significa a sua inevitável degeneração, como defendem erroneamente muitos desses companheiros, mas a política que sustenta e a pressão que este partido cede ou combate. Respondendo à mesma polêmica, no longínquo ano de 1937, Trotsky escreveu: “Os que opõem uma abstração de sovietes à ditadura do partido deveriam compreender que somente graças à direção dos bolcheviques os sovietes saíram do pântano reformista para o papel de órgãos do Estado proletário”[iii]. Muitos companheiros também defendem, erroneamente, que os sovietes não eram instituições de um Estado de novo tipo (alguns chegam ao cúmulo de dizer que se tratava de um “Estado burguês”).
        Os camaradas não compreendem (ou não querem compreender) a importância e o papel da direção política da classe trabalhadora. Atribuem a qualquer direção ou partido (indistintamente ao programa ou a política que defendem) o papel de “burocratizadores por natureza”. Este menosprezo à direção política, entendendo que a classe se dirige espontaneamente mesmo com distintos níveis de consciência e heterogeneidade, tende a caminhar para a desorganização política e à subordinação inconsciente às direções burguesas declaradas e não declaradas. Certos camaradas pensam que se “centralizar pela classe”, tal como ela é, representaria um antídoto contra a degeneração, o que é um grave erro. O proletariado se subdivide em vários segmentos, como vanguarda e retaguarda. Isto é um fato sociológico. Não se pode igualar a sua vanguarda com a sua retaguarda, ainda que se tenha que levar em consideração os anseios da retaguarda. Neste caso, se condena o bolchevismo pela ousadia de ter tomado o poder e, de quebra, se transforma esta grande experiência num crime. Ao invés de estudá-lo em detalhes, estes camaradas apenas viram as costas ao processo histórico e se voltam para a metafísica.

Em defesa do bolchevismo!
Não satisfeitos com nossas respostas, que se sustentam em fatos históricos insofismáveis, alguns destes camaradas ainda afirmam que os bolcheviques foram autoritários após 1917, no período compreendido entre 1918 e 1923. Ora, camaradas, é preciso fazer uma reconstrução histórica. Mesmo no auge do processo revolucionário os bolcheviques procuraram as outras frações operárias para construir um governo em comum, como os mencheviques e os Socialistas Revolucionários (narodiniks), mesmo possuindo as mais profundas divergências políticas e programáticas. Estes deram as costas ao chamado dos bolcheviques, como atesta este trecho escrito por Trotsky: “O comitê central do nosso partido buscou uma aliança com os Socialistas Revolucionários (SRs) de esquerda. Propusemos a eles que tomasse parte na construção do governo dos sovietes. Eles hesitavam e diziam que o governo deveria ter o caráter de uma coalizão entre os partidos soviéticos. Mas os mencheviques e os SRs de direita havia rompido com o Congresso dos Sovietes porque eram defensores decididos de uma coalizão com os partidos anti-soviéticos. Assim, só nos restava deixar os SRs de esquerda a tarefa de tentar trazer seus colegas de direita para o campo da revolução; porém, enquanto eles se ocupavam dessa causa sem esperança, nós nos sentíamos obrigados a assumir toda a responsabilidade pelo governo”[iv].
Os SRs de “esquerda” flertaram com o Conselho de Comissários do Povo durante algum tempo, mas depois romperam totalmente, inclusive cometendo um atentado contra a vida de Lenin. Os bolcheviques viram-se sozinhos, apenas com o apoio dos operários e camponeses mais avançados, tendo que enfrentar uma coalizão de 14 exércitos imperialistas. Há ainda, outros camaradas que sustentam o “autoritarismo bolchevique” reivindicando a liberdade aos partidos burgueses, que foram totalmente proibidos. Estes camaradas certamente nunca refletiram sobre o termo marxista conhecido como “ditadura do proletariado”. Neste caso, apenas refletem a pressão ideológica da burguesia, que sempre reclamará a “liberdade” para os seus partidos (por acaso o MDB, o PSDB, o Democratas, o PSL e tantas outras máfias políticas que, no essencial, defendem exatamente o mesmo, não deveriam ser proibidos? O que eles fariam em um regime socialista?). Também nunca refletiram sobre as contradições de um processo revolucionário, que descamba para a luta armada. Quem pensa que uma revolução é uma estrada de tijolos amarelos e que a classe operária pintará um mundo cor de rosa precisa acordar se quer realmente lutar por uma revolução socialista.
Foi por isso que Lenin escreveu que: “uma revolução, uma revolução real, profunda, do povo, para usar a expressão de Marx, é o processo incrivelmente complicado e penoso de morte de uma velha ordem social e o nascimento de uma nova, o ajustamento das vidas de dezenas de milhares de pessoas. Uma revolução é a mais aguda, mais furiosa e desesperada luta de classes e guerra civil. Nenhuma grande revolução da história escapou da guerra civil. Se não houvesse circunstâncias excepcionalmente complicadas, não haveria revolução. Quem teme os lobos, não vai à floresta”.
Qual era a situação da URSS logo após o triunfo da Revolução de Outubro de 1917? Um “Estado operário” recém fundado, repleto de contradições e dividido entre 5 formas de economia, com instituições políticas totalmente novas e nunca utilizadas antes, cercado de inimigos, dentre os quais o que viria a se tornar o nazi-fascismo. Somava-se a isso um baixíssimo nível cultural, de um país recém liberto de uma monarquia “semi-feudal”, com inúmera tradições burocráticas e medievais. Ao peso do boicote do imperialismo no mercado mundial, se somou a derrota dos processos revolucionários na Europa e a invasão dos 14 exércitos imperialistas que desencadearam uma furiosa guerra civil que matou a melhor parcela da vanguarda operária que estava a frente dos sovietes e do partido bolchevique.
Cabe observar cuidadosamente certas peculiaridades da Rússia: o burocratismo, o atraso secular, o autoritarismo dos governos czaristas (que governaram por séculos – basta ver a mentalidade dos seus funcionários e do povo russo nas várias obras de Dostoiévski e Tolstói), a inexistência de uma sociedade civil organizada, a repressão, trabalhos forçados, a tortura, deportação e execução de prisioneiros políticos (que era prática comum na história russa). Para muitos dos camaradas com quem procuramos polemizar, a degeneração se explica por ações isoladas do governo bolchevique, ou simplesmente por esse ser um “partido”. Claro que as ações do governo podem ser decisivas para o futuro de um sistema econômico e de uma revolução, tal como as ações do bolchevismo o foram em determinados casos, mas isso não pode ser considerado como o essencial em uma análise que se pretenda “marxista”. No geral, as ações dos governos bolcheviques estavam em consonância geral com os interesses dos trabalhadores russos, cometendo erros, equívocos e excessos em casos específicos que estavam marcados por guerras civis cruéis, desencadeadas não pelos bolcheviques, mas pelo imperialismo e pela burguesia russa. Quem não entendeu isso, não entendeu a questão de um ponto de vista classista e não poderá lutar por uma revolução!
É nesse contexto que se inserem os erros e excessos denunciados pelos camaradas no caso de Kronstadt[v], por exemplo; ou no caso da repressão ao exército ucraniano liderado pelo anarquista Nestor Makno, que exigia total autonomia do exército vermelho (o que pode ser questionável de um ponto de vista da estratégia militar). O mesmo não pode ser dito sobre os Processos de Moscou (1936-1938) e a coletivização forçada, já sob o governo de Stalin, que tinha um caráter bem diferente e o Estado soviético já somava 20 anos. Deveria se ter primado pelo desenvolvimento de outra cultura política e utilizar outros mecanismos, como os econômicos, ao invés das mentiras judiciais e dos métodos militares completamente dissociados das decisões dos sovietes. Isso tudo só demonstra que há um abismo entre o governo revolucionário dos primeiros anos da revolução e os anos posteriores do governo burocrático da camarilha comandada por Stalin. Colocar os dois erros no mesmo “saco de gato” denota certa ausência de análise dialética e influências não-proletárias.
