segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O que estão ensinando às nossas crianças sobre “socialismo”?

É comum ouvir de políticos e ativistas que a “educação pode mudar o mundo”. Segundo eles, o futuro da sociedade não estaria na conscientização para a luta, mas na “educação”. Sem dúvida ela tem um grande papel social, mas o problema reside em quem educa os educadores? Quem elabora os currículos e os livros didáticos? É sabido que a definição dos currículos escolares é obra do ministério e das secretarias de educação – instituições controladas pela burguesia e pelo Banco Mundial. A “educação”, portanto, é mera reprodutora da lógica do sistema. A pedagogia capitalista não tem um planejamento central, compartilhada por toda a sociedade, mas apenas técnicas isoladas, que visam “formar mão de obra qualificada para um mercado cada vez mais competitivo”. O resultado é o caos: ocorre a todo instante conflito das técnicas pedagógicas entre os professores, os pais, a direção, a escola e de todos com a sociedade. Em linhas gerais, poderíamos dizer que quem educa realmente é a grande mídia.

Por tudo isso, a escola pública capitalista não pode desenvolver novas relações humanas, mais harmoniosas, menos competitivas; pelo contrário, seu objetivo é preservar a velha ordem das coisas: naturalizar a exploração de classe, incentivando objetivos individuais, como a ganância, a competição, a exclusão, a “estudar para não trabalhar”, o que, por conseguinte, desestimula o trabalho intelectual e manual. Em razão da política econômica capitalista de cortes de verbas, podemos dizer que a escola pública está parada no século 19, com giz, quadro negro e mapa bidimensional. As ordens do Banco Mundial e do FMI são de cortes de gastos públicos para tentar conter a crise. A declaração do deputado Osmar Serraglio (PMDB), apoiador de Dilma e do seu corte de R$60 bilhões no orçamento, ilustra bem como o capitalismo trata a educação pública: “Os cortes são pedagógicos porque mostram que o governo está disposto a ser austero para evitar que o país sofra com a instabilidade econômica"[1].

Não muito tempo atrás, a burguesia gaúcha, através da sua mídia, atacou duramente uma escola itinerante do MST, porque esta ensinava sobre “luta de classes”, alegando que isso era “ensino ideológico”. Mas o que faz a burguesia através das suas secretarias de educação e das diretrizes do Banco Mundial, senão ensinar a sua ideologia com a finalidade de preservar a sua ordem social? Isso fica visível se analisarmos criticamente a forma como o atual conteúdo curricular das Ciências Humanas aborda o tema do “socialismo”. Imperam nos livros didáticos conteúdos que associam “socialismo” à “ditadura”, “racionamento”, “ilusão” etc.; isto é, um discurso que reproduz a ideologia burguesa sobre a “restauração capitalista”, qual seja: “que o socialismo é irrealizável e inferior ao capitalismo”. Sem respeitar nenhuma análise realmente científica sobre o que foi a União Soviética (URSS) e os demais “países socialistas”, a burguesia quer evitar que os trabalhadores e os seus filhos voltem seus olhos para o socialismo – ainda mais em um momento de crise –, uma vez que este representa a única alternativa consequente à barbárie capitalista. Se faz necessário, portanto, uma releitura crítica de tudo o que é ensinado nas escolas sobre “socialismo”, para que os educadores proletários possam reelaborar estes currículos com a finalidade de auxiliar a luta dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que pensam numa nova pedagogia e na escola pública que queremos.

I
Desde os seus primórdios, no século 19, o socialismo marxista sofreu os mais virulentos ataques das classes dominantes. Com o triunfo da revolução russa no início do século 20 esta campanha se intensificou monstruosamente. Na tese “Onda vermelha – imaginários anticomunistas brasileiros (1931-1934)”, publicado como livro em 2001, foi demonstrado com diversas provas a campanha de distorções internacional orquestrada pelo imperialismo para isolar e destruir a URSS. O centro desta campanha era o seguinte: nada que existisse no “socialismo” soviético poderia passar aos olhos do mundo como “positivo”, uma vez que “aquilo que acontecia na Rússia era visto como ‘o comunismo’, fazendo com que qualquer outra experiência dita comunista obrigatoriamente fosse vista como um espelho daquela, sem diferenças. Para isso, todo o histórico do termo era completamente desconsiderado[2]. Os socialistas eram retratados como lunáticos, baderneiros e criminosos.

A difamação do socialismo ia do campo político para o terreno moral e religioso. O Correio do Povo, por exemplo, destacava em suas matérias que “a Rússia era um país sem deus e sedento de sangue”. Em outro artigo o jornal dizia que “o regime de barbárie na Rússia só se sustentava porque estava associada à forças satânicas, enveredando o país na mais satânica das organizações”[3]. As falsificações sensacionalistas destes jornais eram complementadas pela propaganda anticomunista da Igreja Católica, que reforçava e dava autoridade a estas mistificações, uma vez que o comunismo ameaçava diretamente suas propriedades e o seu controle sobre a educação. Em um país majoritariamente religioso, a apelação desta associação entre “comunismo” e “satanismo” representa um estrago ideológico sem precedentes. Há, também, em razão do profundo anti-semitismo do século 20, a associação mística entre “comunismo” e “judaísmo”. A “revolução comunista” seria um plano judeu para conquistar o mundo. Getúlio Vargas e Adolf Hitler se utilizaram deste amálgama.

A URSS precisava ser combatida e caluniada porque havia mostrado à classe operária, pela primeira vez na História, como tomar o poder da burguesia e como conservá-lo. A orientação da burguesia frente ao governo bolchevique iniciado em 1917 era a seguinte: “O bolchevismo seria um novo tipo de revolução, pois era militarmente organizado, através da existência de um partido que potencializava os interesses das classes operárias. (...) Pode-se discutir o rigor científico de suas concepções sociais, mas não é possível contestar-se o rigor científico de sua técnica revolucionária, o que é essencial conhecer-se, se se deseja fazê-lo malograr-se[4]. A conclusão da tese é que “o anticomunismo não tem referencial apenas no Partido Comunista Brasileiro (PCB) ou outra organização específica, mas sim na organização autônoma da classe operária, que pode ser dada no Partido ou em sindicatos, ou ainda em lutas cotidianas extra-sindicais”[5]. Ou seja, a propaganda anticomunista visa manter a classe trabalhadora presa ao capitalismo, sem direção política, alienada, inconsciente e sob controle estrito da burguesia.

