quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A lei de Israel impede a paz e estimula a limpeza étnica

 

A condição para a paz no Oriente Médio pressupõe a cooperação do Estado de Israel e da comunidade internacional com a criação de um Estado palestino. No entanto, é tudo o que não quer o governo israelense, com total apoio dos EUA, já que ambos precisam do caos permanente na região para justificar não apenas os interesses dos seus respectivos complexos industrial-militar, mas a intervenção política e militar autoritária.

         Exigir “paz” na Palestina sem reconhecimento mundial de um Estado soberano, que seja respeitado internacionalmente, mas, sobretudo, seja reconhecido por Israel, é uma contradição. Essa é a essência da questão. Sem a criação deste Estado, com suas respectivas instituições e soberania territorial, que tenha crescente inserção econômica mundial, deixa a população palestina à mercê de Israel. Para tornar um Estado palestino viável econômica e politicamente, seria necessário vontade política tanto de Israel, quanto dos EUA. Mas estes países estão interessados em manter uma zona de guerra permanente no Oriente Médio, tanto para atender os interesses do seu complexo industrial-militar, quanto para sabotar, sempre que possível, as ligações geográficas entre a China e a Europa.

         Na política interna israelense se notam duas perspectivas: uma, que é moderada e reconhecia a necessidade de tratados de paz com os palestinos, respeitando a necessidade da construção de um Estado independente, representada pelos trabalhistas; e a outra, de caráter fascista (chamada eufemisticamente de “extrema-direita”), que não apenas não quer nenhum tipo de independência para os palestinos, como precisa desta situação “indefinida”, inclusive com a tolerância tácita de “movimentações terroristas”, para justificar sua política permanente de guerra, representada pelo Likud, partido de Benjamin Netanyahu.

         Cada vez mais o partido fascista ganha terreno na política interna de Israel, seja através da propaganda ou da manipulação do inevitável sentimento de insegurança da população. Tomado por um fundamentalismo sionista, não há diálogo possível, uma vez que usam diversas manobras políticas para se recusar a ouvir e promover o caos do desentendimento, até a utilização de “esconderijos institucionais” de órgãos regionais e internacionais, como a ONU. Na condição de um Estado tolerado e patrocinado pelas potências Ocidentais, como os EUA e a Inglaterra, Israel pode promover livremente uma política belicista ininterrupta que impede qualquer tipo de paz na região.

 

O Ocidente e a sua tolerância tácita com a política interna de Israel

         A visão utilitarista Ocidental espera cinicamente uma paz impossível que não enfrenta a política interna de Israel, nem seu projeto geral. Depois cai num desânimo providencial que termina por “esquecer” daquela situação sem procurar chegar às suas raízes. Tal visão é pautada pelo extremo individualismo da sociedade capitalista, que consome o espetáculo midiático, no mais das vezes, acriticamente, se “comovendo” seletivamente e se assustando.

         Como se viu, não é possível paz na região se há uma fonte que tensiona permanentemente para ações de guerra, como a política interna de Israel, que não reconhece nenhum tipo de soberania política e sabota qualquer tratado de paz, agindo no sentido de ofender, humilhar e massacrar permanentemente os palestinos.

         A situação política e econômica internacional, bem como a propaganda da grande mídia Ocidental (chamada erroneamente de “jornalismo”), condiciona nossas mentes e a nossa visão sobre a situação da Palestina. Somos obrigados a raciocinar dentro de estreitos limites e fica fora da equação as questões decisivas da política interna de Israel, abençoada e sustentada, às vezes secretamente, às vezes abertamente, pelo imperialismo estadunidense.

         E querer paz para região ignorando essas questões decisivas é o mesmo que querer apagar fogo com gasolina. É como se houvesse um curto-circuito que impede um desfecho positivo e sobressai-se perante nossos olhos uma aparente situação sem saída. Há um permanente trabalho ideológico neste “jornalismo” para nos impedir de chegar às verdadeiras raízes do problema.

         Escondem ou minimizam a política fascista de Netanyahu e seu partido para permanecer no poder e manter intacta as suas sucessivas manobras militares de limpeza étnica. No seu quinto mandato consecutivo, ele sofria com processos de corrupção e promovia, seguindo a linha do neofascismo internacional, uma série de ataques políticos ao judiciário, alegando excessivo poder de interferência.

