Alguns youtubers discutem como a esquerda está desconectada da vida das
pessoas comuns e o seu discurso eleitoral não faz sentido. Eles criticam,
sobretudo, as campanhas dos partidos que se declaram “revolucionários”, como
PCB, PSTU, PCO, UP, etc.
Antes de entrar nessa polêmica, é preciso destacar que a mídia burguesa
torna o debate inócuo e restrito a determinadas regras, cuja finalidade é moldar a
resposta para que não saia de certos limites. Evidentemente que esta esquerda
aceita estas limitações quase que acriticamente, se jogando na campanha, e
quando as entende, não consegue se expressar muito bem, acatando-os, na maioria
das vezes, para validar a própria campanha.
Há, contudo, um outro fator. A esquerda atual não está conectada com os
acontecimentos e os debates centrais do mundo neste início de século XXI. O seu
“socialismo” remonta à URSS das décadas de 1930-1950. Por exemplo: a disputa
mundial protagonizada pelos BRICS, os debates acerca do “socialismo de mercado”
resultantes do desenvolvimento econômico da China, bem como outros modelos,
sequer entram na pauta.
Sendo assim, a direita, que se utiliza de refinados métodos de
manipulação da psicologia de massas, sobretudo através das redes sociais — tipo
o que faz o bolsonarismo e milionários como Donald Trump e Pablo Marçal —, deita
e rola. Conseguem tocar em pontos que soam como “reais” e o próprio coração das
massas, que, pela situação da sociedade consumista atual, tende a ser egoísta e
conservadora; enquanto que a “esquerda” tenta reaplicar o programa soviético da
década de 1940 através de esquemas que não passam de declarações vazias, ainda
que com boas intenções…
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Parte dessa esquerda se diz “revolucionária”. Revolucionário é aquilo
que revoluciona.
Deveria ser óbvio.
Uma revolução tira as raízes antigas e planta novas.
Tem, portanto, uma vocação criadora.
A tempos a “esquerda revolucionária” não cria nada. Só repete.
Acha que a realidade é passível de ser modificada com repetições de
jargões e slogans antigos.
Quanto menos criatividade, mais agressiva se torna perante o menor
questionamento ou dúvida.
Ser criativo é entrar escrupulosamente em contato com a realidade,
inclusive com as coisas ruins que não queremos ver, dentro e fora de nós.
Esta esquerda não conhece e não quer conhecer o povo — sobretudo naquilo
que ele tem de ruim e atrasado — nem a si mesma. Prefere idealiza-lo para
repetir receitas do passado. Se não fizer isso, tudo desmancha feito um castelo
de cartas.
Para que as coisas mudem e possa ser possível entrar em contato com o
povo realmente, é preciso enfrentar os seus atrasos, incluindo aquele que é
hostil ao comunismo e que idolatra os milionários.
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A noção de “comunismo” foi enlameada pelo stalinismo.
Qualquer menção a “comunismo” tem como imagem acústica na mente de
milhões de pessoas a ditadura soviética, que liquidou as liberdades civis e
individuais básicas porque não podia e não soube lidar com elas. O estrago
ideológico já foi feito — e continua sendo feito por um exército de jornalistas,
repórteres, escritores, etc. quase que diariamente, não sem a ajudinha do próprio stalinismo.
“Comunismo” virou sinônimo de intervenção do governo nas liberdades
individuais, dizendo o que você pode ou não pode fazer, sob pena de
perseguição, degredo ou fuzilamento.
Quem se dedica a estudar história e as ciências sociais (que são
pouquíssimos e dá pra contar nos dedos) sabe que “comunismo” não é isso.
E quem pode tentar desfazer essa teia de mentiras, distorções e
confusões senão os militantes e as organizações de esquerda? Mas como?
Com discursos iguais aos da década de 1930-1950, que provam o exato
oposto? Por que não se conectam com a realidade atual e se preocupam em engajar
as discussões de acordo com a linguagem atual?
Uma pequena contribuição: para além de trazer o debate sobre as
economias atuais, a esquerda poderia desenvolver uma forma de demonstrar a
necessidade de recuperar (ou instaurar pela primeira vez) a função social da
economia, que hoje serve apenas para o acúmulo de riqueza para poucos. Quem
pode recuperar ou instaurar a função social da economia senão o comunismo?
As sociedades atuais, como a China, podem servir de ponto de partida para
a renovação das discussões sobre comunismo e liberdade de expressão,
demonstrando que transformar a economia capitalista em socialista e comunista
não significa acabar com as liberdades civis e individuais. Muito antes pelo
contrário, só podem se desenvolver plenamente se estas liberdades se
fortalecerem e se ampliarem em uma sociedade socialista e comunista.
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