O
povo brasileiro não superou suas ilusões eleitorais, nem sua profunda
desorganização. A maioria da população pobre do país ainda espera e aposta nas
eleições (a pequena burguesia, como não poderia deixar de ser, também). Nenhum
movimento de massas surgiu no país em alternativa às ilusões eleitorais.
Se é certo que a militância petista no
movimento sindical foi um dos principais entraves para o surgimento de uma possível
alternativa, também é certo que o povo brasileiro sofre de uma apatia profunda.
Não faltaram experiências de agitação sobre os “votos nulos” ou de intervenções
revolucionárias em muitos sindicatos do país – ainda que bastante minoritárias.
Acompanhamos altos índices de votos nulos nas campanhas passadas, mas também
passivos e sem apontar perspectivas.
O
receio de parte da população com uma possível continuidade do governo Bolsonaro
é bastante compreensível, embora isso não se traduza em nenhuma luta
organizada, mas transforma-se em espera passiva por Lula – por exemplo: não
vimos uma massa revoltosa “atropelar as suas direções traidoras” na luta pelo
“Fora Bolsonaro”. Agitações para isso, ainda que minoritárias, não faltaram.
É
com esta consciência repleta de ilusões eleitorais profundamente arraigada na população brasileira que devemos tentar dialogar. Como as tentativas da
“esquerda revolucionária” – sejam através de candidaturas próprias que não
rompem com a lógica eleitoral (sendo meramente “testemunhais”), sejam através
do voto nulo – ignoram a correlação de forças, não apontando uma alternativa
vinda da luta de massas, já que ela não existe no momento, não restam alternativas
senão ir testando novas abordagens para se debater o programa lulista e o
próprio país. Ainda que o sentimento eleitoral por Lula seja heterogêneo numa
população de mais de 200 milhões de habitantes, há elementos e traços em
comuns. Grande parte da massa vê o discurso petista como o único realista e
viável. A “esquerda revolucionária”, lamentavelmente, sequer tem conseguido
arranhar esse discurso (e também nem sequer tenta procurar explicações para
isso, apenas repetindo velhas fórmulas).
O que é um voto crítico?
O voto nulo nas eleições burguesas não
é um princípio para os socialistas revolucionários, mas uma tática política,
tão válida na luta de classes quanto qualquer outra que defenda e marque posições
de luta dos trabalhadores, inclusive o voto crítico. Apenas para o anarquismo o voto nulo é um princípio. Infelizmente, a maioria dos
setores da “esquerda revolucionária” vê o voto nulo como um princípio
norteador, divisor de águas entre coerentes e traidores. Parte deste raciocínio
dicotômico explica a dificuldade de se estabelecer pontes não só com as massas,
mas entre a própria vanguarda.
Certamente que o lado do oportunismo
eleitoreiro não é melhor; e justamente propor voto crítico é muito perigoso
porque abre precedentes e pode até dar argumentos pra gente sem critério algum por
entre a militância petista. No entanto, é preciso encarar os debates
espinhosos, mesmo sob o risco de ser rotulado das mais diversas e curiosas
caracterizações.
Para começo de conversa é bom delimitar
partindo de exemplos concretos: o que Psol e PCO estão fazendo ao propor voto
em Lula não é um voto crítico. Trata-se de um apoio desesperado e eleitoreiro,
que só podem reforçar as ilusões da massa. Aliás, combater ilusões não parece
ser o objetivo de ambos partidos. Ao que tudo indica, gostaram da influência
que exercem a partir da suposta “coerência” de manter a “esquerda unida” frente
à ascensão do “fascismo”. Para o PCO existem dividendos políticos evidentes:
ganhou espaço entre a militância petista para reforçar mais do mesmo, além de
influência direta nas mídias lulistas, tipo TV 247. O Psol, por sua vez, ignora
e diminui problemas graves da chapa de Lula, como as alianças – como se fosse
culpa apenas de Lula –, reforçando o seu compromisso com as perspectivas
legalistas e democrático-burguesas. Um expoente da “esquerda” do Psol, Valério
Arcary, não tem nenhum problema em reconhecer que “uma parcela do povo de esquerda poderá retribuir o gesto do Psol de
apoio a Lula com uma votação expressiva nos candidatos a deputados”[i].
