segunda-feira, 28 de maio de 2018

A história da humanidade é, também, a história da busca pelo sexo

A história da humanidade é a história da luta de classes; portanto, a evolução social é determinada a partir de conflitos materiais entre as classes e, destas, com a natureza. Tudo isso foi proclamado por K. Marx e F. Engels a mais de 150 anos.
Contudo, há que se acrescentar que a história humana é, também (e não menos importante), a história da busca pelo sexo, da dominação sexual e do estupro. Desde a conquista do maior número de parceiras e descendentes, traições conjugais, passando pela imposição do patriarcado, até os estupros legalizados nas invasões militares, bem como a imposições de casamentos arranjados ou não.
A dominação econômica não possui também a finalidade de dominação sexual? A orgia dos antigos reis, o harém dos sheiks árabes, a tentativa de impressionar a partir de posses materiais como carros, mansões, ostentações não tem nada a nos dizer do ponto de vista subjetivo?
O caso mais simbólico de tudo isso, contudo, foi certamente o episódio da história romana conhecida como "O rapto das Sabinas". Ela nos conta que o Rei Rômulo (ou talvez Numa Pompílio), vendo a baixa população feminina da cidade de Roma, procurou negociar com o rei sabino casamentos entre romanos e sabinas. Os homens sabinos, contudo, protestaram veementemente, o que levou o rei sabino a negar a oferta romana.
O rei de Roma, então, com a desculpa de uma cerimônia religiosa aos deuses, convidou os sabinos, preparando uma ardilosa armadilha. Durante o evento, os soldados romanos "raptaram" as sabinas, obrigando-as, posteriormente, a se casarem com cidadãos romanos. O historiador antigo, Tito Lívio, nega ter havido abuso sexual, mas hoje é impossível imaginar uma ação social tão traiçoeira como esta sem que tenha sido "legalizado" algum tipo de estupro sobre as sabinas, bem como o assassinato dos homens sabinos (que certamente devem ter resistido ao sequestro de suas mulheres e filhas). Tanto é assim que em inglês o episódio é conhecido como The rape of the sabines (isto é, "o estupro das sabinas").
Na Idade Média o rapto das sabinas se tornou o "direito" de Prima Noctes dos senhores feudais sobre as servas na primeira noite após o seu casamento. As invasões bárbaras, as conquistas militares, as guerras certamente possibilitaram outros tantos estupros e casos de opressão sexual.




Onde fica o amor livremente contraído na história? Acaso ele não teria existido? Certamente que sim, embora os episódios tão nefastos como estes deixem claro que ao lado das questões econômicas, fortes fatores sexuais influenciaram a conduta humana (subjetiva), tanto quanto a cobiça econômica (objetiva). A história também é marcada pela luta contra as opressões morais, sobretudo as de caráter sexual. A principal luta atual se dá contra a opressão patriarcal e os seus inúmeros resquícios medievais locais e regionais.

Post-Scriptum:
As relações sexuais entre os seres humanos (sobretudo na pré-história) não devem ter sido civilizadas; isto é: o estupro devia ser uma prática cotidiana e recorrente. Basta olhar uma matilha de cães e a forma como tratam uma fêmea no cio. Os humanos pré-histórico deviam reproduzir práticas semelhantes, que não foram prontamente superadas com o início das civilizações antigas e mesmo na Idade Média. Hoje em dia, apesar de todo o discurso civilizatório (sobretudo no Ocidente) percebemos os resquícios do estupro nas relações sexuais, que ainda estão longe de serem totalmente superadas. As relações mais humanas que precisam ser criadas no campo econômico, também precisam se estender ao campo das relações sexuais humanas.



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