Muitos dos referidos camaradas ainda sustentam que o problema foi o “centralismo” de Lenin, que se transformou no centralismo despótico de Stalin. Isso é uma distorção grosseira, pois o centralismo leninista foi uma necessidade para unificar o partido na época da clandestinidade (1899 até 1917), fortalecer o trabalho político, dar uma linha comum às diversas organizações revolucionárias, tal como uma via de duas mãos. Sem isso não teria havido a Revolução de 1917, apenas grupos clandestinos trabalhando separada e caoticamente, tal como baratas tontas. Algumas conclusões mais radicais contra o bolchevismo por parte de alguns camaradas parecem apontar que o melhor teria sido não tomar o poder (ou se tivessem tomado e seguido suas orientações políticas, o governo soviético não duraria 1 dia).
Lenin jamais defendeu que os militantes deveriam se submeter acriticamente a qualquer decisão de Comitê Central, nem que o centralismo de cima pra baixo deveria ser a forma do Estado socialista (tal como Stalin sempre defendeu, inclusive atribuindo esta bizarrice a Lenin). Tudo isso são distorções grotescas de pessoas interessadas em difamar o leninismo ou que nunca abriram uma única página dos seus livros. O centralismo democrático correspondia a condições de clandestinidade e extrema desorganização do movimento operário russo. Uma vez que outras condições materiais e sociais fossem atingidas, esta forma organizativa poderia ser substituída por outra. Lenin foi meridianamente claro sobre isso. Quem erigiu o centralismo em lei dogmática e absoluta foi Stalin e sua camarilha. Os elementos “mais preparados” defendidos por Lenin não são selecionados entre burocratas de Estado e “iluminados”, como ironizam os camaradas com quem polemizamos, mas os melhores revolucionários, mais conscientes, mais capazes de resistir às pressões ideológicas e políticas da burguesia; não “na teoria”, por decreto de governo ou por conveniências políticas de bastidores, mas pela experiência concreta na luta de classes.
Por tudo isso, Trotsky escreveu na sua última obra, não casualmente uma biografia de Stálin, o que segue: “é bastante tentador inferir que o futuro stalinismo já estava enraizado no centralismo bolchevique ou, de forma mais radical, na hierarquia clandestina dos revolucionários profissionais. Naturalmente, existem perigos de um tipo ou de outro no próprio processo de escolher e arranjar pessoas com pontos de vista avançados e soldá-las em uma organização fortemente centralizada. Mas as raízes de tais perigos nunca serão encontradas no chamado ‘princípio’ do centralismo; devem ser buscadas na falta de homogeneidade e no atraso dos trabalhadores – isto é, nas condições sociais gerais que tornam imperativa a direção muito centrípeta da classe por sua vanguarda. A chave para o problema dinâmico da direção está nas inter-relações reais entre a máquina política e seu partido, entre a vanguarda e sua classe, entre centralismo e democracia. Essas inter-relações não podem, por sua natureza, ser estabelecidas a priori e permanecer imutáveis. Elas dependem de condições históricas concretas; seu equilíbrio móvel é regulado pela luta vital das tendências que, representadas por seus extremos, oscilam entre o despotismo da máquina política e a impotência do prolixismo”[vi].
