Luciana Genro e os militantes do MES-PSOL em uma atividade do Juntos |
A corrente estudantil conhecida como “Juntos” é um movimento
ligado e dirigido pelo MES (Movimento de Esquerda Socialista), uma corrente
interna do PSOL da qual fazem parte Luciana Genro e Roberto Robaina. Parece
progressivo que uma corrente estudantil se proponha a debater política com a
juventude, ajudando na sua organização. Em um país atrasado econômica, política
e culturalmente, sedento de todo tipo de organização de base e de debate
político, de fato o é.
Contudo, o projeto desta corrente
não visa emancipar os estudantes para que tomem consciência do seu lugar no
mundo e na luta de classes, mas fazem o contrário: aproveitam-se desta
disposição da juventude e não a desenvolvem no sentido que realmente
interessaria aos trabalhadores – isto é, desenvolver consciência revolucionária
de classe –; utilizam-na, então, como um movimento a serviço dos interesses
eleitorais do PSOL (que não são os mesmos dos trabalhadores, a despeito dos
discursos em contrário), ainda que eventualmente ajude a mobilizar estudantes
com pautas progressivas. Como o PSOL não pode assumir sua intenção abertamente,
pois certamente seria desprezado em razão do grande sentimento anti-partido que
impera na população, em geral, e na juventude, em particular, aproxima-se dos
estudantes como um “movimento” que não estaria subordinado a nenhum partido. Ao
invés de combater a errônea consciência anti-partido, que visa apenas deixar os
trabalhadores e a juventude sem organização política, ajuda a reforçá-la.
E o PSOL? Que espécie de partido é?
O PSOL é um partido reformista, do tipo social-democrata, que segue exatamente
os mesmos passos do PT, apesar de reivindicar o marxismo e, até mesmo, o
trotskismo, em palavras.
Por isso, não fazer esta crítica é deixar os estudantes que
seguem o Juntos à mercê de uma burocracia política e sindical que emperra as
lutas desviando-as totalmente para o terreno da burguesia, as eleições,
utilizando-se para isso de um discurso “de esquerda”.
Inspirado em movimentos como o
“podemos” e os “indignados” da Espanha (que também são caracterizados por esta
repulsa aos partidos em geral), o Juntos explora o sentimento anti-partido a
favor do PSOL, pois esta tática do MES serve para influenciar mais ativistas
que não conseguiria atingir se se assumisse publicamente enquanto partido. Este
é um ponto visivelmente negativo, pois capitula para este sentimento equivocado
e reacionário da população que precisa ser combatido e melhor orientado. O
problema não está nos partidos em geral, mas nos partidos burgueses (ou seja,
aqueles que possuem um programa e uma prática burguesa: PSDB, Democratas, PMDB,
PT, PSB, PCdoB, PDT, PTB, PPS, PSD, Solidariedade, PSC, PMN, Rede, PV, dentre
outros); e nos partidos reformistas, dentre os quais está o próprio PSOL, além
de PSTU, PCB e PCO. A consciência anti-partido impede que os trabalhadores
tomem consciência da necessidade de ter um partido revolucionário, isto é, uma
organização política que lute pela independência de classe do proletariado em
relação à burguesia. É no programa dos partidos burgueses e reformistas que
está o “DNA” dos seus crimes e traições políticas. A corrupção é uma
conseqüência inevitável dele.
A tática política expressa pelo Juntos
não é nenhuma novidade. O mesmo papel coube a União da Juventude Socialista
(UJS), que é a corrente estudantil do PCdoB. A UJS caracteriza-se por ser
extremamente oportunista, dirigindo com mãos de ferro a UNE e a colocando a
serviço dos governos do PT, partido ao qual está subordinada. Não há formação
teórica e política da juventude, mas o rebaixamento das discussões, a
disseminação de uma alienação perniciosa, marcada por festas e
confraternizações sem um contraponto real na elevação da consciência política
de classe. Ainda que promova atos políticos e passeatas, a UJS e as correntes
afins se caracterizam por sustentar acriticamente os governos petistas. O
Juntos disputa com a UJS e suas correntes satélites a UNE, não para livrar esta
entidade do reformismo e do peleguismo que a enferruja, mas para dar a sua orientação reformista. Na verdade,
procura ganhar influência rapidamente através dos cargos e aparatos destas
entidades. Não casualmente, um dos principais focos de atuação do Juntos é a
intervenção nestas entidades burocratizadas do movimento estudantil (tais como
UNE, UBES e UMESPA) sem denunciar o papel que cumprem de braços dos governos no
movimento estudantil. Ao invés de cultivar um novo movimento estudantil,
independente, livre das velhas práticas caducas, o Juntos procura ganhar
influência política nas escolas e universidades (de uma forma muito semelhante
à UJS, diga-se de passagem) para levá-las ao leito morto destas entidades
governistas burocratizadas e ganhar influência dentro delas.
