*Por Lázaro Leal Barbosa
Quantos dias são necessários para transformar uma tragédia nacional em um cenário político? No Brasil, foi necessário apenas sete dias.
No primeiro dia, desabou chuva no Rio Grande do Sul. No segundo dia, a água tomou as ruas, bairros e cidades do interior do Estado. No terceiro dia, o Rio Jacuí recebeu uma enxurrada de águas, deixando um rastro de destruição que era fruto da indignação da natureza contra um sistema explorador e exportador, até chegar ao Rio Guaíba e iniciar a enchente.
No quarto dia, o Rio Guaíba e o Rio Gravataí começaram sua invasão, engolindo Porto Alegre e a região metropolitana. Em resposta, o povo lutou pela sua própria vida. Não havia governo nem empresários: apenas pessoas humildes apertando a mão uns dos outros para que todos se salvassem ou para que ninguém morresse sozinho.
No quinto dia, o governo acordou. Um governo liberal, enfraquecido por acreditar no Estado mínimo, demonstrou ser um governo sem força e sem vontade de salvar o seu povo. Durante seis anos, professou uma política centrada no bem-estar comercial, enquanto o bem-estar social ficou em segundo plano.
No sexto dia, os senhores capitalistas, os grandes empresários e os super ricos burgueses da alta sociedade brasileira chegaram vestidos com suas heroicas capas de Superman. Após garantir a segurança de seus bens e certificar que o Rio Grande do Sul tinha potencial como palco para suas apresentações, eles trouxeram caminhões, jet-skis, barcos, grandes doações de roupas, alimentos e itens de higiene. Tudo isso, naturalmente, fruto da exploração do sangue e suor do povo, e subsidiado por um governo liberal.
O que parecia ser solidariedade, logo se mostrou uma tentativa de comprar a opinião pública. Os empresários começaram a denunciar a falta de preparação do governo e se apresentaram como a única salvação. E assim tentaram cumprir a história de Édipo: a classe empresarial, fruto do governo liberal, tentou matar o pai.
No sétimo dia, a verdade desapareceu. A guerra de narrativas políticas e o jogo da desinformação tomaram o centro do palco na tragédia gaúcha para decidir quem está certo. Vidas perdidas, sonhos destruídos e agonia das massas ficaram em segundo plano. Primeiro, é essencial decidir quem foi melhor: empresários ou governo liberal? Porque no sistema capitalista, a vida das pessoas pode esperar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário