Ainda não encontrei uma explicação satisfatória para o fenômeno. Provavelmente não tenha uma, mas várias. Comecei por esboçar uns rabiscos no qual, em um dado momento, me vi escrevendo sobre a questão dos "desenhos obscenos". Este é certamente o primeiro erro. Por que obscenos? Por que tratar uma parte do corpo humano como obsceno e anti-natural? Seriam nossos órgãos genitais e o ato sexual assuntos que merecem censura, silêncio ou repressão?
A questão a ser levantada é: por que se repetem tanto? O que querem dizer? Eu consegui formular algumas respostas, mas espero que os colegas educadores ajudem a desvendar esta esfinge:
1 - Seria uma forma de quebrar o silêncio sobre um tema que é tabu na escola e na sociedade (justamente um dos assuntos mais importante para adolescentes e para seres humanos no geral - ou pelo menos deveria ser);
2 - Forçar um debate, mesmo que ele seja feito de maneira equivocada (afinal de contas são adolescentes e não possuem uma estratégia para debater ou uma reflexão profunda), sobre educação sexual, sobre a busca pelo prazer;
3 - Representaria uma forma de rebeldia da idade, que pretende chocar os padrões morais, atingir autoridades (pais, professores, sociedade).
4 - A repressão pura e simples jamais irá acabar com este tipo de "vandalismo" nas classes e paredes escolares. Apenas o debate construtivo, a introdução de temas de educação sexual sem nenhum tipo de moralismo ou concepções pedagógicas mecanicistas poderão (eu acredito) fazer com que diminua este tipo de "manifestação" até a sua extinção completa. Tudo isso se dará na exata medida em que o tema deixar de ser um tabu tratado como "obsceno".
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Muito se tem falado sobre a escola não corresponder aos interesses dos jovens de hoje. Quem fala isso tem toda a razão, porém, propõe políticas públicas que continuam fora dos seus interesses. A escola omite um dos principais assuntos da vida humana: o sexo!Isso não significa propor um debate meramente mecânico-biológico, de orientações utilitaristas (usem camisinha, tomem pílula, planejem a gravidez, como evitar DST, etc, etc, etc). Tudo isso é importante, mas não chega nem perto do problema. Também não se trata de propor um debate "pornográfico", desprovido de reflexões críticas e amoral. Há que se estabelecer uma nova forma de moral. Não a moral ultrapassada e decadente das religiões patriarcais, mas uma moral natural, que respeite a vida viva e as suas verdadeiras emoções.
Algo em nós se opõe à possibilidade de um debate público sobre esse tópico. Este "algo" é, segundo Reich, precisamente a peste emocional social, que luta constantemente para preservar a si mesma e a suas instituições. O resultado é o crescimento do sadismo fascista e da neurose de massas, que tomam formas em nefastas couraças anti-naturais que cristalizam a frustração sexual (profundamente necessária para as bases da sociedade de classes atual).
Traçou-se, então, uma distinção nítida errônea entre vida pública e vida privada, e esta última é impedida de chegar até à tribuna dos debates públicos e, sobretudo, à escola, totalmente fechada a este tema. Atualmente, segundo nossos padrões hipócritas de sociedade, a vida pública é assexuada na superfície e pornográfica ou pervertida nas profundezas. Se essa dicotomia não existisse, a vida pública coincidiria com a vida privada e espelharia, de modo correto, a vida cotidiana em amplas formas sociais.
O debate pautado nesse sentido serviria para abrir as válvulas que bloqueiam o fluxo de energia biológica no animal humano, para que as outras coisas importantes, como o pensamento límpido, a decência natural e o trabalho agradável possam funcionar e para que a sexualidade pornográfica deixe de ocupar a todo o pensamento das pessoas como ocorre hoje.
A questão que fica, então, é como organizar a nova educação sexual dos jovens em escolas de pensamento fechado, autoritário e cheias de tabus?
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