sábado, 19 de março de 2016

O nazismo enrustido

O momento político que estamos vivendo tem despertado o nazismo enrustido de centenas de milhares de pessoas, muitas das quais, se dizem “de bem”. Enquanto se divulgava aos quatro cantos (principalmente através dos meios de comunicação) a alta popularidade de Dilma e Lula, ele estava adormecido. Mas agora ele está sendo atiçado com vara curta, sobretudo por aquela parte da grande mídia, como a Rede Globo.
         
É certo que este sentimento encontra raízes na psique humana: numa tendência à destruição que sustenta e impulsiona a agressividade humana, levando à descarga de raiva e à destruição. Este sentimento horrível, evidentemente, não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas, mas podemos arriscar dizer que nesses protestos da direita há uma unificação em torno do ódio, já que ele cega e facilita a crença de que se Dilma cair a corrupção vai acabar, mesmo sem mexer na estrutura econômica e política do país. Aliás, isso é tabu: para esses “manifestantes” o capitalismo é sagrado. Ainda hoje é preciso lembrar que a defesa do capitalismo e um anti-socialismo raivoso estão na genética do nazi-fascismo. Equivocadamente esta classe média enxerga “socialismo” no PT, mas, na verdade, para o sentimento do “nazismo enrustido” pouco importa, qualquer movimento que cheire à esquerda é taxado de “socialismo” e precisa ser combatido, com razão ou não.
         
A descarga pulsional da grande massa – isto é, suas tendências destrutivas – em outras épocas é canalizada para entretenimentos alienados. Nem todos os indivíduos a descarregam da mesma forma. Há aqueles que a aliviam no futebol, no carnaval, no sexo “descartável”, na fofoca; outros no álcool e nas drogas; ou ainda numa combinação destes e outros tipos. Mas, neste momento, esta descarga está sendo usada politicamente pelas forças da direita tradicional contra o PT e indistintamente contra toda a esquerda. Trata-se de uma tática velha, mas sempre eficiente. O nazismo soube a utilizar muito bem, assim como fascismo na Itália e a ditadura militar no Brasil.

O que impede de se ver esses elementos claros como a luz do dia? Quando não se trata de baixa formação política ou da ingenuidade, pode-se indicar, talvez, este sentimento que se chamou de “nazismo enrustido”, que é incentivado em momentos políticos como este e cega qualquer forma de diálogo racional, dando arrepios de prazer quando atinge o clímax do ódio, da descarga raivosa ou da turgescência dos gritos histriônicos. Talvez seja isso que Whilhelm Reich se refira na sua análise da psicologia de massas do fascismo e do homem de classe média.

Apesar de o reformismo do PT tentar cumprir o programa político da classe média (qual seja: um ensaio de “distribuição da riqueza” sem mexer nos lucros do grande capital; tentativa de “humanizar” o capitalismo sem questionar os seus pilares e valores; contenção da luta sindical em nome do “diálogo eleitoral”), o “nazismo enrustido” grita que o “PT é comunista”. Qualquer tentativa de contra argumentação racional é respondida com o êxtase: “vai pra Cuba!”. O ódio real, contudo, não é contra a corrupção do PT – isto é apenas um álibi –, mas contra o que ele representou um dia, lá nos idos de 1980. O real programa deste “movimento contra a corrupção” é: nenhum privilégio a menos! O PT um dia representou uma ameaça a estes privilégios, mas hoje não. Tente dizer isso à uma pessoa sob o efeito do “nazismo enrustido”!

Infelizmente não é apenas na classe média mais abastada que percebemos sintomas do “nazismo enrustido”, que odeia não apenas o PT, mas sobretudo os pobres e miseráveis; ele também está presente em muitos trabalhadores. Instigar movimentos políticos através do ódio não é tarefa difícil, ainda mais quando se tem nas mãos poderosos meios de comunicação. Além disso, os valores políticos do conservadorismo – isto é, da direita – caem como uma luva a este ódio; são eles: a propriedade privada, o egoísmo, a rapinagem, a exploração, a confusão filosófica, a segregação, o patriarcalismo, o racismo, a xenofobia, o preconceito, a guerra.

O linchamento simbólico promovido pelos meios de comunicação e pelas ações do “São Moro” contra o PT, em particular, e a esquerda, em geral, estimulam a vontade de vingança engasgada na garganta do povo brasileiro contra os políticos e os partidos, mas não resolvem o problema do país porque não toca nos seus graves problemas sociais. Quer somente tirar um partido inconveniente do poder. Trata-se, na verdade, apenas de um catalisador que demonstra a verdadeira face deste “protesto” – o “nazismo enrustido” de muitos –, que se calou durante anos perante os debates e as denúncias das torturas e mortes da ditadura militar, mas que agora começa preocupantemente a “sair do armário”.

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