terça-feira, 20 de novembro de 2018

4 notas sobre a ascensão do fascismo no Brasil

A vitória do fascismo no Brasil não é propriamente uma surpresa. Já há muito tempo ele vem se gestando lentamente. É bastante comum analisarmos o papel cumprido pelo PT nesta ascensão fascista, indo desde a conciliação de classes e a estratégia reformista até a contenção dos movimentos sociais através da CUT e outros movimentos. Em relação a isso não há nada a acrescentar ou se objetar.
Porém, existem outras mazelas que dizem respeito a toda a esquerda, inclusive àquela que queria ocupar o mesmo lugar que o PT. Os monstros cresceram livremente (quando não foram deliberadamente alimentados por esta mesma "esquerda"). Seguem algumas notas a respeito:
i) O fascismo está sempre latente na sociedade capitalista. Já se afirmou que nos períodos "democráticos" o capataz de fábrica é o fascista em potencial. Ele está ali, rangendo os dentes e esperando o melhor momento para estalar o seu chicote com todo o apoio social.
ii) As igrejas evangélicas cresceram sem nenhum controle e sem intervenção de nenhuma espécie. Continuaram o trabalho nefasto da igreja católica sob um selo muito mais radical, manipulando emoções infantis e contendo ideologicamente revoltas e descontentamentos sociais, fazendo com que os trabalhadores aceitem a falta de perspectiva que o capitalismo lhes impõe, legitimando a competição do mercado para os pobres e a meritocracia que lhes condena a uma luta inglória. Envolvendo emoções infantis com misticismo religioso, preparando os fiéis para serem jogados contra quem quer que lhes convenha. Em resumo: torna corpos em seres "obedientes servis dos imperativos funcionais do capitalismo" (extraído de "A ralé brasileira", de Jessé Souza).
iii) Os programas "policiais" da TV, que quase em horário nobre simplificam ainda mais a realidade, criminalizando a pobreza e ajudando a despertar o ódio nas camadas mais bem remuneradas dos trabalhadores e da classe média contra os favelados e os pobres em geral, como se o grande (e único) problema do país fosse policial; isto é: polícia X bandido e tráfico de drogas. Doutrinam cotidianamente centenas de milhares de mentes a "combater" as consequências e não as causas. Arou o campo por décadas para se plantar a semente do "bandido bom é bandido morto", visando sempre defender a propriedade acima de tudo!
iv) O filme "Tropa de Elite" foi divulgado como parte deste grande elo, que reúne todas essas mazelas, as joga em um caldeirão fervendo e, depois, despeja de volta na população, educada dentro do senso comum, que não leva nenhum raciocínio seriamente até o final. O filme resume bem a mentalidade que a elite nacional queria doutrinar o povo: a luta contra um "sistema" que não se define bem o que é. Era o tráfico de drogas? A corrupção da polícia? Dos políticos? A falta de pulso firme dos governos? Assim, a atenção é desviada com todas as forças do verdadeiro problema: o capitalismo e o seu funcionamento.
Onde entrava a roubalheira escancarada e legalizada do sistema financeiro, dos bancos, do agronegócio, da grande mídia? Os principais corruptores de políticos e de "leis", provindo diretamente do mercado, são capciosamente escondidos. Com este truque de alienação, iludindo o senso comum com uma mão de um lado, e tapando toda a podridão com a outra, os nossos atuais "mágicos" não apenas abriram as portas do fascismo, como transformaram vítimas em culpados e o capitalismo, falido historicamente e em crise permanente, num objetivo de governo que deve ser defendido pelo "povo brasileiro", inclusive com métodos militares...

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