Se a definição histórica de "esquerda" sustenta que os indivíduos e partidos deste campo querem a mudança da ordem social, como podem continuar chamando de "esquerda" quem justamente se adaptou à ordem social?
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Dos otimismos
Do otimismo 1:
O conservadorismo de direita em voga é a expressão dos últimos espasmos históricos da superação do sistema.
Do otimismo 2:
Que a experiência desta ofensiva da direita clássica contra o PT sirva para os trabalhadores tirarem as devidas conclusões de sua estratégia política e de que ele nunca passou de uma "ala esquerda" da burguesia.
O conservadorismo de direita em voga é a expressão dos últimos espasmos históricos da superação do sistema.
Do otimismo 2:
Que a experiência desta ofensiva da direita clássica contra o PT sirva para os trabalhadores tirarem as devidas conclusões de sua estratégia política e de que ele nunca passou de uma "ala esquerda" da burguesia.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
Sobre o pragmatismo
Algumas vezes fui criticado por familiares e amigos por não ser muito pragmático. Perder tempo em reuniões "intermináveis" que garantem pouca coisa ou quase nada seria uma demonstração cabal deste meu lado nada pragmático.
Em contra partida, muitas vezes já ouvi: tecnologia boa é aquela que funciona (ignorando os efeitos colaterais sobre a natureza). O que falta para o nosso país é o pragmatismo dos norte-americanos. O PT é realista; fez um leque de alianças para crescer e ter governabilidade. A palavra de ordem do mundo "moderno" é o pragmatismo (ou utilitarismo, melhor dizendo).
Certamente um pouco de pragmatismo é importante. Não podemos apenas contemplar a vida e suas necessidades de forma passiva e diletante. Algo sempre precisa ser feito, encaminhado, aprovado; em última instância, executado. Mas a que preço e respeitando quais critérios?
Temos vivido o oposto disso: o rolo compressor do pragmatismo, do utilitarismo, da lógica do "se funciona é bom", seja o que for, custe o que custar, mate o que matar. Uma vez que a lógica pragmática se imponha, tal como a sociedade capitalista a exige, então deixamos uma boa parte do nosso lado humano morrer. Com ele perecem o bom romantismo, a capacidade de olharmos a beleza da vida e, porque não(?), o despedaçamento das pontes entre os arquipélagos humanos.
O pragmatismo em política e economia significa a geração de inúmeros horrores, injustiças, genocídios, traições, mentiras e, inevitavelmente, o cálculo egoísta e frio do fim atingido "por si mesmo". O pragmatismo precisa existir, mas precisa também ser severamente controlado para não abafar o amadurecimento e a superação das contradições, a natureza e, em última instância, o lado humano em nós.
Dentro dessa lógica e por tudo isso posso afirmar, seguramente, que realmente não sou pragmático. Este tipo de pragmatismo é uma herança que devemos renunciar definitivamente.
terça-feira, 9 de janeiro de 2018
O PSDB e a classe média
A classe média brasileira reivindica os economistas burgueses clássicos (Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill) sem nunca ter lido uma única página de suas obras e, como sempre, descontextualizando-os totalmente. Ainda assim, pensa que domina a situação, que possui opinião política e econômica, e que está em perfeita sintonia com a realidade econômica do Brasil e do mundo. Falam com desdém sobre "socialismo" (também sem nunca ler uma única linha de análise séria sobre o assunto) e reivindicam liberdade econômica (oferta e procura), liberdade individual, a propriedade privada, o desenvolvimento tecnológico como principal fator para considerar se um sistema econômico "deu certo" ou não.
Mal sabem eles, do alto do seu pedestal de mármore, que o PSDB não defende efetivamente nenhum desses valores, apesar de também reivindicá-los em discursos vazios. Esta classe média (e lamentavelmente muitos trabalhadores) não se importam com a coerência entre discurso e prática. Consomem qualquer discurso que sacie sua argumentação de ocasião. O PSDB, tal como PMDB e todos os outros partidos burgueses brasileiros, não possuem a mínima conexão entre aquele discurso e a sua prática concreta, pautada no velho estilo coronelista e paternalista do Brasil. São totalmente reféns dos dogmas neoliberais, decretados de cima para baixo pelo FMI, Banco Mundial, OMC e outros órgãos imperialistas ao Brasil, o que torna seu discurso sobre "liberdade econômica, individual" e "avanço tecnológico" um disparate cínico, que não apenas não gera liberdade ou desenvolvimento de espécie alguma, mas só aprofunda a dependência do país.
A começar pelo fato de que Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill analisavam e pensavam a realidade histórica e econômica dos seus países, não uma abstração repetida como papagaios semi-coloniais, importada acriticamente de países estrangeiros. Desde que adentramos a época do capitalismo imperialista não existe mais "liberdade de mercado". Os preços são decididos pelos conselhos acionários das grandes empresas multinacionais numa disputa entre o grande capital financeiro; logo depois são tornadas oficiais através do lobby sobre os políticos, os partidos burgueses e o parlamento. O PSDB não defende nenhuma política que garanta um espaço para o Brasil neste cenário internacional, ou mesmo nacional. Ao contrário: sustenta a incondicional submissão ao mercado financeiro, vendido como a única política possível. Isto significa submeter o país às privatizações, à retirada de direitos dos trabalhadores (destruir a legislação trabalhista em vigor no país, por exemplo), o sucateamento dos serviços públicos (não investimento, destruição de planos de carreira, de condições de trabalho de servidores). Os bancos públicos, por exemplo, dentro desta lógica não poderiam disputar o mercado com os bancos privados, visando uma política de investimento e de desenvolvimento social. Isto contraria os dogmas neoliberais e a ditadura do mercado financeiro: é uma ação condenada pelo tribunal da santa inquisição dos bancos e sentenciada à fogueira por "irresponsabilidade econômica" pelos órgãos imperialistas internacionais (leia-se: heresia econômica).
Sem dúvida podemos comparar os governos do PSDB aos antigos colonos portugueses, que governaram o país sob o comando da metrópole europeia e temendo a deus tanto quanto qualquer acusação de infração ao pacto colonial. Vejamos um singelo exemplo: em todas as eleições, particularmente na de 2016 que elegeu o prefeito playboy do PSDB em Porto Alegre, sempre ouvimos o discurso de "modernização". Mas o que seria essa modernização? Seria, por exemplo, um ambicioso projeto de construção de um metrô que ligasse todos os principais bairros da capital gaúcha à sua região metropolitana, facilitando a integração e o desenvolvimento econômico, social e cultural (e de quebra ainda poderia se autofinanciar)? Não! O PSDB não fala em metrô em Porto Alegre por que isso significa se chocar contra o cartel das empresas de ônibus, que controlam a circulação de passageiros e tem o poder absolutista de definir tarifas (tudo isso sem licitação). Em contrapartida, o PSDB fala em "modernizar" a justiça, o que pra este partido significa acabar com a justiça do trabalho, que segundo a lógica do prefeito pequeno-burguês é "desperdiçar milhões" por ano.
A classe média fecha os seus olhos a tudo isso. Idolatra o PSDB, PMDB ou qualquer outro partido que fale contra o PT, porque este partido supostamente representaria a "esquerda", o "comunismo", em última análise, o "fim dos seus privilégios". 13 anos de governos petistas não foram suficientes para demonstrar que mais da metade das ações de governo do PT foram, no campo macroeconômico, idênticas ao do PSDB. Preferem continuar elegendo "bruxas" para queimarem e "cristos" para crucificarem. Exemplos não faltam. Estão por aí, nas redes sociais. Os dogmas econômicos neoliberais e o sistema capitalista como um todo "não dão certo" para a maioria do povo e, consequentemente, para o desenvolvimento do país. Isso não impede que o PSDB e a classe média os defenda arduamente, justamente porque estes são indicados pelos órgãos neo-colonizadores internacionais. A política neoliberal e a decadência do capitalismo apenas tem aumentado a recessão econômica, a desigualdade social, a pobreza, o desemprego, a violência urbana, o baixo desenvolvimento e desempenho da saúde e educação públicas, a espoliação internacional e, novamente, o não desenvolvimento do país. Até porque para "desenvolvermos" o país, necessitamos romper com uma política e uma estrutura que submetem e impedem este desenvolvimento.
Só não vê quem está alienado ou quem tem a conta bancária recheada...