Ter uma votação expressiva nos
candidatos a deputados do Psol requer entrar, como sempre, no vale tudo
eleitoral sem nenhuma crítica que atrapalhe a sua lógica aniquiladora, mas,
literalmente, surfar a onda. Discursos impopulares não resultam em dividendos
eleitorais e tudo o que vale para o Psol, sabemos, é eleger, custe o que custar.
Já o PCO não se envergonha em levantar a seguinte bandeira: “Lula presidente – por um governo dos
trabalhadores”[ii].
Tudo isso nada tem a ver com um voto
crítico, mas um voto desesperado e ilusionista. Estamos diante de um interesse
eleitoreiro aberto: seja por tirar Bolsonaro do poder com vistas a facilitar a
vida parlamentar, mesmo que se mantenha o mesmo tipo de “luta” que o PT; seja
pela espera da “retribuição” de votos nos candidatos do Psol.
Tentando
diferenciar-se disso, o PCO afirma nada mais, nada menos, que com a eleição de um
futuro governo Lula seria possível termos um “governo dos trabalhadores”. Vemos
aqui um verdadeiro desserviço para qualquer luta futura pelo socialismo, pois
reforça as referidas ilusões do povo brasileiro no salvador da pátria e nas
eleições burguesas, de uma forma ou de outra – e, de quebra, faz-se um
contorcionismo para sustentar que sua política está na lógica de construção de um
“governo dos trabalhadores”.
Pior
do que isso, para a propaganda do PCO, Lula voltou a ser um operário que fala
em nome dos interesses da classe trabalhadora. Isto não seria jogar toda a
experiência dos governos petistas no lixo?
Um voto crítico pressupõe não
embelezar a real natureza de um futuro governo Lula
A experiência da luta de classes deve
ser marcada a ferro e fogo na consciência de classe de um povo. Manter esta
experiência viva é um dos principais papeis de um partido revolucionário. A
militância petista, por sua vez, ataca patologicamente quem pensa diferente,
seja nas eleições, seja nos sindicatos, fanatizando o debate de uma forma bem
semelhante ao que faz a “militância” bolsonarista. Despolitiza a campanha,
cultua um herói, um verdadeiro “salvador da pátria”, enquanto exerce com mãos
de ferro uma espécie de ditadura sindical nos movimentos e categorias em que
dirige o aparato “representativo”.
O que foram os governos petistas de
2003 a 2016? Ora, foram governos de conciliação de classe pautados pelo sistema
financeiro, que tolerava pequenas
concessões populares através dos programas sociais e um projeto restrito de
indústrias nacionais. O povo ganhava um trocadinho, conseguia ter um pouquinho
mais de recursos de vida, e consumia mais retórica do que medidas concretas de
governo. Este projeto tinha limites evidentes e prazos de validade expressos
pelo inevitável desgaste político de um governo dentro do sistema – um futuro
governo Lula estará sujeito aos mesmíssimos problemas, incluindo futuros
“golpes”.
Podemos
falar em “governo dos trabalhadores” com Lula? Evidentemente que não, embora
não tenhamos outra forma, no momento,
de tirar Bolsonaro do poder – e já que eles não são politicamente iguais, é um
passo necessário, ainda que muito limitado, tímido e contraditório. Infelizmente é o que a realidade atual e o ânimo da
classe trabalhadora nos permitem fazer. Ainda que se possa compreender
perfeitamente a proposta de voto nulo, a sua tendência é não possibilitar
nenhum tipo de ponte de diálogo com a base eleitoral petista; tampouco poderá
criar um movimento de “combustão espontânea” contra o bolsonarismo. São táticas diferentes, sendo o voto crítico apenas o mais preferível neste momento.
Trotski já observou que “o cretinismo parlamentar é uma enfermidade
detestável, mas o cretinismo antiparlamentar não é muito melhor”[iii].
