sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Empate perturbador

 

O que o universo quer de mim?
Nada
Que eu seja nada!
Mas isso eu já sou!

Por que estamos aqui?
Por que sofremos tanto?
Por que tanta ilusão na nossa mente?

Os relacionamentos atuais demonstram isso
Que somos nada!
Entrementes, cabe perguntar
se temos que ser "tudo" pra alguém?
Não! Embora queiramos responder que sim
Mas também ser nada
Absolutamente nada
é um tanto complicado!

Há em nós muito amor por nós mesmos
Projetado no outro esperando que seja aceito
O mesmo amor esperado que uma mãe sinta pelo filho
incondicional
Onde o filho é tratado como "tudo" e a mãe como "nada"
Pensei que a função de professor, que é um tanto egocêntrica,
tivesse alguma importância
E nela depositei tudo
mas foi um novo engano egocêntrico
Já que ter importância é algo muito relativo e perigoso
Geralmente egoico.

O meu ego foi esmirilhado
e como estou apegado a ele
sofro pela sua humilhação
pela sua morte — ou pelo seu assassinato
Morte, humilhação e orgulho do ego
andam juntos.

O budismo é um refúgio?
Ou tem algum valor autêntico?
Seria o purismo e o nirvana um esconderijo?
Se deixar levar pelo daimonismo ctônico
e pela orgia seria o caminho?
Ou pelo menos um caminho?
É isto que cultua a energia, a recicla
e nos faz estar no mundo?
Para isso Sade tem que vencer?
Ou, pelo menos, aparecer soberano
sendo respeitado e levado em consideração?

Tenho certeza que nunca o ouvi muito bem
E como diz Blake, uma vez que reprimimos o desejo
ele se torna cada vez mais passivo
até não ser mais do que mera sombra de desejo

Seria o livre trânsito do desejo
o caminho de reintegração no mundo?
De que maneira aprender a respeitar nossos desejos
em uma civilização doente, incompreensiva e repressora?
São os desejos os redentores
das almas penadas e perdidas?

Samadhi e nirvana são fugas?
Ou seriam maneiras de dissolver o ego
sem ser por meio da humilhação
ou da autoaniquilação material?

Até que ponto se relocalizar no mundo preserva o ego?
E até que ponto o ego deve ser preservado?
Misturando-o e fazendo-o aceitar as nossas sombras
ele se torna melhor?
Até onde e quando?
Sempre conflituoso, sempre choroso
sempre sofrendo
Crescer e expandir a consciência do ego
Pra quê?
A 'anima mundi' redime o ego?
Ou o reforça?

Se eu matar meu desejo
preservo a civilização?
Se eu destruo a civilização,
preservo o meu desejo?
É possível preservar o meu desejo
sem destruir o outro?
A mulher estuprada pelo Marquês de Sade
não importa nada para a saciedade do seu desejo?
Ou se justifica a sua insinuação inconsciente
como explicação para o sadismo?

Quem tem razão nisso tudo?
Ou não é necessário razão alguma?
Basta ter desejo e ponto final?
Algo me diz que todas essas perguntas
não tem respostas
e que não vamos sair de um empate perturbador

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