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Bolsonaro é a readaptação do nazismo e a vazão dos impulsos perversos da classe média
O ano de 2018 se aproxima e com ele as especulações sobre a candidatura e a possível eleição de Jair Bolsonaro para presidente da República (pelo PSC). Eleito deputado federal pela classe média do Rio de Janeiro, cuja idolatria pelo exército se nota nos museus e nas ruas da cidade, Bolsonaro não está sozinho no Congresso Nacional e na política brasileira (a classe média do Rio de Janeiro também elegeu o seu filho, Eduardo Bolsonaro). Jair Bolsonaro apenas leva até o fim de forma explícita o que todos os políticos burgueses do Congresso Nacional pensam, mas não tem coragem de externar. Alguém tem dúvida que, por exemplo, Eduardo Cunha ou Michel Temer (do MDB) pensam exatamente como ele?
Bolsonaro não possui diferença alguma em relação aos políticos tradicionais. Sustenta posições visceralmente reacionárias, atrasadas, medievais, que apenas poderão:
1) Manter o atraso do Brasil enquanto país semi-colonial;
2) Aumentar a segregação, a desigualdade social, a violência urbana e instigar o ódio de uns pelos outros (sentimento nada cristão para quem se diz representante da moral e dos bons costumes).
Bolsonaro defende o racismo, o machismo e a lgbtfobia; chegou ao cúmulo de fazer apologia do estupro e da tortura política da ditadura militar. O "mito" de parte da classe média defende um programa neoliberal, recessivo, de privatizações, de subordinação total do nosso país (cheio de potencialidades e recursos) ao mercado financeiro, que chantageia e domina os países da periferia do sistema. Tudo isso apenas aprofundará o atraso econômico, político e cultural do Brasil. Jamais será capaz de defender qualquer mudança que o país realmente precisa. Sua função tem sido instigar e dar vazão ao ódio no sentido de cegar seus seguidores e a sociedade em geral sobre a real solução dos problemas sociais gerados pelo capitalismo. Quer santificar o sistema, demonizar o "comunismo" e todos aqueles que, na sua concepção, representam um "distúrbio" para a ordem social (pobres, assaltantes, gays, mulheres feministas, etc.).
Não esqueçamos que Hitler foi eleito chanceler em 1933, sobretudo pelo voto da classe média conservadora e reprimida sexual e politicamente. As portas de ódio, sadismo e perversão que Bolsonaro já está abrindo, poderão ser irreversíveis caso seja eleito, tal como o foram na Alemanha nazista.
Um sujeito como este, chamado de "mito" por alguns sádico-perversos e por "programas de humor", jamais deveria ser levado a sério. Ao invés de ser proibido, ele se expressa livremente na política e nas instituições "democráticas". Sob nenhum ponto de vista o que ele defende pode se enquadrar no que se chama de "liberdade de expressão" ou "direito democrático". Somente um sistema econômico e político decadente, que precisa recorrer e naturalizar mecanismos ditatoriais, pode tolerar ou tornar normal uma aberração desta natureza.
O aumento da criminalidade, do tráfico de drogas e da violência social não se resolverão com a "pena máxima" aos criminosos. Somente atacando as raízes da desigualdade e da segregação de classes sociais se poderá resolver tal problema. Da mesma forma: querer ignorar o problema da diversidade sexual não se resolverá fortalecendo a família patriarcal, ignorando as diferenças, jogando-as para debaixo do tapete, reforçando e autorizando o bullying. A crise econômica não será resolvida com "mais capitalismo", mais privatizações, fim de direitos sociais, destruição do movimento sindical, ditadura capitalista e torturas.
O programa político de Bolsonaro, portanto, não pode resolver a crise social e econômica do país. O capitalismo está num beco sem saída desde meados do século 20. As "saídas" fascistas, ditaduras militares e similares apenas prolongarão a agonia. Os "agitadores fascistas" procuram puxar a roda da história para trás através da força e da disseminação do ódio. Somente a mudança rumo ao socialismo, destruindo as atuais instituições e construindo novas (o que uma reforma política como propõe os petistas e seus satélites não pode resolver), representará um futuro para o país.
