Após
postar o texto Basta eleger a esquerda institucional para a situação melhorar?, publicado no dia 28 de dezembro,
no grupo Magistério Público Estadual do facebook, muitos ataques despolitizantes foram feitos, o que traz à tona a
importância de os analisarmos sob uma luz crítica. O grupo em questão possui
uma comunidade virtual de cerca de 17 mil pessoas, sendo, portanto, uma boa
expressão do que pensa e escreve o magistério público do RS. A linha política
hegemônica no grupo é a petista, apesar de haver pequenos setores mais à
esquerda e mais à direita.
Cabe chamar a atenção para os
argumentos (ou a falta deles) de algumas pessoas deste grupo – por serem muitos
e por serem, no essencial, bizarros, selecionamos apenas alguns que sintetizam
repetições recorrentes:
1)
Muitos que “criticaram” o texto sequer o leram. Se por ventura o leram, não o
entenderam (ou não quiseram entendê-lo porque contrariava suas convicções
íntimas). O título serviu como uma espécie de barreira e já acionou gatilhos
emocionais de ódio ou de aversão.
Essa
observação também vale para algumas pessoas que “apoiaram” o texto, apenas
lendo superficialmente o título.
2)
O argumento mais utilizado para criticá-lo, sem conhecimento de causa, é o
mesmo de sempre – e é tipicamente petista: “Este
tipo de texto às vésperas de uma eleição só nos fragiliza”. Ou seja, não há
abertura para debater o conteúdo do texto e também não se explica exatamente o
motivo de “nos fragilizar”. Também não aponta qual seria o momento “correto” de
se fazer essa discussão (o que nos deixa livre para concluirmos que,
provavelmente, seria o dia de são nunca).
Outro
“crítico” diz o seguinte: “Complicado
esse tipo de discussão em determinados momentos, que aliás por esse viés levou
o magistério a eleger a direita”. Aqui, mais uma vez, o “crítico” sequer
leu o texto e reproduz a essência da fala anterior. Incorre no erro de pensar
que o magistério sozinho pode eleger ou não um governador (o que dirá um
presidente da república?). O peso eleitoral existe, mas a categoria é visivelmente
heterogênea e pragmática – fruto de uma crise de direção sindical e de formação
teórica que só se agrava.
Ou
seja, tal como o bolsonarismo, este tipo de conduta não quer debate algum: quer
apenas gado, que siga, vote e não discorde de nada. Aonde nos leva esse tipo de
“crítica” senão ao total esmagamento de qualquer diferença sincera e honesta?
3)
Uma “crítica”, vendo o debate por um prisma mais tacanho ainda, ataca pelo seguinte
flanco: “Se não basta votar na esquerda
para resolver os problemas, devemos votar em quem? Na terceira via?”. Esta
pessoa certamente não se deu o trabalho de abrir o link para ler o texto, dado
que nele não há em nenhum momento discussão sobre o voto; aliás, trata-se de
uma crítica a uma política sindical de mais de 30 anos, que tornou-se,
praticamente, uma cultura sindical. O texto analisa detalhadamente a forma de
funcionamento do parlamento burguês, independentemente das eleições – portanto,
observam apenas a instituição a qual as eleições visam preencher as vagas,
independentemente de quem as vençam. Sobre isso, que é a essência e a razão de
ser do texto, nenhum “crítico” falou uma única vírgula.
Nesse
sentido são movidos por gatilhos emocionais, tal como o é a base bolsonarista,
que não debate argumentos e ideias, mas simplesmente acusa e reproduz discursos
de ódio (em maior ou menor medida). Espera-se que aqueles que pretendem vencer
o bolsonarismo hajam com mais sagacidade e capacidade argumentativa; mas o que
vemos, infelizmente, é uma espécie de movimento correlato à “esquerda”.
4)
“Críticos” mais desesperados, percebendo as respostas dadas ao longo dos
comentários anteriores – e provavelmente sem ler o texto também –, foram
apelando cada vez mais, até que chegamos a esta mediocridade: “Discurso burro da direita. A direita sempre
foi vadia por ofício e mentirosa por vício”. E outro, mais além,
complementa: “Eu já imaginava que,
chegando próximo às eleições, era inevitável a direita se manifestar no grupo.
Faz parte. Só não entendo que colegas façam campanha contra si mesmos. Ou é um
robô que cópia o mesmo texto como resposta pra todos”.
O
“robô” em questão era a essência das respostas repetidas aos comentários de
desprezo, dado que as “críticas” eram basicamente as mesmas: preocupação unicamente
com o voto, com o apoio cego a qualquer candidato petista e o discurso fajuto
de que qualquer crítica ao PT fortalece automática e irremediavelmente a
direita. Seriam suas convicções políticas e os seus projetos de governo tão
frágeis a esse ponto? Tudo indica que sim.
5)
Certos “críticos” reproduzem frases ocas ouvidas na luta contra o bolsonarismo,
como, por exemplo, a acusação de “negacionismo”. O que, por exemplo, há de
negacionismo no conteúdo do texto? Ainda que o discurso de muitos petistas não
seja de ódio fascista, puro e simples, tal como é o bolsonarismo, podemos
perceber certa tendência à repetição e à uniformização; sendo que em alguns
casos descamba para o ódio aberto. Reparem o nível: “não mando abraço pra quem luta contra o sindicato ou contra o partido
de que faço parte. Aprenda a fazer uma política pública que defenda quem te
defende”.
Muitos
desses “críticos” julgam-se os campeões da defesa da classe trabalhadora,
quando são, na verdade, parte fundamental da sua ruína. Há, na maioria dos
casos, apenas uma defesa das suas condições profissionais específicas – isto é,
corporativas – disfarçadas de “defesa da classe trabalhadora”.
Podemos
perceber, infelizmente, tanto no grupo do facebook, quanto na prática sindical
brasileira, que é cultivado um certo nojo físico pelos adversários. Não estamos
trabalhando para esclarecer divergências para crescermos juntos, mas dando
vazão à imposição inquestionável e, portanto, autoritária de caminhos já
trilhados como “novidade” e como “única saída”. Nem no CPERS e na maior parte
da militância petista, nem nesses “críticos” virtuais, há o menor vestígio de
um exame de consciência. Estamos muito longe disso.
As
nossas certezas de ocasião e pessoais são as principais impulsionadoras dos
discursos virtuais de ataque à posições minoritárias como os apresentados
acima. Argumentos pobres, vulgares, sem conhecimento de causa em sua maioria é
o que tem caracterizado o miserável debate público do magistério estadual do
RS. O mais engraçado é que grande parte destes “críticos” se dizem contra a
direção central do CPERS, mas, na prática, como vimos, aprovam integralmente a essência
da sua política.
Assim,
julgando-se os campeões da democracia, este tipo de militância nada mais faz do
que reforçar a (de)formação política que leva ao fortalecimento das práticas
que, por sua própria natureza, só podem dar vantagem ao inimigo que
supostamente combatemos: isto é, por jogar no campo do inimigo, com os seus
métodos, dá vigor e força à direita e ao próprio bolsonarismo.