Os currículos e livros didáticos das escolas públicas resumem e reproduzem toda esta propaganda burguesa aos filhos dos trabalhadores, aproveitando-se da ingenuidade política das crianças e jovens, modelando-os como defensores inconscientes da ordem capitalista – a mesma que os oprime, lhes tira a perspectiva de futuro, lhes corta as verbas da educação, saúde, moradia, etc. para dar aos bancos e aos especuladores.

II
Os livros escolares atuais isolam a Rússia de sua época histórica para obscurecer os fatos e favorecer sua posição política pró-capitalista. É utilizando-se deste método que os livros didáticos tratam as experiências de URSS, leste europeu, Cuba e China, que, ao invés de construírem a ditadura do proletariado, tornaram-se ditaduras burocráticas sobre o proletariado, e as contrapõe à democracia burguesa. Mas não fazem nenhuma análise séria do por que e como se tornaram “ditaduras burocráticas”? Simplesmente omitem o período da democracia operária nos sovietes nos primeiros anos da revolução russa. Abaixo vai uma sugestão de como trabalhar estes conteúdos em sala de aula:

a) Ascensão (1917 – 1924): etapa dirigida por Lenin e Trotsky, que teve o papel fundamental de consolidar a revolução e lançar as bases do Estado Operário.

Este período foi caracterizado por ser democrático e revolucionário, com as instituições políticas mais progressivas que a História já viu: os sovietes (conselhos operários), que existiam em todas as fábricas, aldeias, escolas e regiões. Administravam a produção de sua instituição de forma coletiva, bem como as questões de governo, enviando delegados aos Sovietes superiores e realizando periodicamente Congressos dos Sovietes de toda a Rússia. É o oposto do que vemos hoje na democracia burguesa, onde o eleitor só vota de 2 em 2 anos e não tem nenhuma ingerência sobre o seu eleito. O jornalista norte-americano John Reed, que acompanhou pessoalmente a revolução de 1917, descreve tudo no seu livro “Como funcionam os sovietes”. Com a ascensão da burocracia stalinista, os sovietes foram pouco a pouco burocratizados, com perda de sua autonomia e com dirigentes escolhidos por ela.

O governo revolucionário da URSS deste período era a expressão dos “trabalhadores no poder”, uma vez que ele concretizou todas as principais reivindicações da classe trabalhadora russa e lançou os alicerces do socialismo: retirou o país da guerra (praticamente levando ao fim da 1ª Guerra Mundial), expropriou o pão da monarquia czarista, da burguesia e dos camponeses ricos (kulaks), estatizou os bancos, as estradas de ferro e deu terra aos camponeses pobres, acabando com o latifúndio e com o atraso secular no campo. “A justeza da direção é verificada precisamente na execução. A segurança e a perspectiva da direção não se confirmam senão quando as palavras e os atos batem”[6]. Os políticos capitalistas tornaram-se conhecidos pelos seus dois discursos: um eleitoral e o outro de governo. Isso não é uma casualidade. No capitalismo todos os governos servem para “administrar os negócios da burguesia” e, por isso, governam contra o povo, mas não podem fazer e nem dizer isso abertamente; palavras e atos não batem!

Foi na URSS do período revolucionário onde a mulher conquistou seus primeiros cargos no poder, o direito ao voto, ao divórcio, ao aborto, a igualdade jurídica com o homem. A mulher soviética também assumiu os primeiros cargos de responsabilidade na direção do Estado: comissariado do povo, presidência dos sovietes, cargos de diplomacia, dentre outros. O caso mais famoso foi o de Alexandra Kollontai, comissária do povo e diplomata. A imprensa burguesa mundial condenava isto dizendo que política não era lugar pra mulher, mas sim a moda que era “assunto de interesse imediato e diretamente feminino”[7]. Também no campo artístico e pedagógico surgem inúmeras correntes, como a de Vigotsky, Makarenko, Pistrak, etc., que seriam perseguidas durante a época stalinista.

Apesar destas conquistas operárias no período de 1917 até 1924, a URSS estava arruinada pela guerra mundial, que acabou em 1918 para o mundo, mas continuou em território russo até 1921. Uma coalizão de países imperialistas invadiu a URSS para derrubar o governo bolchevique, que travou uma luta de morte, onde foi erigido o Exército Vermelho. Nesta época o regime era “obrigado a lutar mais por sua sobrevivência do que pelo seu desenvolvimento”[8]. Desde o fim da Guerra Mundial a Rússia viveu permanentemente em estado de guerra, de sabotagem interna, de embargo econômico internacional. A produção econômica caiu para índices anteriores à deflagração da 1ª Guerra em 1914. Apesar disso, “nunca se publicou tantos livros e nunca os antigos povos subjugados pelo czarismo leram tanto como depois da revolução. A receita do Estado para a educação e a cultura era a segunda maior, mesmo durante a guerra civil (1918-1920), promovendo a publicação, nesse período, (...) de 6 milhões de exemplares. Krupskaia e Lunatcharski [Comissários do Povo para educação] estudaram e trabalharam com colaboradores de diferentes concepções pedagógicas, desde não comunistas, até anarquistas. (...) Krupskaia afirmava: ‘Em nossa época transitória, a escola deve contribuir por todos os meios para desenvolver os instintos sociais nas crianças e nos adolescentes’”[9].

1919: Trotsky, Lenin e Kamenev conversam durante a Guerra Civil


Estes fatos, não por acaso, nunca foram veiculados na imprensa burguesa e nem nos livros didáticos escolares. O que vimos foi uma campanha mundial de difamação e falsificação sem igual sobre o primeiro Estado Operário da História, que se caracteriza por não distinguir “entre o período de guerra civil, ou mesmo da participação na I Guerra Mundial, ou ainda o período leninista e stalinista”[10].

b) Degeneração – período do Termidor soviético: foi na década de 1920 que a burocracia stalinista surgiu e se consolidou. A expressão “termidor” vem do mês do calendário instituído pela Revolução Francesa, em que os jacobinos foram derrotados por uma fração da direita reacionária – os girondinos – que abriu o caminho a Napoleão, sem, no entanto, chegar a restaurar o regime feudal. Trotsky utiliza o termo, por analogia, para designar a tomada do poder pela burocracia stalinista no seio do Estado Operário, sem, apesar disto, restaurar o capitalismo.

