*Por Willian Garcia, militante do MRT
Nem fiasco, nem golpe consumado. A pior coisa que a esquerda pode fazer nesse momento é se enganar.
Bolsonaro conseguiu dois grandes atos com "sentido nacional" em Brasília e na Paulista. Bolsonaristas de todo o país nesses dois lugares. Mesmo abaixo do que prometido por ele, ainda assim foram atos fortes.
Em SP, o maior ato, a Secretaria de Segurança Pública de Dória dá 125 mil pessoas. Expressivo. Mas dado o sentido nacional desse ato bolsonarista, não chega a ser maior que os primeiros atos Fora Bolsonaro de Maio, que somados reuniram mais que isso nacionalmente.
Os atos bolsonaristas de hoje dão um respiro ao governo, mas nem de longe significam um xeque mate de Bolsonaro. Pelo contrário, a crise política segue. O STF deve se pronunciar amanhã sobre esses atos de hoje.
Bolsonaro hoje tem dois desafios importantes. 1 seguir governando e chegar competitivo nas eleições. 2 livrar a si e seus filhos da cadeia, caso perca as eleições em 2022. Nesse sentido, o dia de hoje serve também a Bolsonaro no segundo desafio, pois apesar de todo o isolamento, reforça Bolsonaro como principal liderança de um segmento da sociedade expressivo que tem como inimigo de primeira ondem Alexandre de Moraes, que hoje detém os rumos do inquérito das fake news.
Sobre a esquerda, os atos foram pequenos, muito aquém do que poderiam ter sido. O papel bizarro de Freixo em colocar medo nas pessoas, e a omissão da CUT e de Lula, que só visa a campanha eleitoral, foi um fator fundamental para desarticular os atos da esquerda.
Ao invés de buscar unificar as lutas em curso no país (são várias greves de diferentes categorias acontecendo) com a exemplar luta indígena contra o Marco Temporal, o PT entregou o 7 de Setembro de bandeja para a extrema direita. Agora, como forma de encobrir isso, diz ao progressismo que os atos de Bolsonaro floparam. Uma leitura que não condiz com a realidade.
A crise política vai seguir. E enquanto a classe trabalhadora não entrar em cena, organizada e mobilizada, somos nós quem vai seguir pagando o preço da crise com fome, desemprego e a continuidade da pandemia que segue matando centenas todos os dias.
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Hoje pela primeira vez Dória defendeu o impeachment. Eduardo Leite, que disputa prévias internamente com ele, também o fez. Ambos defendem a adesão do PSDB à pauta.
Ontem à noite, Kassab, presidente do PSD, um dos gigantes do Centrão, disse que a sigla poderia aderir ao impeachment a depender dos atos golpistas de hoje.
Esses dois movimentos são importantes. Dória e Leite vêem no impeachment de Bolsonaro uma forma de viabilizar eleitoralmente a chamada terceira via. Mesmo que o preço disso seja colocar o General Mourão por mais de um ano na presidência. Estão dispostos a tudo.
No caso de Kassab é diferente. Kassab é um articulador burguês, atua nas sombras, já esteve com Lula e já esteve com Bolsonaro, é pragmático ao extremo e tem como fator fundamental em seus cálculos a existência do próprio partido como imenso parasita institucional. Para ele, o impeachment pode significar fritar Bolsonaro daqui até às eleições, drenando sua governança num processo infinito, assim como fizeram os Democratas com o impeachment de Trump. Desgaste eleitoral sem destituição propriamente.
Cada dia mais o impeachment se mostra um desvio. Não é saída para nada, como dizia aquela esquerda que tirou foto ao lado de Joice Hasselmann e Kim Kataguiri. O impeachment, além de concretamente colocar Mourão na presidência, é um instrumento burguês que pode ser usado por gente como Dória e Kassab com os interessantes mais podres que a república burguesa mantém dentro de si. Não tem nada a ver com os métodos de luta dos trabalhadores.
Bolsonaro e Mourão têm que cair pela força dos trabalhadores nas ruas!
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*Textos publicados originalmente em: https://www.facebook.com/will.gar.regassi
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