sábado, 2 de julho de 2022

Por um voto crítico em Lula

 


As probabilidades da vida real substituem o extremo e o absoluto exigidos pela teoria
Da Guerra – Von Clausewitz

O povo brasileiro não superou suas ilusões eleitorais, nem sua profunda desorganização. A maioria da população pobre do país ainda espera e aposta nas eleições (a pequena burguesia, como não poderia deixar de ser, também). Nenhum movimento de massas surgiu no país em alternativa às ilusões eleitorais.

         Se é certo que a militância petista no movimento sindical foi um dos principais entraves para o surgimento de uma possível alternativa, também é certo que o povo brasileiro sofre de uma apatia profunda. Não faltaram experiências de agitação sobre os “votos nulos” ou de intervenções revolucionárias em muitos sindicatos do país – ainda que bastante minoritárias. Acompanhamos altos índices de votos nulos nas campanhas passadas, mas também passivos e sem apontar perspectivas.

O receio de parte da população com uma possível continuidade do governo Bolsonaro é bastante compreensível, embora isso não se traduza em nenhuma luta organizada, mas transforma-se em espera passiva por Lula – por exemplo: não vimos uma massa revoltosa “atropelar as suas direções traidoras” na luta pelo “Fora Bolsonaro”. Agitações para isso, ainda que minoritárias, não faltaram.

É com esta consciência repleta de ilusões eleitorais profundamente arraigada na população brasileira que devemos tentar dialogar. Como as tentativas da “esquerda revolucionária” – sejam através de candidaturas próprias que não rompem com a lógica eleitoral (sendo meramente “testemunhais”), sejam através do voto nulo – ignoram a correlação de forças, não apontando uma alternativa vinda da luta de massas, já que ela não existe no momento, não restam alternativas senão ir testando novas abordagens para se debater o programa lulista e o próprio país. Ainda que o sentimento eleitoral por Lula seja heterogêneo numa população de mais de 200 milhões de habitantes, há elementos e traços em comuns. Grande parte da massa vê o discurso petista como o único realista e viável. A “esquerda revolucionária”, lamentavelmente, sequer tem conseguido arranhar esse discurso (e também nem sequer tenta procurar explicações para isso, apenas repetindo velhas fórmulas).

 

O que é um voto crítico?

         O voto nulo nas eleições burguesas não é um princípio para os socialistas revolucionários, mas uma tática política, tão válida na luta de classes quanto qualquer outra que defenda e marque posições de luta dos trabalhadores, inclusive o voto crítico. Apenas para o anarquismo o voto nulo é um princípio. Infelizmente, a maioria dos setores da “esquerda revolucionária” vê o voto nulo como um princípio norteador, divisor de águas entre coerentes e traidores. Parte deste raciocínio dicotômico explica a dificuldade de se estabelecer pontes não só com as massas, mas entre a própria vanguarda.

         Certamente que o lado do oportunismo eleitoreiro não é melhor; e justamente propor voto crítico é muito perigoso porque abre precedentes e pode até dar argumentos pra gente sem critério algum por entre a militância petista. No entanto, é preciso encarar os debates espinhosos, mesmo sob o risco de ser rotulado das mais diversas e curiosas caracterizações.

         Para começo de conversa é bom delimitar partindo de exemplos concretos: o que Psol e PCO estão fazendo ao propor voto em Lula não é um voto crítico. Trata-se de um apoio desesperado e eleitoreiro, que só podem reforçar as ilusões da massa. Aliás, combater ilusões não parece ser o objetivo de ambos partidos. Ao que tudo indica, gostaram da influência que exercem a partir da suposta “coerência” de manter a “esquerda unida” frente à ascensão do “fascismo”. Para o PCO existem dividendos políticos evidentes: ganhou espaço entre a militância petista para reforçar mais do mesmo, além de influência direta nas mídias lulistas, tipo TV 247. O Psol, por sua vez, ignora e diminui problemas graves da chapa de Lula, como as alianças – como se fosse culpa apenas de Lula –, reforçando o seu compromisso com as perspectivas legalistas e democrático-burguesas. Um expoente da “esquerda” do Psol, Valério Arcary, não tem nenhum problema em reconhecer que “uma parcela do povo de esquerda poderá retribuir o gesto do Psol de apoio a Lula com uma votação expressiva nos candidatos a deputados”[i].

