Os capitalistas triunfaram.
Eles constroem o
futuro a imagem e semelhança dos seus interesses.
O egoísmo se
consagrou como um novo deus!
Conseguiram plantar
na mente de milhões de pessoas em todo o mundo que não há alternativa ao
capitalismo.
Diferentes armadilhas nos prendem ao atual estado de coisas e não temos
sabido nos desvencilhar delas. Na maioria das vezes compramos o discurso veiculado
febrilmente na grande mídia e nas suas redes sociais.
Ainda que esta realidade não seja eterna e imutável, não será algo fácil
de desarraigar da mente de milhões de pessoas.
As narrativas
Os capitalistas sabem
“ganhar no grito”.
Patrocinam centenas
de milhares dos mais hábeis escritores, jornalistas, publicitários,
professores, criadores de conteúdo, que influenciam a massa humana 24h por dia,
se utilizando de diversos métodos.
Eles podem ter se vendido por dólares ou por vaidade, tanto faz!
Tudo o que escrevem e
veiculam é transformado num grande eufemismo.
Escondem inúmeras
violências físicas e simbólicas atrás de belas e nobres palavras veiculadas 24h
por dia na televisão.
A primeira forma de
dominação consiste em conseguir hipnotizar e enfeitiçar a sociedade civil
através das palavras, desconectando-as totalmente de seu real
significado.
Portanto, escravizam a linguagem.
Eduardo Galeano, um
dos mais destacados ativistas pela emancipação latino-americana, foi muito
hábil em conseguir decifrar e desvendar essa manipulação dos jogos de palavras
vazias, demonstrando que “a polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia”.
O duplipensar de
1984, de George Orwell, sai da ficção e se torna o cotidiano da grande mídia
nacional e internacional, não dos “regimes totalitários”, mas de inúmeros
governos “democráticos” ao redor do mundo.
Quando a arte reforça a miséria do real
Muito se critica a
arte soviética, baseada em grosseiras tentativas de reforço das lideranças
comunistas. De fato tal “arte” merece ser criticada e superada.
Mas o que os
“intelectuais” das “democracias capitalistas” não fazem é criticar
profundamente a arte capitalista.
Inúmeros são os
livros, filmes e séries, incluindo algumas músicas, que reforçam a noção da
“inevitabilidade do capitalismo”, resultando num pesadelo sem fim, numa
terrível distopia real.
Séries e filmes de
zumbis, de terra arrasada, tipo Mad Max, dentre outras histórias apocalípticas,
são criados quase que em escala industrial. No meio deles se mesclam pseudo
mensagens motivacionais, que simplesmente manipulam emoções arraigadas na
natureza humana, mas cuja finalidade oculta é evitar uma reflexão mais profunda
capaz de nos fazer entender que precisamos mudar e sair das zonas de conforto
para enfrentar seriamente o sistema capitalista.
O surgimento e a
proliferação de diversas formas de inteligência artificial demonstram que o
futuro previsto no filme Matrix está logo ali. Se aliando à impaciência de
pesquisar, ler e pensar por conta própria presente na maioria das pessoas hoje
em dia, a inteligência artificial está distorcendo a capacidade de ensino e
aprendizado, levando à mecanização e insensibilidade das respostas necessárias
à vida cotidiana.
É o coroamento distópico do rumo que a sociedade está tomando.
A era do capital impaciente
Neste início de século XXI vemos a proliferação das “doenças nervosas”,
transtornos e aflições psíquicas que pipocam em praticamente todos os países do
mundo como reflexo do modo de vida capitalista.
Surgem os “especialistas” da grande mídia burguesa e os coachs de
redes sociais que nos dão mil conselhos e receitas para enfrentar o terrível
vazio existencial de uma sociedade cada vez mais desconectada da natureza e do
outro, se tornando friamente individualista e egocêntrica.
A autoverdade é reforçada e disseminada por toda a lógica de
funcionamento da sociedade capitalista, mas, em especial, pelas mídias e pela
direita neofascista. É através do reforço do ego, seja em que auto-mentira for,
que se estabelecerão os laços via redes sociais que serão manipulados pelos
partidos e movimentos sociais da direita neofascista.
As doenças psíquicas atuais, resultado de um profundo sofrimento humano
existencial, são reflexo mais ou menos direto do presente estágio de
desenvolvimento econômico do capitalismo, de sua transformação de capitalismo
industrial em capitalismo financeiro (monopolista ou imperialista).
Nessa nova forma de organização econômica, o sistema financeiro passa a
ser o centro nevrálgico do seu funcionamento; isto é, o centro para onde os
seus maiores lucros são direcionados. Ele ajuda as empresas a se expandir e se
diversificar por meio de sua capacidade de transformar ativos não-líquidos,
como prédios e máquinas, em ativos líquidos, como empréstimos e ações.
