quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A pré-história no Bonfim

Em pleno século 21 convivem, lado a lado, as "maravilhas modernas" e a pré-história mais atrasada. As palmeiras da Av. Oswaldo Aranha sombreiam a frota de ônibus e carros que pelo asfalto deslizam, entrecortadas pelos fios do sistema elétrico e pela selva de concreto que se estende por todos os lados.

No meio de um dos canteiros, logo abaixo de uma palmeira, habita um homem de neanderthal portoalegrensis. Sua pele tostada do sol, a imensa barba e o pedaço de pano que o tapa compõem sua vestimenta. Ele não fala, urra onomatopeias inaudíveis a uma cidade muito ocupada. Não sei se ele sabe falar, mas seu olhar diz: onde eu estou? Quem são vocês? Tenho fome! Socorro!!! Para defender seus restos de "comida" e o seu "território" ele possui um pedaço de pau com um prego na ponta, a sua lança, provavelmente para ser utilizada contra cachorros, pombas e pessoas.

Homem de Neanderthal portoalegrensis, ignorado pela sociedade capitalista

Em dias de sol, ele deita-se, talvez esperando alguma explicação plausível para um mundo sem explicação, ou simplesmente esperando a morte chegar. Hoje chovia torrencialmente. Ele permanecia no seu canteiro, embaixo da mesma palmeira. Estava enrolado em um plástico escuro, com a cabeça de fora, toda encharcada. A lei do desenvolvimento desigual e combinado impera: o século 21 vergonhosamente convive com a pré-história.




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