terça-feira, 24 de junho de 2014

O papel cumprido pela CUT Pode Mais

A CUT Pode Mais é uma corrente política que surgiu de um rompimento com a Democracia Socialista (DS), corrente interna do PT da qual fazem parte Raul Pont e José Clóvis de Azevedo. Não rompeu com o PT, apenas tornou-se uma nova corrente interna do partido e da CUT. É a corrente de maior peso dentro da direção do CPERS, existindo em outras categorias, como os rodoviários de Porto Alegre.

O seu nome induz que a CUT “poderia fazer mais pelos trabalhadores”, mas isso é um engodo. A CUT está corrompida e totalmente subordinada aos governos do PT. É correia de transmissão das suas políticas neoliberais: defende as contra-reformas da Previdência, Sindical, Trabalhista, Política; o Plano Nacional de Educação (PNE), a Reforma do Ensino Médio Politécnico, a destruição dos planos de carreira do funcionalismo público; todos os sindicatos que dirige praticam um sindicalismo de cúpula, cristalizado, pelego; recebe verbas do Governo Federal por inúmeros meios. Será mesmo que a CUT pode mais?

O intuito desta corrente é envolver a base dos partidos de “esquerda” que não estão diretamente na base de sustentação do governo, como PSOL, PSTU e PCB, dando a possibilidade para que os dirigentes destes partidos apresentem-na como “independente do governo” e em um caminho “progressivo”, criando uma pseudo-justificativa de chapas unitárias para os sindicatos. Aproveitando-se do “atestado” destes partidos, a CUT Pode Mais finge uma independência do governo nos movimentos sociais e nos sindicatos. Este papel já era cumprido pela própria DS, mas estava cada vez mais comprometido pelo desgaste político. A ruptura serviu apenas à finalidade de livrar-se do seu desgaste político, para poder continuar cumprindo este papel com uma “nova imagem”, o que seria inviável estando na velha DS.

O PT é uma grande máquina eleitoral e de cooptação dos movimentos sociais. Foi por causa desta “qualidade” que se tornou o partido preferencial da burguesia brasileira e gaúcha. A cooptação governista dá-se de diferentes formas: seja pelos aparatos sindicais, estatais, CCs ou pela demagogia política. A CUT Pode Mais mescla elementos de cooptação pelo aparato sindical com demagogia política. Faz discursos contra o governo e contra as demais correntes do PT, como a Articulação. E estas, em um grande teatro, respondem as “acusações” sofridas. A própria mídia burguesa contribui para este teatro, divulgando alguns “atritos” entre as correntes do PT, inclusive em debates na TV. Isto cria a aparência de “independência”, ainda mais para a vanguarda atual, deseducada política e teoricamente, acostumada a consumir discursos.

O papel da CUT Pode Mais no CPERS
O principal papel cumprido pela CUT Pode Mais se dá no CPERS, que é o maior sindicato do Rio Grande do Sul. A atual direção do CPERS está alicerçada em um acordão espúrio desde 2008: trata-se da unidade entre a CUT Pode Mais (no início do acordão ainda era DS), PSTU, PSOL e PSB. A primeira garantiria uma fatia de influência no aparato sindical para as últimas e as últimas não tencionariam pela desfiliação da CUT. Já alertamos em outros textos quais justificativas oportunistas foram dadas por PSOL e PSTU para este vergonhoso acordão: eles vendem à sua base a ideologia de que a presidente do CPERS é “independente” dentro do PT e que cumpre um papel progressivo, “lutando” contra a ala central do partido que está no governo. Não há nada mais falso do que isso. Ela simplesmente faz um jogo de cena provavelmente em comum acordo com o PT, usando e abusando de um discurso pseudo-radical para que o CPERS siga ligado à CUT e aos interesses do governismo. O fato de a CUT Pode Mais ter rompido com a DS intensificou estas ilusões.

Porque a CUT Pode Mais não rompeu com o PT? Será que o PT também pode mais? Enquanto os discursos são consumidos pela vanguarda, a prática de conciliação de classes com o governo, de emperramento das lutas e de desorganização da base vão passando de contrabando e aprofundando o afastamento da base do sindicato, isto é, aumentando a burocratização. A “independência” da atual presidente do CPERS é uma grande enrolação. Estar no partido do governo e discursar contra ele é demagogia. Não se trata de “opção política” dos filiados em seguir um determinado partido, como alegam alguns, mas da presidente de um dos maiores sindicatos do país, que mantém a filiação em um partido que hoje é o principal sustentáculo da ordem burguesa.

O atraso para abrir o debate de desfiliação da CUT do CPERS, mesmo com uma resolução votada no congresso de Bento desde junho de 2013, não é mera casualidade, mas a consumação do acordão de 2008: somente com o fim da atual gestão o debate pode ser aberto. A atual Chapa 1 do CPERS (“Sou mais CPERS”) mantém a mesma composição oportunista. Caso seja eleita – assim como a Chapa 2 e 3 –, manterá a defesa da atual estrutura sindical e da filiação do CPERS à CUT, apesar dos discursos em contrário. O debate sobre a desfiliação foi marcado para o final de 2014, quase no próximo congresso. Ainda assim não significa nada além de um debate que marcará um plebiscito, com data prevista para dezembro. Ao invés da CUT Pode Mais ir na direção da ruptura com o governo, não restam dúvidas de que PSOL e PSTU se aproximaram do governismo petista, em um caminho sem volta.

A CUT Pode Mais nos outros movimentos
Infelizmente não é apenas no CPERS que a CUT Pode Mais cumpre este papel governista nefasto. Ela está presente na categoria dos rodoviários de Porto Alegre, onde cumpre o mesmo papel com grande êxito. Em unidade com a Articulação Sindical, PSTU e PSOL, procura construir as condições para reconquistar o Sindicato dos Rodoviários para a CUT, tirando-o da Força Sindical. A greve de janeiro serviu para construir as bases para isso e para desgastar o prefeito Fortunati. Quer substituir a burocracia da Força Sindical pela da CUT e uma prefeitura do PDT pela do PT. Dois coelhos com uma cajadada só!

Neste intento, lamentavelmente contou com o apoio da esmagadora maioria do Bloco de Lutas pelo Transporte 100% Público, que não fez nenhuma crítica à CUT e à não execução do passe-livre durante a greve de janeiro. O Bloco de Lutas, que expulsou o PT no final de 2013, finge não ver a volta dele através da CUT Pode Mais, que retorna ovacionado através dos seus “rodoviários independentes”. Estão sabotando as próprias lutas futuras quando ajudam a CUT a criar as condições para retomar o Sindicato dos Rodoviários. Se isso se consumar, serão dois CPERS, demagógicos e governistas disfarçados, sabotando as lutas com um discurso “anti-governista”, mas com uma prática do sindicalismo conciliador e pelego da CUT.

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