A
CUT Pode Mais é uma corrente política
que surgiu de um rompimento com a Democracia Socialista (DS), corrente interna
do PT da qual fazem parte Raul Pont e José Clóvis de Azevedo. Não rompeu com o
PT, apenas tornou-se uma nova corrente interna do partido e da CUT. É a
corrente de maior peso dentro da direção do CPERS, existindo em outras
categorias, como os rodoviários de Porto Alegre.
O seu nome induz que a CUT “poderia fazer mais pelos
trabalhadores”, mas isso é um engodo. A CUT está corrompida e totalmente
subordinada aos governos do PT. É correia de transmissão das suas políticas
neoliberais: defende as contra-reformas da Previdência, Sindical, Trabalhista,
Política; o Plano Nacional de Educação (PNE), a Reforma do Ensino Médio
Politécnico, a destruição dos planos de carreira do funcionalismo público;
todos os sindicatos que dirige praticam um sindicalismo de cúpula,
cristalizado, pelego; recebe verbas do Governo Federal por inúmeros meios. Será
mesmo que a CUT pode mais?
O intuito desta corrente é envolver
a base dos partidos de “esquerda” que não estão diretamente na base de
sustentação do governo, como PSOL, PSTU e PCB, dando a possibilidade para que
os dirigentes destes partidos apresentem-na como “independente do governo” e em
um caminho “progressivo”, criando uma pseudo-justificativa de chapas unitárias
para os sindicatos. Aproveitando-se do “atestado” destes partidos, a CUT Pode Mais finge uma independência do
governo nos movimentos sociais e nos sindicatos. Este papel já era cumprido
pela própria DS, mas estava cada vez mais comprometido pelo desgaste político. A
ruptura serviu apenas à finalidade de livrar-se do seu desgaste político, para
poder continuar cumprindo este papel com uma “nova imagem”, o que seria
inviável estando na velha DS.
O PT é uma grande máquina eleitoral
e de cooptação dos movimentos sociais. Foi por causa desta “qualidade” que se
tornou o partido preferencial da burguesia brasileira e gaúcha. A cooptação
governista dá-se de diferentes formas: seja pelos aparatos sindicais, estatais,
CCs ou pela demagogia política. A CUT
Pode Mais mescla elementos de cooptação pelo aparato sindical com demagogia
política. Faz discursos contra o governo e contra as demais correntes do PT,
como a Articulação. E estas, em um grande teatro, respondem as “acusações”
sofridas. A própria mídia burguesa contribui para este teatro, divulgando
alguns “atritos” entre as correntes do PT, inclusive em debates na TV. Isto
cria a aparência de “independência”, ainda mais para a vanguarda atual,
deseducada política e teoricamente, acostumada a consumir discursos.
O papel da CUT Pode Mais no CPERS
O principal papel cumprido pela CUT Pode Mais se dá no CPERS, que é o
maior sindicato do Rio Grande do Sul. A atual direção do CPERS está alicerçada
em um acordão espúrio desde 2008: trata-se da unidade entre a CUT Pode Mais (no início do acordão
ainda era DS), PSTU, PSOL e PSB. A primeira garantiria uma fatia de influência
no aparato sindical para as últimas e as últimas não tencionariam pela
desfiliação da CUT. Já alertamos em outros textos quais justificativas
oportunistas foram dadas por PSOL e PSTU para este vergonhoso acordão: eles vendem
à sua base a ideologia de que a presidente do CPERS é “independente” dentro do
PT e que cumpre um papel progressivo, “lutando” contra a ala central do partido
que está no governo. Não há nada mais falso do que isso. Ela simplesmente faz
um jogo de cena provavelmente em comum acordo com o PT, usando e abusando de um
discurso pseudo-radical para que o CPERS siga ligado à CUT e aos interesses do
governismo. O fato de a CUT Pode Mais
ter rompido com a DS intensificou estas ilusões.
Porque a CUT Pode Mais não rompeu com o PT? Será que o PT também pode mais? Enquanto
os discursos são consumidos pela vanguarda, a prática de conciliação de classes
com o governo, de emperramento das lutas e de desorganização da base vão
passando de contrabando e aprofundando o afastamento da base do sindicato, isto
é, aumentando a burocratização. A
“independência” da atual presidente do CPERS é uma grande enrolação. Estar no
partido do governo e discursar contra ele é demagogia. Não se trata de “opção
política” dos filiados em seguir um determinado partido, como alegam alguns,
mas da presidente de um dos maiores sindicatos do país, que mantém a filiação
em um partido que hoje é o principal sustentáculo da ordem burguesa.
O atraso para abrir o debate de
desfiliação da CUT do CPERS, mesmo com uma resolução votada no congresso de
Bento desde junho de 2013, não é mera casualidade, mas a consumação do acordão
de 2008: somente com o fim da atual gestão o debate pode ser aberto. A atual
Chapa 1 do CPERS (“Sou mais CPERS”) mantém a mesma composição oportunista. Caso
seja eleita – assim como a Chapa 2 e 3 –, manterá a defesa da atual estrutura
sindical e da filiação do CPERS à CUT, apesar dos discursos em contrário. O debate
sobre a desfiliação foi marcado para o final de 2014, quase no próximo
congresso. Ainda assim não significa nada além de um debate que marcará um
plebiscito, com data prevista para dezembro. Ao invés da CUT Pode Mais ir na direção da ruptura com o governo, não restam
dúvidas de que PSOL e PSTU se aproximaram do governismo petista, em um caminho
sem volta.
A CUT
Pode Mais nos outros movimentos
Infelizmente não é apenas no CPERS
que a CUT Pode Mais cumpre este papel
governista nefasto. Ela está presente na categoria dos rodoviários de Porto Alegre,
onde cumpre o mesmo papel com grande êxito. Em unidade com a Articulação
Sindical, PSTU e PSOL, procura construir as condições para reconquistar o
Sindicato dos Rodoviários para a CUT, tirando-o da Força Sindical. A greve de
janeiro serviu para construir as bases para isso e para desgastar o prefeito
Fortunati. Quer substituir a burocracia da Força Sindical pela da CUT e uma
prefeitura do PDT pela do PT. Dois coelhos com uma cajadada só!
Neste intento, lamentavelmente
contou com o apoio da esmagadora maioria do Bloco de Lutas pelo Transporte 100%
Público, que não fez nenhuma crítica à CUT e à não execução do passe-livre
durante a greve de janeiro. O Bloco de Lutas, que expulsou o PT no final de
2013, finge não ver a volta dele através da CUT
Pode Mais, que retorna ovacionado através dos seus “rodoviários
independentes”. Estão sabotando as próprias lutas futuras quando ajudam a CUT a
criar as condições para retomar o Sindicato dos Rodoviários. Se isso se
consumar, serão dois CPERS, demagógicos e governistas disfarçados, sabotando as
lutas com um discurso “anti-governista”, mas com uma prática do sindicalismo
conciliador e pelego da CUT.
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