A degeneração do regime bolchevique em stalinismo somente foi possível em função da conjuntura histórica (ignorada pelos livros didáticos escolares): guerra mundial, guerra civil, atraso econômico secular da Rússia, derrota da revolução européia. A casta burocrática de Stálin assenhorou-se do poder e alijou o proletariado (fenômeno semelhante ao que se passa nos sindicatos). “O Estado Operário, transitório entre o capitalismo e o socialismo, é um organismo, por natureza, contraditório. Isso decorre da própria realidade econômica e cultural: o insuficiente desenvolvimento das forças produtivas e a herança cultura burguesa. (...) A economia do regime de transição convive com o trabalho assalariado, forma burguesa de remuneração do trabalho. O salário, como pagamento da força de trabalho, mantém um certo nível de injustiça social ao mesmo tempo que estabelece a justiça nas próprias relações de propriedade”[11].

Como reflexo da vitória bolchevique, houveram explosões de revoltas populares em vários países, sobretudo na Europa: Alemanha, Itália, Hungria. No Brasil, este reflexo se deu na única greve geral de sua História, ocorrida em 1917. Por culpa das direções políticas, todos estes processos foram derrotados, selando o isolamento político e econômico da URSS: “Sem dúvida que, no caso de a revolução ter triunfado na Alemanha (e somente a social-democracia impediu seu triunfo), o desenvolvimento econômico da URSS, como da própria Alemanha, teria prosseguido a passos de gigantes, de tal modo que os destinos da Europa e do mundo se apresentariam hoje sob um aspecto muito mais favorável”[12]. A burocracia stalinista é causa e consequência do processo de reação que se abre em nível mundial com o fim deste primeiro ascenso. No mesmo período desenvolve-se o nazi-fascismo na Europa, o “Estado Novo” getulista no Brasil e diversas ditaduras em outros países. Os livros didáticos induzem que a burocracia seria uma conseqüência natural do “controle estatal” socialista, conforme se vê neste livro de geografia: “O controle estatal sobre todos os ramos da economia e da política soviética consolidaram uma enorme e ineficiente estrutura burocrática e governamental”[13]. A ideia contida nesse trecho repete-se nos demais livros didáticos.

III
“Os três primeiros anos – escreveu Trotsky – foram de uma guerra civil aberta e dura. A vida econômica foi inteiramente subordinada às necessidades das tarefas de combate”[14]. Daí veio o “comunismo de guerra” dos primeiros anos. Vencida a guerra civil, era necessário colocar a vida econômica em ordem para iniciar a edificação do socialismo e servir de ponto de apoio para a revolução internacional. Foi nesse contexto que surgiu a Nova Política Econômica (NEP), que consistia em restaurar as leis de mercado entre o campo – atrasadíssimo – e a indústria recém coletivizada, em um país onde os pequenos camponeses eram maioria. Porém, todo o processo deveria ser controlado pelo Estado para não descambar para a acumulação privada de capital, uma vez que, ao contrário das relações econômicas socialistas – que necessitam ser patrocinadas conscientemente pelo Estado –, as relações burguesas desenvolvem-se espontaneamente uma vez desencadeadas.

A NEP tinha a finalidade de auxiliar a economia na transição do capitalismo ao socialismo. Durou aproximadamente uma década (1921 até 1929) e passou por várias fases:

- 1921 até 1923 (a implantação): “O mercado legalizado começou a sua obra com a ajuda de um sistema monetário posto em ordem. Desde 1923, graças ao primeiro impulso vindo dos campos, a indústria reanimou-se e mostrou bem cedo uma intensa atividade. Basta indicar que a produção duplicou em 1922 e 1923”[15]. Como prova da democracia proletária do período 1917-1924 – nunca mencionado nos livros didáticos – florescem diversas posições acerca da NEP no partido e na sociedade, não só a do núcleo dirigente. Muitas transformaram-se em tendências e frações, chegando a disputar o poder. Em 1923 Lenin cai enfermo e morre em janeiro de 1924.

- 1923 até 1925 (a consolidação): “A partir do crucial ano de 1923, as divergências dos pontos de vista sobre as relações entre a indústria e a agricultura, que já tinham se manifestado anteriormente, agravaram-se no partido dirigente”[16]. Trotsky, ainda membro do CC, defende um plano econômico contra as tendências espontaneístas do grupo de Stálin, que estava também em processo de consolidação. Os stalinistas classificam a proposta de Trotsky como “romântica”. Sobre isso, Trotsky diz: “Não é insuficiente lembrar que toda a imprensa burguesa do universo, seguida pela social-democrata, acolhia com simpatia as acusações oficiais de romantismo industrial dirigidas a Oposição de Esquerda”[17].

- 1925 até 1927 (o aprofundamento): “em 1926 foi atingido o nível de antes da guerra, o que significa que a produção quintuplicou desde 1921”[18]. Os kulaks (camponeses ricos) enriquecem ainda mais. É neste momento que surgem os “homens da NEP” (“nepman”) que tornaram-se altos executivos em indústrias estatais e alimentavam a burocratização dos quadros partidários e estatais. A base para a burocracia estava firmada. Bukhárin, então teórico da burocracia stalinista, lançou “aos camponeses o seu lema odioso: ‘enriquecei-vos’! Na teoria, isso significava a transformação gradual dos kulaks em ‘socialistas’. Já, na prática, o enriquecimento da minoria em detrimento da imensa maioria”[19]. Segundo a burocracia stalinista, a Rússia avançaria ao socialismo “enriquecendo individualmente os kulaks e os ‘nepman’”. Bukhárin, seguindo essa linha, defende uma transição gradual ao socialismo, “a passos de tartaruga”. A oposição de esquerda trotskista chega ao auge, denuncia todos os desvios da burocracia e começam as perseguições.

- 1927 até 1929 (a crise): com o enriquecimento privado, sobretudo dos kulaks, estes passaram a se tornar um problema político ao governo de Stálin, sonegando a produção agrícola. “A política a favor dos kulaks (...) revelou inequivocamente as suas conseqüências políticas: inspirou na pequena-burguesia das cidades e dos campos uma consciência de classe extraordinária. Levou-a a apoderar-se de numerosos sovietes locais; assim aumentava a força e a segurança da burocracia; oprimia cada vez mais pesadamente os operários; acarretava a repressão total de toda a democracia no partido e na sociedade soviética”[20]. Para vencer a resistência dos kulaks, Stálin inicia a coletivização forçada no campo e a NEP chega ao fim de forma burocrática e violenta. Em 1929 a conjuntura muda: crise capitalista mundial, consolidação do governo fascista na Itália, repressão sangrenta ao movimento operário alemão e a preparação da tomada do poder pelos nazistas (que tinham a principal finalidade de deter a expansão comunista); Trotsky é expulso da URSS e a oposição de esquerda acuada. Em 1930 ocorrem os “Processos de Moscou”, onde Stalin extermina toda a velha guarda que fez a revolução com Lenin. De uma realidade extremamente complexa como essa, os livros escolares capitalistas nos dizem simplesmente que “o controle estatal sobre todos os ramos da economia levam à burocracia”.