         Ter uma votação expressiva nos candidatos a deputados do Psol requer entrar, como sempre, no vale tudo eleitoral sem nenhuma crítica que atrapalhe a sua lógica aniquiladora, mas, literalmente, surfar a onda. Discursos impopulares não resultam em dividendos eleitorais e tudo o que vale para o Psol, sabemos, é eleger, custe o que custar. Já o PCO não se envergonha em levantar a seguinte bandeira: “Lula presidente – por um governo dos trabalhadores”[ii].

         Tudo isso nada tem a ver com um voto crítico, mas um voto desesperado e ilusionista. Estamos diante de um interesse eleitoreiro aberto: seja por tirar Bolsonaro do poder com vistas a facilitar a vida parlamentar, mesmo que se mantenha o mesmo tipo de “luta” que o PT; seja pela espera da “retribuição” de votos nos candidatos do Psol.

Tentando diferenciar-se disso, o PCO afirma nada mais, nada menos, que com a eleição de um futuro governo Lula seria possível termos um “governo dos trabalhadores”. Vemos aqui um verdadeiro desserviço para qualquer luta futura pelo socialismo, pois reforça as referidas ilusões do povo brasileiro no salvador da pátria e nas eleições burguesas, de uma forma ou de outra – e, de quebra, faz-se um contorcionismo para sustentar que sua política está na lógica de construção de um “governo dos trabalhadores”.

Pior do que isso, para a propaganda do PCO, Lula voltou a ser um operário que fala em nome dos interesses da classe trabalhadora. Isto não seria jogar toda a experiência dos governos petistas no lixo?

 

Um voto crítico pressupõe não embelezar a real natureza de um futuro governo Lula

         A experiência da luta de classes deve ser marcada a ferro e fogo na consciência de classe de um povo. Manter esta experiência viva é um dos principais papeis de um partido revolucionário. A militância petista, por sua vez, ataca patologicamente quem pensa diferente, seja nas eleições, seja nos sindicatos, fanatizando o debate de uma forma bem semelhante ao que faz a “militância” bolsonarista. Despolitiza a campanha, cultua um herói, um verdadeiro “salvador da pátria”, enquanto exerce com mãos de ferro uma espécie de ditadura sindical nos movimentos e categorias em que dirige o aparato “representativo”.

         O que foram os governos petistas de 2003 a 2016? Ora, foram governos de conciliação de classe pautados pelo sistema financeiro, que tolerava pequenas concessões populares através dos programas sociais e um projeto restrito de indústrias nacionais. O povo ganhava um trocadinho, conseguia ter um pouquinho mais de recursos de vida, e consumia mais retórica do que medidas concretas de governo. Este projeto tinha limites evidentes e prazos de validade expressos pelo inevitável desgaste político de um governo dentro do sistema – um futuro governo Lula estará sujeito aos mesmíssimos problemas, incluindo futuros “golpes”.

Podemos falar em “governo dos trabalhadores” com Lula? Evidentemente que não, embora não tenhamos outra forma, no momento, de tirar Bolsonaro do poder – e já que eles não são politicamente iguais, é um passo necessário, ainda que muito limitado, tímido e contraditório. Infelizmente é o que a realidade atual e o ânimo da classe trabalhadora nos permitem fazer. Ainda que se possa compreender perfeitamente a proposta de voto nulo, a sua tendência é não possibilitar nenhum tipo de ponte de diálogo com a base eleitoral petista; tampouco poderá criar um movimento de “combustão espontânea” contra o bolsonarismo. São táticas diferentes, sendo o voto crítico apenas o mais preferível neste momento.