É exatamente entre estas posições que nos encontramos atualmente no Brasil. O
cretinismo eleitoreiro é representado, sobretudo, por PT, PCdoB e Psol em
contraposição ao cretinismo anti-voto, que tem se tornado um verdadeiro
princípio entre a militância revolucionária. Seria ideal que o voto nulo
significasse um aumento da consciência de classe no sentido da preparação para
uma revolução, mas não é isso que nos espera. A militância revolucionária que
propõe o voto nulo pressupõe que a massa trabalhadora que recém votou no
bolsonarismo em 2018 (e a outra parte que segue iludida com o petismo) se
convença da noite para o dia da importância de anular o voto como que por um
passe de mágica, ignorando toda a conjuntura atual e a imediatamente anterior a
eleição de Bolsonaro – e que isso, por si só, representa uma demarcação que
avança a consciência de classe. Grande parte da tradição e organização operária
e marxista que pautou a Europa e a Rússia do século XX nunca existiu no Brasil,
ou se existiu, já se apagou completamente. É preciso reconstruir, pedra por
pedra, com paciência.
Não existe a menor condição,
atualmente, de uma frente única de luta direta e com perspectivas militares e
revolucionárias para se depor o governo Bolsonaro (e chamar o voto nulo não a
criará por combustão espontânea). Devemos, então, por um lado, votar criticamente no petismo, tentando
estabelecer pontes com a massa eleitoral petista, no sentido de testar novas
formas de diálogo, de propaganda, de agitação que lhe lancem dúvidas sobre o
projeto que defendem; e, por outro, nos questionar porque o povo não avança?
Seria apenas motivado pela política de PT, CUT e cia., ou haveria debates e
ilusões presentes na psicologia de massas
do povo que sequer são observados e pontuados por um projeto de um novo
trabalho de base?
Que voto crítico é possível
defender?
Uma posição eleitoral não define
necessariamente uma organização, um partido ou um ativista, mas a totalidade de
suas práticas. Como foi dito antes, um voto crítico é apenas uma tática possível, que precisa ser
avaliada e pesada com o conjunto do discurso, da prática e da militância de
quem o defende. Para além dessa compreensão óbvia, deve-se pesar a correlação
de forças entre as classes, a conjuntura e, por fim, a forma como este voto é
defendido e propagado; isto é, se ele é crítico
ou acrítico; se por ele vale tudo, se é um cheque em branco desesperado, ou se existem critérios bem delimitados.
Voto crítico não pode significar fazer
parte da chapa presidencial – tal como faz o Psol –, nem reivindicar ou
disputar futuros cargos no governo. Isso é ser parte do próprio projeto e lhe
dar aberta sustentação política. Tampouco o voto crítico é vitalício, valendo
para sempre, em todas as futuras eleições. Cada conjuntura exige uma rigorosa
análise da correlação de forças e do equilíbrio das classes em jogo.
Nada pode ser escondido ou embelezado: votar no PT é sim um problema político sério
que deve nos causar preocupação. Este partido está corrompido e adaptado à
estrutura burguesa e não aprendeu, nem melhorou nada com o golpe sofrido em
2016. Quem propõe voto crítico – para ser chamado enquanto tal – deve manter a
sua total independência dele. E parte
desta tática está em explicar aberta e pacientemente os perigos deste voto – e
não tentar nos deixar em paz com a nossa “consciência revolucionária”
acrescentando um slogan mentiroso e impossível,
como o malfadado “Lula presidente: por um
governo dos trabalhadores”. Não seria isso um escárnio para uma chapa que
possui Geraldo Alckmin como vice? E o que falar da forma anti-democrática da
construção do projeto de programa, que impede a participação de velhos
parlamentares petistas consagrados? O que sobrará, então, para a base da
militância do partido?
