Quando cheguei em Buenos Aires me surpreendi com a beleza e a grandeza da cidade. Se me permitem dizer, achei uma mistura de Nova York com Paris. Com justeza recebe o título de "capital cultural da América Latina". A calle Florida formiga de pessoas de vários lugares do mundo, se constituindo também numa espécie de bolsa de valores informal; os restaurantes são charmosos e convidativos; a arquitetura e a opulência dos edifícios é indescritível. É preciso estar aqui para ver e sentir o clima. Talvez seja por isso que Buenos Aires tenha se tornado o destino de muitos turistas de vários lugares do mundo.
Porém, muito mais do que tudo isso, me surpreendeu o verdadeiro apartheid social que se aprofunda silenciosamente no país, escondido atrás da euforia modernizante e da indústria do turismo. Favelas se proliferam na entrada da cidade e nas zonas mais distantes dos centros turísticos; sobretudo na estação do Retiro. Volta e meia, por entre os transeuntes da calle Florida surge um mendigo aqui, um carrinho de papeleiro acolá, uma família que mora na rua, etc.
Fato sintomático de tudo isso foi a notícia que li no jornal "La Razon": um menino de apenas 7 anos, da comunidade Qom, na província del Chaco, chamado Néstor Femenia, morreu de fome. Isso mesmo: de fome! O governo Kirchner e seus "especialistas" tentaram minimizar o ocorrido, afirmando se tratar de um caso isolado. Contudo, o próprio jornal reconhece que infelizmente não é. Os milhares de casebres empoleirados que se espalham pela entrada de Buenos Aires e próximos da estação do Retiro me comprovam que realmente não se trata de um caso isolado. O mais bizarro nisso tudo é que a família do Néstor pediu ajudas ao governo diversas vezes, mas como já era de se esperar, não foi atendido (ao contrário da sociedade rural e dos mega empresários que são sempre atendidos antes mesmo de pedir). A presidente Cristina Kirchner "lamentou" o ocorrido e agora quer indicar um candidato para "manter o projeto do governo". Qual projeto? Este, que mata de fome e cria um apartheid social entre ricos e turistas de um lado, e trabalhadores e pobres miseráveis do outro, obrigados a trabalhar até morrer?
Não pude mais ver a ostentação da calle Florida, Recoleta, Palermo e do Puerto Madero sem lembrar da foto do pequeno Néstor.
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