quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Sobre como o petismo tende a repetir os métodos do bolsonarismo

 

Após postar o texto Basta eleger a esquerda institucional para a situação melhorar?, publicado no dia 28 de dezembro, no grupo Magistério Público Estadual do facebook, muitos ataques despolitizantes foram feitos, o que traz à tona a importância de os analisarmos sob uma luz crítica. O grupo em questão possui uma comunidade virtual de cerca de 17 mil pessoas, sendo, portanto, uma boa expressão do que pensa e escreve o magistério público do RS. A linha política hegemônica no grupo é a petista, apesar de haver pequenos setores mais à esquerda e mais à direita.

         Cabe chamar a atenção para os argumentos (ou a falta deles) de algumas pessoas deste grupo – por serem muitos e por serem, no essencial, bizarros, selecionamos apenas alguns que sintetizam repetições recorrentes:

1) Muitos que “criticaram” o texto sequer o leram. Se por ventura o leram, não o entenderam (ou não quiseram entendê-lo porque contrariava suas convicções íntimas). O título serviu como uma espécie de barreira e já acionou gatilhos emocionais de ódio ou de aversão.

Essa observação também vale para algumas pessoas que “apoiaram” o texto, apenas lendo superficialmente o título.

2) O argumento mais utilizado para criticá-lo, sem conhecimento de causa, é o mesmo de sempre – e é tipicamente petista: “Este tipo de texto às vésperas de uma eleição só nos fragiliza”. Ou seja, não há abertura para debater o conteúdo do texto e também não se explica exatamente o motivo de “nos fragilizar”. Também não aponta qual seria o momento “correto” de se fazer essa discussão (o que nos deixa livre para concluirmos que, provavelmente, seria o dia de são nunca).

Outro “crítico” diz o seguinte: “Complicado esse tipo de discussão em determinados momentos, que aliás por esse viés levou o magistério a eleger a direita”. Aqui, mais uma vez, o “crítico” sequer leu o texto e reproduz a essência da fala anterior. Incorre no erro de pensar que o magistério sozinho pode eleger ou não um governador (o que dirá um presidente da república?). O peso eleitoral existe, mas a categoria é visivelmente heterogênea e pragmática – fruto de uma crise de direção sindical e de formação teórica que só se agrava.

Ou seja, tal como o bolsonarismo, este tipo de conduta não quer debate algum: quer apenas gado, que siga, vote e não discorde de nada. Aonde nos leva esse tipo de “crítica” senão ao total esmagamento de qualquer diferença sincera e honesta?

3) Uma “crítica”, vendo o debate por um prisma mais tacanho ainda, ataca pelo seguinte flanco: “Se não basta votar na esquerda para resolver os problemas, devemos votar em quem? Na terceira via?”. Esta pessoa certamente não se deu o trabalho de abrir o link para ler o texto, dado que nele não há em nenhum momento discussão sobre o voto; aliás, trata-se de uma crítica a uma política sindical de mais de 30 anos, que tornou-se, praticamente, uma cultura sindical. O texto analisa detalhadamente a forma de funcionamento do parlamento burguês, independentemente das eleições – portanto, observam apenas a instituição a qual as eleições visam preencher as vagas, independentemente de quem as vençam. Sobre isso, que é a essência e a razão de ser do texto, nenhum “crítico” falou uma única vírgula.

Nesse sentido são movidos por gatilhos emocionais, tal como o é a base bolsonarista, que não debate argumentos e ideias, mas simplesmente acusa e reproduz discursos de ódio (em maior ou menor medida). Espera-se que aqueles que pretendem vencer o bolsonarismo hajam com mais sagacidade e capacidade argumentativa; mas o que vemos, infelizmente, é uma espécie de movimento correlato à “esquerda”.

4) “Críticos” mais desesperados, percebendo as respostas dadas ao longo dos comentários anteriores – e provavelmente sem ler o texto também –, foram apelando cada vez mais, até que chegamos a esta mediocridade: “Discurso burro da direita. A direita sempre foi vadia por ofício e mentirosa por vício”. E outro, mais além, complementa: “Eu já imaginava que, chegando próximo às eleições, era inevitável a direita se manifestar no grupo. Faz parte. Só não entendo que colegas façam campanha contra si mesmos. Ou é um robô que cópia o mesmo texto como resposta pra todos”.

O “robô” em questão era a essência das respostas repetidas aos comentários de desprezo, dado que as “críticas” eram basicamente as mesmas: preocupação unicamente com o voto, com o apoio cego a qualquer candidato petista e o discurso fajuto de que qualquer crítica ao PT fortalece automática e irremediavelmente a direita. Seriam suas convicções políticas e os seus projetos de governo tão frágeis a esse ponto? Tudo indica que sim.

5) Certos “críticos” reproduzem frases ocas ouvidas na luta contra o bolsonarismo, como, por exemplo, a acusação de “negacionismo”. O que, por exemplo, há de negacionismo no conteúdo do texto? Ainda que o discurso de muitos petistas não seja de ódio fascista, puro e simples, tal como é o bolsonarismo, podemos perceber certa tendência à repetição e à uniformização; sendo que em alguns casos descamba para o ódio aberto. Reparem o nível: “não mando abraço pra quem luta contra o sindicato ou contra o partido de que faço parte. Aprenda a fazer uma política pública que defenda quem te defende”.

Muitos desses “críticos” julgam-se os campeões da defesa da classe trabalhadora, quando são, na verdade, parte fundamental da sua ruína. Há, na maioria dos casos, apenas uma defesa das suas condições profissionais específicas – isto é, corporativas – disfarçadas de “defesa da classe trabalhadora”.

Podemos perceber, infelizmente, tanto no grupo do facebook, quanto na prática sindical brasileira, que é cultivado um certo nojo físico pelos adversários. Não estamos trabalhando para esclarecer divergências para crescermos juntos, mas dando vazão à imposição inquestionável e, portanto, autoritária de caminhos já trilhados como “novidade” e como “única saída”. Nem no CPERS e na maior parte da militância petista, nem nesses “críticos” virtuais, há o menor vestígio de um exame de consciência. Estamos muito longe disso.

As nossas certezas de ocasião e pessoais são as principais impulsionadoras dos discursos virtuais de ataque à posições minoritárias como os apresentados acima. Argumentos pobres, vulgares, sem conhecimento de causa em sua maioria é o que tem caracterizado o miserável debate público do magistério estadual do RS. O mais engraçado é que grande parte destes “críticos” se dizem contra a direção central do CPERS, mas, na prática, como vimos, aprovam integralmente a essência da sua política.

Assim, julgando-se os campeões da democracia, este tipo de militância nada mais faz do que reforçar a (de)formação política que leva ao fortalecimento das práticas que, por sua própria natureza, só podem dar vantagem ao inimigo que supostamente combatemos: isto é, por jogar no campo do inimigo, com os seus métodos, dá vigor e força à direita e ao próprio bolsonarismo.

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