         Trotski já observou que “o cretinismo parlamentar é uma enfermidade detestável, mas o cretinismo antiparlamentar não é muito melhor”[iii]. É exatamente entre estas posições que nos encontramos atualmente no Brasil. O cretinismo eleitoreiro é representado, sobretudo, por PT, PCdoB e Psol em contraposição ao cretinismo anti-voto, que tem se tornado um verdadeiro princípio entre a militância revolucionária. Seria ideal que o voto nulo significasse um aumento da consciência de classe no sentido da preparação para uma revolução, mas não é isso que nos espera. A militância revolucionária que propõe o voto nulo pressupõe que a massa trabalhadora que recém votou no bolsonarismo em 2018 (e a outra parte que segue iludida com o petismo) se convença da noite para o dia da importância de anular o voto como que por um passe de mágica, ignorando toda a conjuntura atual e a imediatamente anterior a eleição de Bolsonaro – e que isso, por si só, representa uma demarcação que avança a consciência de classe. Grande parte da tradição e organização operária e marxista que pautou a Europa e a Rússia do século XX nunca existiu no Brasil, ou se existiu, já se apagou completamente. É preciso reconstruir, pedra por pedra, com paciência.

         Não existe a menor condição, atualmente, de uma frente única de luta direta e com perspectivas militares e revolucionárias para se depor o governo Bolsonaro (e chamar o voto nulo não a criará por combustão espontânea). Devemos, então, por um lado, votar criticamente no petismo, tentando estabelecer pontes com a massa eleitoral petista, no sentido de testar novas formas de diálogo, de propaganda, de agitação que lhe lancem dúvidas sobre o projeto que defendem; e, por outro, nos questionar porque o povo não avança? Seria apenas motivado pela política de PT, CUT e cia., ou haveria debates e ilusões presentes na psicologia de massas do povo que sequer são observados e pontuados por um projeto de um novo trabalho de base?

 

Que voto crítico é possível defender?

         Uma posição eleitoral não define necessariamente uma organização, um partido ou um ativista, mas a totalidade de suas práticas. Como foi dito antes, um voto crítico é apenas uma tática possível, que precisa ser avaliada e pesada com o conjunto do discurso, da prática e da militância de quem o defende. Para além dessa compreensão óbvia, deve-se pesar a correlação de forças entre as classes, a conjuntura e, por fim, a forma como este voto é defendido e propagado; isto é, se ele é crítico ou acrítico; se por ele vale tudo, se é um cheque em branco desesperado, ou se existem critérios bem delimitados.

         Voto crítico não pode significar fazer parte da chapa presidencial – tal como faz o Psol –, nem reivindicar ou disputar futuros cargos no governo. Isso é ser parte do próprio projeto e lhe dar aberta sustentação política. Tampouco o voto crítico é vitalício, valendo para sempre, em todas as futuras eleições. Cada conjuntura exige uma rigorosa análise da correlação de forças e do equilíbrio das classes em jogo.

         Nada pode ser escondido ou embelezado: votar no PT é sim um problema político sério que deve nos causar preocupação. Este partido está corrompido e adaptado à estrutura burguesa e não aprendeu, nem melhorou nada com o golpe sofrido em 2016. Quem propõe voto crítico – para ser chamado enquanto tal – deve manter a sua total independência dele. E parte desta tática está em explicar aberta e pacientemente os perigos deste voto – e não tentar nos deixar em paz com a nossa “consciência revolucionária” acrescentando um slogan mentiroso e impossível, como o malfadado “Lula presidente: por um governo dos trabalhadores”. Não seria isso um escárnio para uma chapa que possui Geraldo Alckmin como vice? E o que falar da forma anti-democrática da construção do projeto de programa, que impede a participação de velhos parlamentares petistas consagrados? O que sobrará, então, para a base da militância do partido?

