sexta-feira, 3 de abril de 2015

Um balanço do neoliberalismo

Não é costume da burguesia e da sua mídia fazer balanços das suas políticas sociais e econômicas. Geralmente ela sempre procura esconder os seus resultados (aumento da pobreza, da disparidade de renda, da miséria, do analfabetismo e da exploração) e, como se diz, “vai levando”, vendendo tudo como “grande acerto” e como “única política possível”. Os pilares econômicos do sistema e das suas políticas não são nunca questionados seriamente. Um desses “balanços” nunca feitos é sobre o neoliberalismo, principalmente após a crise capitalista iniciada em 2008.

O neoliberalismo é uma política econômica capitalista, que surgiu por volta da década de 1980 e se intensificou após a restauração do capitalismo na Rússia, leste europeu, China, Cuba, etc. Se caracteriza por levar os dogmas liberais até as últimas consequências e criar novos: o mercado deve “organizar toda a sociedade e não ter limites”; o Estado não pode interferir na economia, nem investir nos serviços públicos básicos (saúde, educação, transporte), pois isso seria “concorrência desleal” com o setor privado; os bancos centrais devem ser independentes dos governos e manter o câmbio flutuante, o “controle da inflação” e a economia pautada pelo dólar (as moedas nacionais não se pautariam mais pelo lastro-ouro, mas pelo lastro-dólar – esta medida transcende a questão neoliberal); os bancos privados também podem ter o “direito” de se tornarem independentes, podendo usar os depósitos individuais como garantias para a especulação financeira (este foi um dos fatos que desencadeou a crise econômica de 2008); a livre especulação financeira, sem limites, bem como a agiotagem internacional em relação as dívidas públicas devem nortear a atração de capitais para investimentos. Tudo deve ser regulado a partir da iniciativa privada, da “luta” voraz na “livre” competição capitalista.

É desta compreensão que surgem como “naturais” as privatizações. Como o Estado é induzido a não intervir na economia, qualquer empresa ou serviço público precisa deixar de sê-lo. O governo FHC (PSDB) privatizou inúmeras empresas a preço de banana (Telebrás, Eletrobrás, Vale do Rio Doce; iniciou a partilha da Petrobrás). O caso mais escandaloso foi a venda da estatal Vale do Rio Doce (a maior mineradora do mundo) por um valor 20 vezes menor do que ela realmente valia.

Segundo os ideólogos da burguesia e da grande mídia, se opor a este verdadeiro saque do patrimônio público é ser “anacrônico”, defender o “passado”, “ideologias retrógradas como o socialismo”. “Progressivo” mesmo seria entregar as riquezas nacionais e ainda bater no peito, orgulhoso. É importante relembrar que o neoliberalismo surgiu e se consolidou no período da restauração do capitalismo nos ex-Estados Operários, o que representou um retrocesso e uma dura derrota para os trabalhadores de todo o mundo. No momento em que sua degeneração atingiu o ápice, o PT reproduzia o discurso neoliberal de que os opositores às suas medidas eram “retrógrados”, para poder defender livremente as suas “reformas” (que na realidade eram apenas uma forma disfarçada de privatizar). Uma das primeiras medidas de Lula na presidência da República foi dar seguimento à “Reforma” da Previdência iniciada por FHC, que, além de aumentar a idade mínima para a aposentadoria, trabalha no sentido da sua privatização total. O mesmo caso pode ser aplicado à atual campanha contra a “corrupção” na Petrobrás levada a cabo pela Operação Lava Jato. O PSDB quer a sua plena privatização para que somente empresas multinacionais (do Big Oil) possam participar de novas licitações para explorar o petróleo brasileiro. Já o PT quer seguir o seu modelo próprio de privatização, dando prioridade para concessões entre o capital nacional e internacional, sobretudo às empreiteiras brasileiras amigas do governo federal.

Histórico do neliberalismo
O neoliberalismo foi idealizado pelo imperialismo inglês e norte americano, que tinham à sua cabeça as figuras de Margareth Thatcher (1ª ministra britânica de 1979 a 1990) e Ronald Reagan (presidente republicano dos EUA de 1981 a 1989). Em seguida, foi a vez das neocolônias seguirem fiel e servilmente as metrópoles: o Brasil, com Fernando Collor, Itamar Franco e FHC (e posteriormente pelo PT, disfarçando a defesa do neoliberalismo com o nome de “reformas”); a Argentina, com Carlos Menem, De La Rua e, agora, com os Kirchners, que fazem um jogo duplo, tal como o PT.