        Este trecho sustenta a importância de centralizar o trabalho revolucionário em um partido (entendido como organização dos trabalhadores conscientes contra o capital, e não como partido institucional e eleitoral numa perspectiva burguesa) em razão do atraso político e da alienação da maioria da massa. No entanto, este partido está submetido à condições históricas concretas e não ideais. Uma vez que não haja esta compreensão sobre a necessidade de uma direção para o processo revolucionário, caímos numa espécie de espontaneismo[vii] que é avesso ao espírito organizador e conscientizador da filosofia marxista (muito bem compreendido pelo bolchevismo). A noção de “dirigir” o proletariado não significa subjugá-lo, tratá-lo como gado; mas conscientizá-lo, conquistá-lo através do debate, da justeza das suas palavras de ordem em meio ao caos e à confusão das massas, tal como os bolcheviques o fizeram em 1917.
É por isso que a crítica de Otto Rühle contra o bolchevismo, escrita em 1939, é injusta e problemática. Ela coloca Lenin no mesmo saco que Stalin a partir de distorções grosseiras do processo histórico. Transforma os equívocos do bolchevismo numa caricatura grotesca e monstruosa, equivalendo o bolchevismo não apenas ao stalinismo, mas ao fascismo. Com uma grande borracha redutora apaga todo o passado bolchevique na clandestinidade; ignora as saudáveis polêmicas que o Iskra[viii] travou contra os partidos da IIª Internacional, os espaços cedidos para Rosa Luxemburgo apresentar sua versão de partido aos trabalhadores russos, a educação revolucionária contra a conciliação de centena de milhares de operários, dentre outras características extremamente positivas que nos faltam hoje. Um outro adepto da igualação entre bolchevismo e stalinismo é Noam Chomsky, o linguista norte-americano, que, a despeito de suas boas contribuições políticas de denúncia à ação do imperialismo ianque, tende a nos oferecer uma “saída” política diferente do bolchevismo que termina por misturar o anarquismo com a democracia burguesa.
Poderíamos concordar que a afirmação feita pelos bolcheviques (e reafirmada depois pelo stalinismo) de que “se pode exercer a ditadura do proletariado somente através do Partido Comunista” está equivocada desde que partíssemos de uma ressalva. O partido revolucionário é elemento fundamental e determinante de uma revolução, embora possam existir outras forças que exerçam a ditadura do proletariado, como o “Estado Comuna” ou outra forma de organização popular hoje desconhecida. Lenin e Trotsky sintetizaram a experiência russa desta maneira em razão da experiência exitosa da organização operária a partir dos partidos comunistas. Provavelmente existam outras maneiras de exercer a ditadura do proletariado e não apenas essa. Porém, a ressalva que se faz é que esta frase tem dois significados profundamente distintos: um dito pela boca do bolchevismo (Lenin e Trotsky); outro, completamente diferente, pela boca de Stalin.
A política praticada pelo stalinismo a partir de 1925 é completamente avessa a toda compreensão verdadeiramente leninista. O centralismo stalinista é burocrático e autoritário. Não conhece “via de duas mãos”, mas apenas o despotismo e as imposições de cima para baixo. Não há debate de ideias, apenas dogmas, decretos e ordens. Otto Rühle e Noam Chomsky sabem disso, mas preferem colocar um simples sinal de igual entre o bolchevismo e o stalinismo. Quando alguns camaradas, reproduzindo o espírito da crítica de Rühle, afirmam que ao invés de um centralismo de uma organização política devemos nos “centralizar pela classe”, isso pode ser compreendido, logicamente, como se “centralizar pelo espontaneísmo da classe”, ou seja, pela classe tal como ela é hoje. E a nossa classe hoje possui uma consciência burguesa ou pequeno burguesa. A citação de Trotsky defende a necessidade de um partido que tenha um “centralismo” político para lutar dentro da classe por uma política justa, que esbarrará num turbilhão de outras compreensões que jamais poderão dar a unicidade necessária para a luta revolucionária consciente contra a burguesia. Centralizar democraticamente significa debater e aplicar uma política justa no seio da classe, visando organizá-la para uma revolução com vistas a superar o capital; e jamais subordiná-la, enganá-la, bajulá-la. Aqui, novamente, o problema não é o “centralismo” em si, mas como ele é utilizado e compreendido.