         Um voto crítico no petismo não pode ter outra finalidade do que derrotar ou atrapalhar uma nova vitória eleitoral do neofascismo; mas, em caso de vitória da chapa do PT, sem a menor ilusão, desde já devemos dizer que precisaremos combater seus governos, pois sofrerão pressões inevitáveis do grande capital e em nada se assemelhará a um “governo dos trabalhadores”. Dado a sua natureza de classe, não poderá ser diferente do que foram os governos de 2003 a 2016. No entanto, essa crítica não possui nada em comum com os discursos lava-jatistas sustentados pela direita, pela grande mídia, por setores do Psol e pelo PSTU. Por isso a importância de refinar a argumentação, mantendo-o numa condição que possa elevar a consciência de classe, e não retrocedê-la ao economicismo e ao eleitoralismo-burguês mais rasteiro.

 

Por que não votar criticamente na candidatura do PSTU, PCB ou UP?

         Alguns camaradas podem argumentar que a candidatura de Lula não é a única passível de receber voto crítico. Há também a candidatura de PSTU, PCB e da UP. Todos partidos que estão supostamente à “esquerda” do PT. Contudo, o critério adotado aqui para o voto crítico na chapa petista diz respeito a ter peso eleitoral capaz de derrotar ou atrapalhar a vitória da direita neofascista. Nenhum dos três o possuem, tanto é assim que geralmente o debate que protagonizam descamba para a admissão do voto em Lula no segundo turno, pois reconhecem tacitamente que não possuem o peso político e eleitoral necessário.

         Sem dúvida o voto de uma pequena parcela da classe trabalhadora nesses partidos é progressivo em uma conjuntura difícil como a que vivemos, mas existem claros limites políticos, seja pelo peso eleitoral, seja por questões programáticas e práticas. PCB e UP padecem pelo fato de reivindicarem o legado stalinista, direta ou indiretamente – o que, nos dias atuais, não é pouca coisa e expressa bastante as suas possibilidades futuras de desenvolvimento e perspectivas de “governo”.

         O PSTU, a despeito de um discurso “trotskista”, está, na realidade, à direita do PT em muitos assuntos, sejam nacionais ou internacionais. Por exemplo: não reconhece a ameaça da direita neofascista no Brasil e no mundo; na questão da “guerra” da Ucrânia está a direita de Lula e ainda tenta fazer malabarismos teóricos para justificar o injustificável. Além disso, estes partidos, no geral, praticam um sindicalismo igual ao da CUT ou ao conjunto do movimento sindical e estudantil dirigido pelo PT, não rompendo com a lógica burocrática – tanto é assim que estão juntos em diversas chapas país afora –, nem procuram enfrentar as hipocrisias do cotidiano nos locais de trabalho e estudo, como o burocratismo sindical e dos movimentos sociais – dentre outros.

 

As falsas polêmicas com o discurso de “terceira via”

         A grande mídia tenta emplacar um discurso de “terceira via”, como se ela realmente estivesse preocupada com a polarização dicotomizadora entre Lula e Bolsonaro. Tudo um jogo de cena para patrocinar um candidato burguês mais “moderado”, seja ele Sérgio Moro – o que seria um golpe contra o lulismo, mas se torna cada vez mais difícil a sua sustentação –, Simone Tebet, do MDB, ou algum figurão do PSDB. Nenhum deles consegue vingar, o que reforça a polarização.

         Há, contudo, as desesperadas tentativas de Ciro Gomes (agora no PDT), que cumpre o papel de ponta de lança contra Lula, agitando bandeiras anti-petistas mais enfaticamente que o próprio bolsonarismo. Se houvesse possibilidade real de sua candidatura derrotar o bolsonarismo, também deveríamos votar, de nariz tapado, no oligarca cearense; mas ele também não possui o peso eleitoral necessário e a sua ênfase no anti-petismo o aproxima cada vez mais da direita neofascista. E é exatamente esta a única questão que deve ser considerada no voto crítico nestas eleições – nenhuma outra: qualquer discurso sobre as “virtudes” de Lula ou de Ciro são discursos vazios, marketing eleitoral e/ou mentiras completas.

