O deputado federal pelo RJ, Jair Bolsonaro (ontem PP — ex-arena —, PSC — Partido Social Cristão — e hoje PSL), tem se destacado na mídia, nos debates e nas redes sociais por suas opiniões reacionárias, que, dentre outros pensamentos fascistas, reivindicam a ditadura militar e a tortura. Eleito pela classe média do Rio de Janeiro, cuja idolatria pelo exército se nota nos museus e nas ruas da cidade, Bolsonaro não está sozinho no Congresso Nacional e na política brasileira. Ele apenas leva até o fim de forma explícita o que todos os políticos burgueses do Congresso Nacional pensam, mas não tem coragem de externar.
Supostamente "falar o que pensa" lhe dá um ar diferente perante os demais políticos burgueses, que geralmente escondem seus reais pensamentos e intenções. Num quadro tão desolador, em que partidos e governos estão desmoralizados, isso soa "honesto". Mas qual é o conteúdo de suas falas e de sua "honestidade"? Se ele defendesse um programa radical de mudanças sociais verdadeiras — como o socialista — teria a mesma audiência? Bolsonaro tem se destacado porque fala o que o sadismo humano e suas perversões mal resolvidas querem ouvir. Se comunica com centenas de milhares de mentes em que abundam frustrações políticas e problemas inconscientes mal resolvidos, incentivando e apegando-se ao seu lado irracional.
Esse discurso só emplaca por certas compreensões da classe média e do senso comum brasileiro, que acreditam que só há corrupção no Estado e na "política", glorificando o mercado como a solução mágica em contraposição a isso; quando, na verdade, é o próprio mercado (totalmente desregulamentado, diga-se de passagem) o principal agente corruptor e gerador de inúmeras mazelas sociais. A conjuntura atual ajuda a fisgar novos crentes na "saída bolsonarista". A crise social generalizada em que a sociedade capitalista nos jogou, com o subsequente aumento da violência social, do desemprego, da miséria (em síntese, do "salve-se quem puder"), apavora o "cidadão de bem" da pequena burguesia. Então, ele passa a procurar saídas messiânicas, de "salvadores da pátria", que lhe prometem tudo e não lhes exige nada. Mas o programa político e econômico de Bolsonaro, caucado nos valores do capitalismo, só pode intensificar a crise do sistema e, portanto, de toda a sociedade, sem resolver absolutamente nenhuma de suas mazelas.
A questão do conservadorismo familiar é fundamental, e Bolsonaro e a nova direita sabem muito bem disso. A família patriarcal "cristã" é uma das principais bases do sistema e é a célula fundamental da proliferação da mentalidade fascista. Foi assim na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Continua sendo assim porque o sistema está de pé, e operando, ainda que em agonia. É esta família patriarcal que serve como agente repressor da sexualidade, solidificando a moral vigente e, portanto, suprimindo a personalidade livre. Gera indivíduos dependentes de pais, deuses, "líderes" e "fuhers".
Bolsonaro propõe a "solução de tudo" e não exige absolutamente nada dos seus apoiadores e eleitores. Coloca de lado toda a responsabilidade social de um verdadeiro cidadão, mexendo com os encantos da dominação psicológica infantil (o papai e a mamãe, da terra ou do céu, que resolverá tudo por nós). Isso só pode reforçar e aumentar a segregação social, intensificando a condenação da pobreza por si mesma. O caos e a violência social se transformarão em guerras muito piores. Reforçarão as crenças do analfabeto político, do crente frustrado sexualmente, e do escravo feliz que clamará por mais chibatadas contra si próprio. É a concretização daquilo que o governo Temer e a direita já lançaram como slogan, e alguns fingem discordar pela crise do atual governo, mas que por suas ações e comentários são totalmente favoráveis: "não pense, nao questione, não fale em crise; apenas trabalhe"; "ordem e progresso"!
Uma ordem de exploração e fome para um progresso que nunca chega (ou melhor: vem apenas para um punhado de endinheirados).
O significado real da candidatura de Bolsonaro é a expressão da crise do sistema, da mesma forma como surgiu o nazi-fascismo e a ditadura militar ao longo da história: fazer a "revolução" antes que o povo a faça! A eleição de Bolsonaro, tal como a de Hitler na Alemanha, não pode resolver nenhum problema real! Seu programa é a concretização do irracionalismo a serviço dos interesses dos grandes bancos e das grandes empresas, a quem realmente lhe interessa governar (tal como a ditadura militar governou). Quer "combater a corrupção", mas ele mesmo é o agente da corrupção e do nepotismo, coexistindo no seio dos partidos burgueses cuja corrupção é o modus operandi. Defende a corrupção do mercado desregulamentado, do sistema financeiro e das privatizações. Mesmo do ponto de vista burguês formal seus conhecimentos são medíocres, deixando o leme do governo a mercê dos sanguessugas da especulação financeira nacional e internacional. Apenas aprofundará o endividamento, a dependência internacional, a guerra social, o caos sem o qual o sistema não pode funcionar (desemprego, miséria, repressão policial; ao mesmo tempo em que mantem o reinado dos magnatas das multinacionais, dos bancos e da "política").
Somente através da hipnose social do sadismo irracional das massas (tão cultivado pela mídia, pelas religiões, pela família tradicional) Bolsonaro pode sustentar a ideia aberrante de que ele representa alguma mudança. A sua candidatura — que seria considerada ilegal em qualquer "Estado Democrático de Direito" europeu — é a farsa trágica que pode nos condenar a uma situação infinitamente pior do que nos encontramos...
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