segunda-feira, 11 de março de 2019

Nom ducor duco

O foco das nossas atenções deve ser sempre a Avenida Paulista: eles estão todos lá! "Conduzem o país e não são conduzidos". Seus interesses especulativos se sobrepõem a todo o restante. Seus negócios são vendidos como o "futuro do país"; o seu "êxito econômico", como o "êxito do Brasil".

Tudo falso até a medula! Fazem esse jogo cínico e baixo desde a época do café.


Qual será mesmo o sacrifício dos "moradores" da Avenida Paulista em relação à Previdência? À saúde e à educação pública? Se preocupam eles com ciência e tecnologia nacional? Ou com o desenvolvimento industrial e autônomo? Para eles o livre mercado não passa da submissão aos interesses dos monopólios e do sistema financeiro, e jamais o desenvolvimento do mercado nacional.

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Uma das maiores contradições internas do nosso país é a disputa não declarada: São Paulo X Brasil. Muitos autores, como Jessé Souza e Pepe Escobar, perceberam certas contradições entre os interesses de São Paulo e os do Brasil. O primeiro se desenvolve em detrimento do segundo, enquanto, cinicamente, temos que ouvir que se trata de uma maria-fumaça puxando 26 vagões vazios. No entanto, não responde porque os 26 vagões estão vazios. Pepe Escobar chega a tratar São Paulo como uma espécie de "região autônoma" (quase como uma Zona Econômica Especial chinesa), tipo Hong Kong, Taiwan ou Singapura.

Os trotskistas brasileiros organizados na extinta Liga Comunista Internacionalista (LCI), já na década de 1930, perceberam a contradição de forma incipiente e intuitiva, mas brilhante, colocando-a no centro gravitacional da guerra civil de 1930. A elite de São Paulo pretendia manter a estrutura política e econômica da República Velha, que lhe beneficiava amplamente, em detrimento do desenvolvimento político e econômico do restante do país.

O varguismo, que compreendeu a situação muito melhor que o PCB (enredado em dogmas e cânones), lançou uma luta inicial e vacilante contra a elite paulista, mas terminou rendido em razão dos seus métodos, em última análise, burgueses (o malfadado trabalhismo). A elite paulista, muito mais poderosa do que o restante das elites regionais — incluso a do Rio de Janeiro, que vacilava para ela em razão dos interesses mais ou menos comuns —, acabou por recompor o seu poder em novas bases, conforme atesta os documentos da LCI e o texto desse blog O desenvolvimento do capitalismo no Brasil, sobretudo a partir da constituinte de 1932-1934, justamente por ser o maior colégio eleitoral do país.

Para o desenvolvimento econômico e social do Brasil é necessário submeter a elite paulistana a um projeto nacional, que tenha como foco o fortalecimento do mercado interno (e não apenas de si mesmo). É necessário, portanto, que pare de conduzir e agora seja conduzida. A mentalidade e os interesses da elite de São Paulo estão voltados para o mercado mundial e para a manutenção das condições de lucro e rendimento "ensimesmado" na maior cidade das Américas — isto é, tem que deixar de ser uma "região autônoma". É fundamental unificar taxas e tarifas, mas, sobretudo, apostar em um modelo de desenvolvimento harmônico e interligado, que leve em consideração os anseios das regiões mais atrasadas. A estrutura está montada a tal ponto que o "investimento" procura preferencialmente São Paulo em detrimento do resto do país; e basicamente nenhum governo federal tem coragem de enfrentar e remediar esta falta de planejamento.

A riqueza captada e produzida por São Paulo deve ser investida no desenvolvimento das regiões mais longínquas, criar uma infraestrutura produtiva, de transporte, comunicação e indústria. Devemos reproduzir aqui, de certa forma, o modelo empregado por Tito na Iugoslávia, onde as regiões mais ricas impulsionavam o desenvolvimento das regiões mais atrasadas.

Para isso, infelizmente, teremos que enfrentar firmemente a bilionária elite tecnocrata-financeira que habita os arranha-céus da Avenida Paulista. Se a China e o seu PCC não tivessem um projeto corrompido de capitalismo de Estado "com características chinesas", seriam uma valiosa ajuda internacional para quebrar a espinha dorsal do poder econômico e político da elite paulistana; mas, ao que tudo indica, são seus esteios mais seguros, como demonstra as melosas homenagens à China promovidas pelo prédio da FIESP, que estampou a bandeira chinesa no 70º aniversário de fundação da "República Popular" chinesa, e os "oas" deprimentes ao capital chinês de parasitas como João Dória (PSDB e cia.).

Temos que ter como uma das tarefas da revolução brasileira colocar abaixo esse odioso lema de "Non ducor, duco", por um mais humilde e condizente com um país do tamanho e da diversidade do Brasil. Que São Paulo seja a parte mais dinâmica do mercado brasileiro e não o seu dono.

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