O "racha" do PSTU (Arrancar Alegria ao Futuro) mal saiu do partido e já está de mãos dadas com o Juntos |
O programa político do
Juntos
Se tratando
apenas de uma corrente para mobilização da juventude, então teríamos apenas um
problema parcial de método e concepção que poderiam ser trabalhados a partir da
crítica e da discussão. Porém, se trata de uma corrente estudantil dirigida
pela PSOL, que procura dar-lhe uma suposta orientação “marxista”, conforme se
pode ver nas declarações políticas do seu site. A concepção “marxista” do PSOL
é extremamente deturpada, rebaixando o seu programa e a sua prática, e
renegando, inclusive, as principais contribuições teóricas do trotskismo (em
particular, a teoria da Revolução Permanente). Eis aí a questão central.
Por que, então, o PSOL-MES e o
Juntos reivindicam o marxismo, o leninismo e o trotskismo, mesmo tendo que
revisar os seus princípios? Porque é a teoria que demonstrou aos trabalhadores
do mundo como lutar contra a burguesia coerentemente e como tomar o poder.
Apesar das inúmeras tentativas de enlamear o seu nome por parte do stalinismo e
dos reformistas de todos os matizes, seus méritos teóricos e políticos são
profundos e reconhecidos até mesmo pelos seus inimigos. Então o que o PSOL e o
Juntos querem, na verdade, são os méritos do marxismo, sem os sacrifícios; os
direitos, sem os deveres; a imagem, sem o conteúdo, para poderem se vender como
combativos e coerentes para o movimento e, assim, crescerem mais rapidamente.
Para além de todos os problemas de
método e de princípio envolvendo o Juntos, cabe analisar o seu programa,
apresentado nos seus meios de comunicação. Um programa sintetiza o conjunto da
compreensão da realidade que conduz a uma visão de como superar a sociedade
capitalista, somada a diversas tarefas imediatas, transitórias e históricas que
precisam ser cumpridas para transformá-la em uma sociedade socialista. Os dois
principais programas são: o “capitalista” e o “socialista” (dentro deste último
existem diversas subdivisões, como o programa reformista e o revolucionário).
A quem serve o programa político do
Juntos? Certamente não é ao socialismo. O seu programa é o que podemos
caracterizar como “socialista reformista”, com traços nitidamente pequeno burgueses,
apesar do seu discurso “libertário” e anti-capitalista. Para confirmar esta
caracterização basta analisar suas publicações, como a revista J! (número 19, de outubro de 2015) que
preparou a intervenção da corrente no 41º conubes (Congresso da UBES), bem como
a atuação e programa do MES-PSOL (corrente política responsável pela orientação
geral do movimento).
A revista do Juntos usa e abusa da
denúncia de que o “capitalismo mata”, o que é aparentemente progressivo. No
entanto, lendo mais atentamente os artigos, se percebe que não há clareza em
relação ao que colocar no lugar do capitalismo. Em nenhum momento se fala sobre
o “socialismo”; muito menos sobre como superarmos o capitalismo. Ao contrário,
percebe-se que o programa do Juntos é o mesmo do MES-PSOL. Os teóricos do
movimento aconselham a juventude à radicalizar a democracia, pois esta deve ser
“a nossa saída” da crise capitalista. Mas qual “democracia”? Ora, só pode ser a
democracia burguesa. E o PSOL, como um partido reformista, tem todo o interesse
de incutir este engodo na juventude para ganhá-la para o seu projeto. Além
disso, o Juntos propõe uma Assembleia Constituinte (que na atual conjuntura
política só poderia ter uma larga maioria burguesa) e a refundação das
instituições democrático-burguesas. Ao invés do socialismo, a juventude é
educada na reforma e na refundação do capitalismo.
Os resultados práticos desta
orientação oportunista e aparatista não poderiam dar em outra coisa. Nas
ocupações de escolas públicas no Rio Grande do Sul, desencadeadas em
consonância com a greve do magistério estadual em maio-junho de 2016, o Juntos
teve um papel ativo nas maiores escolas. Todo este movimento culminou na
ocupação da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, dirigida pelo Juntos e
pela UJS através da UBES, UGES e UMESPA. Durante a ocupação da ALERGS, o
governo Sartori (PMDB e aliados) apresentou uma proposta rebaixada, que
consistia apenas em adiar a votação do PL 44 – projeto de lei que privatiza os
serviços públicos – para seis meses (o que daria mais ou menos em janeiro ou
fevereiro de 2017), sem retirá-lo de tramitação; e a liberação de apenas R$40
milhões para reformas nas escolas ocupadas. Dividido entre elas, isso daria
apenas 16 mil reais para cada uma, o que significaria apenas a soma de alguns
meses do repasse da verba que deveria entrar normalmente em cada mês. Além
disso, o adiamento do PL 44 visa apenas acalmar o descontentamento e jogar a
votação para as férias escolares (isto é: ganhar tempo!). Estas entidades – com
o total consentimento do Juntos – vergonhosamente aceitaram o acordo proposto
pelo governo!
Por tudo o que foi relatado,
conclui-se que o Juntos é um movimento estudantil subordinado à lógica
burocrática e aparatista, muito semelhante ao movimento governista. Por ser
mais recente e estar fora do governo federal, se dá maiores liberdades no
discurso, porém, mantendo uma mesma prática política no movimento e na formação
dos seus militantes. Não é um movimento classista, que visa a unificação de
trabalhadores e estudantes. É mais um estorvo no caminho da emancipação dos
trabalhadores e da juventude proletária na luta pelo socialismo.
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