O
momento político que estamos vivendo tem despertado o nazismo enrustido de
centenas de milhares de pessoas, muitas das quais, se dizem “de bem”. Enquanto
se divulgava aos quatro cantos (principalmente através dos meios de comunicação)
a alta popularidade de Dilma e Lula, ele estava adormecido. Mas agora ele está
sendo atiçado com vara curta, sobretudo por aquela parte da grande mídia, como
a Rede Globo.
É certo que este sentimento encontra
raízes na psique humana: numa tendência à destruição que sustenta e impulsiona
a agressividade humana, levando à descarga de raiva e à destruição. Este
sentimento horrível, evidentemente, não se manifesta da mesma forma em todas as
pessoas, mas podemos arriscar dizer que nesses protestos da direita há uma
unificação em torno do ódio, já que ele cega e facilita a crença de que se
Dilma cair a corrupção vai acabar, mesmo sem mexer na estrutura econômica e
política do país. Aliás, isso é tabu: para esses “manifestantes” o capitalismo
é sagrado. Ainda hoje é preciso lembrar que a defesa do capitalismo e um
anti-socialismo raivoso estão na genética do nazi-fascismo. Equivocadamente
esta classe média enxerga “socialismo” no PT, mas, na verdade, para o
sentimento do “nazismo enrustido” pouco importa, qualquer movimento que cheire
à esquerda é taxado de “socialismo” e precisa ser combatido, com razão ou não.
A descarga pulsional da grande massa –
isto é, suas tendências destrutivas – em outras épocas é canalizada para entretenimentos
alienados. Nem todos os indivíduos a descarregam da mesma forma. Há aqueles que
a aliviam no futebol, no carnaval, no sexo “descartável”, na fofoca; outros no
álcool e nas drogas; ou ainda numa combinação destes e outros tipos. Mas, neste
momento, esta descarga está sendo usada politicamente pelas forças da direita
tradicional contra o PT e indistintamente contra toda a esquerda. Trata-se de
uma tática velha, mas sempre eficiente. O nazismo soube a utilizar muito bem,
assim como fascismo na Itália e a ditadura militar no Brasil.
O que impede de se ver esses elementos claros como a
luz do dia? Quando não se trata de baixa formação política ou da ingenuidade,
pode-se indicar, talvez, este sentimento que se chamou de “nazismo enrustido”,
que é incentivado em momentos políticos como este e cega qualquer forma de
diálogo racional, dando arrepios de prazer quando atinge o clímax do ódio, da
descarga raivosa ou da turgescência dos gritos histriônicos. Talvez seja isso
que Whilhelm Reich se refira na sua análise da psicologia de massas do fascismo
e do homem de classe média.
Apesar de o reformismo do PT tentar cumprir o
programa político da classe média (qual seja: um ensaio de “distribuição da
riqueza” sem mexer nos lucros do grande capital; tentativa de “humanizar” o
capitalismo sem questionar os seus pilares e valores; contenção da luta sindical
em nome do “diálogo eleitoral”), o “nazismo enrustido” grita que o “PT é
comunista”. Qualquer tentativa de contra argumentação racional é respondida com
o êxtase: “vai pra Cuba!”. O ódio real, contudo, não é contra a corrupção do PT
– isto é apenas um álibi –, mas contra o que ele representou um dia, lá nos idos
de 1980. O real programa deste “movimento contra a corrupção” é: nenhum
privilégio a menos! O PT um dia representou uma ameaça a estes privilégios, mas
hoje não. Tente dizer isso à uma pessoa sob o efeito do “nazismo enrustido”!
Infelizmente não é apenas na classe média mais
abastada que percebemos sintomas do “nazismo enrustido”, que odeia não apenas o
PT, mas sobretudo os pobres e miseráveis; ele também está presente em muitos
trabalhadores. Instigar movimentos políticos através do ódio não é tarefa
difícil, ainda mais quando se tem nas mãos poderosos meios de comunicação. Além
disso, os valores políticos do conservadorismo – isto é, da direita – caem como
uma luva a este ódio; são eles: a propriedade privada, o egoísmo, a rapinagem,
a exploração, a confusão filosófica, a segregação, o patriarcalismo, o racismo,
a xenofobia, o preconceito, a guerra.
O linchamento simbólico promovido pelos meios de
comunicação e pelas ações do “São Moro” contra o PT, em particular, e a
esquerda, em geral, estimulam a vontade de vingança engasgada na garganta do
povo brasileiro contra os políticos e os partidos, mas não resolvem o problema
do país porque não toca nos seus graves problemas sociais. Quer somente tirar
um partido inconveniente do poder. Trata-se, na verdade, apenas de um
catalisador que demonstra a verdadeira face deste “protesto” – o “nazismo
enrustido” de muitos –, que se calou durante anos perante os debates e as
denúncias das torturas e mortes da ditadura militar, mas que agora começa
preocupantemente a “sair do armário”.
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