IV
O marxismo parte da compreensão de que o socialismo só pode existir em escala internacional, sendo inviável a sua edificação em apenas um país. “Uma correta apreciação de nossa revolução – dizia Lenin – só é possível do ponto de vista internacional”[21]. E Trotsky complementa: “A criação de uma sociedade socialista nacional, se tal objetivo fosse em geral atingível, significaria uma extrema redução do poder econômico dos homens. O internacionalismo não é um princípio abstrato, mas a expressão de um fato econômico. Como o liberalismo era nacional, o socialismo é internacional. Começando da divisão mundial do trabalho, a tarefa do socialismo é elevar a troca internacional de bens e serviços ao seu desenvolvimento mais alto”[22]. O socialismo não pode existir apenas em um país porque o capitalismo internacionalizou a produção. Ele só pode surgir expropriando o capitalismo em escala internacional, porque as próprias forças produtivas são também internacionais.

“Da divisão mundial do trabalho – escreveu Trotsky –, da desigualdade do desenvolvimento de diferentes países, de sua dependência econômica mútua, da desigualdade dos diferentes aspectos da cultura nos diferentes países, da dinâmica das forças produtivas contemporâneas, segue-se que a estrutura socialista pode ser construída apenas por um sistema de espiral econômica, (...) apenas pelo mútuo serviço entre diferentes países, e a complementação mútua dos diferentes ramos de sua indústria e cultura – isto é, em última análise, apenas na arena mundial”[23].

É preciso ficar claro que o “socialismo” nunca existiu como modo de produção, uma vez que este só pode existir em escala internacional. O que existiu na URSS, leste europeu, Cuba e China não era “socialismo” e, tampouco, “comunismo”, mas Estados Operários em transição entre o capitalismo e o socialismo. Ou estes Estados conseguiriam expandir a revolução socialista aos outros países – principalmente aos imperialistas –, aí sim, atingindo o socialismo, ou retrocederiam ao capitalismo. Evidentemente que, para ocorrer a nível internacional, precisa iniciar-se a nível nacional, foi por isso que Trotsky escreveu que “o socialismo não pode ser realizado na arena mundial não estando seus elementos e pontos de apoio preparados em países isolados”[24]. Como os livros didáticos podem desconsiderar tudo isso?

Rompendo com a tradição marxista, a burocracia stalinista sustentou que não só era possível construir o socialismo em apenas um país, como a Rússia já tinha construído 90% do “socialismo”. Criou a teoria do “socialismo num só país” e a transformou no guia do Estado soviético. Para isso teve que falsificar a história do bolchevismo. Sobre isso, Trotsky diz: “A substituição inicial era inconsciente. Não era uma questão de falsificação, mas de infiltração ideológica. Mas na medida em que a doutrina do socialismo nacional foi exposta a uma crítica bem armada, havia necessidade de uma interferência organizada, cirúrgica na essência, por parte da máquina. A teoria do socialismo nacional foi então decretada. (...) E, ao mesmo tempo, estava aberta a era da reparação sistemática do passado do partido. (...) O fator decisivo, contudo, não são as repressões ou falsificações. O triunfo das novas opiniões correspondentes à situação e aos interesses da burocracia, apoiava-se em circunstâncias objetivas. (...) O Estado Operário isolado não só se manteve entre uma legião de inimigos, mas se elevou economicamente. Este importante fato formou a opinião social da geração mais jovem, que ainda não aprendeu a pensar historicamente – isto é, a comparar e prever”[25].

Além da deturpação do legado teórico marxista, Stálin sabotou inúmeros processos revolucionários pelo mundo, com linhas políticas erradas ou simplesmente omitindo auxílio, como no caso de China, Espanha, França, Inglaterra e Brasil. Nenhum dos livros escolares nos faz essa distinção profunda entre a teoria marxista e a falsificação stalinista. Pelo contrário. A análise dos livros escolares reforça a noção stalinista, fantasiando-a ainda mais: “As economias socialistas passaram a ver no controle total do setor agrícola e industrial uma possibilidade de se tornarem autossuficientes e deixar de depender do comércio com países capitalistas”[26]. Este trecho mistifica a questão e deturpa o socialismo, pois nenhum país do mundo – capitalista ou “socialista” – pode “deixar de depender do comércio” com outros países. A tentativa do livro é associar o socialismo a um “regime fechado”, tal como a Coréia do Norte, cuja burocracia governante é filha da burocracia stalinista (bem como a chinesa e a cubana).

O livro de História embeleza o stalinismo, dizendo que Stálin “julgava que, primeiramente, era necessário consolidar o socialismo na URSS para depois ajudar a fazer a revolução socialista em outros países”[27]. Nada mais longe da verdade! Ao invés de mostrar o papel de Stálin como sabotador de revoluções pelo mundo, o livro o apresenta como interessado em expandir o socialismo pelo mundo.

V
Foi no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956, que Kruschev – sucessor de Stalin à frente da burocracia – denunciou formalmente o que todos já sabiam: os crimes de Stálin nos “Processos de Moscou”, a supressão das liberdades civis, o culto à personalidade. Na verdade, “denunciou” os crimes acobertados por toda uma rede burocrática de funcionários à serviço de Stálin – dentre os quais estavam os sucessores diretos dele, como o próprio Kruschev.

Os livros de História costumam chamar esta denúncia feita por Kruschev de “processo de desestalinização do regime soviético”[28]. Ou seja, os governos pós Stálin representariam uma suposta “negação do stalinismo”. Sendo assim, o aluno só pode concluir que realmente o socialismo é “ineficaz” e “ditatorial”, pois, mesmo após a “desestalinização”, continuaram todos os antigos problemas e desvios autoritários, até a restauração do capitalismo. Mas, na verdade, todos os sucessores de Stálin mantiveram o regime, seguiram seus métodos e a sua teoria: imposição burocrática de planos quinquenais, repressão e censura ao movimento operário, esvaziamento dos sovietes, desfiguração do partido, desmoralização do trotskismo, coexistência pacífica com o imperialismo capitalista (leia-se: socialismo em um só país) e o próprio culto à personalidade.

