O texto abaixo foi escrito para a comunidade escolar do Alcides Cunha como resposta às muitas reclamações de pais e alunos sobre a interrupção das aulas para protestos, aulas públicas e períodos reduzidos contra a política neoliberal implementada pelo governo Sartori (PMDB), que sucateou ainda mais a educação pública, parcelando e atrasando o salário dos educadores.
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Segunda feira,
dia 18 de abril de 2016, alunos e professores da escola Alcides Cunha saíram às
ruas, mais uma vez, para protestar contra as condições da escola pública, após
uma semana de períodos reduzidos, debates internos e ato de rua. Para muitos,
pode parecer pouco e inconseqüente, mas não é. Nunca há inconseqüência na
formação de um jovem e na politização de uma comunidade. O menor gesto finca
suas raízes e produz os seus frutos, ainda que hoje não sejam perceptíveis.
Num país em que homens-feitos se
acanalham em frente às câmeras de televisão e de cargos no poder, cuidando
apenas de seus interesses mais mesquinhos; e em que adultos não têm sequer a
coragem de um pensamento próprio, ver adolescentes e educadores indo para as
ruas lutar por um futuro para este país é, no mínimo, uma forma de cidadania.
Sabemos que no Brasil as palavras não
significam nada porque são vazias quando vem “dos de cima”. Neste contexto, em
que a linguagem perdeu seu poder transformador, tornando-se uma forma de manter
as coisas como estão, a nossa pequena escola resolveu pôr em prática o que os
manuais do MEC e as “boas intenções” das leis do país apenas esboçam. A prática
é o critério da verdade. Não podemos apenas ficar nas “boas intenções”, mas
procurar traduzir a nossa indignação em formas de questionar a injustiça a que
estamos submetidos por sucessivos governos, por menor que seja. Reclamar é
fácil! Fazer algum movimento efetivo é muito difícil!
Nossos
acertos e erros:
Apesar destas lições de cidadania
prática, tivemos muitos problemas de organização para expressarmos a nossa
indignação. Fizemos um belo ato no dia 8 de abril e uma excelente aula pública
no dia 18 do mesmo mês, mas a participação de alunos, professores e
funcionários foi baixa. Tudo isso se deu por uma falta de planejamento maior
dos professores e uma grande desmotivação por parte dos alunos, que preferiam
correr para casa à participar de um movimento em defesa da educação pública.
Porém, cabe destacar a participação da maioria dos alunos dos terceiros e
segundos anos do Ensino Médio, que deram o exemplo de disciplina e compreensão
do que se passa. Eles perceberam, de alguma forma, que a nossa luta não é
apenas por salários em dia, mas em defesa da educação pública, das nossas
condições de trabalho, ensino e aprendizagem.
Infelizmente,
ao contrário dos 3ºs e dos 2ºs anos, muitos alunos e pais questionaram a
validade da movimentação que fizemos, talvez, em razão das muitas traições de
políticos, partidos, governos e sindicatos. Por isso eles não vêem perspectiva
de mudança e voltam-se para o individualismo. Falam, erroneamente, que tudo
isso é “perda de tempo”. Preferem ver os ataques aos serviços públicos e se
resignar passivamente a eles. Para nós, a pior derrota é a derrota sem luta.
Em
primeiro lugar, há que se perguntar por que se faz algo? O que leva uma pessoa
a tomar uma atitude? Por que alguém deixaria de lado a comodidade tranqüila de
sua vida cotidiana para se indispor com colegas, direção, pais e alunos? Qual
imperativo conduz um professor, cuja sobrevivência depende, geralmente, de um
único emprego, a expor-se ao assédio moral ou à uma demissão sumária e perder
seu sustento?
Se
houvesse democracia em nossa sociedade ou se o governo Sartori (PMDB) realmente
tivesse interesse em resolver os problemas da educação, tal como fala durante
os períodos eleitorais, certamente nada disso seria necessário. O nosso
movimento de períodos reduzidos e atos de rua foi uma resposta de nossos
professores, cansados dos desmandos de sucessivos governos que não deixam outro
caminho a não ser a mobilização e a denúncia de rua. O atual “ajuste fiscal”,
proposto por todos os governos, ameaça a existência dos serviços públicos. Se
deixarmos, eles nos tirarão tudo.
E
se nada ou pouco alcançamos com esta mobilização de períodos reduzidos, saibam
que uma luta não se mede apenas pelo que se ganha ou se perde, mas pela justeza
de sua causa e pelo coração de quem luta. Não é nossa intenção parar de lutar.
Estamos apenas começando. Há muito que fazer. Mas precisamos de todos vocês:
pais, alunos, professores, funcionários, direção. De toda a nossa comunidade,
enfim! De todos aqueles que sabem que algo está errado neste mundo e sentem o
peso da injustiça nas costas. Pois são os nossos ombros, os ombros dos
trabalhadores, que sustentam o mundo. E ninguém mais vai aliviar esta carga a
não ser nós mesmos: unidos e lutando!
Achamos
que a vida não deveria ser apenas trabalhar, ver TV e consumir. A vida é mais
do que um pobre salário para comprar outra TV ou um carro novo à prestações. A
vida não deveria ser à prestações. É por pensarmos assim que continuaremos
procurando formas de mobilização, de denúncia, de tencionar o governo e a
opinião pública. Para nós, lutar é um processo. Não temos garantia de vitórias.
Mas só vence quem luta, quem erra, revê os erros, acerta; quem junta mais uma,
duas, dez, mil, um milhão de pessoas para lutar; quem revê as formas de luta,
as bandeiras, os métodos. Quem não luta não pode vencer. O único caminho que
resta para quem não luta é o de reclamar e ver a vida passando na janela ao
lado.
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