Um voto crítico no petismo não pode ter
outra finalidade do que derrotar ou atrapalhar uma nova vitória eleitoral do neofascismo; mas, em caso de vitória da
chapa do PT, sem a menor ilusão, desde já devemos dizer que precisaremos combater
seus governos, pois sofrerão pressões inevitáveis do grande capital e em nada
se assemelhará a um “governo dos trabalhadores”. Dado a sua natureza de classe,
não poderá ser diferente do que foram os governos de 2003 a 2016. No entanto,
essa crítica não possui nada em comum com os discursos lava-jatistas
sustentados pela direita, pela grande mídia, por setores do Psol e pelo PSTU.
Por isso a importância de refinar a argumentação, mantendo-o numa condição que
possa elevar a consciência de classe, e não retrocedê-la ao economicismo e ao
eleitoralismo-burguês mais rasteiro.
Por que não votar criticamente na
candidatura do PSTU, PCB ou UP?
Alguns camaradas podem argumentar que a
candidatura de Lula não é a única passível de receber voto crítico. Há também a
candidatura de PSTU, PCB e da UP. Todos partidos que estão supostamente à
“esquerda” do PT. Contudo, o critério adotado aqui para o voto crítico na chapa
petista diz respeito a ter peso eleitoral capaz de derrotar ou atrapalhar a
vitória da direita neofascista.
Nenhum dos três o possuem, tanto é assim que geralmente o debate que
protagonizam descamba para a admissão do voto em Lula no segundo turno, pois
reconhecem tacitamente que não possuem o peso político e eleitoral necessário.
Sem dúvida o voto de uma pequena
parcela da classe trabalhadora nesses partidos é progressivo em uma conjuntura
difícil como a que vivemos, mas existem claros limites políticos, seja pelo
peso eleitoral, seja por questões programáticas e práticas. PCB e UP padecem
pelo fato de reivindicarem o legado stalinista, direta ou indiretamente – o
que, nos dias atuais, não é pouca coisa e expressa bastante as suas
possibilidades futuras de desenvolvimento e perspectivas de “governo”.
O PSTU, a despeito de um discurso “trotskista”,
está, na realidade, à direita do PT em muitos assuntos, sejam nacionais ou
internacionais. Por exemplo: não reconhece a ameaça da direita neofascista no Brasil e no mundo; na
questão da “guerra” da Ucrânia está a direita de Lula e ainda tenta fazer
malabarismos teóricos para justificar o injustificável. Além disso, estes
partidos, no geral, praticam um sindicalismo igual ao da CUT ou ao conjunto do
movimento sindical e estudantil dirigido pelo PT, não rompendo com a lógica
burocrática – tanto é assim que estão juntos em diversas chapas país afora –, nem
procuram enfrentar as hipocrisias do cotidiano nos locais de trabalho e estudo,
como o burocratismo sindical e dos movimentos sociais – dentre outros.
As falsas polêmicas com o discurso
de “terceira via”
A grande mídia tenta emplacar um
discurso de “terceira via”, como se ela realmente estivesse preocupada com a
polarização dicotomizadora entre Lula e Bolsonaro. Tudo um jogo de cena para
patrocinar um candidato burguês mais “moderado”, seja ele Sérgio Moro – o que
seria um golpe contra o lulismo, mas se torna cada vez mais difícil a sua
sustentação –, Simone Tebet, do MDB, ou algum figurão do PSDB. Nenhum deles
consegue vingar, o que reforça a polarização.
Há, contudo, as desesperadas tentativas
de Ciro Gomes (agora no PDT), que cumpre o papel de ponta de lança contra Lula,
agitando bandeiras anti-petistas mais enfaticamente que o próprio bolsonarismo.
Se houvesse possibilidade real de sua candidatura derrotar o bolsonarismo,
também deveríamos votar, de nariz tapado, no oligarca cearense; mas ele também
não possui o peso eleitoral necessário e a sua ênfase no anti-petismo o aproxima
cada vez mais da direita neofascista.
E é exatamente esta a única questão que deve ser considerada no voto crítico
nestas eleições – nenhuma outra: qualquer discurso sobre as “virtudes” de Lula
ou de Ciro são discursos vazios, marketing
eleitoral e/ou mentiras completas.