VI
O fato da URSS ser a segunda economia do mundo – ficando atrás apenas dos EUA – demonstra a superioridade da economia planificada socialista. Apesar da burocracia no poder, a URSS foi um país pioneiro na descoberta espacial, enviando a primeira sonda e o primeiro cosmonauta ao espaço: Yuri Gagarin. Na questão científica – física, química, biologia, pedagogia – a URSS contribuiu e aprofundou muitos aspectos. No entanto, “o nível de rendimento do trabalho era muito baixo como resultado da péssima organização do trabalho sob a égide da burocracia”[29] e pela supressão da democracia nos sovietes, fruto da ação política do stalinismo.

Os livros didáticos, ignorando a ação do stalinismo, atribuem toda a culpa à “economia planificada” – isto é, ao socialismo em si –, afirmando que: “Além de ter causado o atraso tecnológico, a economia planificada fracassou pela falta de motivação que gerava em suas populações: não havia incentivos governamentais que estimulassem a produção e a inovação, já que esse sistema inibia a livre iniciativa”[30]. O “problema” da economia planificada não seria resolvido como indicou Trotsky: “com a coordenação desses três elementos: a planificação estatal, o mercado e a democracia soviética” que garantiriam “uma direção justa na economia na época de transição” (nesse caso “mercado” é entendido apenas como meio de troca, tendo como base o valor trabalho)[31], mas, sim, através de um sistema que não inibisse "a iniciativa privada”, isto é, que legalizasse a “livre iniciativa” de explorar força de trabalho e de acumular capital.

VII
Os livros didáticos trazem fotos do povo russo e europeu passando necessidades, fome, sofrendo com o racionamento; estátuas de Lenin e Stálin derrubadas pela ação popular (o que inevitavelmente os iguala), bem como o muro de Berlim sendo destruído por crianças. A “livre iniciativa”, repetida tantas vezes nestes livros, é associada à “liberdade”, mas, na realidade, significa liberdade apenas para a burguesia acumular capital e explorar trabalho alheio. Para o proletariado, a “livre iniciativa” é o grilhão ideológico com que a burguesia lhe mantém preso à escravidão assalariada.

Sobre a crise econômica que a URSS viveu em 1970, a análise marxista diz o seguinte: “Na medida em que a industrialização e as formas coletivas de propriedade progrediam, maiores eram as tendências ao estancamento, condicionadas pelo domínio da burocracia. Esta mostrou-se absolutamente incompatível com as formas mais desenvolvidas de economia. A democracia dos trabalhadores passa a ser uma necessidade vital do ponto de vista da planificação econômica. A planificação burocrática representa um crescente emperramento da economia. Isso, como era de se esperar, levou a completa paralisia econômica por volta dos anos 70”[32]. Depois de omitirem toda a conjuntura histórica, o papel da burocracia stalinista e do trotskismo, os livros didáticos explicam a complexa situação que gerou a crise econômica da URSS da seguinte forma: “No final da década de 1980, a economia planificada mostrou que não poderia persistir[33]. E resumem a crise socialista de 1970 como simples “ausência de investimentos” (leia-se: investimento capitalista) nesta ou naquela área. Não há nenhuma solução referente à “democracia dos trabalhadores” através da “retomada dos sovietes” pelo proletariado, mantendo as bases sociais da URSS – tal como propunha o programa trotskista –, porque a palavra “democracia” é usada exclusivamente como sinônimo de “livre iniciativa”, isto é, de capitalismo.

VIII
A explicação dos livros didáticos burgueses sobre a restauração capitalista reforça a noção de que o “socialismo caiu” e que “as massas escolheram o capitalismo” porque este representa a “liberdade”. Já a explicação marxista – omitida dos livros didáticos – afirma que: “Transformar-se em burguês sempre foi a aspiração secreta de todo o burocrata. (...) O impasse econômico [de 1970] apresentou para a burocracia essa oportunidade. Mais do que isso, era uma necessidade objetiva porque o impasse não podia continuar indefinidamente. O regime burocrático foi um longo parênteses entre o socialismo e o capitalismo. (...) a casta burocrática sofre uma transformação. Deixa de apoiar-se na economia estatal e passa a desejar o seu fim e a tomar medidas políticas e econômicas nesse sentido”[34]. A restauração capitalista ocorreu através da política conhecida como Perestroika. Esta é apresentada nos livros didáticos como pequenas reformas que saíram do controle da burocracia e que o povo aproveitou-se para restaurar o capitalismo. Outra falsificação!

O artífice da Perestroika foi o líder da burocracia stalinista da época e herói do imperialismo, Mikhail Gorbatchev, que “tentava fazer passar o seu programa de restauração [a Perestroika] como sendo o aprofundamento do socialismo”[35]. Entre a burguesia internacional, o apoio à Perestroika foi amplo e explícito: “Mais do que apoio, o capital financeiro é co-participante dessas reformas. Bancos europeus colocam à disposição da URSS muitos bilhões de dólares; centenas de empresas ocidentais associam-se a empresas soviéticas através do sistema de joint-ventures. Embora esses negócios tenham fundadas razões econômicas, no entanto, o seu volume assume conotação política de sustentação à política de Gorbachev. Evidentemente não seria casual a enorme promoção que este recebe da imprensa burguesa em todo o mundo”[36].

Em contraste com toda essa análise, os livros didáticos nos dizem o seguinte: “As chamadas Perestroika (reestruturação) e glasnot (transparência) alentaram a esperança de liberdade em muitos países do bloco socialista europeu”[37]. Fica visível, portanto, a apologia ao capitalismo, de forma nem tão velada assim. Não é possível que os educadores proletários deixem impune tal tipo de “educação imparcial”.

IX
A restauração do capitalismo na Rússia foi apresentada pela burguesia imperialista como o “fim do socialismo” e a demonstração do seu “fracasso”. Mas o que “caiu” na ex-URSS não foi o “socialismo”, mas o stalinismo. A “alternativa” que a burguesia nos apresentou a queda do “socialismo” foi o capitalismo neoliberal que, reduzindo o Estado ao mínimo através das privatizações, tinha como ideologia o “melhoramento” dos serviços e – inexplicavelmente – da qualidade de vida do povo. Empresas foram privatizadas a preço de banana; serviços públicos e direitos trabalhistas são retirados ao redor do mundo; as dívidas públicas explodiram; os governos governam contra a população aplicando essas medidas neoliberais. A democracia burguesa só concede “governabilidade” a quem não rompe com essa lógica. Todos os partidos que pretendem melhorar o capitalismo por meio de reformas – os partidos reformistas – não só não o reformam, como acabam cooptados pelo sistema, como é o caso do PT, que, renegando o programa revolucionário e adotando o reformista, hoje é o pilar político de sustentação do capital (apesar do discurso demagógico em contrário).