Ao fim e ao cabo, a candidatura de Ciro não passa de uma variante burguesa, desesperada e histriônica, cuja flama da ambição pelo poder é aguçada a cada nova divulgação conveniente de pesquisas eleitorais e de declarações contra Lula, capciosamente selecionadas e amplificadas pela mídia burguesa com a finalidade de rachar a base eleitoral petista.

 

O voto em Lula pode derrotar o neofascismo?

         A militância petista usa como sua principal bandeira eleitoral o discurso de que “Lula derrotará o fascismo”. Uma das lógicas de funcionamento do sistema é a alternação de governos duros (militares) e brandos (“democráticos”). A essência funcional do sistema depende desta engrenagem, que inclusive lhe confere um ar “democrático”. Isto é: uma “mudança” que não muda nada de essencial, embora dê aparência de mudança. O sistema também necessita dessa polarização entre “projetos” para fanatizar os setores populares e desviar o foco do que é realmente decisivo.

         O neofascismo também se aproveita de todas as falhas, da impunidade e do jogo de hipocrisia das instituições e da legislação da democracia burguesa. Sabe fazer isso muito bem, vendendo tais práticas como “anti-sistema” e discursando contra o “politicamente correto”. Muitos trabalhadores julgam que exatamente por isso Bolsonaro e Trump “falam a verdade”, enquanto os demais políticos “não falam o que realmente pensam”.

         Dado o arco de alianças políticas do petismo, podemos concluir que as falhas, a impunidade, o jogo cínico das instituições e os problemas da legislação da democracia burguesa seguirão. O neofascismo esperará o inevitável desgaste dos governos petistas e retomará a sua agitação e propaganda, reiniciando o ciclo. Derrotar o neofascismo pressupõe derrotar a democracia dos ricos e o capitalismo, sem o que todas as portas para ele seguirão abertas.

         O voto crítico visa possibilitar espaços para a luta em condições um pouco mais favoráveis, mas não pode vender ilusões, sob hipótese alguma, de que vencerá o “fascismo”, pois este será sempre uma possibilidade a nos espreitar enquanto o capitalismo existir.

 

A questão dos BRICs

         Do ponto de vista internacional há uma tendência minimamente progressiva no programa do governo Lula que pretende alinhar o Brasil ao bloco liderado pelo imperialismo chinês e russo. Todas as demais candidaturas burguesas pretendem deixar o Brasil na esfera do imperialismo hegemônico atualmente, que é o dos EUA.

         Do outro lado desta disputa encontram-se China e Rússia – as candidatas a novo imperialismo hegemônico com discursos de “mundo multipolar”, que tem no Brasil a sua principal aposta em um governo do PT. A postura chinesa – não belicista atualmente, tolerante com empréstimos financeiros internacionais e supostamente não interventora nos assuntos internos de cada país –, bem como a russa, que não demonstra intenções expansionistas para além do seu entorno, parecem demonstrar a superação de um passado imperialista da história, apontando para uma outra perspectiva, multipolar, mais “democrática” e “inclusiva”.

Realmente há diferenças pontuais importantes entre o agressivo imperialismo estadunidense – que mesmo hoje continua manipulando países, patrocinando e terceirizando guerras e golpes – e o nascente imperialismo sino-russo, que, para se firmar, precisa justamente aparecer com uma “nova” imagem para sustentar suas pretensões à potência hegemônica. Um movimento revolucionário de trabalhadores não deve se furtar a apontar essas diferenças entre os imperialismos e a conclamar a classe trabalhadora mundial a se aproveitar destas diferenças. Contudo, ao contrário do que acredita e prega parte da esquerda (PCdoB-Elias Jabbour, PCB-Jones Manoel, TV 247-PT), ainda tratamos de campos imperialistas em disputa.

Apesar disso, dada a apatia da classe trabalhadora brasileira e a situação internacional, seria importante procurar minar o imperialismo hegemônico, tirando o Brasil de sua área de influência e tensionando pelo desenrolar de uma nova configuração mundial, ainda que ela esteja longe de ser a ideal para a classe trabalhadora internacional. Possibilitará, ao menos, tal como a derrota eleitoral momentânea do bolsonarismo no Brasil, um tempo precioso para se reorganizar e abrir precedentes para novas experiências políticas e sociais.