Nesse sentido, defender o bolchevismo não significa ignorar seus erros, nem dogmatizá-lo. Há que se revisitá-lo permanentemente, mas reconhecer e preservar o seu valor histórico tal como ele merece: foi a primeira conquista do poder pelo proletariado! O que queremos sustentar com tudo isso é que não existem talismãs contra a degeneração: apenas o curso da luta real e teórica pode decidir. Certamente deve-se buscar as causas das derrotas, mas isso deve ser feita de forma dialética. Não é o caso dessas análises que jogam tudo fora, ignorando que uma revolução é um fenômeno complexo, que mexe com forças gigantescas, contrárias e dinâmicas, não sendo possível nenhuma garantia de um êxito perfeito.
Não podemos idealizar as massas. A autoridade é parte concedida pelos subordinados e parte construída em cima dos medos (medo da punição, da demissão, da perseguição, da desagregação – o chamado “espírito de rebanho” da filosofia nietzschiana). Um partido revolucionário, para receber esse nome, necessita desenvolver a ideia de que as massas não devem seguir nenhuma liderança ou partido por medo (inclusive ele próprio), mas por convicção, por compreender as suas ideias e perceber a justeza de suas posições. Foi precisamente este o papel do bolchevismo sob Lenin. Somente este método pode preparar as condições para dissolver a necessidade de uma direção e criar coragem e capacidade para que as massas avancem para a autogestão. Em suma: precisam ser ensinadas, desde a mais tenra infância, a agir desse modo. Porém, isso só será possível em um outro regime social, que chamamos de socialismo. É uma calúnia atribuir ao bolchevismo a intenção de “centralizar tudo em si, obrigar as massas a obedecê-los, tratá-las como crianças”. Isto é, precisamente, o stalinismo. O bolchevismo exigia disciplina e respeito às decisões da maioria (ou tudo isso não é necessário para se fazer uma revolução?); tampouco idealizava as massas e, muito menos, o seu espontaenísmo.
Há que se examinar com lupa todas as posições que procuram igualar bolchevismo e stalinismo. Os trabalhadores conscientes devem desconfiar duplamente daqueles que lhes dizem que não é necessário partido, direção, programa e política. Os verdadeiros amigos do proletariado dizem-lhe claramente: precisamos que os trabalhadores criem uma organização (partido), uma estratégia (programa) e uma política (ação social consciente) que defenda os seus pontos de vistas. E estes amigos ainda acrescentarão: não é sábio jogar fora a experiência das derrotas e, muito menos, das vitórias!

Frustração e revolução!
      Muitos camaradas querem um processo revolucionário livre de contradições, quase como uma estrada de tijolos amarelos. Isso nunca existiu e nunca existirá. A toda revolução corresponde uma contrarrevolução. E uma contrarrevolução traz sempre o germe da degeneração, do medo, da traição. Os trabalhadores avançados precisam estar plenamente conscientes de que quem luta pode ser traído e derrotado. Não há uma fórmula mágica, nem um jeito de acabar com a frustração. Aos trabalhadores conscientes cabe se preparar para tudo isso e não se deixar paralisar ou criar empecilhos de antemão. Estudar e tirar as lições históricas de tudo. Quem teme a frustração jamais poderá fazer uma revolução!
O espírito de um revolucionário deve ser como o de Marx, que escreveu o seguinte: “As revoluções proletárias, como as do século 19, criticam-se constantemente a si próprias, interrompem-se constantemente na sua própria marcha, voltam ao que parecia terminado, para começar de novo, troçam profunda e cruelmente das hesitações dos lados fracos e da mesquinhez das suas primeiras tentativas, parece que apenas derrubam o seu adversário para que este tire da terra novas forças e volte a levantar-se mais gigantesco frente a elas, retrocedem constantemente perante a indeterminada enormidade dos seus próprios fins, até que se cria uma situação que torna impossível qualquer retrocesso”[ix].