A crise que explodiu em 2008 e dura até hoje trouxe à tona que é o capitalismo que “não funciona” e custa muito caro aos trabalhadores mundiais: guerras imperialistas de rapina (Kosovo, Afeganistão, Iraque, Líbia); os planos de austeridade (que no Brasil já eram impostos pelo FMI desde 1980 e que serviram de sustentação para o “Estado de bem estar social” europeu e norte-americano, mas que hoje já não são suficientes para conter a queda da taxa de lucro da burguesia europeia e ianque); o desemprego (que significa o desperdício da capacidade produtiva humana, com o subsequente e inevitável aumento da miséria, da fome e da marginalidade); a destruição do meio ambiente (perpetrada por uma produção predatória e anárquica para manter o consumismo); a repressão sobre o proletariado (enquanto a burguesia diz que o “socialismo é ditadura”, omite a repressão “democrática” às greves e ao próprio direito de greve, à criminalização dos movimentos sociais, o assassinato impune de sem terras, o despejo violento de favelas inteiras, o genocídio de moradores de rua; a censura feita pela burguesia nos grandes meios de comunicação onde impera o telejornalismo comercial e programas idiotizantes; a justiça corrupta que condena um grevista e um ladrão de margarina à cadeia, mas deixa livre os ladrões de colarinho branco, os juízes que vendem sentença, os banqueiros que roubam milhões; sem falar nas ditaduras que o imperialismo capitalista financiou diretamente, tais como a nazi-fascista na Europa, as “ditaduras militares” na América Latina, a de Mubarak e de Ben Ali na África, a monarquia da Arábia Saudita, etc.).

O socialismo é o único sistema econômico que pode salvar os trabalhadores da crise, dos planos de austeridade, das guerras, do desemprego, da fome; mas, como foi dito, isso nunca será ensinado nas escolas da sociedade capitalista. Através da sua “educação imparcial” a burguesia nos mostra as experiências “socialistas” por meio da sua lente, mas se trata exatamente do oposto: de a vermos através da nossa. O autêntico marxismo de nossa época – o trotskismo – nunca iludiu os trabalhadores sobre o que se passava na URSS, ao mesmo tempo em que a defendia dos ataques imperialistas. Media os acontecimentos históricos com uma escala adequada: a URSS foi a primeira experiência socialista. Os trabalhadores precisam estar conscientes das falsificações capitalistas feitas através da “educação”. Devem conhecer a história do movimento operário, aprender com os erros do passado e corrigi-los.

Marx escreveu certa vez que: “As revoluções proletárias, como as do século 19, criticam-se constantemente a si próprias, interrompem-se constantemente na sua própria marcha, voltam ao que parecia terminado, para o começar de novo, troçam profunda e cruelmente das hesitações dos lados fracos e da mesquinhez das suas primeiras tentativas, parece que apenas derrubam o seu adversário para que este tire da terra novas forças e volte a levantar-se mais gigantesco frente a elas, retrocedem constantemente perante a indeterminada enormidade dos seus próprios fins, até que se cria uma situação que torna impossível qualquer retrocesso”[38]. Todas as experiências socialistas não foram em vão. As lições ficam. Uma nova revolução nestes e noutros países partiriam de uma base material mais desenvolvida e de uma compreensão teórica mais profunda. Ainda não vimos uma revolução vitoriosa em um país imperialista. As perspectivas certamente seriam outras. É preciso combater as ideologias burguesas que se disseminaram após a restauração capitalista, tais como o ceticismo em relação à luta e ao socialismo – que se abriu após a restauração (dentre outras coisas, fruto da experiência com o stalinismo) –, o apartidarismo – que condena os trabalhadores a ficar sem direção revolucionária e sem projeto político próprio – e, sobretudo, o oportunismo teórico e político que impera na vanguarda “socialista” e nos sindicatos (como é o caso do CPERS). Ao invés de combater as distorções apresentadas nesse texto, muitos partidos, sindicatos e organizações da “esquerda” reproduzem acriticamente estes conteúdos escolares.

A crise capitalista demonstra que não há futuro dentro do capitalismo e que o socialismo é uma necessidade histórica. O proletariado ainda não conta com uma direção revolucionária e esse é o seu grande calcanhar de Aquiles. Refutar a ideologia burguesa na escola não é fácil – visto que é a burguesia quem controla o aparato de Estado –, mas é um dever dos trabalhadores conscientes. A crítica ao currículo escolar e a pedagogia capitalista não é tarefa para um único militante, nem para uma única organização, mas para o conjunto dos educadores à serviço da classe trabalhadora.



NOTAS:
[1] http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1213531
[2] Onda vermelha – imaginários anticomunistas brasileiros (1931-1934), Carla Luciana Silva, Edipucrs.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Idem.
[6] Stalin, o grande organizador de derrotas. Leon Trotsky.
[7] Onda vermelha – imaginários anticomunistas brasileiros (1931-1934), Carla Luciana Silva, Edipucrs.
[8] A Nova Política Econômica (NEP). Capitalismo de estado, transição, socialismo. Vários autores.
[9] Anton Makarenko – vida e obra – a pedagogia na revolução. Cecília Luedemann. Expressão Popular.
[10] Onda vermelha – imaginários anticomunistas brasileiros (1931-1934), Carla Luciana Silva, Edipucrs.
[11] A questão do Leste. Trincheira Marxista/Luta Marxista.
[12] A Revolução Traída, Leon Trotsky.
[13] Projeto Araribá – Geografia, 9º ano, 2007; organizadora: editora moderna. Obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna. Editora responsável: Sonia Cunha de Souza Danelli. Página 106, negrito no original.
[14] A Revolução Traída, Leon Trotsky.
[15] Idem.
[16] Idem.
[17] Idem.
[18] Idem.
[19] Idem.
[20] Idem.
[21] A História da Revolução Russa. Apêndice 2: socialismo num só país?. Leon Trotsky.
[22] Idem.
[23] Idem – grifo meu.
[24] Idem.
[25] Idem – grifo meu.
[26] Projeto Araribá – Geografia, 9º ano, 2007; organizadora: editora moderna – grifo meu.
[27] História, sociedade & cidadania; 9º ano, nova edição História. Alfredo Boulos Jr. Editora FTD.
[28] Idem.
[29] A questão do Leste. Trincheira Marxista/Luta Marxista.
[30] Projeto Araribá – Geografia, 9º ano, 2007; organizadora: editora moderna. Grifo meu.
[31] A questão do Leste. Trincheira Marxista/Luta Marxista.
[32] Idem.
[33] Projeto Araribá – Geografia, 9º ano, 2007; organizadora: editora moderna.
[34] A questão do Leste. Trincheira Marxista/Luta Marxista.
[35] O sentido da Perestroika, Luta Marxista (disponível em www.lutamarxista.org).
[36] Idem – grifo meu.
[37] Projeto Araribá – Geografia, 9º ano, 2007; organizadora: editora moderna.
[38] O 18 brumário de Luiz Bonaparte. Karl Marx.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A condição humana e o mito de Sísifo

A condição humana na Terra é a mesma que a de Sísifo, personagem da mitologia grega. 