Para que projetos extremamente impopulares fossem aplicados, a máquina gigantesca de propaganda da grande mídia fez uma verdadeira lavagem cerebral em massa, disseminando um terrorismo psicológico subliminar e afirmando que esta era a única política viável. Sustentava que o Brasil iria ser excluído da comunidade internacional, iria virar uma “nova Cuba” (argumento reacionário recorrente da direita para passar a sua patrola política e econômica) e, se não aderisse às políticas neoliberais, se tornaria refém de ideologias “atrasadas”. Depois de privatizado o sistema de comunicação (Telebrás, CRT, etc.), de algumas estatais de energia elétrica, da Vale do Rio Doce, parte da educação, saúde e da Petrobrás, o Brasil não apenas continua atrasado, dependente do capital internacional e da sua tecnologia, como aprofundou esta dependência; a população segue na miséria, analfabeta, subempregada ou mesmo desempregada. Naturalmente que esta política neoliberal só serviria para concentrar ainda mais a riqueza nacional em poucas mãos e aumentar a miséria do povo. Apenas os ingênuos ou os neoliberais convictos interessados nessas “transações” não o veem.

O neoliberalismo levou à crise internacional de 2008 e a uma crise financeira permanente nos países neocoloniais
Este balanço da aplicação do neoliberalismo a mídia burguesa não faz. Ela continua defendendo e incentivando a política de privatizações do governo Dilma: entrega de portos, aeroportos, do pré-sal, da Petrobrás, etc. Os protestos anti-Dilma, insuflados pela mídia, também trazem uma pauta neoliberal e estão sendo usados pela oposição de direita para intensificá-la. A crise capitalista, iniciada em 2008 nos EUA e na Europa, foi o coroamento da política neoliberal: especulação financeira desenfreada, quebra de várias empresas e bancos ao redor do mundo, desemprego, recessão, crise e revolta popular (que geralmente tem sido canalizada ou mesmo dirigida diretamente pelos imperialismos em disputa).

E o mais irônico nisso tudo é que as empresas, multinacionais e bancos falidos recorreram ao Estado para escapar da falência. Foi drenado mais de 10 trilhões de dólares do dinheiro público para lhes salvar da bancarrota. Ou seja, podemos resumir a aplicação do neoliberalismo da seguinte forma: é a política econômica do capitalismo na sua fase de decadência histórica, de agonia, fruto das suas contradições insolucionáveis que levam à crises periódicas.

A restauração do capitalismo e as suas crises do final do século 20 impuseram uma nova “saída” na reformulação do liberalismo, transformando-o em neoliberalismo. Este legalizou a especulação financeira, a privatização das riquezas nacionais, a concentração de rendas sem precedentes que jogou milhares de pessoas no subemprego, no desemprego, na miséria e, portanto, fora do ciclo de consumo, o que por sua vez prepara sempre novas e piores crises econômicas. Assim, contribui permanentemente para novas crises de superprodução sem escoamento, novas formas de legalizar a especulação financeira que quebrou centenas de bancos para depois resgatá-los com o dinheiro público. Eis o resumo da ópera: o neoliberalismo privatiza os lucros e socializa os prejuízos; demoniza o Estado e tudo o que cheira à público, mas, como um sanguessuga, se gruda neles quando necessita. Como sempre, são os trabalhadores que pagam a conta disso tudo.

O capitalismo não pode regulamentar a especulação financeira, nem taxar as grandes fortunas. Esperar pela concretização destas propostas feitas por grande parte da esquerda e periódicos ditos “progressistas” – como o Le Monde Diplomatique, dentre outros – é, além de um contrassenso, uma utopia reacionária. O socialismo salta aos olhos como uma necessidade histórica imprescindível. Somente o socialismo pode regulamentar o sistema financeiro, o mercado, resolver o problema da especulação, das privatizações, da falta de dinheiro, dos serviços públicos de qualidade e resolver o problema da superprodução porque ataca as raízes de todo o problema: a propriedade privada e as relações de produção. Contudo, o socialismo não nascerá pela via pacífica e supostamente “reformista” das eleições burguesas. Só pode ser fruto de uma revolução dos trabalhadores. Para isso, é necessário uma nova vanguarda disposta a construção de um partido revolucionário em frontal oposição aos atuais partidos de “esquerda” (PSOL, PSTU, PCB e PCO) que estão mortos para as tarefas da revolução socialista.

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