Ao
fim e ao cabo, a candidatura de Ciro não passa de uma variante burguesa,
desesperada e histriônica, cuja flama da ambição pelo poder é aguçada a cada
nova divulgação conveniente de
pesquisas eleitorais e de declarações contra Lula, capciosamente selecionadas e
amplificadas pela mídia burguesa com a finalidade de rachar a base eleitoral
petista.
O voto em Lula pode derrotar o neofascismo?
A militância petista usa como sua
principal bandeira eleitoral o discurso de que “Lula derrotará o fascismo”. Uma
das lógicas de funcionamento do sistema é a alternação de governos duros
(militares) e brandos (“democráticos”). A essência funcional do sistema depende
desta engrenagem, que inclusive lhe confere um ar “democrático”. Isto é: uma “mudança”
que não muda nada de essencial, embora dê aparência de mudança. O sistema
também necessita dessa polarização entre “projetos” para fanatizar os setores
populares e desviar o foco do que é realmente decisivo.
O neofascismo
também se aproveita de todas as falhas, da impunidade e do jogo de hipocrisia
das instituições e da legislação da democracia burguesa. Sabe fazer isso muito
bem, vendendo tais práticas como “anti-sistema” e discursando contra o
“politicamente correto”. Muitos trabalhadores julgam que exatamente por isso Bolsonaro
e Trump “falam a verdade”, enquanto os demais políticos “não falam o que
realmente pensam”.
Dado o arco de alianças políticas do
petismo, podemos concluir que as falhas, a impunidade, o jogo cínico das
instituições e os problemas da legislação da democracia burguesa seguirão. O neofascismo esperará o inevitável
desgaste dos governos petistas e retomará a sua agitação e propaganda,
reiniciando o ciclo. Derrotar o neofascismo
pressupõe derrotar a democracia dos ricos e o capitalismo, sem o que todas as
portas para ele seguirão abertas.
O voto crítico visa possibilitar
espaços para a luta em condições um pouco mais favoráveis, mas não pode vender
ilusões, sob hipótese alguma, de que vencerá o “fascismo”, pois este será
sempre uma possibilidade a nos espreitar enquanto o capitalismo existir.
A questão dos BRICs
Do ponto de vista internacional há uma
tendência minimamente progressiva no
programa do governo Lula que pretende alinhar o Brasil ao bloco liderado pelo imperialismo chinês e russo. Todas
as demais candidaturas burguesas pretendem deixar o Brasil na esfera do
imperialismo hegemônico atualmente, que é o dos EUA.
Do outro lado desta disputa
encontram-se China e Rússia – as candidatas a novo imperialismo hegemônico com
discursos de “mundo multipolar”, que tem no Brasil a sua principal aposta em um
governo do PT. A postura chinesa – não belicista atualmente, tolerante com empréstimos financeiros internacionais e supostamente não interventora nos
assuntos internos de cada país –, bem como a russa, que não demonstra intenções
expansionistas para além do seu entorno,
parecem demonstrar a superação de um passado imperialista da história,
apontando para uma outra perspectiva, multipolar, mais “democrática” e
“inclusiva”.
Realmente
há diferenças pontuais importantes entre o agressivo imperialismo estadunidense
– que mesmo hoje continua manipulando países, patrocinando e terceirizando
guerras e golpes – e o nascente imperialismo sino-russo, que, para se firmar,
precisa justamente aparecer com uma “nova” imagem para sustentar suas
pretensões à potência hegemônica. Um movimento revolucionário de trabalhadores
não deve se furtar a apontar essas diferenças entre os imperialismos e a
conclamar a classe trabalhadora mundial a se aproveitar destas diferenças.
Contudo, ao contrário do que acredita e prega parte da esquerda (PCdoB-Elias
Jabbour, PCB-Jones Manoel, TV 247-PT), ainda tratamos de campos imperialistas
em disputa.
Apesar
disso, dada a apatia da classe trabalhadora brasileira e a situação
internacional, seria importante procurar minar o imperialismo hegemônico,
tirando o Brasil de sua área de influência e tensionando pelo desenrolar de uma
nova configuração mundial, ainda que ela esteja longe de ser a ideal para a
classe trabalhadora internacional. Possibilitará, ao menos, tal como a derrota eleitoral momentânea do bolsonarismo no
Brasil, um tempo precioso para se reorganizar e abrir precedentes para novas experiências políticas e sociais.