Mestre da esperteza e da felicidade, Sísifo entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses, uma vez que denunciou todos os crimes de Zeus e enganou os outros deuses que foram enviados por ele para castigá-lo. Por ter tapeado Tanatos, o deus da morte, prolongando indefinidamente o seu tempo de vida, o deus mensageiro e condutor das almas para o além, Hermes, decidiu puni-lo pessoalmente, infligindo-lhe um duro castigo, pior do que a morte. Assim, Sísifo foi condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava quase alcançando o cume, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível. Sísifo, então, tinha que recomeçar todo o trabalho do zero.

Existiria algum trabalho pior do que este? Aparentemente não. O trabalho cotidiano, enfadonho, desgastante do dia a dia, não seria um castigo digno de Sísifo? Não apenas o trabalho diário, mas o trabalho político de edificar um sindicato combativo, um grêmio estudantil e um partido revolucionário (e lutar contra a tendência permanente de sua degeneração e adaptação ao capitalismo) não seria algo como um trabalho de Sísifo?

O trabalho rege o mundo, conjuntamente com amor e sabedoria. Não há como escapar dele. Apenas deveríamos procurar as melhores formas de executar o nosso trabalho de Sísifo, além de combater os parasitas que querem viver do trabalho alheio e inventam ideologias e teorias para justificar a exploração do trabalho de outrem e da sociedade que o perpetua.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O espectro do comunismo continua rondando o mundo

A luta ideológica é sobretudo uma questão linguística! Parte daí para entrar e se fixar na mente de milhões de pessoas. Uma das reportagens do Jornal da Band de 27 de dezembro diz que milhares de chineses fogem para Nova York como exilados do "regime comunista" chinês. No dia de natal, a rádio gaúcha noticiava que o "regime comunista" da Coréia do Norte intensifica manobras militares contra a Coréia do Sul.

Por que tanto medo? Tanta distorção e mentiras institucionalizadas? Certamente a mídia burguesa teme que um novo movimento de rua em 2014, como uma reprise do movimento de junho e julho de 2013, possa vir a tomar alguma simpatia por um rumo "comunista". Então, para evitar que isso aconteça, reforçam freneticamente este tipo de campanha ideológica visando deixar qualquer novo movimento no mesmo lodaçal da confusão programática que imperou em 2013. A Rede Globo já iniciou esta cruzada através do seu "garoto propaganda", Arnaldo Jabor, que inventa e falsifica citações de revolucionários consagrados para desmoralizá-los, e tenta, com todas as suas forças, desviar a atenção da juventude do "espectro do comunismo".

O que é um "regime comunista"? Por que quando se referem aos ataques dos EUA aos outros países ou das violações de direitos humanos na Coréia do Sul não falam de "ataques do 'regime capitalista' dos EUA ao Iraque" ou de "violação da liberdade de expressão dos operários de Seul pelo 'regime capitalista' da Coréia do sul"? Por acaso os jornalistas, as suas "empresas de comunicação" e os seus censores não sabem o que é um "regime comunista" e um "regime capitalista"? Certamente que sabem!

Mas ainda cabe perguntar: que tipo de "regime comunista" existe na China? Ou na Coréia do Norte? São países que toleram a existência de propriedade privada e das multinacionais imperialistas, que enviam seus lucros para o exterior livremente. Toda a grande mídia sabe disso perfeitamente. Não só sabe, como sabe também que o capitalismo atual depende desta brutal exploração do proletariado chinês. 

Os trabalhadores conscientes sabem que um "regime comunista" significa o fim da propriedade privada, do Estado e das classes sociais (não apenas na China, mas na maioria dos países do mundo). Nada disso existe na China ou na Coréia do Norte. Pelo contrário! Na China acompanhamos o capitalismo mais selvagem do planeta, fruto da restauração capitalista patrocinada pela própria burocracia do PC chinês. Falar em "comunismo" com a existência de um Estado, da propriedade privada, de classes sociais, de exploração multinacional e emissão de seus lucros ao exterior, é a mesma coisa que falar de um "regime nazista" que pregue a paz.

Até quando a atual "esquerda" (PSOL, PSTU, PCO, PCB e organizações menores) escutará essas mentiras midiáticas calada? Por que não usam seus programas eleitorais e horários gratuitos na televisão para desfazer essas falácias? Por que ao invés da choradeira do "vote em mim", não temos uma aula sobre o que é o "comunismo" e o que a mídia diz que é um "regime comunista"! A não resposta dada a estas distorções midiáticas torna-se uma forma de conivência com elas...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Fatos e mitos sobre a Revolução Farroupilha

O Brasil entra na História de Portugal em 1500. O Rio Grande do Sul em 1750; 250 anos depois. A então chamada Província de São Pedro do Rio Grande do Sul (o “Continente de São Pedro”) fundou-se como um acampamento militar para guarnecer a fronteira sul do Brasil contra os espanhóis. Com uma “proteção” geográfica natural através do Pantanal e da Amazônia, de um lado, e do oceano Atlântico, do outro, o norte, nordeste, sudeste e centro-oeste estavam fora de perigo direto, mas o sul não. Todas as maiores guerras estrangeiras que o Brasil esteve envolvido passaram pelo sul do país e, particularmente, pelo Rio Grande do Sul.

Durante um impasse de sucessão da corte imperial, que ficou conhecido como período regencial, muitas províncias periféricas procuraram separar-se do império. A Revolução Farroupilha insere-se em todo este contexto. As principais bandeiras políticas do Partido Farroupilha eram: separação do império do Brasil, instituição de um governo republicano, a retomada do comércio de charque com o império e demais países da América Latina e do mundo. O governo imperial optou por importar charque do Uruguai e da Argentina, cujos preços eram mais baratos, uma vez que estes países já haviam abolido o trabalho escravo e introduzido o trabalho assalariado. A luta econômica envolvendo o charque foi o verdadeiro estopim da Revolução. As demais bandeiras, como o separatismo e o governo republicano, eram meios.

