quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Fatos e mitos sobre a Revolução Farroupilha

O Brasil entra na História de Portugal em 1500. O Rio Grande do Sul em 1750; 250 anos depois. A então chamada Província de São Pedro do Rio Grande do Sul (o “Continente de São Pedro”) fundou-se como um acampamento militar para guarnecer a fronteira sul do Brasil contra os espanhóis. Com uma “proteção” geográfica natural através do Pantanal e da Amazônia, de um lado, e do oceano Atlântico, do outro, o norte, nordeste, sudeste e centro-oeste estavam fora de perigo direto, mas o sul não. Todas as maiores guerras estrangeiras que o Brasil esteve envolvido passaram pelo sul do país e, particularmente, pelo Rio Grande do Sul.

Durante um impasse de sucessão da corte imperial, que ficou conhecido como período regencial, muitas províncias periféricas procuraram separar-se do império. A Revolução Farroupilha insere-se em todo este contexto. As principais bandeiras políticas do Partido Farroupilha eram: separação do império do Brasil, instituição de um governo republicano, a retomada do comércio de charque com o império e demais países da América Latina e do mundo. O governo imperial optou por importar charque do Uruguai e da Argentina, cujos preços eram mais baratos, uma vez que estes países já haviam abolido o trabalho escravo e introduzido o trabalho assalariado. A luta econômica envolvendo o charque foi o verdadeiro estopim da Revolução. As demais bandeiras, como o separatismo e o governo republicano, eram meios.

Pintura de um Lanceiro Negro: os verdadeiros
heróis da "liberdade, igualdade e humanidade"
Do ponto de vista social, o Partido Farroupilha era composto por latifundiários e estancieiros, que se preocupavam com os negros apenas em uma aliança conveniente: estes entravam como bucha de canhão na luta contra os imperiais e se subordinavam, como baixa patente, aos exércitos dos estancieiros. Teoricamente, em caso de vitória, ganhariam a liberdade. Mas a verdade é que a cúpula do Partido Farroupilha sempre foi dividida em relação à escravidão negra, o que não lhes dava nenhuma garantia real. A ala de Bento Gonçalves era a favor da abolição; a de Davi Canabarro, não. Entrou para a História a grande traição aos lanceiros negros na batalha de Porongos, onde encurralados, o exército farroupilha largou os bravos lanceiros à própria sorte. O povo gaúcho, se quisesse realmente homenagear a bravura de seus supostos “heróis”, deveria pôr abaixo a estátua de Bento Gonçalves na Av. João Pessoa, e erguer uma para os lanceiros negros, porque para eles a luta por liberdade, igualdade e humanidade não eram palavras ao vento.

Os ianques venceram o sul escravista na Guerra de Secessão justamente porque não titubearam em abolir a escravidão e levar o seu liberalismo até as últimas consequências. Como todos sabem, a Revolução Farroupilha terminou esmagada pelo império brasileiro. Soma-se à vacilação e ao ecletismo político dos dirigentes estancieiros, o insuficiente desenvolvimento das forças produtivas econômicas. O Rio Grande do Sul era predominantemente rural, agro exportador. Ao contrário dos nortistas na Guerra de Secessão norte-americana, a República Rio Grandense não era industrializada.
Mesmo havendo aspectos positivos e personagens notáveis, como o revolucionário Giuseppe Garibaldi, não se pode fechar os olhos para o significado da Revolução Farroupilha, bem como para o ufanismo imbecilizador da grande mídia, que utiliza o 20 de setembro como outra forma de nacionalismo. O que significa comemorar a Revolução Farroupilha? Os estancieiros conquistaram suas reivindicações: o charque gaúcho voltou a ser comprado pela capital do império; já o povo negro amargou mais 43 anos de escravidão. A ala do Capitão Rodrigo foi definitivamente derrotada pela do Bento Amaral.


O separatismo, por sua vez, tornou-se um romantismo estupidamente reacionário. Mais do que o mercado único e o intercâmbio econômico, político, cultural, social com o resto do Brasil, nós precisamos da unidade política de um único proletariado para lutarmos unificadamente contra a burguesia brasileira – serviçal do imperialismo –, e não de mais fragmentação, barreiras alfandegárias, taxas, tarifas. Os trabalhadores não têm pátria. Sua tarefa é destruir as fronteiras, e não criar novas!

2 comentários:

  1. O texto acima tem seu valor...mas precisamos falar no dia de hoje de maneira como um Alerta...os homens e mulheres pobres e até miseráveis de hoje vivem como os escravos estavam no Império...Não se iludam....a ganância dos mais ricos e o comportamento dos políticos corruptos que sempre existiu desde o início da nossa História ainda é maior e os trabalhadores são os escravos brancos negros mestiços que têm que se unir e lutar para mudar...mas de baixo para cima.

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