terça-feira, 30 de agosto de 2022

A pobreza de um debate eleitoral: ele ajudou a esclarecer ou apenas a piorar a situação?

Os debates eleitorais na televisão são tristes de tão pobres. Formatados e fechados em si mesmos e em temas selecionados, as discussões são artificiais e possibilitam promessas vazias e discursos demagógicos para "te tirar do sufoco".
Não se debate programa, nem ideologia seriamente. É uma avenida para meros ataques pessoais, tidos como "debate eleitoral" – uma verdadeira guerra de imagens. O egocentrismo do candidato se salienta em detrimento do coletivo (do partido, ou do "projeto de governo" – quando ele existe!).
Os temas são vagos e abstratos: "educação", "saúde", etc. Se pode falar sobre tudo ou sobre nada, apenas vendendo uma falsa imagem. Um balanço sobre o neoliberalismo não é permitido, nem sobre a grave crise de confiança nas instituições políticas; tampouco se pode propor ou debater algo que questione as bases econômicas e infraestruturais.
Os candidatos de "esquerda" não falam nada sobre capitalismo, e os de direita reproduzem o discurso da grande mídia contra as "ditaduras comunistas" do mundo, sem nenhum contraponto.
Isso, em grande parte, se deve à censura feita às candidaturas menores, quase em sua totalidade, de "esquerda" (PSTU, PCB, UP). Não há um único protesto unitário e enfático contra isso por parte dos partidos institucionais, nem de dentro, nem de fora dos debates. Quando o fazem é de forma isolada. Por que esses partidos não fazem sequer uma frente de denúncia sobre isso, preocupando-se apenas com o próprio umbigo? Não que fossem fazer a diferença no debate, já que sua narrativa é viciada e, no geral, fica em conformidade com a hipocrisia reinante. Porém, é uma aberração "democrática" não permitirem a sua participação. Nos demonstra a hipocrisia do identitarismo burguês, que, casualmente, na disputa do cargo mais importante da República burguesa, não reconhece "lugar de fala" para 2 mulheres, sendo uma negra com vice indígena, e um candidato negro.
As justificativas para esta exclusão – na verdade, censura – são meras desculpas: as pesquisas eleitorais, sendo que muitas delas são reconhecidamente unilaterais; ou uma draconiana e retrógrada legislação eleitoral, dita "democrática".
Nenhum dos debatedores enfrentou seriamente o bolsonarismo: em primeiro lugar era necessário agitar permanentemente a ilegalidade de sua candidatura, dado que ele tem posições abertamente contra as instituições, contra os pobres e que são disfarçadamente fascistas. Nenhum fez isso. Muito menos Lula, que apenas vendeu o seu próprio peixe, sempre colocando um grande "eu" na frente de tudo, e não fez nenhum balanço seriamente. Sequer fez um balanço em relação ao golpe de 2016 – apesar de ter falado por cima sobre o assunto. Parece que o bolsonarismo apenas faz o trabalho sujo e agora Lula reassume para administrar a crise permanente e aliviar um pouco, colocando "um bandeide" no Brasil, aqui e ali. Ciro, sempre falando "modestamente" para fingir uma falsa humildade, também não falou nada a respeito, senão que o reforçou através do seu antipetismo militante. Todos reféns, em maior ou menor medida, das regras do jogo.
Bolsonaro armou seu show de horror de sempre para não debater nada e seguir manipulando o sadismo dos seus seguidores – por este e outros motivos não poderia sequer concorrer. Com que facilidade chama tudo de mentira e fake news para esconder que ele é o principal promotor de mentira e de fake news. Com isso ele ajuda a desviar toda a atenção da sua ausência de debate programático, bem como dos demais. Contudo, ele não mentiu sozinho.
A Band armou o palco mesmo foi para o Partido "Novo", que abriu a noite professando mentiras descaradas que defendem "Estado mínimo" e privatização de tudo. Reforçou a velha ideia – com a complacência de Lula e Ciro – de que a corrupção existe apenas no setor público, enquanto que o setor privado é um "santo" do pau oco. Não é só "perfeito", como é "a solução" para todos os problemas. Seu projeto de país: continuar entregando as riquezas nacionais para o setor privado de mãos beijadas e chamar isso de progresso e desenvolvimento. Grita contra os "privilegiados" do serviço público, mas cala para os privilégios absurdos dos banqueiros, do agronegócio, da elite nacional – isso talvez se dê assim porque ele próprio é um empresário? É bem provável.
Ele se derramou de elogios ao agronegócio com a finalidade de reconstruir a imagem – junto com a Globo – do setor que mais faz a nossa economia sangrar e que, além de promotor de bizarra destruição ambiental, praticamente não paga impostos. O que o "Novo" quer, na realidade, é a velha caução dos orçamentos públicos para subsidiar o "empreendedorismo" e a "competitividade" do agronegócio a nível internacional. Isto é, quer a manutenção do Brasil como uma República de Bananas... ou melhor, da soja!
Ou seja, o debate serviu, em última instância, para reforçar livremente a propaganda do neoliberalismo (inclusive durante as propagandas, que pediam para o eleitor "votar em quem defende o empreendedorismo") e salientar a fraqueza da campanha de Lula: a relação com o agronegócio.

Em síntese: as portas do inferno foram abertas pelo neofascismo bolsonarista e não serão fechadas pelas instituições da nossa "democracia", nem pelos candidatos progressistas, que tendem a ficar refém da governabilidade e da estrutura oficial. Será tudo tão somente a velha e permanente "redução de danos".

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