Entretanto, a própria liquidez dos ativos financeiros se torna negativo
para o restante da economia. Os ativos financeiros podem ser deslocados e
reorganizados em questão de minutos ou segundos; enquanto que os ativos
não-líquidos, não podem. Assim, o dinheiro paira nas nuvens, sem preocupações
com o lastro na economia real, com base na produção.
Isso cria uma grande disparidade, tornando o capital que rende mais
lucros “impaciente”. Os reflexos se dão na tendência à uma fraca produtividade,
uma vez que os investimentos a longo prazo são reduzidos para satisfazer este
capital impaciente. Os capitalistas preferem os títulos das dívidas públicas,
porque são mais rentáveis, do que o investimento na indústria, mais inseguro e
a longo prazo.
Surgem, assim, inúmeros derivativos bancários e bolhas sem rastros na
economia real, que ao explodirem, exigem imediatamente o dinheiro que está na
economia real e, geralmente, nos cofres públicos. A luta atual da burguesia
mundial e brasileira é garantir o Estado como fiador dos custos e dos
inevitáveis prejuízos, repassando-os permanentemente para a população
pobre.
A virtualização do dinheiro, sobretudo nas mãos da burguesia escondida
no “deep state” norte-americano, também anda no sentido deste abismo. Ao
imprimir dinheiro de acordo com as suas necessidades, que não são maiores ou
melhores do que as necessidades do resto do mundo, ela joga inflação para os
demais países em diferentes continentes. É, praticamente, uma arma de guerra —
ou melhor, uma arma de destruição em massa!
Justamente porque o sistema financeiro é eficiente ao reagir às várias
oportunidades de lucro, ele se torna prejudicial para o restante da economia.
Este capital “líquido” passeia imprevisivelmente pelo mundo, adotando formas
“irracionais”, como se pôde acompanhar na crise financeira mundial de 2008.
O irracionalismo do sistema financeiro exige uma série de medidas não
menos destrutivas do que as realizadas pela indústria na natureza, como a
desregulamentação do mercado financeiro e do mercado de trabalho, privatização,
câmbio flutuante, controle de migração, farra de taxa de juros nos países
pobres e dependentes, que, por sua vez, geram um irracionalismo correspondente
na mente de milhões de pessoas frente às exigências de subsistência da vida
diária.
Ou seja, a economia não tem mais função social, mas se torna uma máquina
de concentrar riqueza e de produzir bilionários, de um lado, e miseráveis, no
outro. Um irracionalismo flagrante que leva à violência, fome, formação de
cracolândias e zumbis humanos nas grandes cidades. Todo este irracionalismo tem
sido canalizado e manipulado, de forma branda, pela grande mídia, e, de forma
escancarada, pela direita neofascista de acordo com os seus interesses.
A ascensão do neoliberalismo como doutrina oficial do capitalismo
Ocidental liderado pelos EUA é a expressão máxima desse capital impaciente, que
impõe a desregulamentação de todos os mercados e da privatização de tudo o que
cheire a público nos países pobres e dependentes.
O reflexo no mundo das ideias
Esta dinamização
imposta pelo capital impaciente gera ideologias que se disseminam amplamente
através das novas formas de tecnologia e comunicação.
A intensificação do
individualismo impulsiona formas de ver o mundo pelo prisma da autoverdade, do
utilitarismo, do hedonismo e do identitarismo burguês. Os próprios meios de
criação de ideologias — universidades, escolas, igrejas, grande mídia, redes
sociais — desenvolvem formas e técnicas para disseminar estas ideologias e
“verdades”, que, por sua vez, reforçam a terra arrasada na vida real — isto é,
a distopia!
Os indivíduos se
tornam mais conservadores, fechados em si mesmos, acreditando em qualquer
terraplanismo que reforce o seu próprio ego e, consequentemente, seus próprios
interesses e ganhos imediatistas. Refletindo a dinâmica do capital impaciente
gerado pelo sistema financeiro, tudo o que não tem ganhos imediatos é visto
como “perda de tempo e dinheiro”, passível, portanto, de ser ignorado ou
excluído (mesmo as relações amorosas, familiares, pessoais).
Assim, para a mente
conservadora atual, influenciada por toda essa realidade material e ideológica,
e o flagrante irracionalismo da economia, todos os conceitos, mesmo místicos e
religiosos, “são verdadeiros” na medida em que são úteis para quem os defende.
Qualquer pensamento que seja útil individualmente pode ser reivindicado como
“verdadeiro”, tornando possível dar explicações seletivas, diferentes, até
mesmo contraditórias, de um mesmo fenômeno. Manda-se a ética para o espaço!