         Por isso, tentava concretizar o que chamou de “reformas” para diminuir o seu poder. Em resposta, enfrentou uma sequência de protestos populares há meses, o que levou o seu governo a uma semi-paralia. O ataque do Hamas lhe deu providencialmente a justificativa para unificar o governo e o país em torno da guerra, criando, finalmente, uma “aliança de governo”. Como declarou que a “guerra será longa”, o caminho, fica livre, na prática, para “reformar o judiciário” por meio de poderes marciais.

         Enquanto bombardeia Gaza diariamente, vende cinicamente a ideia de que isto estaria justificado porque Israel é “a única democracia do Oriente Médio”. As suas declarações são reproduzidas aos quatro cantos pela mídia Ocidental.

 

A propaganda da grande mídia e da extrema-direita e a sua relação com o egocentrismo humano frente à causas complexas

         A mídia Ocidental também sabe lidar muito bem com o “seu público”. A população Ocidental é levada, através do discurso político oficial e da grande mídia comercial, a esperar uma paz “do nada”, por uma “boa vontade política de ambos os lados”, esquecendo-se das situações objetivas e fechando os olhos para ações políticas que acontecem nas sombras, permanecendo, assim, muitas vezes, em uma ingenuidade forçada que procura não ver para não se incomodar.

         Isto segue uma lógica da psicologia de massas. Se os observadores ocidentais acham que alguma coisa é possível, então gastam uma grande abundância de energia nessa “solução”, se empenham, se empolgam e até se tornam ativistas. Mas se sentem que algo é impossível, como supostamente é a situação da palestina, veem tudo como um grande desperdício de energia e se largam na correnteza do que existe, das coisas como elas são, e, então, vivem caindo de armadilha em armadilha.

         E como é fácil cair em armadilhas da grande mídia Ocidental e da extrema direita – especialistas em criar novas armadilhas –, uma vez que o discurso de ódio, que justifica a violência e a cultura de guerra é sempre muito sedutor para os seres humanos dominados pelas atividades egocêntricas. A sociedade capitalista é individualista, utilitária, e incentiva o egotismo como forma de dominação. A extrema-direita e a grande mídia sabem disso e incentivam tais “qualidades” na massa humana.

         Assim, como a maior parte das pessoas é dominada por estas atividades e preocupações egocêntricas, se importando superficialmente por assuntos que não lhe dizem respeito diretamente, vemos uma enxurrada de posições messiânicas, equivocadas, parciais ou interesseiras sobre a questão de vida ou morte da Palestina. Tais posições tendem a aprofundar o caos e a perpetuar a situação de violência sem fim na Palestina e no Oriente Médio.

         Temos visto que a política oficial de EUA e Israel, bem como o “jornalismo” da grande mídia Ocidental, alimentam na massa humana tendências animalescas, que a desumanizam. Criam e naturalizam xenofobias, genocídios e violências reais e simbólicas nas mais diferentes esferas; isto é, com sua narrativa ajudam a manter hordas de massas fanatizadas incapazes de pensar de forma abrangente e que nada veem nem ouvem além da voz do seu caudilho de ocasião, a letra da sua cartilha, da sua “cultura”.

         Em nome da imposição de um tipo de civilização – a sua –, desmerecem outras e as atacam se tentam resistir de alguma forma. Como pode uma mente confusa descobrir e entender qualquer coisa que não seja a projeção de sua própria confusão?

 

Por que, afinal, não há paz no Oriente Médio?

         Não há paz no Oriente Médio porque existe uma força tensionando permanentemente pela manutenção de uma linha política. Esta linha visa a imposição de uma vontade sobre as demais pela força; no caso, trata-se da força promovida pelo Estado de Israel – amparada pelos EUA –, sob o tacão político da extrema-direita, o Likud, que não mede esforços para sabotar acordos de paz e impor sua política de guerra sustentada por um terrível discurso de ódio, minimizado, ou mesmo ignorado, pela mídia Ocidental, que ressalta e salienta apenas o discurso de ódio do Hamas. O governo do Likud é, portanto, um centro permanente de sabotagem de qualquer autonomia para a Palestina e promotor de um terrorismo de Estado ininterrupto – minimizado ou tornado “natural e justo” pela grande mídia Ocidental.