A autêntica esquerda socialista, que precisa mobilizar pelo caminho da igualdade, da mudança social, se pautando pelo "dizer a verdade às massas, por mais amarga que seja", está sempre em desvantagem em relação ao "agitador fascista", como é o caso de Bolsonaro. Este utiliza-se do senso comum e do ódio, da trapaça no raciocínio e no embate de ideias e de programas, valendo-se da força da inércia e da hipocrisia, inclusive subornando e fazendo conchavos de bastidores sem nenhuma "crise de princípios".
Este método de polarizar o debate político-eleitoral em torno do ruim e do menos pior, alimentando a esperança de um messias (seja Bolsonaro ou mesmo Lula), serve de cortina de fumaça, de confusionismo total e descarado, para manter os grilhões que acorrentam os trabalhadores. Nenhuma solução advirá deste democracia, destas eleições e deste sistema. A burguesia sempre vence!
Se Bolsonaro não for eleito pela burguesia "nazista" e pela classe média repleta de ódio, o mais provável é que seja eleito um candidato "responsável" do PSDB pela burguesia "responsável" e pela classe média moderada; ou então teremos a eleição de Lula (PT) por grande parte dos trabalhadores imediatistas e pela classe média "progressiva". Neste caso, teríamos um novo governo "reformista" sem reformas, que gestaria um novo ovo de serpente do fascismo. Em todos cenários os trabalhadores perdem. Cabe a semeadura de novos projetos políticos, para que germinem num futuro não muito distante.
Por uma saída sem "messias" de nenhuma espécie. Pela organização, conscientização e autonomia coletiva da classe trabalhadora!
Abaixo o nazi-fascismo: abaixo Bolsonaro!
domingo, 3 de dezembro de 2017
A propaganda enganosa é legalizada!
O PMDB está investindo pesado em propaganda na grande mídia. Fala que suas reformas são progressistas, que estão tirando o país da crise, que os trabalhadores tiveram aumento salarial. Segundo a sua propaganda, seguirão "com coragem" fazendo as reformas que supostamente o Brasil precisa (leia-se: a elite do país precisa; e urgentemente, diga-se de passagem). Provavelmente está usando dinheiro público para todas estas mentiras.
Por acaso alguém esqueceu quem é o PMDB?
O PMDB é uma quadrilha de canalhas, composta por Michel Temer, José Sarney, Jader Barbalho, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Eliseu Padilha, Romero Jucá, José Ivo Sartori, dentre outros. Estiveram em TODOS os últimos governos federais desde o fim da ditadura militar, sendo, inclusive, tolerados pelos governos militares. Apesar de existirem alas "mais brandas" (usadas pelo PT como desculpas para firmar aliança), estas apenas reforçam a quadrilha principal, bem como o programa político deste partido.
Qual é o programa político do PMDB? É o programa que legaliza o saque internacional (mantendo o país como uma semi-colônia), totalmente lesa-pátria, que se submete (e procura submeter o país) aos dogmas neoliberais e do mercado, propondo como política única as privatizações, o ajuste fiscal, corte de direitos e demais medidas recessivas.
É este partido que ajudou a comprar por 1 milhão de reais cada voto dos deputados para o impeachment (segundo a delação do doleiro Lúcio Funaro). É este mesmo partido que quer convencer a população de que a aplicação da Reforma da Previdência, Trabalhista e o ajuste fiscal será positivo para "modernizar" o Brasil.
Se este partido, bem como PSDB, Democratas, PP e os seus partidos satélites deixassem de existir, sem sombra de dúvidas, não teríamos qualquer prejuízo "democrático". Pelo contrário: começaríamos a ver uma luz no fim do túnel.
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
O estelionato eleitoral de Sartori
O governo Sartori foi eleito com o seu conhecido slogan "o meu partido é o Rio Grande", querendo dar a ideia de que colocava os interesses do povo e do Estado acima dos interesses partidários e político-programáticos. Esta falsa retórica tem sido usada pela direita aqui e mundo afora (PMDB, PSDB, MBL, D. Trump, etc.). Dória, por exemplo, seria apenas um "empresário" eficaz, que não daria vazão à politicagem. O fato de ele ter sido eleito pelo PSDB seria um mero detalhe. O mesmo poderíamos dizer de Sartori, que mesmo eleito pelo PMDB (conhecida quadrilha de estelionatários), teria como seu partido o "Rio Grande".