No essencial, o pragmatismo e utilitarismo filosóficos defendem que “se
funciona é bom”; ou seja, tudo aquilo que atinja seus fins individuais (como o
lucro, por exemplo) cumpre a sua função, independentemente deste fim ser
contraditório com o social ou com a natureza. Ao agir pragmaticamente, muitas
pessoas pensam que estão defendendo os seus “interesses pessoais”; porém, estes
são minúsculos e contraditórios se comparados aos interesses do sistema
financeiro, ao qual estão, na verdade, subordinados e ameaçados
permanentemente. É o reinado da escravidão voluntária!
É um círculo vicioso que se reforça a si mesmo até a exaustão e, no
qual, a esquerda não consegue combater porque não se coloca questões
relacionadas à psicologia de massas. Os discursos, debates e programas
racionais contam muito pouco. O debate político virou um ringue de manipulação
emocional.
Muitos trabalhadores sob a hipnose do neofascismo e da propaganda
capitalista confundem argumentos políticos com ataques pessoais. Também se
acostuma a achar natural um discurso incoerente, desde que este supostamente
defenda as coisas que são mais caras ao seu egotismo: a família, a religião que
lhe promete proteção paterna e vida eterna, etc. Confunde tudo isso com a
defesa da propriedade, que no seu caso não tem nada a ver com a propriedade
sobre o capital e, às vezes, com nenhum tipo de propriedade, pois vive de
aluguel ou favor. A sua sede de poder pessoal sobre a família é um apoio para
todo o edifício do sistema, que sustenta no seu topo os bilionários.
A direita neofascista não só sabe disso, como aprendeu a manipular e
reforçar tais sentimentos. Ela afirma que toda a pobreza e miséria gerada pelo
capitalismo é culpa do “comunismo” ou “dos comunistas”. Um trabalhador
manipulado pelas emoções vai acreditar e reproduzir tal disparate! Isto é,
reforçará por si mesmo a sua própria auto-escravidão.
Temos, portanto, a destruição ideológica, moral e emocional da
população, da mesma forma que vemos a indústria capitalista destruir dia a dia
a natureza e o planeta — um sendo a continuidade do processo do outro. Como os
seus anseios para o desenvolvimento da própria personalidade, sua e de sua
família, não encontram solução real na economia, que o explora e empobrece, ele
desenvolve diversos tipos de transtornos, doenças psíquicas e emocionais, bem
como dependências químicas.
A ascensão de uma “nova forma” de se fazer “política” em épocas de
capitalismo “impaciente” e distópico
A cereja em cima do
bolo deste “novo” capitalismo é o surgimento do neofascismo, liderado por Trump
e Steve Banon e seguido por vassalos neocoloniais, como Bolsonaro e Milei. O que
poderia gerar resultados de dominação mais rápidos do que manipular as taras, o
ódio cego e o ego frágil de inúmeras pessoas? É nisto que a direita neofascista
aposta e ganha!
Contudo, a festa do sistema financeiro mundial tem também os seus
limites na atualidade. O projeto de desregulamentação e controle do mercado
mundial bate de frente com o projeto econômico representado por China e
Rússia.
A China tem vencido a disputa econômica com os EUA dentro das regras
criadas pelos próprios EUA. Eis aí o drama geopolítico mundial do início do
século XXI!
Como não consegue vencer a China dentro da legislação internacional e
das regras de comércio que foram criadas por eles próprios, o deep state dos
EUA apela para métodos políticos “novos”. O medo de perder estes mercados leva
a burguesia estadunidense a sofisticar a manipulação política. Vejam a
utilização das redes sociais: espionam e redirecionam a psicologia de massas;
manipulando esta, influenciam governos, países e mercados.
Os métodos de
“debate” da direita neofascista servem perfeitamente para manipular emoções
infantis de “pessoas comuns” e ocultar os níveis de privilégios e exploração do
capitalismo imperialista, que se encontra em avançado estado de degeneração,
produzindo bilionários — muitos deles, especuladores — que detém metade da
riqueza mundial, enquanto a maioria da população mundial vegeta na pobreza e na
miséria.
O salário relativo
dos executivos norte-americanos aumentou pelo menos em 10 vezes entre as
décadas de 1950 e os dias de hoje. Um CEO típico costumava receber 35 vezes o
salário de um trabalhador típico, enquanto hoje ele recebe entre 300 e 400
vezes esse valor. No entanto, isso não acontece porque a produtividade destes
executivos tenha aumentado dez vezes mais rápido do que a dos trabalhadores.