Criticar Lula fará com que ele mude
o seu programa?
Não! Lula não mudará o seu programa,
que é burguês e “liberal de esquerda”. Está comprometido até a medula dos ossos
com o sistema financeiro e o grande capital. Não faz questão nenhuma de
esconder nada disso e, por isso mesmo, como já foi dito, não podemos tolerar
nenhum tipo de falsa propaganda eleitoral e política que embeleze e esconda
essa grave constatação.
Sem a menor ilusão, devemos sustentar
todas estas posições e afirmar que precisaremos preparar o futuro combate aos
seus governos, que, pela sua natureza de classe, não poderá ser diferente do
que foram os governos petistas de 2003 a 2016. Porém, neste momento, é o que a realidade e o ânimo da classe trabalhadora nos permitem fazer para tirar
Bolsonaro do poder. E mesmo na hipótese de que Lula seja eleito e o seu governo
fique paralisado politicamente, o que é uma grande possibilidade, dado a
polarização com o bolsonarismo – o que pode gerar uma espécie de “efeito
Getúlio” (isto é, um movimento em que a elite nacional e estadunidense ajam
cotidianamente para impossibilitar a governabilidade, tal como Carlos Lacerda e
a sua trupe fizeram na época de Getúlio para sabotá-lo, levando à paralisia
completa do governo e das instituições democrático-burguesas; sobretudo se a
pauta dos BRICs avançar[iv])
–, devemos lutar contra o seu governo sem prestar-lhe um grama de apoio político
e, obviamente, sem capitular ou mesmo perder de vista a atuação da direita golpista e sabotadora.
É assim que este blog compreende como deveria ser um voto crítico no PT nestas eleições, bem como o diálogo com a base eleitoral de massas petista. A maioria esmagadora da classe trabalhadora brasileira não apresentou espírito de revolta nos últimos anos, nem de urgência em abrir um caminho novo. E é justamente este espírito que é importante e faz tanta falta. A grande questão, portanto, vai muito além das eleições (voto acrítico, crítico ou nulo): trata-se de como descobrir e abrir caminho para o espírito de revolta consciente no povo brasileiro, fato que nenhuma das esquerdas tem conseguido realizar ou mesmo compreender.
>>
Textos importantes sobre o voto crítico lançados durante as eleições de 2018 e
de análise sobre Lula e o PT:
1)
https://construcaopelabase.blogspot.com/2018/09/voto-critico-pelas-liberdades.html
2)
https://construcaopelabase.blogspot.com/2018/10/ir-muito-alem-do-voto-critico-em-haddad.html
3)
https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/03/um-balanco-da-frente-popular-entre-o-pt.html
4) https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/05/bolsonaro-x-lula.html
5)
https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2014/02/a-degeneracao-do-pt.html
6)
https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/12/sobre-como-o-petismo-tende-repetir-os.html
7)
https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2021/11/por-que-classe-trabalhadora-brasileira.html
8)
https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2020/12/o-neofascismo-nao-foi-derrotado.html
9)
https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2019/10/sobre-o-metodo-do-voto-critico.html
Referências
[i]
Ver: https://esquerdaonline.com.br/2022/05/04/o-psol-decidiu-apoiar-lula-por-que/?fbclid=IwAR1DxaFyUn5pC3QHeQ7ivd-xRxVI9rKAxullAse75iBzFHcEImE0eB-LF2M
[ii]
Ver: https://www.youtube.com/watch?v=uQxrL7ZSMk0&ab_channel=COTV-CausaOperariaTV
[iii]
Citação de Trotski in DEUTSCHER, Isaac. Trotski – o profeta banido 1929-1940.
Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1984 (páginas 168 e 169).
[iv]
Ver: https://conscienciaproletaria.blogspot.com/2022/06/dez-pontos-para-reflexao-sobre-o-plano.html
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