Durante sua campanha, Sartori deveria ter apresentado seu verdadeiro programa: política econômica recessiva, privatizações, parcelamento salarial de servidores, destruição dos serviços públicos, etc. Esta é a sua única e verdadeira política para a educação e saúde públicas, bem como para o "desenvolvimento do Estado". Como insiste em dizer, a suposta "crise financeira" começou muito antes do seu governo (omitindo, é claro, que o precursor dela foi Antonio Brito, também do PMDB, cujo líder do governo na ALERGS foi ele próprio). Como um assunto tão grave como esta "crise", que começou muito antes, pôde ser ignorado durante a campanha eleitoral?
Isto só foi possível porque vivemos em uma falsa democracia, baseada em um sistema eleitoral farsesco, com debates "fakes", que permitem este tipo de estelionato, bem como o apoio inescrupuloso dos grandes meios de comunicação (RBS, em particular), que chegaram a fraudar pesquisas eleitorais (quem não se lembra que Sartori ganhou o 1º turno, mesmo aparecendo muito atrás nas pesquisas? Um verdadeiro trunfo do marketing eleitoral, que ludibriou com sucesso a opinião pública).
A bem da verdade, este programa político e econômico de submissão total ao neoliberalismo (qual seja: a única política permitida é a de privatizações; bancos e empresas públicas estão expressamente proibidos de disputar o mercado e de ter políticas de desenvolvimento social) é uma imposição ditatorial do mercado, da qual nenhum governo "democrático" pode fugir. Qualquer partido burguês eleito no lugar de Sartori aplicaria o mesmo programa neoliberal, de uma forma ou outra (incluso o PT e o PCdoB, provavelmente de um jeito mais brando). O fato, contudo, é que o governo Sartori se elegeu em um grande estelionato eleitoral, pouco ou mal compreendido (ou mesmo ignorado). Grande parte da população, ainda satisfeita com a política do pão e circo, afundada num individualismo atroz, foi conivente com isso, embora estejamos todos pagando o preço.
O partido do Sartori, na verdade, além de ser a máfia do PMDB, é composto pela RBS e grande mídia, os empresários da agenda 2020 e pelo sistema financeiro internacional. Enquanto não compreendermos que por trás das retóricas eleitoras (que se permitem toda a sorte de demagogias) estão os interesses dos empresários, banqueiros e agiotas, sustentados por instituições políticas que funcionam como o seu balcão de negócios, estaremos fadados a viver como escravos, pensando em sair do país (leia-se: fugir), fugindo da nossa responsabilidade social de encarar tudo isso e enfrentá-los como eles merecem. Apesar de ser duramente atacado e criminalizado pela grande mídia (em especial por jornalistas mercenários, como Diego Casagrande da Band), foi por tudo isso que fizemos greve.
sábado, 11 de novembro de 2017
A virtude de ter coragem
O texto abaixo foi escrito para a comunidade escolar do Alcides Cunha como resposta às muitas reclamações de pais e alunos sobre a interrupção das aulas para protestos, aulas públicas e períodos reduzidos contra a política neoliberal implementada pelo governo Sartori (PMDB), que sucateou ainda mais a educação pública, parcelando e atrasando o salário dos educadores.
***
Segunda feira,
dia 18 de abril de 2016, alunos e professores da escola Alcides Cunha saíram às
ruas, mais uma vez, para protestar contra as condições da escola pública, após
uma semana de períodos reduzidos, debates internos e ato de rua. Para muitos,
pode parecer pouco e inconseqüente, mas não é. Nunca há inconseqüência na
formação de um jovem e na politização de uma comunidade. O menor gesto finca
suas raízes e produz os seus frutos, ainda que hoje não sejam perceptíveis.
Num país em que homens-feitos se
acanalham em frente às câmeras de televisão e de cargos no poder, cuidando
apenas de seus interesses mais mesquinhos; e em que adultos não têm sequer a
coragem de um pensamento próprio, ver adolescentes e educadores indo para as
ruas lutar por um futuro para este país é, no mínimo, uma forma de cidadania.