As contradições são muito grandes para não serem percebidas, por isso a
burguesia organizada nesta direita neofascista se especializou em manipular as
emoções e em distorcer a realidade, misturando “auto-verdade”, pós-modernismo e
egotismo. É visível o sucesso desta manipulação pelo crescimento vertiginoso da
mentalidade conservadora por entre a classe trabalhadora e os pobres, bem como
o crescimento eleitoral dos movimentos neofascistas no Brasil e no mundo.
Uma das cordas puxadas pela direita neofascista para realizar a sua
dominação psíquica e emocional é a religião evangélica organizada, que tem se
tornado um movimento político aberto, dispondo de vários partidos, correntes
políticas e instituições. Além da fortuna — que nunca virá —, eles prometem a
vida eterna; ou seja, a reprodução indefinida do próprio ego. Portanto, estas
igrejas passam a se tornar parte política ativa do sistema.
É um outro pesadelo de obras de ficção distópica — O Conto da Aia — que
está se repetindo na realidade.
As revoluções coloridas desenvolvidas pela CIA
A direita neofascista
também têm mobilizado as massas muito mais exitosamente que a “esquerda”. Isso
gera medo e perplexidade em quem tenta analisar a conjuntura.
Neste início de século XXI vimos a explosão de diversas manifestações
espontâneas: primavera árabe, Occupy Wall Street, Coletes Amarelos,
manifestações de 2013 no Brasil, dentre outras. A inoperância e o oportunismo
da “esquerda”, por mais desgraçados que o sejam, não explicam por si só como a
direita e o imperialismo canalizaram as manifestações para si.
Certamente existe um aparato político e ideológico poderoso para
canalizar estas mobilizações que surgem do descontentamento popular a partir de
ONGs, organizações reacionárias (como o MBL, youtubers, igrejas evangélicas
etc.), a grande mídia, agências de espionagem e muitos governos, mas isso
também não explica tudo.
Não basta ter um aparato todo-poderoso: é preciso saber qual política
difundir através dele.
A direita neofascista passou a mobilizar massas pela força do ódio
sadomasoquista e do caos social gerado pelo próprio capitalismo. A “esquerda”
vergonhosamente tem apoiado todos estes “movimentos” e “revoluções” sem nenhuma
preocupação com suas palavras de ordem, sua real organização e inserção no
movimento de massas, bem como para onde apontam sua agitação e propaganda, nem
qual é a real disposição da massa ao aderi-los.
A distopia também é o reflexo de uma situação sem saída gerada pela
própria política de massas, que fica correndo em círculos, enquanto o sistema
destrói o meio ambiente, desumaniza e humilha populações e países inteiros. O
enorme gasto de energia humana destas mobilizações é direcionado para defender
as pautas da auto-escravização capitalista.
A boa e a má notícia
O aparente beco sem
saída para a terra arrasada que vivemos é parte da dominação ideológica. Querem
nos fazer crer que não há saída. A grande mídia sabe disseminar uma falsa
esperança para conseguir fazer toda uma nação levantar na segunda-feira para
trabalhar, mas sem questionar uma vírgula do curso autodestrutivo que o
capitalismo nos impõe.
Porém, a questão
fundamental é que existe todo um sistema econômico, político, ideológico, moral
e “religioso” montado para que acreditemos que não há saída. Portanto, se
tratam de políticas, ideologias e mídias que refletem bem o atual
desenvolvimento sócio-econômico dos países do mundo.
Esta foi a má
notícia!
A boa, é que também
precisamos mudar a postura, pois não há como revolucionar e mudar uma sociedade
sem que mudemos a nós mesmos, ainda mais quando sabemos que os métodos
refinados de dominação impõe formas sutis de dominação psíquica e emocionais
egotistas. A zona de conforto e as nossas falsas crenças no poder ilimitado do
nosso próprio ego é parte da dominação. As diversas organizações de esquerda
também são reféns dessa auto-ilusão e não estão conseguindo ir além.
Precisamos reconhecer
que estamos desumanizados e insensíveis para com os outros e muitas vezes para
com a gente mesmo. No geral gostamos mais de apontar o dedo e exigir a mudança
nos outros do que em nós mesmos. A luta pela emancipação está dentro e fora de
nós. Como no caso de um avião despressurizado, precisamos colocar a máscara de
oxigênio em nós mesmos para depois podermos ajudar os outros. O mesmo vale para
a mudança e o progresso social.
Tentar mudar o mundo
exige que a gente faça um exame ético de consciência nas nossas relações políticas,
sindicais e pessoais. Este é apenas o primeiro passo… que não temos dado,
esperando que os outros deem!
Consumismo a nova religião e o Capital como o seu Deus !
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