domingo, 16 de dezembro de 2018

A mídia brasileira ainda a serviço da extradição de Césare Battisti

Publicado originalmente pela Luta Marxista, em 22 de janeiro de 2011

A MÍDIA BRASILEIRA A SERVIÇO DA EXTRADIÇÃO DE CESARE BATTISTI

Há mais de dois anos a grande mídia vem noticiando a briga judicial da Itália pela extradição do ex-guerrilheiro italiano do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Césare Battisti, que segue preso na penitenciária da Papuda, em Brasília, mesmo sem ter cometido nenhum crime no Brasil. Battisti é acusado pelo corrupto governo Berlusconi de ter matado quatro homens na década de 1970, durante o período de sua atividade política no PAC, quando estava em guerra com o governo italiano. Foi perseguido na Itália e refugiou-se na França, onde renunciou à luta armada. Com a nova ameaça de ser extraditado pelo governo francês, Battisti veio para o Brasil.

A mídia burguesa brasileira e italiana deram considerável destaque ao caso, sobretudo para desmoralizar os movimentos sociais. Os principais telejornais do país ficaram indignados com a decisão de Lula em conceder asilo ao italiano no último dia de seu mandato. Este asilo é mera demagogia, pois Lula apenas transferiu para o corrupto STF a sorte de Battisti. Além disso, as pressões políticas sobre o STF por parte da Itália e, agora, também por parte do Parlamento Europeu, continuam.

Provando que a imparcialidade da grande imprensa não existe, a mídia burguesa fez campanha pela extradição de Battisti e, ao mesmo tempo, reforça a sua campanha contra os movimentos sociais, colocando um sinal de igual entre o ex-guerrilheiro e os terroristas. Essa tática não é nova; através das mídias coloniais o imperialismo procura incutir nos trabalhadores a ideia de que os movimentos sociais, as guerrilhas e o terrorismo são “a mesma coisa”. A palavra “terrorismo” vem sendo sutilmente introduzida nos principais jornais do país. Além disso, o destaque dado ao caso Battisti pela mídia denota a sua intenção de assustar a classe média com “guerrilheiros-terroristas” e, ao mesmo tempo, difundir preconceito e antipatia contra os movimentos sociais.

Mas a mídia burguesa vai mais longe quando classifica o grupo guerrilheiro PAC como “marxista”. O jornal Italiano La Reppublica ironizou o caso, dizendo que “Battisti não é Guevara”. E acrescentaram: “o governo brasileiro se engana ao tomar Battisti por uma espécie de Che Guevara, que queria mudar os homens matando homens, segundo a vulgata marxista”. É preciso dizer que o PAC não é marxista. Esta associação de guerrilha, terrorismo e marxismo não existe. Os principais teóricos do marxismo do século 20 – Lênin e Trotsky – combateram os métodos vanguardistas, tais como a guerrilha e o terrorismo individual. Esta associação da mídia italiana, repetida pela brasileira, só pode ser vista como má fé. O marxismo preconiza a criação do partido revolucionário, a ação organizada e consciente de milhões de trabalhadores; e não ações isoladas de indivíduos ou grupos armados. Apesar da nossa diferença com o PAC e os métodos guerrilheiros em geral, defendemos a imediata libertação de Battisti e a sua permanência no Brasil. Não reconhecemos o direito do corrupto e reacionário governo Berlusconi de julgar nenhum ativista social.

A mídia capitalista faz uma campanha de massas pela extradição de Battisti, mas não deu um milésimo da mesma atenção quando se tratou do banqueiro Salvatore Cacciola, que após ser acusado de peculato e gestão fraudulenta no escândalo do Banco Marka, recebeu asilo político na Itália. Antes de ir para Itália o STF concedeu habeas corpus ao banqueiro após míseros 37 dias de prisão, enquanto mantém encarcerado há mais de dois anos um ex-ativista dos movimentos sociais que não cometeu nenhum crime no Brasil e nem na França. Não há dúvidas de que o crime de Cacciola condenou inúmeras vítimas à morte, uma vez que para salvar a sua pele, através de “amigos” no Banco Central, desviou R$1 bilhão dos cofres públicos. O Brasil também concedeu asilo à ditadores sul-americanos, como o paraguaio Alfredo Stroessner, sem que a mídia sequer se pronunciasse. Agora também omite o fato do governo Berlusconi não extraditar um ex-capitão da ditadura uruguaia, Jorge Trocolli, responsável pela tortura e pelo assassinato de mais de uma centena de presos políticos no Uruguai.

Este cinismo da mídia capitalista é a sua única forma de funcionamento; é a demonstração de que a “imparcialidade jornalística” no capitalismo não existe. Rede Globo, SBT, Record, Rede TV, Bandeirantes, dentre outras, fazem o mesmo jornalismo mercenário: pela extradição de Battisti e silêncio cúmplice nos casos das ditaduras sul-americanas. Não por acaso todas estas emissoras (as que existiam na época) apoiaram as ditaduras militares. E não deve restar dúvidas de que apoiarão outras se houver necessidade.

O episódio de Cesare Battisti demonstra uma pequena parte do cinismo dessa mídia em relação aos ativistas sociais e em apoio aos terroristas estatais das ditaduras militares. Existem ainda os ataques cotidianos às greves, às mobilizações, aos movimentos sociais – em especial ao MST – e a tudo que perturbe a “ordem democrática” do capital. É por esses motivos que os trabalhadores brasileiros e italianos devem ser contra a extradição de Cesare Battisti e lutar por sua libertação.

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