         Do outro lado temos um povo sem Estado, sem soberania sobre o seu território, sem exército; massacrado e desesperado. Como se fossem “criados em laboratório”, suas experiências políticas desesperadas tendem a desenvolver formas de fundamentalismo, como o terrorismo. Se não há possibilidade de se manifestarem de outra forma; e se no cotidiano de sofrimentos incontáveis, são ignorados pela comunidade internacional, o que lhes resta? Se podemos “condenar o terrorismo” do Hamas, um tanto generoso com as intenções de Netanyahu e o Likud, dada a ausência da correlação de forças, não podemos deixar de reconhecer que é um reflexo de uma força maior, no caso, da opressão permanente do Estado de Israel. Qualquer ser humano que tenha um pingo de sensibilidade sabe que o terrorismo do Hamas poderia ser evitado ou, pelo menos, minimizado, se houvesse outra orientação política do lado mais forte, o que não é o caso.

 

A visão da “esquerda” sobre a situação da palestina

         O Hamas também dissemina um discurso de ódio, que é amplamente utilizado pelo governo de Israel e pela grande mídia Ocidental para acionar o lado sádico e violento das massas humanas.

         Como sofrer uma agressão e não revidar?

         Para isso, criam uma narrativa que esconde os fatos sobre a opressão histórica de Israel em relação à Palestina. Mesmo quando, por ventura, alguém saiba dos fatos, tende a tomar o lado da retaliação, uma vez que o ódio e a violência são forças incentivadas, disseminadas e valorizadas pela sociedade atual. A violência é admirada por si mesma como uma demonstração de força; e, assim, entendem que é legítimo que o lado mais forte prevaleça. Não é mais ou menos assim que funciona a mentalidade meritocrática?

         Então, a “esquerda”, no geral, tende a apoiar as ações do Hamas, acriticamente, o que só pode reforçar o círculo vicioso de violência desencadeado e sustentado pelo Estado de Israel.

         Mais do que isso!

         O governo de Israel, os EUA e a sua grande mídia contam com isso. E tudo fica ainda mais embolado a partir de um discurso frenético que reproduz a “teoria marxista” um tanto dogmaticamente, mas ignora a realidade concreta da disputa da luta de classes na região. Ou seja, se avaliza e se reforça direta ou indiretamente o discurso do Hamas. Assim, Israel desencadeia inúmeras ofensivas militares “amparada” no discurso de “auto defesa”, “justiça”, “liberação de reféns” (como se a faixa de Gaza não fosse uma região inteira que mantém 2 milhões de reféns) e “combate ao terrorismo”.

         Tudo isso gera uma espiral sem fim de violência e de cultura de guerra. O que redunda em mais massacre e, agora, numa política consciente promovida pelo Likud de limpeza étnica. Não existiriam “guerras” hoje em dia sem o apoio ativo da grande mídia, que conquista o “consentimento” do “cidadão médio” dos países do mundo, mas, em especial, de Israel. A contra-narrativa da esquerda tem reforçado e facilitado a política fascista do Likud, pois não há cuidado com a forma, nem com a realidade concreta.

         Compete a um lado sensato e lúcido romper com esta espiral de violência. O fundamentalismo islâmico e político beneficia a política do Likud e o ajuda a se disfarçar. O primeiro passo é nunca desviar a atenção da política interna de Israel, bem como de seus objetivos gerais, que só podem promover a guerra e a limpeza étnica. Estar consciente dela, nunca esquecê-la, denunciá-la em qualquer circunstância, mesmo frente à pior onda de desinformação propagandística promovida pela grande mídia Ocidental.

         Esta é a chave!

         No momento atual, de total desarticulação da esquerda a nível regional e internacional, cabe entender a situação e renovar a análise e denúncia da situação palestina da melhor forma possível, evitando a repetição de jargões e frases soltas que só podem ajudar politicamente o Likud, o Estado de Israel e os EUA, em decadência histórica.


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