sábado, 25 de maio de 2024

Até onde vai a tua solidariedade?

 

Frente às tragédias dos alagamentos no RS e em Porto Alegre vemos se espalhar uma grande onda de solidariedade por entre as pessoas. Soa bonito e sublime — e de fato até é.
No entanto, podemos ver também uma contradição!
No dia a dia, somos egoístas e medíocres. No meio de uma calamidade, rugimos como leões frente às exigências da sobrevivência coletiva. Subitamente nos lembramos de que existem outras pessoas para além do nosso umbigo — lembramos, até mesmo, dos animais!
Contudo, a solidariedade humana tem sido seletiva, para alguns e em momentos críticos.
Não podemos ser e vivenciar realmente a solidariedade se nos preocuparmos com os outros apenas diante das catástrofes. E o dia a dia? E a nossa família, como a tratamos? E os moradores de rua que vegetam fora de abrigos permanentemente? E os vizinhos, como os escutamos e reagimos a eles? E aquelas pessoas que não gostamos no trabalho? E aquele colega que falamos mal pelas costas, sem se preocupar com os efeitos maléficos da fofoca, como fica?
A solidariedade seletiva e ocasional pode nos redimir disso tudo? Ou seria a solidariedade seletiva apenas um alívio imediatista para a nossa própria consciência — isto é, uma percepção individualista e egoísta de que precisamos "cuidar do outro" porque somos "animais sociais" e morreremos juntos se a coletividade destruir-se?
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O que os momentos de crise, como enchentes e pandemia, trazem à tona?
No mercado público de Porto Alegre, tomado pelas águas do Guaíba, as baratas jorram pelos canos e esgotos, e, sobretudo, a classe média (mas não apenas ela), que sempre assiste tudo de longe e joga a sujeira para o debaixo do tapete, fica chocada.
Barata, sujeira, fedor, é tudo o que evitamos olhar no dia a dia. É tudo aquilo que queremos dizer que não faz parte de nós, da nossa moral, da nossa sociedade. Mas a sujeira está ali. As baratas estão ali, cotidianamente; as manutenções não feitas em todas as esferas também estão ali. Da mesma forma estão ali os trabalhos não feitos; a crítica não feita ou ignorada; a mentira assimilada e tratada como verdade.
Tudo isso jorra pra fora nos momentos de crise. A hipocrisia da "doação preocupada consigo mesma" (tipo religioso que dá esmola pensando na "retribuição" da vida eterna), que ignora a política econômica aplicada no dia a dia, que gera os baixos investimentos sociais (inclusive na manutenção das bombas e nos sistemas antienchentes dos bairros pobres), que não tem preocupação ambiental e animal real — só consumismo! —, que não resgata ninguém em situação de rua, que só faz PIX, mas não está interessado em escutar ninguém de fato; não seria a mesma preocupação que vai ao supermercado saquear os galões de água, os sacos de arroz e os potes de álcool com a sua rica poupança para estocar, pensando só no próprio umbigo e nos seus?
Foi assim na pandemia. Está sendo assim nas atuais enchentes que "comovem o Brasil inteiro e o mundo"!
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Quando vemos uma catástrofe — sobretudo as naturais — recebemos um recado bem claro da natureza: recomeçar a pensar e repensar tudo (repensar a nossa vida inteira!).
A solidariedade de muita gente — infelizmente! — vai até o reestabelecimento da "normalidade", das antigas relações sociais, das propriedades, etc., para voltarmos à antiga forma de funcionamento, que não é nada solidária!
Aprender a ter empatia real fora dos momentos de catástrofe, a ouvir os outros, a natureza, àquilo que não gostamos é sempre um bom primeiro passo; mas quem realmente está a fim de dá-lo?

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