        O principal caminho é o da luta teórica, que deverá classificar e testar todas as posições políticas através do debate de ideias e, principalmente, da prática. As experiências que ficam devem ser agarradas com unhas e dentes pelos trabalhadores conscientes e ser incorporada ao marxismo e às teorias socialistas como grandes relíquias do pensamento humano. De resto, sobram apenas lamentações, aos quais teremos que deixá-las para quem vai visitar o famoso muro de Jerusalém.
        Devemos ir além da dicotomia cristã de “bem X mal” e do pragmatismo burguês, que classifica tudo conforme a ótica de um consumidor de classe média que compra um produto e exige seus direitos no PROCON se ele “não funciona”; ou seja, aquela visão simplista que afirma: “o socialismo não dá certo”, tal como se ele fosse construído nas nuvens e pudesse ser medido pelo lucro individual e não como um processo histórico repleto de contradições. Uma revolução engendra uma guerra civil contra os exploradores, o que acarreta violência, conflitos políticos, civis e militares. Tudo isso pode nos levar à degeneração (tal como aconteceu na Rússia durante o curso da década de 1920). Não podemos esperar uma revolução mágica e “perfeita” a partir de uma receita de bolo (como “se centralizar pelo espontaneísmo da classe”), sem contradições ou problemas novos. O socialismo e o comunismo não acabarão com as contradições. Apenas criarão novas bem distintas das atuais, que se baseiam na exploração do trabalho e na miséria humana. Não sabemos exatamente quais serão elas; e seria um exercício vão tentarmos adivinhar. Porém, a experiência com as revoluções do século 20 nos dão algumas pistas.
        O debate para superar a “crise do socialismo” está muito menos no peso da “ditadura do proletariado”, no regime do terror e na sua posterior degeneração expressa nos regimes stalinistas (que tem causas bastante compreensíveis e evidentes), do que na necessidade de desenvolver a psicologia de massas do socialismo, a educação, a autonomia individual que respeite a coletividade e a individualidade dentro daquela, que combata a apatia, a repressão moral-sexual e o espírito de rebanho. Os problemas do “socialismo” expressos no século 20 – tal como a sua degeneração em ditadura stalinista – é causa ou consequência do espírito de rebanho presente em grande parte da massa? Quem pode afirmar seguramente qual dessas duas opções é a preponderante? É justamente esta problemática que está colocada para a futura geração de revolucionários que poderá superar esta crise, e não os olhos no passado que condena as vitórias do proletariado e exalta o espontaneísmo. É saber como casar a direção política das massas com o seu espontaneísmo, sem castrá-lo ou oprimi-lo, porém, sem deixá-lo correndo atrás da própria cauda ou o que é pior: canalizado e dirigido pela burguesia! São precisamente estas questões que a burguesia quer esconder dos trabalhadores, lançando preconceitos anti-partido, anti-organização e anti-bolchevique.
        A grande contradição a ser resolvida por nós no atual período histórico é: uma massa de trabalhadores que tende ao “rebanho” cego e à falta de iniciativa que busque sua liberdade (chegando ao cúmulo de combater a ação de indivíduos ou organizações socialistas, exaltando candidatos e partidos fascistas). A questão é: a crítica injusta ao bolchevismo ajuda ou atrapalha a solução desta contradição? Fortalece a luta contra o espontaneísmo ou ajuda a jogar areia nos olhos dos trabalhadores? Todos os socialistas, incluso Marx e Lenin, pensavam que as mudanças na base econômica iriam resolver a alienação dos trabalhadores automaticamente. Porém, a experiência com a Revolução Russa demonstra que é necessário uma intervenção muito mais consciente nesse processo, inclusive do ponto de vista psicanalítico, ajudando a criar a futura psicologia de massas e a autonomia necessária à autogestão.
        A engenharia política do bolchevismo demonstrou um caminho e uma técnica para a insurreição popular, que deve sempre ser tratada da maneira mais cuidadosa possível. A degeneração do Estado soviético, longe de ser de responsabilidade direta do bolchevismo, necessita ter uma política consciente de combate à burocratização, às pressões internacionais e nacionais, bem como uma educação para a autonomia, a autogestão, a emancipação política, econômica, moral e sexual das massas. Os sinais mais evidentes para a construção do socialismo não serão dados pelos índices de crescimento econômico, mas pela capacidade da educação pública e da política criarem indivíduos independentes, críticos e autônomos que trabalhem em consonância com a coletividade. A sua capacidade de iniciativa e empreendedorismo nada tem a ver com a compreensão burguesa, mas com a construção e a solidificação de uma sociedade em que o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos.
        Talvez a grande questão para qualquer revolução que pretenda criar um novo governo e um novo sistema econômico seja estabelecer um novo equilíbrio que seja diferente do atual, que está visivelmente saturado. A sociedade, bem como os sistemas bioecológicos presentes na natureza, baseiam-se em equilíbrios. Os sistemas econômicos e as classes sociais criaram diversos tipos de equilíbrios ao longo da história. Nesse sentido, a revolução e o comunismo devem criar um novo equilíbrio, com novas instituições que deem suporte a este novo equilíbrio. Os revolucionários precisam refletir suas tarefas nesses termos, embora isso jamais possa redundar num reformismo e numa adaptação ao sistema atual (no caso, ao equilíbrio vigente na nossa época). O partido revolucionário deve estar atento a busca desse novo equilíbrio dentro da massa, para que a nova sociedade consiga se estabelecer da melhor maneira possível e gere o peso correto capaz de equilibrá-la.
        Os bolcheviques – meio consciente, meio inconscientemente – deram os primeiros passos nesse sentido. O stalinismo destruiu esses passos e apagou as pegadas na areia.


NOTAS


[i] "Termidoriano" vem de "termidor", uma expressão que foi instituída pela Revolução Francesa a partir do seu novo calendário. Neste "novo" período do ano (correspondente a 27 de julho de 1794 do calendário cristão) os jacobinos foram derrotados por uma fração da direita reacionária – os girondinos – que abriu o caminho a Napoleão, sem, no entanto, chegar a restaurar o regime feudal. Trotsky utiliza o termo, por analogia, para designar a tomada do poder pela burocracia stalinista no seio do Estado Operário, sem, apesar disto, restaurar plenamente o capitalismo.
[ii] “Bolchevismo e stalinismo”, de Leon Trotsky.
[iii] Idem.
[iv] “A revolução de outubro”, de Leon Trotsky. Em algumas edições do mesmo livro o título é “Como fizemos a revolução de outubro?”.
[v] O caso de Kronstadt seria marcado por uma repressão do governo bolchevique (ainda dirigido por Lenin e Trotsky) contra os marinheiros e soldados dessa fortaleza no mar do norte (próximo à Finlândia) que, em meio à guerra civil contra os 14 exércitos imperialistas, exigiam maiores liberdades políticas e econômicas. Com medo de incentivar tendências burguesas, o então governo bolchevique reprimiu duramente a manifestação, fato que ainda hoje é denunciado pelos anarquistas.
[vi] TROTSKY, Leon. Stálin, Editora Movimento, São Paulo, setembro de 2017
[vii] A espontaneidade revolucionária é uma tendência a acreditar que a revolução social pode e deve ocorrer espontaneamente a partir de baixo, sem a ajuda ou orientação de uma parte de vanguarda, e que não pode e não deve ser provocada por ações de indivíduos ou partidos que possam tentar fomentar tal revolução.
[viii] Antigo jornal bolchevique, no qual foi publicado o livro de Lenin “Que Fazer?” e muitas polêmicas teóricas (inclusive de adversários do bolchevismo).
[ix] Trecho de "O 18 brumário de Luis Bonaparte", de Karl Marx.