Pintura de um Lanceiro Negro: os verdadeiros
heróis da "liberdade, igualdade e humanidade"
Do ponto de vista social, o Partido Farroupilha era composto por latifundiários e estancieiros, que se preocupavam com os negros apenas em uma aliança conveniente: estes entravam como bucha de canhão na luta contra os imperiais e se subordinavam, como baixa patente, aos exércitos dos estancieiros. Teoricamente, em caso de vitória, ganhariam a liberdade. Mas a verdade é que a cúpula do Partido Farroupilha sempre foi dividida em relação à escravidão negra, o que não lhes dava nenhuma garantia real. A ala de Bento Gonçalves era a favor da abolição; a de Davi Canabarro, não. Entrou para a História a grande traição aos lanceiros negros na batalha de Porongos, onde encurralados, o exército farroupilha largou os bravos lanceiros à própria sorte. O povo gaúcho, se quisesse realmente homenagear a bravura de seus supostos “heróis”, deveria pôr abaixo a estátua de Bento Gonçalves na Av. João Pessoa, e erguer uma para os lanceiros negros, porque para eles a luta por liberdade, igualdade e humanidade não eram palavras ao vento.

Os ianques venceram o sul escravista na Guerra de Secessão justamente porque não titubearam em abolir a escravidão e levar o seu liberalismo até as últimas consequências. Como todos sabem, a Revolução Farroupilha terminou esmagada pelo império brasileiro. Soma-se à vacilação e ao ecletismo político dos dirigentes estancieiros, o insuficiente desenvolvimento das forças produtivas econômicas. O Rio Grande do Sul era predominantemente rural, agro exportador. Ao contrário dos nortistas na Guerra de Secessão norte-americana, a República Rio Grandense não era industrializada.
Mesmo havendo aspectos positivos e personagens notáveis, como o revolucionário Giuseppe Garibaldi, não se pode fechar os olhos para o significado da Revolução Farroupilha, bem como para o ufanismo imbecilizador da grande mídia, que utiliza o 20 de setembro como outra forma de nacionalismo. O que significa comemorar a Revolução Farroupilha? Os estancieiros conquistaram suas reivindicações: o charque gaúcho voltou a ser comprado pela capital do império; já o povo negro amargou mais 43 anos de escravidão. A ala do Capitão Rodrigo foi definitivamente derrotada pela do Bento Amaral.


O separatismo, por sua vez, tornou-se um romantismo estupidamente reacionário. Mais do que o mercado único e o intercâmbio econômico, político, cultural, social com o resto do Brasil, nós precisamos da unidade política de um único proletariado para lutarmos unificadamente contra a burguesia brasileira – serviçal do imperialismo –, e não de mais fragmentação, barreiras alfandegárias, taxas, tarifas. Os trabalhadores não têm pátria. Sua tarefa é destruir as fronteiras, e não criar novas!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Trilhões e trilhões


Os gastos militares dos EUA ultrapassaram o montante de 1 trilhão e 340 bilhões de dólares, tendo crescido 45% nos últimos dez anos, o que corresponde a cerca de 202 dólares/ano por habitante no Planeta. É o maior gasto militar do mundo. Nem somando todos os orçamentos militares dos demais países é possível chegar a esta marca. Enquanto uma grande parcela do povo norte-americano vegeta no desemprego e na miséria, fruto da atual crise do capitalismo que leva ao aumento dos cortes nos gastos sociais, o orçamento militar não sofreu uma única baixa. O endividamento dos Estados Unidos já ultrapassa a cifra de 15 trilhões de dólares e é uma ameaça permanente à sua supremacia mundial.

Podem ser contados em trilhões de dólares as catástrofes ambientais, resultado de erros de perfuração do subsolo aquático pelas multinacionais petroleiras, o que ocasiona vazamento ininterrupto no mar, fazendo o preço dos barris de petróleos dispararem, além da morte de inúmeras espécies marítimas vegetais e animais. Lembremos do golfo do México e do litoral norte do Rio de Janeiro, só para citarmos alguns exemplos.

Somam mais de 1 trilhão as partículas de dióxido de carbono lançadas na atmosfera pelas indústrias e pelos materiais químicos, o que ocasiona o aquecimento global e uma reação em cadeia de efeitos climáticos devastadores. Somam mais de 100 trilhões as folhas de árvores derrubadas pelos grileiros em todas as florestas do mundo, com especial destaque para Amazônia brasileira, que deixam de realizar fotossíntese, contribuindo com o aquecimento global.

Ao contrário do que afirmam os governos Lula e Dilma, a dívida externa não foi paga. Parte dela foi substituída pela dívida interna, que disparou, atingindo R$ 2 trilhões. Hoje ela está em exatos 2 trilhões, 823 bilhões, 336 milhões, 278 mil, 341 Reais e 86 Centavos, porque quanto mais ela é paga, mais ela aumenta. O orçamento Geral do governo Federal brasileiro em 2012 atingiu o total de R$ 1,712 trilhão, mas cerca de 45% desse montante (aproximadamente R$753 bilhões) vai para os banqueiros e especuladores nacionais e internacionais, em detrimento da educação (2%), saúde (4%), e das demais áreas sociais.

Em 2013, até 1º de abril, as dívidas consumiram R$ 325 bilhões dos cofres públicos, o que equivale à 59% do gasto federal até o momento. Para o curso de 2013 estão previstos R$ 900 bilhões para esta mesma finalidade, ou seja, 20% a mais do que os R$ 753 bilhões gastos com a dívida no ano passado. Somando o que foi pago aos parasitas internacionais e nacionais no ano passado e neste, nós chegamos à assombrosa marca de 1,653 trilhão de reais. Ou seja, trabalhamos o ano inteiro para pagar uma dívida que não é nossa. Sem falar nas cifras estratosféricas que já foram pagas anualmente desde o início do Século 20 e 21. Aí, provavelmente, superaremos os "bilhões e bilhões", os "trilhões e trilhões" e chegaremos aos "quintilhões e quintilhões".

Com a crise capitalista mundial atingindo os países imperialistas, os seus respectivos governos já injetaram mais de US$ 13 trilhões de dinheiro público para salvar os bancos da falência. Como os países periféricos pagam os juros das dívidas aos bancos e países imperialistas, toda a população mundial está pagando os custos da crise capitalista através dos planos de austeridade, do desemprego, da fome, da miséria, da destruição do meio ambiente...