A cúpula dos BRICS
 

Criticar Lula fará com que ele mude o seu programa?

         Não! Lula não mudará o seu programa, que é burguês e “liberal de esquerda”. Está comprometido até a medula dos ossos com o sistema financeiro e o grande capital. Não faz questão nenhuma de esconder nada disso e, por isso mesmo, como já foi dito, não podemos tolerar nenhum tipo de falsa propaganda eleitoral e política que embeleze e esconda essa grave constatação.

         Sem a menor ilusão, devemos sustentar todas estas posições e afirmar que precisaremos preparar o futuro combate aos seus governos, que, pela sua natureza de classe, não poderá ser diferente do que foram os governos petistas de 2003 a 2016. Porém, neste momento, é o que a realidade e o ânimo da classe trabalhadora nos permitem fazer para tirar Bolsonaro do poder. E mesmo na hipótese de que Lula seja eleito e o seu governo fique paralisado politicamente, o que é uma grande possibilidade, dado a polarização com o bolsonarismo – o que pode gerar uma espécie de “efeito Getúlio” (isto é, um movimento em que a elite nacional e estadunidense ajam cotidianamente para impossibilitar a governabilidade, tal como Carlos Lacerda e a sua trupe fizeram na época de Getúlio para sabotá-lo, levando à paralisia completa do governo e das instituições democrático-burguesas; sobretudo se a pauta dos BRICs avançar[iv]) –, devemos lutar contra o seu governo sem prestar-lhe um grama de apoio político e, obviamente, sem capitular ou mesmo perder de vista a atuação da direita golpista e sabotadora.

         É assim que este blog compreende como deveria ser um voto crítico no PT nestas eleições, bem como o diálogo com a base eleitoral de massas petista. A maioria esmagadora da classe trabalhadora brasileira não apresentou espírito de revolta nos últimos anos, nem de urgência em abrir um caminho novo. E é justamente este espírito que é importante e faz tanta falta. A grande questão, portanto, vai muito além das eleições (voto acrítico, crítico ou nulo): trata-se de como descobrir e abrir caminho para o espírito de revolta consciente no povo brasileiro, fato que nenhuma das esquerdas tem conseguido realizar ou mesmo compreender.


 

>> Textos importantes sobre o voto crítico lançados durante as eleições de 2018 e de análise sobre Lula e o PT:

1) https://construcaopelabase.blogspot.com/2018/09/voto-critico-pelas-liberdades.html

2) https://construcaopelabase.blogspot.com/2018/10/ir-muito-alem-do-voto-critico-em-haddad.html

3) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/03/um-balanco-da-frente-popular-entre-o-pt.html

4) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/05/bolsonaro-x-lula.html

5) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2014/02/a-degeneracao-do-pt.html

6) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/12/sobre-como-o-petismo-tende-repetir-os.html

7) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/11/por-que-classe-trabalhadora-brasileira.html

8) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2020/12/o-neofascismo-nao-foi-derrotado.html

9) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2019/10/sobre-o-metodo-do-voto-critico.html

 

Referências


[i] Ver: https://esquerdaonline.com.br/2022/05/04/o-psol-decidiu-apoiar-lula-por-que/?fbclid=IwAR1DxaFyUn5pC3QHeQ7ivd-xRxVI9rKAxullAse75iBzFHcEImE0eB-LF2M

[ii] Ver: https://www.youtube.com/watch?v=uQxrL7ZSMk0&ab_channel=COTV-CausaOperariaTV

[iii] Citação de Trotski in DEUTSCHER, Isaac. Trotski – o profeta banido 1929-1940. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1984 (páginas 168 e 169).

[iv] Ver: https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2022/06/dez-pontos-para-reflexao-sobre-o-plano.html

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