Sabemos que no Brasil as palavras não
significam nada porque são vazias quando vem “dos de cima”. Neste contexto, em
que a linguagem perdeu seu poder transformador, tornando-se uma forma de manter
as coisas como estão, a nossa pequena escola resolveu pôr em prática o que os
manuais do MEC e as “boas intenções” das leis do país apenas esboçam. A prática
é o critério da verdade. Não podemos apenas ficar nas “boas intenções”, mas
procurar traduzir a nossa indignação em formas de questionar a injustiça a que
estamos submetidos por sucessivos governos, por menor que seja. Reclamar é
fácil! Fazer algum movimento efetivo é muito difícil!
Nossos
acertos e erros:
Apesar destas lições de cidadania
prática, tivemos muitos problemas de organização para expressarmos a nossa
indignação. Fizemos um belo ato no dia 8 de abril e uma excelente aula pública
no dia 18 do mesmo mês, mas a participação de alunos, professores e
funcionários foi baixa. Tudo isso se deu por uma falta de planejamento maior
dos professores e uma grande desmotivação por parte dos alunos, que preferiam
correr para casa à participar de um movimento em defesa da educação pública.
Porém, cabe destacar a participação da maioria dos alunos dos terceiros e
segundos anos do Ensino Médio, que deram o exemplo de disciplina e compreensão
do que se passa. Eles perceberam, de alguma forma, que a nossa luta não é
apenas por salários em dia, mas em defesa da educação pública, das nossas
condições de trabalho, ensino e aprendizagem.
Infelizmente,
ao contrário dos 3ºs e dos 2ºs anos, muitos alunos e pais questionaram a
validade da movimentação que fizemos, talvez, em razão das muitas traições de
políticos, partidos, governos e sindicatos. Por isso eles não vêem perspectiva
de mudança e voltam-se para o individualismo. Falam, erroneamente, que tudo
isso é “perda de tempo”. Preferem ver os ataques aos serviços públicos e se
resignar passivamente a eles. Para nós, a pior derrota é a derrota sem luta.
Em
primeiro lugar, há que se perguntar por que se faz algo? O que leva uma pessoa
a tomar uma atitude? Por que alguém deixaria de lado a comodidade tranqüila de
sua vida cotidiana para se indispor com colegas, direção, pais e alunos? Qual
imperativo conduz um professor, cuja sobrevivência depende, geralmente, de um
único emprego, a expor-se ao assédio moral ou à uma demissão sumária e perder
seu sustento?
Se
houvesse democracia em nossa sociedade ou se o governo Sartori (PMDB) realmente
tivesse interesse em resolver os problemas da educação, tal como fala durante
os períodos eleitorais, certamente nada disso seria necessário. O nosso
movimento de períodos reduzidos e atos de rua foi uma resposta de nossos
professores, cansados dos desmandos de sucessivos governos que não deixam outro
caminho a não ser a mobilização e a denúncia de rua. O atual “ajuste fiscal”,
proposto por todos os governos, ameaça a existência dos serviços públicos. Se
deixarmos, eles nos tirarão tudo.
E
se nada ou pouco alcançamos com esta mobilização de períodos reduzidos, saibam
que uma luta não se mede apenas pelo que se ganha ou se perde, mas pela justeza
de sua causa e pelo coração de quem luta. Não é nossa intenção parar de lutar.
Estamos apenas começando. Há muito que fazer. Mas precisamos de todos vocês:
pais, alunos, professores, funcionários, direção. De toda a nossa comunidade,
enfim! De todos aqueles que sabem que algo está errado neste mundo e sentem o
peso da injustiça nas costas. Pois são os nossos ombros, os ombros dos
trabalhadores, que sustentam o mundo. E ninguém mais vai aliviar esta carga a
não ser nós mesmos: unidos e lutando!
Achamos
que a vida não deveria ser apenas trabalhar, ver TV e consumir. A vida é mais
do que um pobre salário para comprar outra TV ou um carro novo à prestações. A
vida não deveria ser à prestações. É por pensarmos assim que continuaremos
procurando formas de mobilização, de denúncia, de tencionar o governo e a
opinião pública. Para nós, lutar é um processo. Não temos garantia de vitórias.
Mas só vence quem luta, quem erra, revê os erros, acerta; quem junta mais uma,
duas, dez, mil, um milhão de pessoas para lutar; quem revê as formas de luta,
as bandeiras, os métodos. Quem não luta não pode vencer. O único caminho que
resta para quem não luta é o de reclamar e ver a vida passando na janela ao
lado.
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